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terça-feira, 28 de julho de 2015

Em dia com o Machado 168 (jlo)

Amiga leitora, como é do seu conhecimento, no dia 18 de abril de 1857, veio a lume O livro dos espíritos, obra publicada por Allan Kardec, mas em verdade de autoria de vários espíritos, entre eles, O Espírito de Verdade, Platão, Swedenborg, Fénelon, Santo Agostinho, etc., etc., etc. Acima do título do livro citado, lê-se o seguinte: “Filosofia Espiritualista”.
Aí está o motivo de ter Brás Cubas dito, no cap. 4 do seu romance, que a sua obra era “supinamente filosófica, de uma filosofia desigual, agora austera, logo brincalhona”. E isso porque a nova crença teve início com as chamadas mesas girantes, que se tornaram conhecidas da América e de toda a Europa, no século XIX, mas não eram levadas a sério por algumas pessoas. Até que Allan Kardec, magnetizador há vinte anos, na época, resolveu investigar o fenômeno e nele viu algo mais sério do que a denominada “dança das mesas”, principalmente devido às 1019 questões propostas, na área filosófica, que foram respondidas pelas entidades retrocitadas.
Entre as respostas dadas, desde os fenômenos de Hydesville, EUA, em 31 de março de 1848, uma delas foi a de que o manifestante era um “defunto”. A partir daí, surgiu a febre das mesas girantes em que os agentes eram os espíritos. Tive então a ideia de evocar um deles. Apareceu-me, assim, Brás Cubas. Outra ideia que tive foi a de pedir a esse espírito para narrar sua história. E ele passou a narrar-me suas memórias. Aí está, leitor amigo, a origem do romance insólito, Memórias póstumas de Brás Cubas, que tanto espanto causou em 1881, quando o dei a conhecer ao perplexo carioca e, por fim, a obra acabou por atravessar as fronteiras do Brasil.
Ah, você duvida da possibilidade mediúnica do livro? Leia, então, o que respondi a Capistrano de Abreu, no prólogo da terceira edição de Brás Cubas, quando aquele me perguntou se a obra era um romance: “[...] respondia já o defunto Brás Cubas [...] que sim e que não, que era um romance para uns e não o era para outros”.
Conforme lhes relatei, leitora e leitor amigos, em 13 de setembro de 1896 (A semana), confirmando o que já era matéria de minha produção literária desde algum tempo, afirmei que “Há muito que os espíritas afirmam que os mortos escrevem pelos dedos dos vivos. Tudo é possível neste mundo e neste final de um grande século”.
É verdade que, tanto quanto com Sterne, interajo com Cícero, Cristo, Homero, Heródoto, Moisés, Shakespeare, entre outros, que parafraseio e cito. Desse modo, aos não espíritas, deixo a crença de que a inspiração surgiu desses vultos históricos; aos espíritas, fica a certeza de que o livro atende às características da mediunidade, neologismo criado por Allan Kardec. 
Porém, minha intenção jamais foi a de moralizar alguém, mas, sim, expor, de forma leve e descontraída, a personalidade das pessoas que formavam a sociedade carioca do século XIX, deste e do outro mundo. A crítica fica por conta do leitor e leitora curiosos.
— E por que você disse a Capistrano que a obra era romance para uns e não o era para outros?
— Joteli, romance, no conceito literário, é ficção. Para quem lê minha obra como tal, Memórias póstumas de Brás Cubas é romance. Para quem acredita na comunicação dos defuntos com os vivos, a história é outra. Entendeu agora? Se não entendeu, leia as cinco obras da codificação de Allan Kardec e não mais encha minha paciência.
Adiós, o mejor, au revoir.

terça-feira, 21 de julho de 2015


Em dia com o Machado 167 (jlo)

Amiga leitora, é um prazer estar de volta para mais um papo animado contigo, após ter passado quatro dias em Barreiras, cidadezinha aprazível da Bahia. De lá, fomos a São Desidério, outra simpática cidade, vizinha àquela, para proferir uma palestra em homenagem aos quarenta anos de trabalho mediúnico de Zelinha no centro espírita local.
O quê? Você não sabe de quem se trata? Estou falando de um dos maiores médiuns da região. Zelinha começou seu trabalho mediúnico em Barra do Mendes, na Bahia, em 1965. Dez anos depois, um espírito se manifestou a ela e lhe disse:
— Seu trabalho mediúnico aqui tem sido excelente, mas agora você deverá continuar o intercâmbio conosco, aliado ao socorro material e espiritual numa cidadezinha carente de tudo no oeste baiano.
Ao saber disso, a médium se espantou, bem como todos os seus amigos do centro espírita de Barra do Mendes, pois Zelinha já se tornara conhecida por toda aquela cidade, pelo trabalho de socorro aos enfermos que ali acorriam, em grande número, em busca de orientação do seu guia espiritual... o espírito Irmã Scheilla.
O quêêê? Você também não sabe quem é Irmã Scheilla?? Foi uma enfermeira alemã que morreu durante o bombardeio da tropa aliada, em 1943, na Segunda Guerra Mundial. Cinco anos depois, ela materializou-se em reunião ocorrida na casa de Rômulo Joviano, amigo de Chico Xavier. O médium não foi o Chico e, sim, Francisco Peixoto Lins, mais conhecido como Peixotinho.
De 1950 a 1952 as reuniões de materialização ocorrem na casa de Chico Xavier e, entre outros espíritos, Scheilla tornaria a se materializar, mas então o médium de materialização fora o próprio Chico. A cada vez que isso ocorria, esse espírito promovia inúmeros casos de cura. Porém, Emmanuel, o espírito guia de Chico, pouco tempo depois, também se materializou e pediu aos presentes para serem encerradas essas reuniões de materialização, tendo em vista que a grande tarefa do médium mineiro era com a psicografia, que alcançaria mais de quatrocentas obras quando ele desencarnou em 2002.
Mas, como disse Jesus, “o espírito sopra onde quer”, desse modo, o espírito Scheilla decidiu trabalhar, também, com Zelinha no oeste baiano.
Em 1975, atendendo ao pedido de Scheilla, a médium, após participar do movimento espírita de Barreiras, fundou o Grupo Espírita Cristão Irmã Scheilla, em São Desidério. Desde então, sob a proteção espiritual desse espírito, Zelinha não somente vem sendo uma orientadora do movimento espirita da região, como também, com o auxílio de diversos colaboradores altruístas, dirige um trabalho de distribuição de sopa e outros alimentos a mais de cem famílias da cidade e realiza visitas às comunidades de pessoas necessitadas, entre as quais os hospitalizados e presidiários locais, levando a todos sua palavra de incentivo, seu apoio espiritual e material.
Como prova de que o exemplo arrebata, na comemoração dos quarenta anos de fundação do centro, em demonstração de gratidão à Zelinha, por seu trabalho comunitário, que não distingue ninguém, esteve presente grande número de assistidos. O centro lotou, e várias pessoas assistiram à reunião comemorativa em pé. Um bom número delas era de católicos e evangélicos, além dos espíritas, alguns dos quais foram de Barreiras, distante seis léguas, até lá. É como disse Allan Kardec: “Fora da caridade, não há salvação”.
Para ouvir o hino a Scheilla clique: https://www.youtube.com/watch?v=xGGQ2N6tPUo.


domingo, 12 de julho de 2015

Em dia com o Machado 166 (jlo)

Acabei de ler, num trabalho de teoria literária, que “o interdisciplinar não é uma sinecura”. Então, fiquei pensando comigo mesmo: “Mas o que é mesmo uma sinecura?”. Um dos meus hábitos idiossincrásicos é procurar saber o real significado de palavras pouco faladas numa frase. Daí procurei o Houaiss, que me explicou: “sinecura sf (1881 cf. CA¹) emprego ou cargo rendoso que exige pouco trabalho [...]”.
— E também não me pergunte, amigo leitor, o que significa esse ¹ junto com o restante dentro dos parênteses acima, que não lhe vou explicar, porque eu também não sei, não quero saber e, como você, tenho raiva de quem quer saber...
Assim disse o Nário. E respondi-lhe de bate-pronto:
bom, bom, bom... agora já tenho uma ideia do que seja “sinecura”. Mas o que é mesmo interdisciplinar?, já que isso exige muito trabalho, como se depreende do que o autor quis dizer com “sinecura”.
— Vamos lá, mas agora, só por esnobismo, vou trocá-lo pelo Aurélio: “interdisciplinar [De inter- + disciplinar.] Adj. 2 g. Comum a duas ou mais disciplinas ou ramo de conhecimento”.
E só.
Percebeu?
O Houaiss ainda acrescentaria: “2 que é comum a duas ou mais disciplinas”. E outra coisa: o ponto final da definição do Aurélio fica dentro da segunda chave, mas o ponto final de minha citação fica depois das aspas.
Então agora já sei. O autor da frase da primeira linha desta crônica quis dizer que a identificação do que é comum entre duas ou mais disciplinas exige muito trabalho. Agora você já sabe, não é mesmo, amiga leitora?
Parodiando o que disse alhures, em crônica de 6 de janeiro de 1895, “Se a pedra de Sísifo não andasse já tão gasta, era boa ocasião de dar com ela na cabeça dos leitores”, a propósito do significado das palavras. Per accidens, logicamente, tudo o que acabo de lhe dizer. Afinal, “lutar com as palavras é luta mais vã”, como já dizia o poeta Drummond. Por isso, a consulta ao dicionário é o “eterno recomeço” representado pela mitologia de Sísifo, condenado por Zeus a rolar eternamente uma pedra do cimo de um monte alto, para o qual ela sempre retornava, como seu castigo por assaltar os viajantes na estrada.
— O que significa isso, Machado? Perguntar-me-á o amigo leitor. E eu lhe respondo que o correto conceito das palavras é extremamente importante no entendimento de uma frase. Para tanto, é preciso escolher um dos muitos significados de cada termo dicionarizado. Se você achou chata a leitura desta crônica, você ainda não viu nada. Veja no Houaiss os significados da palavra sistema, que ocupa o espaço de mais de uma página do citado livro,   correspondente a, no mínimo, três páginas deste texto. A diferença é que, ali, a letra é, também, três vezes menor do que esta.
Já os significados de espaço ocupam apenas um terço de página do Houaiss e meia página do Aurélio, ou seja, umas três páginas como esta que você lê.
Desculpe-me por ocupar, mais um pouquinho, seu tão precioso espaço de tempo, amigo leitor, com tais bobagens, mas ainda gostaria de alertá-lo de que não basta consultar o dicionário para você entender o que um escritor quer dizer, é preciso identificar o significado dado à palavra no contexto em que ela está inserida. Se este é conotativo, o significado é figurado; se é denotativo, ele é real, como real é o espanto que tive quando pedi a um magro aluno de turma de Geografia, anos atrás, para dizer qual o significado de “instalado" e de "entalado”, exemplificando, após consulta ao dicionário. Ele citou o seguinte exemplo:
— Estou bem entalado na cadeira, mas esse assunto ficou instalado em minha garganta...
A outro aluno, de Contabilidade, pedi para ver no dicionário o significado de “crédito”, no contexto da seguinte frase: “José ficou sem crédito na praça”. Após ler os diversos conceitos, no livro, sua resposta foi a seguinte:

— José era muito mentiroso e ninguém mais acreditava nele, por isso ele ficou sem crédito na praça...

Até que faz sentido, não é mesmo, amiga leitora? 
E o salário é: ... 

domingo, 5 de julho de 2015

Em dia com o Machado 165 (jlo)

Amigo leitor, não me interessa se és espírita, evangélico, católico, budista, umbandista, ateu... Embora me dirija, inicialmente, a este último, o endereço é para todos nós. Peço-te, portanto, a atenção para meu recado abaixo no poema intitulado: Sê perfeito:

Eu compreendo tua posição:
Jamais tiveste uma religião.

Entanto, mesmo assim, tu és feliz,
Pois isso mesmo é o que tua turma diz.

Mas eu te peço: apologia, não,
Não faças isso com o teu irmão...

Nem tentes procurar cada manhã
Alguma forma de aviltar tua irmã.

O livre-arbítrio jamais pode ser
Instrumento de abuso do poder.

Não aviltes o sexo nas escolas,
Socorre os pobres órfãos com esmolas...

Respeito à tradição familiar
É hábito saudável, milenar,

Que contribui com a sociedade
Por dar um norte à nossa mocidade;

Que trata a tradição do casamento
No são respeito ao sexo e ao sentimento;

Que faz do lar o apoio à sociedade
Na formação da personalidade.

Respeita os que não pensam como pensas,
O bem é sempre o bem, haja ou não crenças.

Tenho buscado na visão etérea
Explicação de tua chã matéria

E só encontro na cega paixão
E na descrença a desinformação.

Não crês em Deus, mas tens na consciência
A Voz que acusa tua imprevidência.

Não crês em Deus, mas a justiça humana
É instrumento da Lei Soberana.

E cedo ou tarde ela te alcançará
E nunca mais ela te largará.

Moisés foi mensageiro do Deus justo,
Mas Cristo foi Seu Enviado Augusto

Que deixou claro que a humildade e o amor
São as marcas dos servos do Senhor.

Para tudo ficar iluminado,
Abre teus olhos e fica calado...

Ah! basta-te fazer o bem somente
E serás imortal e transcendente!

Sei que desejas a felicidade;
Somente amando serás de verdade...

Mas não confundas amor e paixão,
Amar é exercitar a compaixão.

No Espiritismo encontra-se a Verdade
E a salvação está na Caridade.

E caridade é ser benevolente,
Ser com defeito alheio indulgente.

Ser caridoso é perdoar o mal,
Ter equilíbrio, não ser passional...

Só não devemos é ser coniventes...
Porém amemos tanto ateus ou crentes.

Mas, meu irmão, não faças do teu ser
Laboratório vil do padecer.

Mas, minha irmã jamais faças sofrer,
Por atos levianos, outro ser,

Pois é da lei da ação e reação
Que todo nosso ato, mal ou bom,

Trará, por consequência, seu efeito
Previsto em Lei Divina: Sê perfeito!

  Salve, 18 de abril, Dia Nacional do Espiritismo (Irmão Jó) Foi no dia 18 de abril que Kardec, Na Cidade de Luz, em manhã memorável, Lança ...