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domingo, 28 de novembro de 2021

 


17.5 Instruções dos Espíritos

 

17.5.1 O dever

Lázaro

Paris, 1863

 

O dever é a obrigação moral, primeiro para consigo mesmo, e em seguida para com os outros. O dever é a lei da vida. Encontramo-lo nos menores, como nos mais elevados atos. Quero falar aqui somente do dever moral, e não daquele as profissões impõem.

Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de ser cumprido, porque ele se encontra em antagonismo com as seduções do interesse e do coração. Suas vitórias não têm testemunhas, e suas derrotas não sofrem repressão. O dever íntimo do homem está entregue ao seu livre-arbítrio. O aguilhão da consciência, esse guardião da probidade interior, o adverte e sustenta, mas ele se mostra frequentemente impotente diante dos sofismas da paixão. O dever do coração, fielmente observado, eleva o homem. Mas como determinar exatamente esse dever? Onde começa ele? Onde ele acaba? O dever começa precisamente no ponto em que vocês ameaçam a felicidade ou a tranquilidade do seu próximo, e termina no limite que não desejam que ninguém ultrapasse o seu.

Deus criou todos os homens iguais para a dor; pequenos ou grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem todos pelas mesmas causas, a fim de que cada um pese judiciosamente o mal que pode fazer. O mesmo critério não existe para o bem, infinitamente mais variado em suas expressões. A igualdade perante a dor é uma sublime previdência de Deus, que deseja que seus filhos, instruídos pela experiência comum, não cometam o mal alegando ignorância dos seus efeitos.

     O dever é o resumo prático de todas as especulações morais. É uma bravura da alma, que enfrenta as angústias da luta. É austero e suave, pronto a dobrar-se às mais diversas complicações, permanece inflexível diante de suas tentações. O homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais que as criaturas, e as criaturas mais que a si mesmo. É, ao mesmo tempo, juiz e escravo em sua própria causa.

O dever é o mais belo galardão da razão; ele nasce dela, como o filho nasce de sua mãe. O homem deve amar o dever, não porque ele o preserve dos males da vida, aos quais a humanidade não pode subtrair-se, mas porque ele dá à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.

O dever se engrandece e irradia, sob uma forma mais elevada, em cada uma das etapas superiores da humanidade. A obrigação moral da criatura para com Deus não cessa jamais. Ela deve refletir as virtudes do Eterno, que não aceita um esboço imperfeito, porque deseja que a beleza de sua obra resplandeça diante dele.

 

Tradução livre de Jorge Leite de Oliveira

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