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sábado, 24 de abril de 2021

 


14.4 Instruções dos Espíritos

A ingratidão dos filhos e os laços de família

14.4.1 Santo Agostinho - Paris, 1862

 

         A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo. Revolta sempre os corações honestos, mas a ingratidão dos filhos para com os pais é ainda mais odiosa. É desse ponto de vista, mais especialmente, que a vamos considerar, para analisar-lhe as causas e os efeitos. Aqui, como por toda a parte, o Espiritismo vem projetar luz sobre um dos problemas do coração humano.

         Quando o Espírito deixa a Terra, leva consigo as paixões ou as virtudes inerentes à sua natureza e se aperfeiçoa, no espaço, ou estaciona, até que deseje ver a luz. Alguns, portanto, partem cheios de ódios violentos e desejos de vingança insaciados. Mas para alguns deles, mais adiantados que os outros, é permitido entrever algo da verdade; reconhecem os funestos efeitos de suas paixões, e então tomam boas resoluções; compreendem que, para se dirigirem a Deus, só existe uma senha: a caridade. Ora, não há caridade sem esquecimento das ofensas e das injúrias; não há caridade com ódio no coração e sem perdão.

         Então, por um esforço inaudito, veem aqueles que detestaram na Terra. Mas à vista deles, sua animosidade desperta. Revoltam-se à ideia de perdoar, e ainda mais à de renunciarem a si mesmos, sobretudo a de amar aqueles que lhes destruíram, talvez, a fortuna, a honra, a família. Contudo, o coração desses infortunados está abalado. Eles hesitam, vacilam, agitados por sentimentos contrários. Se a boa resolução triunfa, eles oram a Deus, imploram aos bons Espíritos que lhes deem forças no momento mais decisivo da prova.

         Enfim, após alguns anos de meditações e de preces, o Espírito se aproveita de um corpo que será preparado, na família daquele que ele detestou, e pede, aos Espíritos encarregados de transmitir as ordens supremas, permissão para ir cumprir sobre a Terra os destinos desse corpo que virá se formar. Qual será, então, a sua conduta nessa família? Ela dependerá mais ou menos da persistência de suas boas resoluções (Destaquei).

         O contato incessante dos seres que ele odiou é uma prova terrível, da qual às vezes sucumbe, se sua vontade não for bastante forte. Assim, segundo a boa ou má resolução que prevalecer, ele será amigo ou inimigo daqueles em cujo meio foi chamado a viver. Isso explica esses ódios, essas repulsas instintivas que se notam em certas crianças, e que nenhum fato exterior parece justificar. Nada, com efeito, nessa existência, poderia provocar essa antipatia. Para encontrar-lhe a causa, é necessário voltar os olhos sobre o passado.

         Oh, espíritas! Compreendam agora o grande papel da Humanidade! Compreendam que, quando vocês geram um corpo, a alma que nele se encarna vem do espaço para progredir. Conheçam seus deveres, e ponham todo seu amor em aproximar essa alma de Deus: é essa a missão que lhes está confiada, e da qual receberão a recompensa, se a cumprirem fielmente.

      Seus cuidados, a educação que lhe derem, auxiliarão  seu aperfeiçoamento e seu bem-estar futuro. Lembrem-se de que, a cada pai e a cada mãe, Deus perguntará: "Que fizeram da criança confiada a sua guarda?" Se permaneceu atrasada por sua culpa, seu castigo será o de vê-la entre os Espíritos sofredores, quando dependia de vocês que fosse feliz. Então, vocês mesmos, arrependidos, pedirão para reparar sua falta. Solicitarão nova encarnação, para vocês e para ela, na qual a cercareis de mais atentos cuidados, e ela, cheia de reconhecimento, vos envolverá no seu amor.

         Não desprezem, portanto, a criança que no berço repele a mãe, nem aquela que lhes paga com a ingratidão: não foi o acaso que o fez assim e que lha deu. Uma intuição imperfeita do passado se revela, e dela vocês podem deduzir que um ou outro já odiou muito ou foi muito ofendido; que um ou outro veio para perdoar ou expiar.

     Mães! Abracem, pois, a criança que lhes causa aborrecimentos, e digam consigo: "Uma de nós duas foi culpada". Mereçam as divinas alegrias que Deus concedeu à maternidade, ensinando a essa criança que ela está na Terra para se aperfeiçoar, amar e abençoar.

       Mas, ah! muitas dentre vocês, em vez de eliminar, pela educação, os maus princípios inatos, de existências anteriores, entretêm, desenvolvem esses mesmos princípios, por uma culposa fraqueza, ou por descuido. Então, mais tarde, seu coração ulcerado pela ingratidão dos filhos, será para vocês, desde esta vida, o começo da sua expiação.

         A tarefa não é tão difícil como vocês poderão pensar. Não exige o saber do mundo: o ignorante e o sábio podem cumpri-la, e o Espiritismo vem facilitá-la, ao dar a conhecer a causa das imperfeições do coração humano.


    Tradução livre do prof. dr. Jorge Leite de Oliveira

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