Em dia com o Machado 366 (Jó)
O
fim do materialismo
jojorgeleite@gmail.com
Outro dia, amável leitora, após confessar
não nos conhecer, afirmou que nada sabemos sobre o materialismo. Disse isso,
após ler na internet nosso repto:
“Espíritas, unamo-nos contra o materialismo”, esse mal que tem levado tanta
gente ao desencanto pela vida, ao crime, às paixões nefastas, à falta de ética
e ao suicídio.
Em resposta, dissemos-lhe simplesmente
que, de fato, ela não nos conhece. O
pouco que sabemos está nas obras codificadas por Allan Kardec, que ela parece
não conhecer, além de diversos filósofos, religiosos, médiuns... Referimo-nos,
antes de sua crítica, às consequências às quais chega quem adere,
inconsequentemente, às teorias que negam a existência e a sobrevivência do espírito
após a morte do corpo físico; a existência de Deus e do mundo espiritual e
acreditam que tudo, em nossa existência, se explica pelas leis da matéria.
Características próprias do viés filosófico materialista de nossos dias.
Em vista disso, leiamos alguns conceitos
de materialismo: “Perspectiva que
sustenta que o mundo é inteiramente composto de matéria. [...] Opõe-se ao
dualismo mente-corpo, mas não tem qualquer relação com o desejo excessivo de
bens ou de riqueza, o que constitui um significado diferente do termo” (BLACKBURN,
1997, p. 239).
Vejamos, então, o que esse autor entende
por “significado diferente do termo”: “materialismo
de estados centrais – uma filosofia da mente que identifica os
acontecimentos mentais com acontecimentos físicos que ocorrem no cérebro e no
sistema nervoso central [...]” (op. cit., p. 240). Tal ideia nega o
livre-arbítrio da alma, espírito encarnado, e confunde o cérebro, órgão físico
da manifestação do espírito, com este.
Temos, também, segundo o autor consultado,
o materialismo dialético:
Traço filosófico dominante do
marxismo, onde se combina o materialismo, concebido como uma filosofia da
natureza e uma ciência englobantes, com a noção hegeliana de dialética,
imaginada como uma força histórica que conduz os acontecimentos para uma
resolução progressiva das contradições que caracterizam cada época histórica.
[...] Na interpretação de Plekhanov e de Lenin, o materialismo dialético
implica que a natureza do mundo coincide com os ideais da revolução [...] (id.,
p. 240).
Vem, por fim, a definição de “materialismo histórico”, de Engels,
[...] na introdução da obra Do socialismo utópico ao socialismo
científico, como a procura “da causa última e da grande força que faz mover todos os acontecimentos históricos
importantes no desenvolvimento econômico da sociedade, nas mudanças do modo de
produção e de troca, na consequente divisão da sociedade em classes distintas e
na luta das classes que se opõem”. Marx e Engels descrevem o materialismo
histórico como uma hipótese científica e empírica, mas na verdade trata-se de
um quadro de referências para as explicações históricas [...] (id., ibid.)
Como todo conhecedor da obra
codificada por Kardec sabe, essas teorias vêm trazendo resultados danosos para
a humanidade: negam as doutrinas de Sócrates, Platão e outros filósofos
espiritualistas; contradizem a doutrina de amor e a crença na vida espiritual,
pregadas pelo Cristo; incentivam o culto à matéria e as lutas de classes
(“Proletários de todos os países, uni-vos”, incentivava Karl Marx).
Não destaco os aspectos positivos do
materialismo, por considerá-los nulos, em vista dos malefícios elencados acima.
A meu ver, todos esses aspectos são também realçados nas leis do merecimento,
que o Espiritismo nos assegura, além de este ser, bem compreendido e praticado,
como diz Kardec, preservativo do suicídio, o grande mal de nosso tempo.
Quando se busca “modernizar” a
teoria materialista, afirma-se que “Os filósofos hoje preferem o termo
fisicalismo, visto que a física mostrou que a própria matéria se decompõe em
força e energia [...]” (BLACKBURN, 1977, p. 239). Ou seja, já se percebeu a
presença da “energia” junto da “força”, como elementos estruturadores da
matéria, mas a conclusão disso sempre será a de que “tudo é matéria”, que se
compõe e decompõe eternamente. Daí a negação de um ser espiritual, que
sobreviva a essa decomposição.
É nisso que está o grande mal
provocado à humanidade pelo materialismo. Ele não nos dá qualquer perspectiva
de existência de um ser externo, que sobreviva à desagregação material. Daí vêm
as consequências. A primeira delas é a negação da individualidade do ser
extramaterial, pois tudo se reduziria, em nós, ao cérebro, aos nervos ao código
DNA, à matéria enfim. A segunda é a de que, uma vez nascidos quando nosso corpo
é formado, trazemos conosco a herança genética, que nada mais seria do que
propriedade da matéria. A terceira é a ideia de que, na história, os mais
fortes é que são vitoriosos. Daí, surgem ideologias nefastas, como as da
suposta superioridade racial, da qual decorreu o holocausto dos judeus. Daí
surgem as teorias maquiavélicas, que nos ensinam a mentir e atropelar todos aqueles que nos impeçam
de alcançar nossos objetivos: o poder, os bens materiais, a fama... Princípios
milenares são desprezados, como o da instituição familiar; o da meritocracia,
na aferição dos valores; o do respeito à ética e aos ensinamentos do Cristo,
modelo de perfeição dado por Deus à humanidade (questão 625 d’O Livro dos espíritos).
Caso a leitora e demais leitores
desejem conhecer um pouco mais das ideias dos espíritos e de outros pensadores
espiritualistas sobre o presente tema, sugiro-lhes lerem nosso artigo publicado
em Reformador, revista mensal da
Federação Espírita Brasileira, em abril
de 2017.
REFERÊNCIAS
BLACKBURN,
Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Tradução:
Desidério Murho et al. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 1977.
DENIS,
Léon. O Problema do Ser, do Destino e da
Dor. Rio de Janeiro: FEB, 1989.
KARDEC,
Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução:
Evandro Noleto Bezerra. 4. ed., 4. imp. Brasília: FEB, 2017.
OLIVEIRA,
Jorge Leite de. A Matéria, o Espírito e O
Livro dos Espíritos. In: Reformador,
abril 2017, Brasília: FEB, p. 46- 49.
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