17.2 O homem de bem
O
verdadeiro homem de bem é aquele que pratica a lei de justiça, de amor e
caridade na sua maior pureza. Se ele interroga sua consciência sobre os
próprios atos, se pergunta se não violou essa lei, se não cometeu o mal, se fez
todo o bem que podia, se desprezou voluntariamente alguma ocasião de ser útil,
se ninguém tem qualquer queixa dele, enfim, se fez aos outros tudo aquilo que gostaria
que eles lhe fizessem.
Tem fé
em Deus, em sua bondade, em sua justiça e em sua sabedoria. Sabe que nada
acontece sem sua permissão e se submete, em todas as coisas, à sua vontade.
Tem fé
no futuro; por isso coloca os bens espirituais acima do bens temporais.
Sabe
que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas a decepções são provas
ou expiações, e as aceita sem lamentos.
Possuído
do sentimento de caridade e de amor ao próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar
recompensa, retribui o mal com o bem, toma a defesa do fraco contra o forte e sacrifica
sempre seu interesse à justiça.
Encontra
sua satisfação nos benefícios que distribui, nos serviços que presta, nas
venturas que promove,
nas lágrimas que faz secar, nas consolações que leva aos aflitos.
Seu primeiro impulso é o de pensar nos outros,
antes que em si, de cuidar do interesse dos outros, antes que do seu próprio
interesse. O egoísta, ao contrário, calcula os proveitos e as perdas de cada
ação generosa.
É bom,
humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque
vê todos os homens como seus irmãos.
Respeita
nos outros todas as convicções sinceras e não lança o anátema aos que não pensam
como ele.
Em
todas as circunstâncias, a caridade é o seu guia. Diz a si mesmo que aquele que
prejudica os outros com palavras malévolas, que fere a suscetibilidade alheia
com o seu orgulho e seu desprezo, que não recua à ideia de causar um
sofrimento, uma contrariedade, ainda que ligeira, quando a pode evitar, falta
ao dever do amor ao próximo e não merece a clemência do Senhor.
Não tem
ódio, nem rancor, nem desejo de vingança. A exemplo de Jesus, perdoa e esquece as
ofensas, e não se lembra senão dos benefícios, porque sabe que lhe será
perdoado, conforme houver perdoado.
É
indulgente para as fraquezas doutrem, porque sabe que também tem necessidade de
indulgência, e se lembra destas palavras do Cristo: "Aquele que está sem
pecado atire a primeira pedra".
Não se
compraz em procurar os defeitos dos outros, nem em os evidenciar. Se a necessidade
o obriga a isso, procura sempre o bem que pode atenuar o mal.
Estuda suas
próprias imperfeições e trabalha sem cessar em combatê-las. Todos os seus esforços
tendem a permitir-lhe dizer, no dia seguinte, que traz em si alguma coisa
melhor do que na véspera.
Não procura
valorizar nem seu espírito, nem seus talentos, à custa dos outros; ao contrário,
aproveita todas as ocasiões para fazer ressaltar as vantagens alheias.
Não se
envaidece de sua riqueza, nem com seus predicados pessoais, porque sabe que
tudo quanto lhe foi dado pode ser-lhe retirado.
Usa mas
não abusa dos bens que lhe são concedidos, porque sabe que é um depósito do
qual deverá prestar contas, e que o emprego mais prejudicial que lhes poderá dar
é utilizá-los a serviço da satisfação de suas paixões.
Se a
ordem social colocou alguns homens sob sua dependência, trata-os com bondade e
benevolência, porque são seus iguais perante Deus. Usa sua autoridade para levantar-lhes
a moral, e não para os esmagar com o seu orgulho, e evita tudo quanto poderia
tornar mais penosa sua posição subalterna.
O
subordinado, por sua parte, compreende os deveres de sua posição e tem o
escrúpulo de cumpri-los conscienciosamente (ver cap. 27, n° 9).
O homem
de bem, enfim, respeita nos seus semelhantes todos os direitos que lhes dão as
leis da natureza, como gostaria que os seus fossem respeitados.
Esta
não é a enumeração de todas as qualidades que distinguem o homem de bem, mas
quem se esforce para possuí-las estará no caminho que conduz a todas as outras.
Tradução livre de Jorge Leite de
Oliveira
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