17.3 OS BONS ESPÍRITAS
O Espiritismo bem compreendido, mas sobretudo bem
sentido, conduz forçosamente aos resultados acima expostos, que caracterizam o
verdadeiro espírita, como o verdadeiro cristão, pois um e outro são a mesma
coisa. O Espiritismo não cria uma nova moral, facilita ao homem a compreensão e
a prática da moral do Cristo, ao dar uma fé sólida e esclarecida aos que duvidam
ou vacilam.
Muitos, porém, dos que creem nos fatos das manifestações
não compreendem as suas consequências nem o seu alcance moral, ou, se
compreendem, não os aplicam a si mesmos. A que se deve isso? A uma falta de
clareza da doutrina? Não, pois ela não contém
alegorias, nem figuras que possam dar lugar a falsas interpretações. A clareza
é sua própria essência, e é isso que lhe dá força, porque vai diretamente à
inteligência. Nada tem de misterioso, e seus iniciados não possuem nenhum
segredo que se oculte ao povo.
Será então necessária, para compreendê-la, uma
inteligência fora do comum? Não, pois veem-se homens de notória capacidade que
não a compreendem, enquanto inteligências vulgares, até mesmo de jovens que mal
saíram da adolescência, aprenderem com admirável justeza os seus mais delicados
detalhes. Isso ocorre porque a parte, por assim dizer, material da
ciência não requer mais do que os olhos para ser observada, enquanto a parte essencial
exige um certo grau de sensibilidade que podemos chamar de maturidade do
senso moral, que independe da idade e do grau de instrução, porque é
inerente ao desenvolvimento, num sentido especial, do Espírito encarnado.
Em algumas pessoas, os laços materiais são ainda muito
fortes, para que o espírito se desprenda das coisas da terra. O nevoeiro que as
envolve impede-lhes a visão do infinito. Eis
porque não conseguem romper facilmente com os seus gostos e os seus hábitos,
não compreendendo que possa haver nada melhor do que aquilo que possuem. A
crença nos Espíritos é para elas um simples fato, mas que pouco ou nada
modifica suas tendências instintivas. Numa palavra, não veem mais do que um
raio de luz, insuficiente para orientá-las e dar-lhes uma aspiração profunda,
capaz de modificar-lhes as tendências. Apegam-se mais aos fenômenos do que à
moral, que lhes parece banal e monótona. Pedem incessantemente aos Espíritos
que as iniciem em novos mistérios, sem indagarem se se tornaram dignas de penetrar
os segredos do Criador. São os espíritas imperfeitos, alguns dos quais estacionam
no caminho ou se distanciam dos seus irmãos de crença, porque recuam ante a obrigação
de se reformarem, ou porque preferem a companhia dos que participam das suas fraquezas
ou das suas prevenções. Entretanto, a aceitação do princípio da doutrina é um
primeiro passo, que lhes facilitará o segundo, numa outra existência.
Aquele que podemos, com razão, qualificar de verdadeiro e
sincero espírita, encontra-se num grau superior de adiantamento moral. O
Espírito que domina mais completamente a matéria dá-lhe uma percepção mais
clara do futuro; os princípios da doutrina fazem vibrar-lhe as fibras que nos
outros permanecem mudas. Numa palavra: é tocado no coração. Por isso a
sua fé é inabalável. Um é como o músico que
se comove com os acordes; ao passo que o outro apenas ouve os sons. Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação
moral e pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações. Enquanto um se compraz no seu horizonte limitado, o outro,
que compreende a existência de algo melhor, esforça-se para se libertar, e sempre
o consegue, quando dispõe de uma vontade firme.
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