13.5.5 Cárita
Martirizada
em Roma, Lyon, 1861
Meu nome é Caridade, sou o caminho principal que conduz até
Deus; sigam-me, porque sou a meta a que todos devem visar.
Fiz, nesta manhã, meu passeio habitual, e, com o coração
amargurado, venho dizer-lhes: Oh, meus amigos, quantas misérias, quantas
lágrimas, e quanto vocês têm de fazer para secá-las todas! Em vão procurei consolar as pobre mães, dizendo-lhes ao ouvido: Coragem!
Há corações bondosos que velam por vocês, que não as abandonarão; paciência!
Deus lá está , e vocês são suas amadas, suas eleitas. Elas pareciam
ouvir-me e voltavam para mim seus grandes olhos arregalados. Eu lia em seus
pobres semblantes que seus corpos, esses tiranos do Espírito, tinham fome, e que, se minhas palavras lhes tranquilizavam um pouco o coração, não
lhes enchiam o estômago. Eu repetia novamente: Coragem! Coragem! Então
uma pobre mãe, muito jovem, que amamentava uma criancinha, tomou-a nos
braços e ergueu-a no espaço vazio, como a pedir-me que protegesse aquele
entezinho, que só encontrava num seio estéril alimentação insuficiente.
Noutro lugar, meus amigos, vi pobres velhos sem trabalho
e quase sem abrigo, atormentados por todos os sofrimentos da necessidade, e
envergonhados de sua miséria, não ousando, eles que jamais mendigaram, a
implorar a piedade dos passantes. Coração movido de compaixão, eu, que nada
tenho, me fiz mendiga para eles, e, vou por toda parte, estimular a beneficência,
inspirar bons pensamentos aos corações generosos e compassivos. Por isso venho aqui,
meus amigos, e lhes digo: lá embaixo há infelizes cuja cesta está sem pão, sem
fogo na lareira, sem coberta no leito. Não lhes digo o que devem fazer; deixo a
iniciativa aos seus bons corações; pois se lhes ditasse a linha de conduta, vocês
não teriam o mérito de suas boas ações. Digo-lhes somente: Sou a caridade e lhes
estendo as mãos pelos seus irmãos sofredores.
Mas, se peço, também dou, e dou bastante. Convido-os para
um grande banquete, e ofereço a árvore em que todos vocês poderão saciar-se. Vejam
como ela é bela, como está carregada de flores e de frutos! Vamos, vamos! colham
todos os frutos dessa bela árvore que se chama beneficência. Em lugar dos ramos
que lhe arrancarem, porei todas as boas ações que fizerem e levarei a árvore a
Deus, para que Ele a carregue de novo, pois a beneficência é inesgotável. Sigam-me,
pois, meus amigos, a fim de que eu os conte entre os que se alistam sob minha
bandeira. Não tenham medo; eu os conduzirei
pela via da salvação, porque sou a Caridade!
Tradução livre da terceira edição francesa pelo professor doutor Jorge Leite de Oliveira