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sábado, 30 de janeiro de 2021


 

13.5.5 Cárita

Martirizada em Roma, Lyon, 1861

 

Meu nome é Caridade, sou o caminho principal que conduz até Deus; sigam-me, porque sou a meta a que todos devem visar.
Fiz, nesta manhã, meu passeio habitual, e, com o coração amargurado, venho dizer-lhes: Oh, meus amigos, quantas misérias, quantas lágrimas, e quanto vocês têm de fazer para secá-las todas! Em vão procurei consolar as pobre mães, dizendo-lhes ao ouvido: Coragem! Há corações bondosos que velam por vocês, que não as abandonarão; paciência! Deus lá está , e vocês são suas amadas, suas eleitas. Elas pareciam ouvir-me e voltavam para mim seus grandes olhos arregalados. Eu lia em seus pobres semblantes que seus corpos, esses tiranos do Espírito, tinham fome, e que, se minhas palavras lhes tranquilizavam um pouco o coração, não lhes enchiam o estômago. Eu repetia novamente: Coragem! Coragem! Então uma pobre mãe, muito jovem, que amamentava uma criancinha, tomou-a nos braços e ergueu-a no espaço vazio, como a pedir-me que protegesse aquele entezinho, que só encontrava num seio estéril alimentação insuficiente.
Noutro lugar, meus amigos, vi pobres velhos sem trabalho e quase sem abrigo, atormentados por todos os sofrimentos da necessidade, e envergonhados de sua miséria, não ousando, eles que jamais mendigaram, a implorar a piedade dos passantes. Coração movido de compaixão, eu, que nada tenho, me fiz mendiga para eles, e, vou por toda parte, estimular a beneficência, inspirar bons pensamentos aos corações generosos e compassivos. Por isso venho aqui, meus amigos, e lhes digo: lá embaixo há infelizes cuja cesta está sem pão, sem fogo na lareira, sem coberta no leito. Não lhes digo o que devem fazer; deixo a iniciativa aos seus bons corações; pois se lhes ditasse a linha de conduta, vocês não teriam o mérito de suas boas ações. Digo-lhes somente: Sou a caridade e lhes estendo as mãos pelos seus irmãos sofredores.
Mas, se peço, também dou, e dou bastante. Convido-os para um grande banquete, e ofereço a árvore em que todos vocês poderão saciar-se. Vejam como ela é bela, como está carregada de flores e de frutos! Vamos, vamos! colham todos os frutos dessa bela árvore que se chama beneficência. Em lugar dos ramos que lhe arrancarem, porei todas as boas ações que fizerem e levarei a árvore a Deus, para que Ele a carregue de novo, pois a beneficência é inesgotável. Sigam-me, pois, meus amigos, a fim de que eu os conte entre os que se alistam sob minha bandeira. Não tenham medo; eu os conduzirei pela via da salvação, porque sou a Caridade!

Tradução livre da terceira edição francesa pelo professor doutor Jorge Leite de Oliveira

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

 

EM DIA COM O MACHADO 455:

revisor não é coautor (Jó)

 


        Encontrei-me, noite passada, com o Bruxo do Cosme Velho, que, na juventude, exerceu o ofício de revisor. Ele saiu duma nave fluídica, que atravessou a dimensão espacial e se materializou em meu escritório. Feliz por revê-lo, saudei-o amigavelmente. Machado retribuiu meu cumprimento e perguntou-me sobre o que tanto me inquieta ultimamente.

        Ocupado com trabalhos revisionais, perguntei-lhe se ele, que na juventude trabalhara como revisor de textos dos periódicos Marmota Fluminense e Correio Mercantil, tinha algumas dicas aos revisores de obras espíritas. Ele, então, propôs-me dez mandamentos:

I - Respeitarás o autor do texto sobre todas as tuas ciências, com todo o teu entendimento e de todo o teu coração;

II – Não substituirás termos doutrem, inda que sejam sinônimos, pelos do teu agrado, principalmente, se o escritor já estiver no Além;

III - Não corrigirás destaques, palavras repetidas, em versos e, muito menos, juntarás estrofes de poemas alheios;

IV – Uma cousa é uma coisa; outra coisa é uma cousa; se optei por cousa, não te cabe trocar por coisa; além disso, a obra que revisas pode ir além-mar, após o acordo ortográfico entre países lusófonos, onde cousa é a mesma coisa;

V – Não mudarás o sentido direto pelo indireto, e vice-versa, da frase que não é tua, ou seja, da frase que não é tua, não mudarás o sentido direto pelo indireto;

VI – Lembra-te de que adjuntos adverbiais dispensam vírgula no fim da frase;

VII – Honra o teu editor e a autoria do texto, mas, se discordares dalgo grave que ambos exigem manter no trabalho sob tua revisão, pede-lhes para excluir teu nome da citação dos créditos na obra;

VIII – Não faças qualquer alteração de frases obscuras à revelia do autor;

IX - Não atualizes nem mudes referências citadas pelo autor, salvo se tiveres certeza de que estão erradas;

X – Não ambiciones ser coautor da obra, inda que contribuas, com a anuência do autor, na correção de datas, concordância, regência, ortografia, coerência, vírgulas, acréscimos autorizados por ele, ponto final.

        Dito isso, Machado de Assis deu-me um abraço, desejou-me saúde, neste mundo em transição, retornou à nave e acenou-me adeus.

        Disse-lhe muito obrigado e passei a refletir...

 

 

sábado, 23 de janeiro de 2021

 


13.5.4 São Vicente de Paulo

Paris, 1858

Sejam bons e caridosos: eis a chave dos céus, que vocês têm nas mãos. Toda a felicidade eterna se encerra nesta máxima: "Amem-se uns aos outros". A alma não pode alcançar regiões espirituais elevadas senão pelo devotamento ao próximo. Ela não encontra felicidade e consolação senão nos impulsos da caridade. Sejam bons, amparem seus irmãos, deixem de lado a horrível chaga do egoísmo.  Cumprido esse dever, o caminho da felicidade eterna deve abrir-se para vocês. Aliás, quem dentre vocês não sentiu o coração pulsar de júbilo, de alegria interior, ao relato de um belo sacrifício, de uma obra de verdadeira caridade? Se buscassem apenas a satisfação de uma boa ação, estariam sempre no caminho do progresso espiritual. Exemplos não lhes faltam; o que falta é a boa vontade, sempre rara. Vejam a multidão de homens de bem, de que a sua história evoca piedosas lembranças.

O Cristo não lhes disse tudo o que se refere a essas virtudes de caridade e amor? Por que deixar de lado seus divinos ensinamentos? Por que fechar os ouvidos às suas divinas palavras, o coração às suas doces máximas? Eu gostaria que se votasse mais interesse, mais fé às leituras evangélicas; mas abandona-se esse livro, considerado como texto com palavras vazias, mensagem fechada; deixam no esquecimento esse código admirável. Seus males provêm do abandono voluntário desse resumo das leis divinas. Leiam, pois, essas páginas brilhantes sobre o devotamento de Jesus, e meditem-nas.

Homens fortes, protejam-se; homens fracos, façam da sua doçura, da sua fé, a sua proteção. Sejam mais persuasivos, tenham mais constância na propagação de sua Doutrina. Este é apenas um encorajamento que lhes vimos dar, e é para estimular seu zelo e suas virtudes, que Deus permite nossa manifestação. Mas se cada um o quisesse, bastaria sua própria vontade e a ajuda de Deus, pois as manifestações espíritas se produzem apenas para quem tem os olhos fechados e os corações indóceis.

A caridade é a virtude fundamental que deve sustentar todo o edifício das virtudes terrenas; sem ela, as outras não existiriam. Sem a caridade, nada de esperar uma sorte melhor, nenhum interesse moral que nos guie; sem a caridade, nada de fé, pois a fé não é mais do que um raio de luz pura, que faz brilhar uma alma caridosa.

A caridade é a eterna âncora de salvação em todos os mundos: é a mais pura emanação do Criador; é a Sua própria virtude, que Ele transmite à criatura. Como desprezar essa suprema bondade? Qual seria o coração suficientemente perverso para, assim pensando, recalcar e depois expulsar este sentimento todo divino? Qual seria o filho bastante mau para revoltar-se contra essa doce carícia: a caridade?

Não ousarei falar daquilo que fiz, porque os Espíritos também têm o pudor de suas obras; mas considero a que iniciei como uma das que mais devem contribuir para o alívio de seus semelhantes. Vejo frequentemente os Espíritos pedirem por missão continuar minha tarefa; eu os vejo, minhas doces e queridas irmãs, no seu piedoso e divino ministério; eu os vejo praticar a virtude que lhes recomendo, com toda a alegria que essa existência de abnegação e sacrifícios proporciona. É uma grande felicidade, para mim, ver quanto se enobrece seu caráter, quanto sua missão é amada e docemente protegida. Homens de bem, de boa e forte vontade, unam-se para continuar amplamente a obra de propagação da caridade. Encontrarão a recompensa dessa virtude no seu próprio exercício. Não há alegria espiritual que ela não proporcione desde a vida presente. Sejam unidos. Amem-se uns aos outros, segundo as lições do Cristo. Assim seja!

      Tradução livre da 3ª ed. francesa pelo prof. dr. Jorge Leite de Oliveira

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

 

  • EM DIA COM O MACHADO 454:
  • O Homem Reformador (Jó)

  •   

Encontrei, dia desses, à noite, um senhor com uma máquina fotográfica antiga nas mãos, que me perguntou se eu não gostaria de ser fotografado por ele. Respondi-lhe que, atualmente, qualquer celular moderno é capaz de tirar fotos incríveis. Por esse motivo, agradeci-lhe a proposta e já me afastava sorrindo, quando ele me pediu mais um minuto de atenção. Estávamos em frente à Federação Espírita Brasileira.

Como não gosto de ser mal-educado com ninguém, prontamente, voltei-me e disse-lhe que ficasse à vontade para dizer-me algo mais que desejasse. Ele se apresentou dizendo simplesmente chamar-se Augusto e quis saber meu nome. Tão logo me identifiquei, ele cumprimentou-me pelo meu esforço em divulgar o Espiritismo, à luz dos ensinamentos do Cristo, mas que eu tivesse prudência, pois não faltam aqueles que se dizem espíritas, porém não têm qualquer escrúpulo em atacar seus irmãos de ideal e a Casa de Ismael, fundada há 137 anos.

— É verdade, respondi-lhe, mas se os ataques forem pessoais, não me incomodo. Devo satisfação à minha consciência apenas, pois é nela que está inscrita a Lei de Deus. Só não admito que ataquem uma instituição que há tantos anos divulga o Consolador prometido por Jesus. Mas... como me conhece? perguntei-lhe.

— Leio, toda a semana, suas crônicas e todos os seus artigos publicados na revista Reformador, respondeu-me ele. Em seguida, contou-me sua história.

— Eu — disse-me o até então estranho homem da máquina fotográfica — era totalmente indiferente às questões religiosas. Ateu, não acreditava no que diziam as religiões, que, para mim, não passavam de criações humanas que tinham o objetivo de explorar a ignorância do povo. Até o dia em que fui convidado a assistir a uma palestra espírita, na Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade, situada na rua da Alfândega, nº 120, no Rio de Janeiro. O que ouvi do expositor deixou-me curioso. Então, o amigo que me levara lá aconselhou-me a ler as obras de Allan Kardec, cujo estudo despertou-me a curiosidade de experimentar as teorias, que me deslumbraram. Passei a frequentar todas as reuniões, li sofregamente as obras da codificação, então traduzidas, assisti às sessões mediúnicas, e comprovei as grandes verdades que ignorava: a imortalidade da alma, sua manifestação após a morte do corpo físico, o corpo espiritual, chamado perispírito, a existência de Deus e a felicidade como meta de cada ser humano, criado para o aperfeiçoamento eterno.

Algum tempo depois, com os próprios recursos, no dia 21 de janeiro de 1883, lancei o primeiro número de uma das mais antigas revistas espíritas do mundo, à qual dei o nome de Reformador. Tornei-me membro da Comissão Confraternizadora da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade e, em 2 de janeiro de 1884, com o apoio e incentivo de minha sogra, dona Maria Baldina da Conceição Batista, e minha esposa, dona Matilde Elias da Silva, também espíritas, reunimo-nos com os Srs. Francisco Raimundo Ewerton Quadros, Manoel Fernandes Figueira, Francisco Antônio Xavier Pinheiro, João Francisco da Silveira Pinto, Romualdo Nunes Vitório, Pedro da Nóbrega, José Agostinho Marques Porto e inauguramos, definitivamente, a Federação Espírita Brasileira, que, nos primeiros anos, tanto quanto o periódico Reformador, tinham por endereço minha residência e local de trabalho, situada no segundo andar da rua da Carioca nº 120, no Rio de Janeiro.

Então, percebi que falava com o Espírito Augusto Elias da Silva, nascido em Portugal e desencarnado no Brasil, na então capital do país. E, tanto quanto aquelas pessoas abnegadas que a ele se uniram, para dar início à monumental obra de difusão do Espiritismo, sofreria calado os mais fanáticos ataques que a nova Revelação prometida por Jesus teria de suportar.

Foi ele que buscou Bezerra de Menezes para exercer sua missão de união dos espíritas, segundo o Espírito Humberto de Campos (cap. 23 de Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho). Foi ele que, com os recursos modestos de sua profissão de fotógrafo, sem ambições de destaque, sem títulos acadêmicos, mas profundo estudioso do Espiritismo, pôs em prática a máxima "Fora da caridade, não há salvação", proposta por Allan Kardec no cap. 15 d'O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Antes que Augusto Elias da Silva se despedisse de mim, deixou-me este recado:

— Jorge, não se preocupe com os que atacam a FEB, muitas das vezes escrevendo meia dúzia de laudas com mais erros do que em quaisquer das obras com centenas de páginas, publicadas pela casa que tem por divisa: "Deus, Cristo e Caridade". Eles passarão, como tantos outros já se foram, mas a Federação Espírita Brasileira, cuja direção suprema está nas mãos do Cristo, continuará sua missão sem revidar aos ataques daqueles que não sabem o que fazem, como disse Jesus em relação aos seus algozes. Oremos também por eles.

Agradeci-lhe o conselho e prometi-lhe que continuarei firme e humilde em meu posto, até quando Deus e Jesus o permitirem. E, a mim mesmo, fiz a promessa de jamais responder a qualquer ofensa pessoal e muito menos à nossa Casa querida, pois sua direção está muito acima de nós, os seus pequeninos colaboradores.

sábado, 16 de janeiro de 2021

 


13.5.3 A Beneficência

Adolfo - Bispo de Alger, Bordeaux, 1861

 

            A beneficência, meus amigos, lhes dará neste mundo os prazeres mais puros e mais doces, as alegrias do coração, que não são perturbadas nem pelos remorsos, nem pela indiferença. Oh, se vocês pudessem compreender tudo o que encerra de grande e de agradável a generosidade das belas almas, esse sentimento que faz que se olhe aos outros com o mesmo olhar voltado para si mesmo, e que se desvista com alegria para vestir a um irmão! Se vocês pudessem, meus amigos, ter apenas a doce preocupação de fazer os outros felizes! Quais são as festas mundanas que se podem comparar a essas festas jubilosas, quando, representantes da Divindade, vocês levam a alegria a essas pobres famílias, que da vida só conhecem as adversidades e as amarguras; quando veem esses rostos macilentos brilharem subitamente de esperança, porque, desprovidos de pão, esses infelizes e seus filhos, ignorando que viver é sofrer, gritavam, choravam e repetiam estas palavras, que penetravam o coração materno, como fino punhal: "Tenho fome!"

            Oh, compreendam quanto são deliciosas as impressões daquele que vê renascer a alegria onde, momentos antes, só havia desespero! Compreendam quais são as suas obrigações para com os seus irmãos! Vão, vão ao encontro do infortúnio, ao socorro das misérias ocultas, sobretudo, que são as mais dolorosas. Vão, meus bem-amados, e lembrem-se destas palavras do Salvador: "Quando vestirem a um destes pequeninos, pensem que é a mim que o fazem!"

            Caridade! Palavra sublime, que resume todas as virtudes, és tu que deves conduzir os povos à felicidade. Ao praticar-te, eles estarão semeando infinitas alegrias para o próprio futuro, e durante o seu exílio na Terra, serás para eles a consolação, o antegozo das alegrias que mais tarde desfrutarão, quando todos reunidos se abraçarem, no seio do Deus de amor. Foste tu, virtude divina, que me proporcionaste os únicos momentos de felicidade que gozei na Terra.

            Possam os meus irmãos encarnados crer na voz do amigo que lhes diz: É na caridade que vocês devem procurar a paz do coração, o contentamento da alma, o remédio para as aflições da vida. Oh, quando vocês estiverem a ponto de acusar a Deus, lancem um olhar para baixo, e verão quantas misérias a aliviar, quantas pobres crianças sem família; quantos velhos sem uma só mão amiga para os socorrer e fechar-lhes os olhos na hora da morte! Quanto bem a fazer! Oh, não reclamem, antes agradeçam a Deus, e prodigalizem a mãos cheias a sua simpatia, o seu amor, o seu dinheiro, a todos os que, deserdados dos bens deste mundo, definham no sofrimento e na solidão. Vocês colherão neste mundo alegrias bem suaves, e mais tarde... só Deus o sabe!


            Tradução livre do prof. dr. Jorge Leite de Oliveira

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

 

EM DIA COM O MACHADO 453:
Nunca mais... (jó)


        Amigos, estive pensando... nunca mais o mundo será o mesmo após a pandemia. Enfocarei, nestas linhas, apenas a situação das igrejas e templos religiosos, mas concluirei com um evento cultural curioso. Agora, como jamais ocorreu antes, as pessoas assistem aos seus cultos, missas e reuniões doutrinárias públicas, que é o caso dos espíritas, no conforto do seu lar. Então, para quem tem dificuldade de locomoção, como os idosos e deficientes físicos, o novo tempo surgiu para favorecê-los.

         Quanto aos jovens e crianças, é preciso reinventar os processos pedagógicos com dinâmicas, recursos técnicos e evangelizadores que saibam lidar com eles e motivá-los para participarem dos cultos ou reuniões. Cada vez mais, é requerida a prática da empatia no trato com todos: crianças, jovens e adultos. Mas não basta isso, é preciso que a pessoa encarregada da transmissão dos conhecimentos doutrinários possua, tanto quanto muito amor, pleno domínio do tema, além de saber lidar com os meios tecnológicos e interação com quem está, presente ou oculto, nos mais curiosos ambientes do lar: quarto de dormir, sala, cozinha, ou local diverso...

         Há poucos dias, assisti a uma conferência acadêmica internacional. No final do evento, o emérito coordenador convidou, para brindar-nos, com sarau literário e musical, um autor de obras poéticas premiadas internacionalmente, além de um conhecido jovem rapper baiano. Os poemas e músicas apresentados pelos convidados foram de grande beleza e engajamento político e religioso. O poeta clamou contra as injustiças sociais; e o rapper apelou a Jesus Cristo e a Deus para que socorressem todas as vítimas do preconceito, usuários de drogas e criminosos.

         Belíssima apresentação quanto ao conteúdo, mas não quanto à veste do rapper, que, à primeira vista, inspirava receio sobre o que ele iria expor musicalmente: estava completamente despido da cintura para cima. Tão displicente, sem camisa, que ele mesmo ficou sem graça — haja vista que o vídeo nos faculta ver a própria imagem — e foi vestir-se adequadamente.  

         Agora o espanto: os dois poetas em nenhum momento fizeram juízo de valor em relação à crença dos ouvintes. Já o coordenador do curso, que é meu amigo ateu confesso, desandou a criticar a crença em Deus e as religiões de um modo tão convicto que mais parecia um profeta do niilismo.

         É preciso um pouco de bom senso em relação ao que se está falando, em especial, em nome da cultura. Também não fica bem a um religioso atacar com virulência a crença ou descrença alheia, pois, se isso é feito on-line, tudo fica gravado e sujeito a críticas até mesmo internacionais: o conteúdo, a obra, o autor, o que ele apresenta e como se apresenta.

         Minha sugestão final, agora que estamos começando a aprender a conviver com os vírus mutantes, que poderão nos levar para a terra dos pés juntos, caso não nos previnamos de seu contágio: estando ou não on-line, não destilemos os vírus de nossa intolerância ou descaso para com o nosso respeitável público. Nunca mais...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

 


13.5.2 Um Espírito Protetor (Lyon, 1860)

 

        Meus amigos, tenho ouvido muitos de vocês dizerem: Como posso fazer a caridade? Frequentemente, nem mesmo tenho o necessário!

            A caridade, meus amigos, se faz de muitas maneiras. Podem fazê-la em pensamento, em palavras e em ações. Em pensamento orando pelos pobres abandonados, que morreram sem mesmo terem visto a luz; uma prece de coração os alivia. Em palavras: dirigindo aos seus companheiros diariamente alguns bons conselhos. Digam aos homens amargurados pelo desespero e pelas privações, que blasfemam do nome do Altíssimo: "Eu era como vocês; eu sofria, sentia-me infeliz mas acreditei no Espiritismo e, vejam, agora sou feliz!" Aos anciãos que lhes disserem: "É inútil; estou no fim da vida; morrerei como vivi”, digam: "A justiça de Deus é igual para todos; lembrem-se dos trabalhadores da última hora!" Às crianças que, já viciadas pelas más companhias, perdem-se nos caminhos do mundo, prestes a sucumbir às suas tentações, digam: "Deus os vê, meus caros pequenos!", e não temam repetir frequentemente essas doces palavras, que acabarão por germinar nas suas jovens inteligências, e em lugar de pequenos vagabundos, farão deles verdadeiros homens. Essa é também uma forma de caridade.

        Muitos de vocês dizem ainda: "Oh! Somos tão numerosos na Terra que Deus não pode ver-nos a todos!" Escutem bem isso, meus amigos: Quando estão no alto de uma montanha, seu olhar não abarca os bilhões de grãos de areia que a cobrem? Pois bem: Deus os vê do mesmo modo. Ele lhes deixa seu livre-arbítrio, como vocês também deixam esses grãos de areia ao sabor do vento que os dispersa. Apenas, Deus, na sua infinita misericórdia, pôs no fundo do seu coração uma sentinela vigilante, que se chama consciência. Escutem-na, ela lhes dará bons conselhos. Por vezes, vocês conseguem entorpecê-la, opondo-lhe o espírito do mal, e então ela se cala. Mas fiquem seguros de que a pobre relegada se fará ouvir, tão logo a deixarem perceber a sombra do remorso. Ouçam-na, interroguem-na, e frequentemente serão consolados pelo conselho dela recebido.

        Meus amigos, a cada novo regimento o general entrega uma bandeira. Eu lhes dou esta máxima do Cristo: "Amem-se uns ao outros". Pratiquem essa máxima; reúnam-se todos em torno dessa bandeira, e receberão a felicidade e a consolação.  

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

 

  • EM DIA COM O MACHADO 452:
  • colhemos o que plantamos (jó)


             Diz a história que, ao desembarcar próximo ao Monte Pascoal, em Porto Seguro, na Bahia, Cabral pediu a Pero Vaz de Caminha para que escrevesse uma carta ao rei de Portugal, Dom Manuel I, relatando-lhe a visão maravilhosa que tiveram da terra descoberta. A carta fez o maior sucesso. Tanto é assim que, até hoje, é repetida a seguinte frase de Caminha: "Aqui, em se plantando, tudo dá".

         Profundamente grato à terra que iriam colonizar, quando, em 22 de abril de 1500, percebeu que já habitavam aqui alguns cidadãos de costumes diferentes dos cristãos portugueses, quatro dias após aqui chegar, Cabral mandou frei Henrique de Coimbra rezar uma missa na colônia, que somente em 1527 seria chamada Brasil. A intenção era catequizar todos os nativos, a quem passaram a chamar de índios.

         No princípio, imaginaram estar numa ilha, então denominaram-na Ilha de Vera Cruz. Após percorrerem os espaços imensos, perceberam que estavam em local milhões de vezes maior do que uma ilha, então, em 1503, mudaram o nome para Terra de Santa Cruz. Foi descoberta uma inumerável quantidade de árvores da madeira que chamavam, em Portugal, "pau brasil". E por que a quantidade dessa árvore era tamanha, perceberam que somente a comercialização da madeira dela faria de Portugal um país muito rico. Desse modo, decorridos mais de vinte anos de desmatamento e extração do pau-brasil, em 1527, Portugal resolveu rebatizar sua rica colônia com o nome  que passou a ser definitivamente Brasil.

         Hoje em dia, o que temos é jacarandá, mogno e ipê, que, assim como o pau-brasil, estão ameaçados de extinção. Desse modo, apelamos para o Espírito Emmanuel, que nos recomendou o replantio de todas as árvores de nosso país, mas também começar, dentro de nós mesmos, com urgência, a "plantação espiritual". Eis o que ele transmitiu a Chico Xavier, que não perdeu tempo na semeadura divina:

[...]

Auxilia a ti próprio, produzindo o bem.

Sem que percebas, vives invariavelmente nas vidas que te cercam.

Se a mentira ou a aversão te visita, não te esqueças de que constituem os frutos de tua própria plantação.

Cada criatura reflete em si aquilo que lhe damos ou impomos.

Nas alheias demonstrações para conosco, é possível analisar a qualidade de nossa sementeira.

Aprendamos a cultivar o auxílio fraterno, o trabalho construtivo, a concórdia santificante e a solidariedade fiel, através de todos os passos e de todos os minutos, porque o amanhã será resposta viva a nossa conduta de hoje, tanto quanto a bênção ou a dor de agora consubstanciam os resultados das nossas ações de ontem.

Caminha iluminando a estrada com os recursos da bondade e da alegria, convicto de que a nossa família na eternidade é constituída de nossas próprias obras, e, desse modo, estarás organizando magníficos moldes espirituais para as tuas novas tarefas na elevação ou na reencarnação em futuro próximo.

 

         Leitor amigo e amiga leitora, o texto completo dessa bela mensagem está na obra Relicário de Luz, sob o título Plantação espiritual, obra publicada pela Federação Espírita Brasileira, cujos recursos são destinados à assistência social e à divulgação do Espiritismo, Consolador prometido por Jesus, como lemos no capítulo 14:15 a 18 do Evangelho de João. Também desse modo, "em se plantando, tudo dá". Paz e bem!

             




domingo, 3 de janeiro de 2021

 


13.5 Instruções dos Espíritos: a caridade material e a caridade moral

13.5.1 Irmã Rosália (Paris, 1860)

 

Amemo-nos uns aos outros e façamos a outrem o que gostaríamos que nos fosse feito. Toda a religião, toda a moral, se encerram nesses dois preceitos. Se eles fossem seguidos no mundo, todos seriam perfeitos. Sem ódios, sem ressentimentos. Direi mais ainda: sem pobreza, porque, do supérfluo da mesa de cada rico, muitos pobres seriam alimentados e vocês não mais veriam, nos quarteirões sombrios em que habitei, em minha última encarnação, pobres mulheres arrastando consigo miseráveis crianças necessitadas de tudo.

Ricos! pensem um pouco nisso. Ajudem o mais possível aos infelizes. Deem, para que Deus lhes retribua um dia o bem que houverem feito, para encontrarem, ao sair de seu invólucro terrestre, um cortejo de Espíritos reconhecidos, que os receberão no limiar de um mundo mais feliz.

Se pudessem saber a alegria que provei, ao reencontrar no além aqueles a quem beneficiei, na minha última existência!... Amem, pois, seu próximo; amem-no como a si mesmos, pois já sabem, agora, que o desgraçado que repelem talvez seja um irmão, um pai, um amigo que afastam para longe. E então,  grande será seu desespero, ao reconhecê-lo depois no mundo dos Espíritos!

Desejo que compreendam bem o que deve ser a caridade moral, que todos podem praticar, que materialmente nada custa, e que não obstante é a mais difícil de se pôr em prática. A caridade moral consiste em  suportarem-se uns aos outros, o que vocês menos fazem nesse mundo inferior, em que estão no momento encarnados. Há um grande mérito em um homem saber calar-se,  para que fale outro mais tolo do que ele. Isso é também uma forma de caridade. Saber ser surdo, quando uma palavra zombeteira escapa de uma boca habituada a provocar; não ver o sorriso desdenhoso com que os recebem pessoas que, muitas vezes, erradamente, se julgam superiores a vocês, quando na vida espiritual, a única real, estão às vezes muito abaixo: eis um merecimento não do ponto de vista da humildade, mas da caridade, pois não se incomodar com as faltas alheias é caridade moral.

Entretanto, essa caridade não deve impedir a outra. Pensem, sobretudo, que não devem desprezar seu semelhante. Lembrem-se sempre de tudo o que lhes tenho dito: é necessário lembrar, incessantemente, que o pobre repelido talvez seja um Espírito que lhes foi caro, e que momentaneamente se encontra numa posição inferior à sua. Reencontrei um dos pobres do seu mundo a quem pude, por felicidade, auxiliar algumas vezes, e ao qual, por minha vez, tenho agora de implorar ajuda.

Recordem-se de que Jesus disse que somos todos irmãos, e pensem sempre nisso, antes de repelirem o leproso ou o mendigo. Adeus! Pensem naqueles que sofrem e orem.

Tradução livre do prof. dr. Jorge Leite de Oliveira

  Propriedade Intelectual (Irmão Jó) Houve época em que produzir Obra de arte legal Era incerto garantir Direito intelectual.   Mas com tant...