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domingo, 4 de abril de 2021




5 CASA MORTA

 (Espírito Cruz e Sousa/médium Porto Carreiro Neto)

          De acordo com Silva; Koch, 1986, p. 39, "[...] ao contrário de Saussure, que privilegia a língua como um produto social, Chomsky privilegia o indivíduo, colocando-o no centro do ato de criação de linguagem". Quando um teórico, como este, chega a esta conclusão ele nada mais faz do que reconhecer que, por trás do fenômeno linguístico, existe a individualidade, com suas aquisições conscientes ou inconscientes. Daí podemos deduzir, com os estudiosos da Filosofia Espiritualista, como é o caso da Doutrina Espírita, a "existência do Espírito" que, de acordo com Kardec, manifesta-se pelas potências da alma, quando encarnado. Tais potências, de acordo com o professor de filosofia da ciência, o italiano Ernesto Bozzano (1970), têm seu fulcro no pensamento e na vontade individuais. É a vontade, pois, que determina o uso da linguagem, e não esta que se impõe sobre aquela.

            Outra obra importante sobre o pensamento, movido pela vontade manifestada pela individualidade imortal é Pensamento e vida, do Espírito Emmanuel e psicografada por Chico Xavier. Diz o professor italiano que "[...] nada é tão importante para a Ciência e para a Filosofia, como averiguar que a força do pensamento e a vontade são elementos plásticos e organizadores" (BOZZANO, 1970, p. 5).

            Confirmam a má vontade dos adeptos dos estudos exclusivos das teorias positivistas, em detrimento da revelação espiritualista, esta com destaque, em nosso trabalho, para o Espiritismo, as seguintes palavras de Allan Kardec:

Para os que negam a existência do princípio espiritual independente e, por conseguinte, negam a existência da alma individual e sobrevivente, a natureza toda está na matéria tangível; todos os fenômenos que se referem à espiritualidade são, para esses negadores, sobrenaturais e, portanto, quiméricos. Não admitindo a causa, não podem admitir os efeitos e, quando estes são patentes, eles o atribuem à imaginação, à ilusão, à alucinação e se negam a aprofundá-los. Daí a opinião preconcebida que os torna inaptos a apreciar judiciosamente o Espiritismo, porque partem do princípio da negação de tudo que não seja material (KARDEC, 2013, p. 225).

        Sem nos alongarmos mais, tracemos algumas linhas abaixo sobre o médium psicógrafo do novo soneto de Cruz e Sousa.       

4.1 Sobre o médium Luís da Costa Porto Carreiro Neto

            Como nos é informado pelos autores da obra que contém os sonetos psicografados, Carreiro Neto nasceu em Recife, PE, no dia 7 de janeiro de 1895. No Rio de Janeiro, tornou-se engenheiro em diversas especialidades (civil, mecânico-eletricista e industrial. Aprovado em concurso público para professor de Química, anos mais tarde, tornou-se diretor da escola onde se formou e trabalhou. Conhecia profundamente as ciências químicas, físicas e matemáticas, além da língua esperanto. Seus trabalhos mediúnicos eram publicados na revista mensal Reformador, da Federação Espírita Brasileira. Também foi autor da obra intitulada Ciência Divina. Como esperantista, continuou o trabalho de divulgação dessa língua internacional iniciado por Francisco Valdomiro Lorenz, que foi citado em nossa última publicação.

            Degustemos agora o soneto do Espírito Cruz e Sousa, pois, como diz o professor francês Barthes (crônica 461), "sabor tem a mesma origem etimológica de saber".

CASA MORTA

(Pelo Espírito Cruz e Sousa. Médium: Porto Carreiro Neto)

  • Ó Cérbero trifauce, que do Averno
  • A porta guardas, tua cara feia
  • É a imagem do mal que nos enleia
  • Desde o tempo vernal até o inverno!
  •  
  • Ao defrontar-te, bruto, o fogo interno,
  • Que do mortal as fibras incendeia,
  • Mais se atiça, na intérmina cadeia
  • De sofrimentos pelo tempo eterno!
  •  
  • Horror por ti nutrimos, e, no entanto,
  • Como arrasados por fatal encanto,
  • Vamos bater-te, exânimes, à porta...
  •  
  • Vemos, então, depois dos vãos prazeres,
  • Uivante multidão de estranhos seres
  • Buscando a Vida numa casa morta!

(apud PALHANO JÚNIOR; SOUZA, 1994, p. 165)

 Brasília, DF, 04 de abril de 2021.

 Referências

BOZZANO, Ernesto. Pensamento e vontade. Tradução de Manuel Quintão. 4. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1970.

KARDEC, Allan. A gênese. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2013.

PALHANO JÚNIOR, Lamartine; SOUZA, Dalva Silva. A imortalidade dos poetas "mortos". Vitória, ES: FESPE, 1994.

SILVA, Maria Cecília Pérez de Souza e; KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Linguística aplicada ao português: sintaxe. São Paulo: Cortez, 1986.

XAVIER, Chico. Pensamento e vida. 18. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2008.

  





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