17.5 Instruções dos Espíritos
17.5.1 O dever
Lázaro
Paris, 1863
O dever é a obrigação moral, primeiro para
consigo mesmo, e em seguida para com os outros. O dever é a lei da vida. Encontramo-lo
nos menores, como nos mais elevados atos. Quero falar aqui somente do dever
moral, e não daquele as profissões impõem.
Na ordem dos sentimentos, o dever é muito
difícil de ser cumprido, porque ele se encontra em antagonismo com as seduções
do interesse e do coração. Suas vitórias não têm testemunhas, e suas derrotas
não sofrem repressão. O dever íntimo do homem está entregue ao seu livre-arbítrio. O
aguilhão da consciência, esse guardião da probidade interior, o adverte e
sustenta, mas ele se mostra frequentemente impotente diante dos sofismas da
paixão. O dever do coração, fielmente observado, eleva o homem. Mas como determinar
exatamente esse dever? Onde começa ele? Onde ele acaba? O dever começa precisamente no ponto em que vocês ameaçam
a felicidade ou a tranquilidade do seu próximo, e termina no limite que não
desejam que ninguém ultrapasse o seu.
Deus criou todos os homens iguais para a dor;
pequenos ou grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem todos pelas mesmas causas,
a fim de que cada um pese judiciosamente o mal que pode fazer. O mesmo
critério não existe para o bem, infinitamente mais variado em suas expressões. A
igualdade perante a dor é uma sublime previdência de Deus, que deseja que seus
filhos, instruídos pela experiência comum, não cometam o mal alegando ignorância
dos seus efeitos.
O dever é o
resumo prático de todas as especulações morais. É uma bravura da alma, que enfrenta
as angústias da luta. É austero e suave, pronto a dobrar-se às mais diversas complicações,
permanece inflexível diante de suas tentações. O
homem que cumpre o seu dever ama a Deus mais que as criaturas, e as criaturas
mais que a si mesmo. É, ao mesmo tempo, juiz e escravo em sua própria
causa.
O dever é o mais belo galardão da razão; ele
nasce dela, como o filho nasce de sua mãe. O homem deve amar o dever, não
porque ele o preserve dos males da vida, aos quais a humanidade não pode
subtrair-se, mas porque ele dá à alma o vigor necessário ao seu desenvolvimento.
O dever se engrandece e irradia, sob uma forma
mais elevada, em cada uma das etapas superiores da humanidade. A obrigação
moral da criatura para com Deus não cessa jamais. Ela deve refletir as virtudes
do Eterno, que não aceita um esboço imperfeito, porque deseja que a beleza de
sua obra resplandeça diante dele.
Tradução livre de Jorge Leite de
Oliveira
http://lattes.cnpq.br/0494890808150275
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