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terça-feira, 7 de maio de 2019



Em dia com o Machado 366 (Jó)
O fim do materialismo
jojorgeleite@gmail.com


Outro dia, amável leitora, após confessar não nos conhecer, afirmou que nada sabemos sobre o materialismo. Disse isso, após ler na internet nosso repto: “Espíritas, unamo-nos contra o materialismo”, esse mal que tem levado tanta gente ao desencanto pela vida, ao crime, às paixões nefastas, à falta de ética e ao suicídio.
Em resposta, dissemos-lhe simplesmente que, de fato, ela não nos conhece. O pouco que sabemos está nas obras codificadas por Allan Kardec, que ela parece não conhecer, além de diversos filósofos, religiosos, médiuns... Referimo-nos, antes de sua crítica, às consequências às quais chega quem adere, inconsequentemente, às teorias que negam a existência e a sobrevivência do espírito após a morte do corpo físico; a existência de Deus e do mundo espiritual e acreditam que tudo, em nossa existência, se explica pelas leis da matéria. Características próprias do viés filosófico materialista de nossos dias.
Em vista disso, leiamos alguns conceitos de materialismo: “Perspectiva que sustenta que o mundo é inteiramente composto de matéria. [...] Opõe-se ao dualismo mente-corpo, mas não tem qualquer relação com o desejo excessivo de bens ou de riqueza, o que constitui um significado diferente do termo” (BLACKBURN, 1997, p. 239).
Vejamos, então, o que esse autor entende por “significado diferente do termo”: “materialismo de estados centrais – uma filosofia da mente que identifica os acontecimentos mentais com acontecimentos físicos que ocorrem no cérebro e no sistema nervoso central [...]” (op. cit., p. 240). Tal ideia nega o livre-arbítrio da alma, espírito encarnado, e confunde o cérebro, órgão físico da manifestação do espírito, com este.
Temos, também, segundo o autor consultado, o materialismo dialético:

Traço filosófico dominante do marxismo, onde se combina o materialismo, concebido como uma filosofia da natureza e uma ciência englobantes, com a noção hegeliana de dialética, imaginada como uma força histórica que conduz os acontecimentos para uma resolução progressiva das contradições que caracterizam cada época histórica. [...] Na interpretação de Plekhanov e de Lenin, o materialismo dialético implica que a natureza do mundo coincide com os ideais da revolução [...] (id., p. 240).

            Vem, por fim, a definição de “materialismo histórico”, de Engels,

[...] na introdução da obra Do socialismo utópico ao socialismo científico, como a procura “da causa última e da grande força que faz  mover todos os acontecimentos históricos importantes no desenvolvimento econômico da sociedade, nas mudanças do modo de produção e de troca, na consequente divisão da sociedade em classes distintas e na luta das classes que se opõem”. Marx e Engels descrevem o materialismo histórico como uma hipótese científica e empírica, mas na verdade trata-se de um quadro de referências para as explicações históricas [...] (id., ibid.)

            Como todo conhecedor da obra codificada por Kardec sabe, essas teorias vêm trazendo resultados danosos para a humanidade: negam as doutrinas de Sócrates, Platão e outros filósofos espiritualistas; contradizem a doutrina de amor e a crença na vida espiritual, pregadas pelo Cristo; incentivam o culto à matéria e as lutas de classes (“Proletários de todos os países, uni-vos”, incentivava Karl Marx).
Não destaco os aspectos positivos do materialismo, por considerá-los nulos, em vista dos malefícios elencados acima. A meu ver, todos esses aspectos são também realçados nas leis do merecimento, que o Espiritismo nos assegura, além de este ser, bem compreendido e praticado, como diz Kardec, preservativo do suicídio, o grande mal de nosso tempo.
            Quando se busca “modernizar” a teoria materialista, afirma-se que “Os filósofos hoje preferem o termo fisicalismo, visto que a física mostrou que a própria matéria se decompõe em força e energia [...]” (BLACKBURN, 1977, p. 239). Ou seja, já se percebeu a presença da “energia” junto da “força”, como elementos estruturadores da matéria, mas a conclusão disso sempre será a de que “tudo é matéria”, que se compõe e decompõe eternamente. Daí a negação de um ser espiritual, que sobreviva a essa decomposição.
            É nisso que está o grande mal provocado à humanidade pelo materialismo. Ele não nos dá qualquer perspectiva de existência de um ser externo, que sobreviva à desagregação material. Daí vêm as consequências. A primeira delas é a negação da individualidade do ser extramaterial, pois tudo se reduziria, em nós, ao cérebro, aos nervos ao código DNA, à matéria enfim. A segunda é a de que, uma vez nascidos quando nosso corpo é formado, trazemos conosco a herança genética, que nada mais seria do que propriedade da matéria. A terceira é a ideia de que, na história, os mais fortes é que são vitoriosos. Daí, surgem ideologias nefastas, como as da suposta superioridade racial, da qual decorreu o holocausto dos judeus. Daí surgem as teorias maquiavélicas, que nos ensinam a mentir e atropelar todos aqueles que nos impeçam de alcançar nossos objetivos: o poder, os bens materiais, a fama... Princípios milenares são desprezados, como o da instituição familiar; o da meritocracia, na aferição dos valores; o do respeito à ética e aos ensinamentos do Cristo, modelo de perfeição dado por Deus à humanidade (questão 625 d’O Livro dos espíritos).
            Caso a leitora e demais leitores desejem conhecer um pouco mais das ideias dos espíritos e de outros pensadores espiritualistas sobre o presente tema, sugiro-lhes lerem nosso artigo publicado em Reformador, revista mensal da Federação Espírita Brasileira,  em abril de 2017.           

REFERÊNCIAS
BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de Filosofia. Tradução: Desidério Murho et al. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1977.

DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. Rio de Janeiro: FEB, 1989.

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução: Evandro Noleto Bezerra. 4. ed., 4. imp. Brasília: FEB, 2017.

OLIVEIRA, Jorge Leite de. A Matéria, o Espírito e O Livro dos Espíritos. In: Reformador, abril 2017, Brasília: FEB, p. 46- 49.

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