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quinta-feira, 1 de abril de 2021

 



3 ASCENDE

(Espírito Cruz e Sousa/médium Dolores Bacelar)

   Os dois primeiros sonetos, publicados neste blog, foram psicografados pelos renomados médiuns Chico Xavier e Waldo Vieira, cujas extensas biografias podem ser encontradas na internet ou em diversas obras. Por esse motivo, dispensei citar seus dados biográficos, o que farei de ora em diante, iniciando com uma merecida homenagem à extraordinária médium quase desconhecida, Dolores Bacelar, autora de grande número de obras mediúnicas e uma vida dedicada aos carentes sociais e aos órfãos.

 3.1 Sobre a médium Dolores Bacelar


         Dolores Bacelar (Maria Dolores de Araújo Bacelar), pernambucana, nasceu em 10 de novembro de 1914. Desencarnou em 6 de outubro de 2006, faltando pouco mais de um mês para completar 92 anos. Seu tio, monsenhor Francisco Apolônio Jorge Salles, era profundamente ligado à Igreja Católica, e Dolores estudou em escola de irmandades católicas durante seis anos.

         Assim que se casou com o dedicado companheiro Luiz Gonzaga da Silva Bacelar, mudaram-se de Pernambuco para o Rio de Janeiro. Mãe extremosa, cuja dedicação à família era prioridade para ela, após o nascimento de seu segundo dos três filhos, passou a sentir tão forte influência mediúnica, que procurou ajuda espiritual. Após se cientificar do fenômeno que ocorria consigo, pelo renomado espírita Ismael Gomes Braga, passou a se dedicar a diversas instituições espíritas cariocas e ao auxílio a crianças órfãs, muitas das quais colaborou com a adoção.

         Inicialmente, frequentou a Casa Espírita do Coração, em Ipanema. Em seguida, sempre apoiada pelo marido, fundaram a Casa Assistencial Lar Amigo, dedicada ao amparo de meninas órfãs, e a Sociedade Espírita Seara dos Filhos de Deus, em Copacabana, que foi transferida para Botafogo e ainda hoje está em atividade. Apoiou o coronel Jaime Rolemberg de Lima na implantação de unidade de atendimento às famílias pobres, no Lar Fabiano de Cristo, em Copacabana, e psicografou diversas obras poéticas e romances mediúnicos, como o que se intitula A Mansão Renoir, belíssima obra.

         A pedido do Espírito Alfredo, seu guia espiritual, manteve-se sempre discreta e quase anônima em todas as obras espíritas que ajudou a fundar e a manter. Viúva aos 74 anos, assumiu a presidência da Sociedade Espírita Seara dos Servos de Deus.

         Informam-nos Palhano Júnior; Souza que pelo menos 57 poetas desencarnados transmitiram seus poemas a Dolores. Um deles é Cruz e Sousa. Eis o soneto do, a meu ver, maior poeta simbolista do mundo, agora como Espírito liberto da carne:

 

ASCENDE

 

Tu que te sentes tão só, tem confiança!

Se existem ódios há também amores...

É um gesto, um olhar pleno de esperança!

Há bons amigos, não há só traidores.

 

Não é a Vida apenas dissabores!

Se há tempestades, há também bonança...

Junto aos espinhos brotam sempre flores!

Se há maldições, há risos de criança!

 

Se tens os restos que ninguém mais quis,

Lembra-te: sofrimento é ascensão!

Alguém hás de encontrar mais infeliz,

 

Seguindo como tu o mesmo caminho...

Então, sorrindo, estende-lhe tua mão

E não te sentirás mais tão sozinho.

 

(apud PALHANO JÚNIOR; SOUZA, 1994, p. 163)

 

         Aos que contestam o estilo,  endossamos três observações importantes, com relação à produção mediúnica, dos organizadores da obra supracitada:

1ª) como observou o douto pesquisador italiano Ernesto Bozzano, em sua obra intitulada Animismo e Espiritismo, a sintonia entre as mentes do Espírito e médium nem sempre permite a manifestação completa do potencial do primeiro. Acrescentamos que, para o Espírito, o mais importante, é transmitir a mensagem, embora sem desprezar sua forma;

2º) a tese do "inconsciente coletivo", defendida por Jung, explicaria a aquisição dos conhecimentos e visão do mundo manifestados apenas no passado, e não ao que agora o Espírito conhece e informa como ideias captadas, consciente ou inconscientemente, pelo médium. Bacelar era médium inconsciente;

3º) desligado do corpo físico, o Espírito não mais se prende às ideias do modo como se ocupava, por passar a ter o pleno conhecimento das leis espirituais; assim, não se pode exigir que sua temática permaneça com a mesma visão de quando estava reencarnado. Ou seja: "a individualidade indicada como criadora do texto não estacionou naquilo que era no passado" (PALHANO JÚNIOR; SOUZA, 1994, p. 207).

          Brasília, DF, 1º de abril de 2021.

 Referências

Correio.news/bau-de-memorias/dolores-bacelar-ilustre-desconhecida. Acesso em 1º de abril de 2021.

PALHANO JÚNIOR, Lamartine; SOUZA, Dalva Silva. A Imortalidade dos Poetas "Mortos". Vitória, ES: FESPE, 1994.


2 comentários:

  1. Excelente lembrança, os estudos sérios de Ernesto Bozzano. Cruz e Sousa ascendeu. Que belo

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  2. Jorge, excelente e muito bem-vinda a homenagem!
    Tanto ao nosso poeta simbolista, como também à
    médium Maria Dolores Bacelar.
    Abraço 🤗 !!

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