Em dia com o
Machado 13 (jlo)
Há certos acontecimentos em
nossa vida, amiga, que servem para testar nosso grau de ceticismo ou de
credulidade. Eu, particularmente, sou um pouco de cada coisa. Entanto, ajo como
Tomé em muuuitos casos ditos sobrenaturais pelo populacho, embora, como ainda
lhe direi em futura crônica, tenha resolvido aderir à nova igreja do
Espiritismo, nem que seja para satirizá-lo (O que lhes afianço, não é o caso
desse Zé Mané que lhes escreve em meu nome).
Quanta ignorância minha. Ainda
não aprendi a diferenciar centro espírita de igreja. Porém, a reflexão sobre
isso fica para uma futura crônica... Ou não...
Ontem, por exemplo, em pleno
sábado, após um excelente evento sobre um chamamento cristão ao qual compareci,
fiquei matutando com meu botão:
— Conto ou não a saga do botão?
— Conte, disse-me ele.
Aí vai ela, amigo leitor (Já reparou que
costumo começar com a amiga? É que as mulheres devem sempre ser as primeiras em
nossas vidas, o que não implica em desrespeito para com a nossa macheza, meu
amigo... Muito menos a minha!).
Mas, voltando ao caso botão. Antes
de ir para o evento (Não escrevi reunião para não rimar com botão.), vesti uma
calça cinza e reparei que lhe faltava o botão do bolso traseiro direito; mais
ainda, notei que o do bolso esquerdo estava com a linha um pouco frouxa.
Foi quando ele tornou a me dizer:
— Cuida de pregar-me direito, se
não eu faço como meu amigo, caio fora.
Disse então ao botão, após
dar-lhe um, digamos assim, solavanco:
— Meu caro, pelo que constatei,
tu ainda estás bastante firme para abotoar meu bolso por hoje. Fique calmo que,
após o evento, dou-lhe uma pregada.
— Ai, medo - respondeu-me ele -,
ao que não dei importância.
O conclave estava maravilhoso.
Sentei-me ao lado de uma boa amiga e fiquei à vontade até o fim do evento.
Ao terminar o encontro,
encontramos (Encontro, encontramos, legal, né?) outra amiga e conversamos um
pouco, os três, antes de sairmos pela
porta de entrada, que também, logicamente, no templo, é a porta de saída para seu
pátio.
Eis que, de repente, não mais
que de repente (Não vai pensar que eu vou declamar agora o soneto do Vinícius
de Moraes, pois ele não é do meu tempo. Ou você esqueceu que nasci no século
XIX e o “poetinha” no XX?), a segunda amiga se abaixa para pegar algo.
Naquele instante, imaginei que
fosse uma moeda e pensei: Vou brincar com ela e dizer-lhe:
— É minha.
Ao
levantar-se, porém, e abrir sua mão direita para nos mostrar seu achado exclamei:
— É meu!
O(a) leitor(a) já deve imaginar
o que a amiga achou, não é mesmo? Mas eu ainda não lhe vou desvendar o
“mistério”. Ao menos por enquanto.
Ela, de pronto, respondeu-me:
— Então toma, faça bom proveito
dele.
Ele não gostou muito disso e me
disse baixinho, de modo que somente eu pudesse lhe escutar:
— Canalha, você me paga.
Esquecia-me dizer-lhes que,
ainda no salão, dei pela falta do segundo botão e, para comprovar que a calça ficara
sem os dois, apalpei ambos os bolsos. Confirmada a deserção dos apêndices,
refletira:
— Agora preciso de dois botões...
Peguei o botão e agradeci à
amiga, de origem francesa, dizendo-lhe que aquela era uma dívida de alto custo,
mas que ainda lhe iria pagar o favor.
Ela concordou plenamente comigo:
— Sa dette est impayable.
Despedimo-nos com um beijo
fraterno no rosto e fomos para casa. As amigas, para as delas; eu, para a
minha, logicamente.
Ao chegar a casa, abri a gaveta
que fica à minha direita, na mesa em que é digitada
(palavra do futuro) esta crônica, e coloquei-o ali; não sem antes recomendar ao
botão:
— Fica quietinho aí. Já... já eu
lhe prego...
Ele não disse nada. Nem ao menos
me corrigiu o erro de regência... Que estúpido!
Saí, dei uma volta na cozinha e
voltei ao “escritório”... Se é que isto que nós temos possa se chamar assim,
pois é tão grande que, quando uma pessoa (encarnada, fique claro) está aqui dentro,
tem que sair para outra, de fora, entrar.
Voltando, todavia, a este,
ummm, local de inspiração, abri a gaveta onde, de ordinário (Marche! Ui tempos de milico que não saem da cabeça desse
cara que escreve minha história.) guardo lápis, clips, borrachas, canetas, etc.
etc. etc., exceção acima à regra, menos botão, e...
Oh! coisa espantosa! Isso não é algo
que se faça! Encontrei não um, mas dois botões iguaizinhos...
Sem querer fazer propaganda da Lacoste, que ainda nem foi criada (Até
quando terei de lembrar-lhe? Ó raça incrédula, até quando vos sofrerei? Estamos
no século XIX e não no seu, XXI.), afianço-lhe, que o botão viajou no tempo,
gravou em si tal marca, arranjou um(a) namorado(a), gravou também o nome Lacoste nele(a) e os dois olharam para
mim.
Assim ficamos: eu olhava para os
botões, os botões olhavam para mim...
Algum tempo depois, um deles,
meu velho conhecido, voltou a falar-me, embora ambos então fossem gêmeos, a
ponto de eu não mais saber quem era ele, quem era ela, essa criatura de Deus:
— Eu não disse para você me
pregar antes de sair? Agora terá de pregar-nos os dois.
— É... amigo, você me pregou uma
peça. Só podem ser almas gêmeas – respondi-lhe. Contudo, não se preocupem, um
será pregado no bolso esquerdo e o outro no direito. Adeus!
— Adeus, respondeu uma só voz,
aparentemente saída dos dois botões.
E eu fiquei o dia todo matutando
com meus botões:
— Existe materialização de Espíritos... mas de botão... E,
depois, quem era quem?
Como o enigma Capitu, o(a)
leitor(a) decida.
Até a próxima!