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terça-feira, 28 de maio de 2019




Em dia com o Machado 369 (Jó)
jojorgeleite@gmail.com

                O Espírito Emmanuel, no derradeiro dia de sua presença no Mundo Espiritual, já plenamente ciente do que lhe cabia fazer no futuro, em prol do trabalho evangélico-espírita, foi transportado por Tomé a anfiteatro. Ali, se sentaram em meio a multidão de Espíritos candidatos à exemplificação da Boa-Nova. Em seguida, um mensageiro divino descerrou cortina que abriu espaço para o passado e, em êxtase, assistiram cena ocorrida nos anos trinta da Era Cristã.
            Viram, então, que, em sereno entardecer de outono, Jesus Cristo, seguido por multidão, subiu ao monte do templo de Jerusalém. Dali, rodeado por seus apóstolos, entristeceu-se com visão fratricida em nome de nosso Deus. Foi quando disse esta frase, registrada por Mateus, 23: 37 e repetida por Lucas, 13: 34: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados, quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha recolhe os seus pintinhos debaixo das asas, e não o quiseste”.
            Emmanuel assistiu, lacrimejante, à cena e dobrou a cerviz.  Foi quando Tadeu subiu ao palco do anfiteatro e, dirigindo-se a todos os que ali estavam, lhes falou:

— Irmãos, durante séculos, estivestes envolvidos em lutas sangrentas, em nome de um Deus, que o Cristo nos ensinou ser Pai bom e amoroso, que faz nascer o sol e derramar a bênção da chuva sobre justos e injustos. Mas também vos deu o livre-arbítrio, sujeito às sanções de Sua Lei, que retribui “a cada um segundo suas obras”.
Agora, recebestes permissão do Alto para ensinar a verdadeira mensagem do Cristo, o Evangelho de Amor, com sacrifício, não mais de sangue inocente, nem de vosso próprio corpo. O martírio que se vos exige, por ora, é o do vosso amor incompreendido, de vossa boa vontade menosprezada, de vosso perdão incondicional. É, enfim, o penhor de vosso devotamento e abnegação durante quase um século de existência no corpo físico.

            Foi então que Emmanuel se sentiu envolvido num foco de suavíssima luz, que o conduzia a novo pavilhão, onde seria submetido à condensação de seu perispírito para o retorno à Terra. Viria continuar sua missão de novo apóstolo de Jesus.
E, no momento da concepção de sua mãe atual, ele registrava, em espírito, e respondia, mentalmente, ao canto maravilhoso das vozes celestiais de seus pares:

Aonde vais, ó bom semeador,
Que tão lindas sementes, nesta vida,
Levas em tuas mãos, alma querida,
Qual caridoso anjo do Senhor?

— Aonde vais, semeador da luz?
— Vou clarear o escuro e torpe mundo,
Tirar as almas do torpor profundo,
Iluminá-las junto ao bom Jesus.

— Aonde vais, semeador da paz?
— Vou cultivar esperança e alegria
Nas almas tristes no seu dia a dia,
Irmãos amados de um mesmo Pai.

— Aonde vais, semeador do bem?
— Vou minorar toda miséria atroz,
Mover montanhas e soltar a voz,
Multiplicar a boa ação por cem.

— Aonde vais, semeador do amor?
— Vou ensinar aos crentes e aos ateus
Que em nossa consciência mora Deus
Junto da caridade, o dom maior.

            Desse modo, há dezessete anos, renasceria mais um enviado do Cristo com a missão de falar do amor e exemplificá-lo, até o fim deste século, no “coração do mundo, pátria do Evangelho”, o nosso querido Brasil.
            No anfiteatro, donde inda se ouvia o canto, também soavam as palavras do Cristo ao povo da distante Jerusalém: “Pois eu vos digo: não me vereis mais até que digais: Bendito aquele que vem em nome do Senhor!” (Mateus, 23: 39; Lucas, 13: 35).

Obs.: Excetuadas as citações aspadas, tudo o mais é ficção do cronista.



domingo, 26 de maio de 2019






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4 NINGUÉM PODE VER O REINO DE DEUS, SE NÃO NASCER DE NOVO


Ressurreição e reencarnação. Os laços de família são fortalecidos pela reencarnação e rompidos pela unicidade de existência. Instruções dos Espíritos: limites da encarnação; necessidade da encarnação

Jesus veio para os lados de Cesareia de Felipe e interrogou seus discípulos assim: Que dizem os homens sobre o Filho do Homem? Quem dizem que eu sou? Eles lhe responderam: Uns dizem que você é João Batista; outros, que é Elias; outros que Jeremias ou alguns dos profetas. Disse-lhes Jesus: E vocês, quem dizem que eu sou? Respondeu-lhe Simão Pedro: Você é o Cristo, o filho do Deus vivo. Jesus respondeu-lhe: Bem-aventurado é você, Simão, filho de Jonas, porque não foi a carne e o sangue que lhe revelaram isso, e sim meu Pai, que está nos céus (Mateus, 16: 13- 17; Marcos 8:27- 30).

E chegou a Herodes, o Tetrarca, notícia de tudo o que Jesus fazia, e seu espírito ficou em suspenso, porque uns diziam que João ressuscitara dente os mortos; outros que Elias aparecera; e outros que um dos antigos profetas havia ressuscitado. Então disse Herodes: Mandei degolar a João; quem é, então, este, de quem ouço semelhantes coisas? E buscava ocasião de o ver, (Marcos, 6:14-15; Lucas, 9: 7-9).

(Após a transfiguração). Seus discípulos perguntaram-lhe isto: Por que dizem os escribas ser preciso que Elias venha primeiro? Mas Jesus lhes respondeu: É verdade que Elias há de vir e restabelecer todas as coisas. Mas eu lhes declaro que Elias já veio, e eles não o conheceram, antes fizeram dele quanto quiseram. É assim que farão sofrer o Filho do Homem. Então seus discípulos compreenderam que fora de João Batista que ele lhes falara. (Mateus, 17:10- 13; Marcos, 9: 10-13).

sábado, 25 de maio de 2019



O Evangelho Segundo o Espiritismo - conclusão do cap. 3 - trad. Jorge L. de Oliveira (25/52019)

3.4.2 Mundos de expiações e de provas

Que lhes direi, que já não conheçam, dos mundos de expiações, pois que basta considerar a Terra que habitam? A superioridade da inteligência, num grande número de seus habitantes, indica que ela não é um mundo primitivo, destinado à encarnação de Espíritos ainda mal saídos das mãos do Criador. Suas qualidades inatas provam que já viveram e realizaram um certo progresso, mas também os vícios numerosos a que se inclinam são o indício de uma grande imperfeição moral. Por isso, Deus os colocou num mundo ingrato, para expiarem suas faltas através de um trabalho penoso e das misérias da vida, até que se façam merecedores de passar para um mundo mais feliz.
Entretanto, nem todos os Espíritos encarnados na Terra se encontram em expiação. As raças que vocês chamam selvagens constituem-se de Espíritos apenas saídos da infância, e que estão, por assim dizer, educando-se e desenvolvendo-se ao contato de
Espíritos mais avançados. Vêm a seguir as raças semicivilizadas, formadas por esses mesmos Espíritos em progresso. Essas são, de algum modo, as raças indígenas da Terra, que se desenvolveram pouco a pouco, através de longos períodos seculares, conseguindo algumas atingir a perfeição intelectual dos povos mais esclarecidos.
Os Espíritos em expiação aí são, se nos podemos exprimir assim, exóticos. Já viveram em outros mundos, dos quais foram excluídos por sua obstinação no mal, que os tornava causa de perturbação para os bons. Tiveram de ser degradados, por algum tempo, para o meio dos Espíritos mais atrasados, tendo por missão fazê-los avançar, porque trazem uma inteligência desenvolvida e os germes dos conhecimentos adquiridos. É por isso que os Espíritos punidos se encontram entre as raças mais inteligentes, pois são estas também as que sofrem mais amargamente as misérias da vida, por possuírem maior sensibilidade e serem mais atingidas pelos atritos do que as raças primitivas, cujo senso moral é mais obtuso.
A Terra oferece-nos, pois, um dos tipos de mundos expiatórios em que as variedades são infinitas, mas que têm por caráter comum servirem de lugar de exílio para os Espíritos rebeldes à Lei de Deus. Esses Espíritos têm aí de lutar, ao mesmo tempo, contra a perversidade dos homens e a inclemência da natureza, trabalho duplamente penoso, que desenvolve a uma só vez as qualidades do coração e as da inteligência. É assim que Deus, na sua bondade, torna o próprio castigo proveitoso para o progresso do Espírito.
Agostinho
Paris, 1862.

3.4.3 Mundos regeneradores

Entre essas estrelas que cintilam na abóbada azulada, quantas delas são mundos, como o seu, designados pelo Senhor para expiação e provas! Mas há também entre elas mundos mais infelizes e melhores, como há mundos transitórios, que podemos chamar de
regeneradores. Cada turbilhão planetário, girando no espaço em torno de um centro comum, arrasta consigo mundos primitivos, de provas, de regeneração e de felicidade. Já lhes foi falado desses mundos em que a alma nascente é colocada, ainda ignorante do bem e do mal, para que possa marchar em direção a Deus, senhora de si mesma, na posse do seu livre-arbítrio. Já ouviram também falar das amplas faculdades de que a alma foi dotada, para praticar o bem. Mas oh! há as que sucumbem! E Deus, que não as quer aniquilar, permite-lhes ir a esses mundos em que, de encarnações em encarnações, podem fazer-se novamente dignas da glória a que foram destinadas.
Os mundos regeneradores servem de transição entre os mundos de expiação e os felizes. A alma que se arrepende, neles encontra a calma e o repouso e acaba por se depurar. Sem dúvida, mesmo nesses mundos, o homem ainda está sujeito às leis que regem a matéria. A humanidade experimenta as suas sensações e os seus desejos, mas está isenta das paixões desordenadas que a escravizam. Nesses mundos, não há mais o orgulho que emudece o coração, a inveja que o tortura e o ódio que o asfixia. A palavra amor está inscrita em todas as frontes; uma perfeita equidade regula as relações sociais; todos reconhecem Deus e tentam caminhar para Ele, cumprindo suas leis.
Nesses mundos, entretanto, ainda não existe a perfeita felicidade, mas a aurora da felicidade. O homem aí ainda é carnal, e por isso mesmo sujeito às vicissitudes de que só estão isentos os seres completamente desmaterializados. Ainda tem provas a sofrer, mas estas não se revestem das pungentes angústias da expiação. Comparados à Terra, esses mundos são bastante felizes, e muitos de vocês gostariam de habitá-los, porque representam a calma após a tempestade, a convalescença após uma doença cruel. Menos absorvido pelas coisas materiais, o homem entrevê melhor o seu futuro do que vocês, compreende que são outras as alegrias prometidas pelo Senhor aos que se tornam dignos, quando a morte ceifar novamente os seus corpos, para lhes dar a verdadeira vida. É então que a alma liberta poderá pairar sobre os horizontes. Não mais haverá sentidos materiais e grosseiros, mas os sentidos de um perispírito puro e celeste, aspirando as emanações de Deus, sob os aromas do amor e da caridade, que se expandem no seu seio.
Mas, ah! Nesses mundos o homem ainda é falível, e o Espírito do mal ainda não perdeu completamente o seu império. Não avançar é recuar, e se ele não estiver firme no caminho do bem, pode cair novamente em mundos de expiação, onde o esperam novas e mais terríveis provas.
Contemplem, pois, durante a noite, na hora do repouso e da prece, essa abóbada azulada, e entre as inumeráveis esferas que brilham sobre as suas cabeças, procurem as que levam a Deus, e peçam que um mundo regenerador lhes abra seu seio, após a expiação na Terra.
Agostinho
Paris, 1862.

3.4.4 progressão dos mundos

O progresso é uma das leis da natureza. Todos os seres da criação, animados e inanimados, estão submetidos a ela, pela bondade de Deus, que deseja que tudo se engrandeça e prospere. A própria destruição, que parece, aos homens, o fim das coisas, é apenas um meio de levá-las, pela transformação, a um estado mais perfeito, pois tudo morre para renascer, e nada sofre o aniquilamento.
Ao mesmo tempo que os seres vivos progridem moralmente, os mundos que eles habitam progridem materialmente. Quem pudesse acompanhar um mundo em suas diversas fases, desde o instante em que se aglomeraram os primeiros átomos da sua constituição, o veria percorrer uma escala incessantemente progressiva, mas em graus insensíveis para cada geração, e oferecer aos seus habitantes uma morada mais agradável, à medida que eles também avançam na estrada do progresso. Assim marcham paralelamente o progresso do homem, o dos animais, seus auxiliares, o dos vegetais e o das formas de habitação, porque nada fica estacionário na natureza. Quão grandiosa é essa ideia e digna da majestade do Criador! Quanto, ao contrário, é pequena e indigna do seu poder aquela que concentra a sua solicitude e a sua providência no imperceptível grão de areia, que é a Terra, e restringe a humanidade às poucas criaturas que o habitam!
A Terra, seguindo essa lei, esteve material e moralmente num estado inferior ao de hoje, e atingirá, sob esses dois aspectos, um grau mais avançado. Ela chegou a um de seus períodos de transformação, e vai passar de mundo expiatório a mundo regenerador. Então os homens serão felizes, na Terra, porque nela a lei de Deus reinará.
Agostinho
Paris, 1862.

sexta-feira, 24 de maio de 2019




6
O LIVRO-LIBELO

O distinto causídico não ocultava a ojeriza que experimentava pela Doutrina Espírita. Fosse onde fosse, se a conversa versasse sobre algum tema de Espiritismo, escorregava deliberadamente para o sarcasmo: Essa história de Espiritismo, só num tratado psiquiátrico dizia, irônico, e destilava pequenas difamações como quem debulhava espigas de brasas. Tão azedo adversário se fizera, que aproveitou largo período de férias, em fazenda silenciosa, para escrever um livro contra os postulados espíritas. Livro-acusação. Livro de ódio. Nos serões caseiros, costumava ler para os amigos esse ou aquele trecho, em que médiuns eram denunciados e apupados de maneira cruel. E riam-se, ele e os companheiros, entre um e outro gole de uísque, salpicando a lama esfogueante em forma de letras.
O distinto advogado assumia as primeiras responsabilidades para enviar o volume à editora, quando sobreveio o inesperado.
Dirigia carro elegante, nas proximidades de um grupo escolar, quando atarantado pequeno, a correr desorientado, cai-lhe sob as rodas.
Um passarinho sob um trator não morreria mais depressa.
Tumulto. Autoridades em cena.
Ele mesmo, suportando os impropérios do povo, apanha o cadáver minúsculo e, de coração agoniado, busca a resincia da vítima.
Em sã consciência não é culpado, mas tem o coração alanceado de intensa dor.
Chorando copiosamente, entrega o menino morto aos pais em pranto, que o recebem sem a mínima queixa.
O pai acaricia os cabelos da criança, em silêncio, e a mãezinha ora em lágrimas.
Deseja ser humilhado, acusado, ferido. Isso, decerto, diminuiria-lhe a tensão. Encontra ali, porém, apenas resignação e serenidade.
O advogado consulta então a família sobre a instauração do processo de indenização, mas o chefe da família responde, firme:
Nada disso. O doutor não teve culpa alguma. Ninguém faria isso por querer... Os desígnios de Deus foram cumpridos...
E a mãe do menino, enxugando o rosto, acrescenta:
Choramos, como é natural, mas não desejamos indenização alguma. Deus sabe o que faz.
O causídico, de olhos vermelhos, considerou:
Então...
Doutor, não se preocupe... Compreendemos perfeitamente que o senhor não tem culpa... O senhor está sofrendo tanto quanto nós... Ore conosco, a fim de acalmar-se.
Admirando-lhes a paciência cristã, o causídico indagou, vacilante:
Que religião professam?
Nós somos espíritas informou o pai da pequena vítima.
O advogado baixou a cabeça e ali permaneceu, sensibilizado e prestimoso, até a realização dos funerais.
E à noite, em casa, de coração opresso e transformado, fechou-se no quarto e rasgou o livro-libelo que havia escrito.
(SILVA, Hilário (Espírito). A vida escreve. Pelos médiuns Waldo Vieira e Chico Xavier. Primeira Parte, cap. 6, médium Waldo Vieira. Brasília: FEB.)

Aviso aos meus leitores: O capítulo 4 d'O Evangelho segundo o Espiritismo. Tradução livre de nossa autoria, será publicado no final deste sábado, 25/5/2019.

terça-feira, 21 de maio de 2019




Em dia com o Machado 368 (jó)
“Conhecereis a verdade, e ela vos libertará” - Jesus

Dona Maria de Sousa Feitosa e o senhor Manoel Alves Pinto, casados, sempre moraram no Alto Parnaíba, Maranhão. Em sua pequena roça, onde falta quase tudo, tiveram quinze filhos: nove mulheres e seis homens. Entretanto, pelo fato de três filhas terem morrido bem novas (9 meses, 1 ano e 3 anos), a família ficou reduzida a apenas doze criaturas, além dos pais: seis mulheres e seis homens.
Quando nasceu a última filha, a mais velha dos doze que sobraram estava com 24 anos. Era a Guimar. Alguns vieram para Brasília, como a Guimar, que trabalha conosco uma vez por semana, como diarista, e, noutras casas, nos demais dias. Seu importante serviço consiste em passar as roupas do casal, pois nossos filhos estão casados.
Por ironia do destino, a Guimar não teve filho. Está atualmente com 55 anos e casou-se com idade avançada, por isso não procriou.
Quando fala de sua família, nossa prestimosa auxiliar demonstra bem o que é a ausência de política pública, em nosso país, voltada para o planejamento familiar e investimento na educação básica de qualidade, além da valorização do trabalho operário e criação de empregos compatíveis com a aptidão de cada pessoa. Todos são pobres e lutam com dificuldade para sobreviver. Um dos irmãos nunca saiu da casa paterna e está sempre embriagado. Enfermou da alma, ante a vivência de tanta miséria.
São essas famílias que vivem de bolsas-família no Brasil. Muitas delas, por morarem em terras inférteis, devido à ação da alta temperatura, não conseguem sobreviver onde nasceram. Para isso, juntam seus trapos e vêm para as grandes cidades, onde, por não terem formação escolar adequada, quando não são analfabetas, ocupam qualquer espaço onde possam dormir. Durante o dia, vagam pela cidade à procura de emprego, sem possuírem qualquer qualificação para o trabalho. Quando têm sorte, fazem qualquer serviço. Aprendem fazendo...
Muitas dessas pessoas, não obtendo trabalho com remuneração mínima para sua sobrevivência, vivem de mendicância, de pequenos ou grandes furtos. Outras deprimem-se, por se sentirem inúteis socialmente, aliam-se a traficantes e passam a vender e consumir drogas.
Para muitos desses nossos irmãos e irmãs, a morte passa a ser considerada uma verdadeira bênção, pois sua existência é um mar de lágrimas e de lama. É então que o trabalho dos “bons samaritanos” surge em socorro dessas pessoas. Nem todos, porém, aceitam a humilhação de viver da caridade alheia. Os mais revoltados juntam-se a outros e formam quadrilhas que matam e roubam sem qualquer escrúpulo ou medo da morte.
O governo brasileiro precisa ser austero e diminuir os privilégios de alguns milhares de cidadãos que jamais passaram fome, para atender os milhões de desesperados que, com prole imensa, imploram um emprego simples, mas com salário digno. Criar escolas que abriguem os filhos dos proletários e lhes proporcionem instrução num turno e formação profissional noutro, oferecendo-lhes café da manhã, almoço e jantar diariamente. Nos intervalos dos trabalhos e estudos, que eles tenham lazer. E que a instrução valorize a ética, os princípios morais elevados, sem imposição de crença, mas de fé e amor a Deus e ao próximo, como nos ensinam as tradições de todas as religiões e os filósofos espiritualistas.
Proporcionar formação para o trabalho e criação de empregos para todos os brasileiros e brasileiras é fundamental. Cabeça vazia, mãos desocupadas e estômago faminto são porta aberta para os espíritos malignos.
Propomos, também, criar colônias de trabalho, com segurança máxima, nas grandes extensões de terras mal aproveitadas desse nosso imenso país, que mais é um continente. Enviar para lá os criminosos. Construir escolas, bibliotecas, quadras esportivas, templos de meditação e oração, para que tais excluídos da sociedade tenham sempre com o que ocupar suas horas cotidianas e não se sintam simplesmente punidos como párias sociais irrecuperáveis. 
Proporcionar infraestrutura nesses lugares, com oportunidade de trabalho, conforme a aptidão de cada um, proporcionar-lhes lazer e conhecimento, com certificados aos de bom aproveitamento nos estudos. Dar-lhes oportunidade de refletir que não vale a pena matar, roubar, viver em vadiagem, ainda que passem o resto de suas existências nessas colônias.
Não é pela vingança que se corrigirá o malfeitor e, sim, pelo amor e pelo esclarecimento de suas almas. Para tratamento dos enfermos e dos psicopatas, criem-se hospitais especializados, a fim de que possam ser tratados humanamente.
Justiça não é vingança, é dar a cada um segundo seu merecimento, mas sem crueldade. É nisso que está contida a mensagem do Cristo: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João, 8:32).


sexta-feira, 17 de maio de 2019

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO (continuação do capítulo 3)



3.3 Destinação da Terra. Causas das misérias humanas

Admira-se de haver sobre a Terra tantas maldades e tantas paixões inferiores, tantas misérias e enfermidades de toda natureza, concluindo-se que triste coisa é a espécie humana. Esse julgamento provém do ponto de vista estreito em que se colocam os que o emitem e que lhes dá uma falsa ideia do conjunto. É necessário considerar que nem toda a humanidade se encontra na Terra, mas apenas uma pequena fração dela. De fato, a espécie humana compreende todos os seres dotados de razão, que povoam os inumeráveis mundos do universo. Ora, que é a população da Terra, diante da população total desses mundos? Bem menos que a de um lugarejo em relação à de um grande império. A situação material e moral da humanidade terrena nada tem que espante, se levarmos em conta o destino da Terra e a natureza daqueles que a habitam.
Faria dos habitantes de uma grande cidade ideia muito falsa quem os julgasse pela população dos seus bairros minúsculos e miseráveis. Num hospital, só se veem doentes e estropiados; numa prisão, vê-se todas as torpezas, todos os vícios reunidos; nas regiões insalubres, a maior parte dos habitantes são pálidos, fracos e doentios. Pois bem: consideremos a Terra como um subúrbio, um hospital, uma penitenciária, um país insalubre, porque ela é tudo isso a um só tempo, e compreenderemos porque as suas aflições sobrepujam os prazeres, porque não se enviam aos hospitais as pessoas sadias, nem às casas de correção os que não praticaram mal, pois nem os hospitais, nem as casas de correção, são lugares de delícias.
Ora, do mesmo modo que, numa cidade, toda a população não se encontra nos hospitais ou nas prisões, também a humanidade inteira não se encontra na Terra. E assim como saímos do hospital quando estamos curados, e da prisão quando cumprimos a pena, o homem sai da Terra para mundos mais felizes, quando se acha curado de suas enfermidades morais.

3.4 Instruções dos Espíritos

Mundos inferiores e mundos superiores; mundos de expiações e de provas; mundos regeneradores; progressão dos mundos.

3.4.1 Mundos inferiores e mundos superiores

A classificação de mundos inferiores e mundos superiores é mais relativa do que absoluta. Tal mundo é inferior ou superior em relação aos que lhe estão acima ou abaixo, na escala progressiva.
A Terra sendo tomada como ponto de comparação, pode-se fazer ideia do estado de um mundo inferior, supondo seus habitantes no grau evolutivo dos povos selvagens e das nações bárbaras que ainda se encontram na sua superfície, e que são os restos do seu estado primitivo. Nos mundos mais atrasados, os seres que os habitam são de certo modo rudimentares. Têm a forma humana, mas sem nenhuma beleza. Seus instintos não são abrandados por nenhum sentimento de delicadeza ou benevolência, nem pelas noções do justo e do injusto. A força bruta é sua única lei. Sem indústrias, sem invenções, os habitantes dedicam sua vida à conquista de alimentos. Contudo, Deus não abandona nenhuma de suas criaturas. No fundo das trevas da inteligências há, latente, mais ou menos desenvolvida, a vaga intuição de um Ser supremo. Esse instinto é suficiente para   torná-los superiores uns aos outros e para lhes preparar a ascensão a uma vida mais completa, visto que não são seres degradados, mas crianças que crescem.
Entre esses graus inferiores e os mais elevados, há inumeráveis graus, e entre os Espíritos puros, desmaterializados e resplandecentes de glória, é difícil reconhecer os que animaram os seres primitivos, da mesma maneira que, no homem adulto, é difícil reconhecer o antigo embrião.
Nos mundos que chegaram a um grau superior, as condições da vida moral e material são muito diferentes das que encontramos na Terra. A forma dos corpos é sempre, como por toda parte, a humana, mas embelezada, aperfeiçoada e sobretudo purificada. O corpo nada tem da materialidade terrestre, e não está, por isso mesmo, sujeito às necessidades, às doenças e às deteriorações decorrentes do predomínio da matéria. Os sentidos, mais apurados, têm percepções que a grosseria dos nossos órgãos sufoca. A leveza específica dos corpos torna a locomoção rápida e fácil. Em vez de se arrastarem penosamente sobre o solo, eles deslizam, por assim dizer, pela superfície ou pelo ar, sem outro esforço que o da vontade, à maneira das representações de anjos ou dos manes dos antigos nos Campos Elíseos. Os homens conservam à vontade os traços de suas existências passadas, e aparecem aos amigos em suas formas conhecidas, mas iluminadas por uma luz divina, transfiguradas pelas impressões interiores, que são sempre elevadas. Em vez de rostos pálidos, abatidos pelos sofrimentos e paixões, a inteligência e a vida irradiam esse brilho que os pintores traduziram pelo nimbo ou auréola dos santos.
A pouca resistência que a matéria oferece aos Espíritos já bastante adiantados, acelera o desenvolvimento dos corpos, e abrevia ou quase anula o período de infância. A vida, isenta de cuidados e angústias, é proporcionalmente muito mais longa que a da Terra. Em princípio, a longevidade é proporcional ao grau de adiantamento dos mundos. A morte nada tem dos horrores da decomposição, e longe de ser motivo de pavor, é considerada como uma transformação feliz, porque ali não existem dúvidas quanto ao futuro. Durante a vida, a alma não estando encerrada numa matéria compacta, irradia e goza de uma lucidez que a deixa num estado quase permanente de emancipação, permitindo a livre transmissão do pensamento.
Nesses mundos felizes, as relações entre os povos, sempre amigáveis, jamais são
perturbadas pelas ambições de subjugar seu vizinho, nem pelas guerras que lhes são consequentes. Não há senhores nem escravos, nem privilegiados de nascimento. Só a superioridade moral e intelectual estabelece diferença entre as condições e dá a supremacia. A autoridade é sempre respeitada, porque decorre unicamente do mérito e se exerce sempre com justiça. O homem não procura elevar-se acima do homem, mas sobre si mesmo, aperfeiçoando-se. Seu objetivo é alcançar a classe dos Espíritos puros, e esse desejo incessante não constitui um tormento, mas uma nobre ambição, que o faz estudar com ardor para os igualar. Todos os sentimentos ternos e elevados da natureza humana apresentam-se engrandecidos e purificados. Os ódios, os ciúmes mesquinhos, as baixas cobiças da inveja ali são ali desconhecidos. Um laço de amor e fraternidade une todos os homens. Os mais fortes ajudam os mais fracos. Possuem bens, em maior ou menor quantidade, mas ninguém sofre pela falta do necessário, porque ninguém ali se encontra em expiação. Numa palavra, o mal não existe nesses mundos.
No seu mundo, vocês necessitam do mal para sentir o bem, da noite para admirar a luz, da doença para apreciar a saúde. Lá, esses contrastes não são necessários. A eterna luz, a eterna beleza, a paz eterna da alma proporcionam alegria eterna, que nem as angústias da vida material, nem os contatos dos maus, que ali não têm acesso, poderiam perturbar. Isso é o que o espírito humano tem maior dificuldade em compreender. Ele foi engenhoso para pintar os tormentos do inferno, mas jamais pode representar as alegrias do céu. E isso por quê? Porque, sendo inferior, só tem experimentado penas e misérias, e não pode entrever as claridades celestes. Ele não pode falar daquilo que não conhece. Mas, à medida que se eleva e se depura, o seu horizonte se dilata e ele compreende o bem que está à sua frente, como compreendeu o mal que deixou para trás.
Entretanto, esses mundos afortunados não são mundos privilegiados, porque Deus não é parcial com nenhum de seus filhos. A todos dá os mesmos direitos e as mesmas facilidades para chegarem a esses mundos. Faz que todos partam do mesmo ponto, e a nenhum dota mais do que aos outros. Os primeiros postos são acessíveis a todos. Cabe-lhes conquistá-los pelo trabalho, alcançá-los o mais cedo possível, ou permanecer inativos durante séculos e séculos no lodaçal da humanidade (síntese do ensino de todos os espíritos superiores).





  Salve, 18 de abril, Dia Nacional do Espiritismo (Irmão Jó) Foi no dia 18 de abril que Kardec, Na Cidade de Luz, em manhã memorável, Lança ...