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terça-feira, 30 de julho de 2019




EM DIA COM O MACHADO 378:
dramas na cidade maravilhosa (jó)

Estivemos na sede histórica da Federação Espírita Brasileira (FEB) no Rio de Janeiro, na semana passada (de 25 a 28/7/2019). Ali, fui honrado com convite da diretora Dra. Regina, nossa amiga, para falar sobre o tema Liberdade e responsabilidade, na manhã de sábado.
Não fique enciumado, leitor amigo, talvez você ou a amiga leitora tenham muito mais mérito e capacidade do que eu para tão imensa glória. Obrigado, Senhor! Grato, Ismael!
         Antes de chegar à FEB, ainda na avenida Passos, avistei cena comovente: caído na última faixa à esquerda da pista, jazia um jovem magro, de cerca de vinte anos, próximo à calçada e cercado de pessoas compadecidas, que isolaram o local, para que as viaturas que passavam velozes não lhe passassem por cima. Com as patas sobre seu corpo, protegendo seu amado dono, estava lindo cão da raça Rottweiler, ou parecida, de belos e lisos pelos negros.
         Aproximei-me das pessoas generosas, que o observavam. O jovem estava desacordado. Atrás de sua cabeça, pequena poça de sangue. Pensei no que poderia ser feito para auxiliar, além do que já havia sido feito. Aproximei-me de um senhor que ainda estava com o celular na mão e perguntei-lhe se já havia chamado uma ambulância. Ele respondeu-me que sim. Tranquilizei-me ao ver que todas as providências para o socorro ao jovem já haviam sido tomadas e, atendendo ao chamado da esposa, seguimos em frente, pois dali a uma hora seria iniciada a reunião na Casa de Ismael.
         Em minha mente, porém, ficou registrada a imagem do jovem caído, das pessoas que o socorreram e aguardavam seu transporte ao hospital mais perto e, sobretudo, do zeloso cão, que não abandonara seu dono em nenhum instante. Triste rotina do Rio de Janeiro.
         Terminada nossa exposição na FEB, seguimos de carro à casa da Clara Lila, nossa amiga e ex-colega do Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), onde exercemos juntos o magistério por longos anos. Quem nos levava, junto com sua alma grandiosa e a filha Alice, era a Dra. Regina.
         Ambas, atualmente, são vizinhas de bairro. Regina e filha também haviam sido convidadas, tanto quanto eu e Lourdes, minha esposa, ao almoço no fraterno lar da Clara. Seu apartamento fica próximo da sede do meu clube do coração: Fluminense.
         Na ida para Laranjeiras, Regina precisou dar passagem a um carro policial, que encostou em frente da praça situada à nossa esquerda. Um agente da polícia desceu do carro e abordou um “pobre diabo” sem camisa, aparentando ter mais de cinquenta anos e estar embriagado. Como, mais adiante, o semáforo fechara para nós, observei rapidamente a abordagem. O agente parecia muito nervoso, enquanto o senhor, franzino e desconexo, tentava argumentar alguma coisa com aquele. Inutilmente...
De repente, surgiu outro policial apontando um rifle para o homem, completamente indefeso, e passou a surrá-lo impiedosamente. Depois, não sei mais o que aconteceu, pois o sinal abriu e nosso carro partiu dali.
Detesto covardia, venha de onde vier. Em minha mente, a imagem do brutamontes estapeando o indefeso cidadão. Isso não significa que eu ignore o que os malandros do Rio e de outras cidades aprontam no cotidiano urbano. Mas daí a agredir brutalmente alguém, que estava sem a mínima chance de defesa, é extrapolar muito o dever de zelar pela segurança da população.
Por todos eles, continuo orando.


quarta-feira, 24 de julho de 2019




Continuação da tradução livre da 3ª edição francesa d’O Evangelho Segundo o Espiritismo. Por: Jorge leite de Oliveira

5 BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS

Justiça das aflições. Causas atuais das aflições. Causas anteriores das aflições. Esquecimento do passado. Motivos de resignação. O suicídio e a loucura. Instruções dos Espíritos: bem e mal sofrer. O mal e o remédio. A felicidade não é deste mundo. Perda de pessoas amadas. Mortes prematuras. Se fosse um homem de bem teria morrido. Os tormentos voluntários. A verdadeira desgraça. A melancolia. Provas voluntárias. O verdadeiro cilício. Dever-se-á pôr termo às provas do próximo? É permitido abreviar a vida de um doente que sofra sem esperança de cura? Sacrifício da própria vida. Proveito dos sofrimentos para outrem.

Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos. Bem-aventurados os que padecem perseguição pela justiça, porque deles é o Reino dos Céus (Mateus, 5: 4, 6 e 10).
Bem-aventurados os que são pobres, porque o Reino dos Céus lhes pertence. Bem-aventurados os que agora têm fome, porque serão saciados. Felizes são os que agora choram, porque rirão (Lucas, 6: 20, 21).
Mas ai de vocês, ricos! que têm a sua consolação no mundo. Ai de vocês, os que estão saciados, porque terão fome. Ai de vocês, os que agora riem, porque gemerão e chorarão (Lucas, 6: 24, 25).

5.1 Justiça das aflições

As compensações que Jesus promete aos aflitos da Terra só podem ocorrer na vida futura. Sem a certeza do porvir, essas máximas seriam um contrassenso, mais ainda, seriam um engodo. Mesmo com essa certeza, dificilmente se compreende a utilidade de sofrer para ser feliz. Dizem que é para se ter mais mérito. Mas então se pergunta: por que uns sofrem mais do que outros? por que uns nascem na miséria e outros na opulência, sem nada terem feito para justificar essa posição? por que para uns nada dá certo, enquanto para outros tudo parece sorrir? Mas o que ainda menos se compreende é ver os bens e os males tão desigualmente repartidos entre o vício e a virtude; ver homens virtuosos sofrerem ao lado de malvados que prosperam. A fé no futuro pode consolar e dar paciência, mas não explica essas anomalias, que parecem desmentir a justiça de Deus.
Entretanto, desde que se admita Deus, não se pode concebê-lo sem o infinito das perfeições. Ele deve ser todo poder, todo justiça, todo bondade, pois sem isso não seria Deus. Se Deus é soberanamente bom e justo, não pode agir por capricho nem com parcialidade. As vicissitudes da vida têm, pois, uma causa, e desde que Deus é justo, essa causa deve ser justa. É nisso que todos devem compenetrar-se bem. Deus encaminhou os homens na compreensão dessa causa pelos ensinos de Jesus, e hoje, julgando-se suficientemente maduros para compreendê-la, revela-a inteiramente pelo Espiritismo, isto é, pela voz dos Espíritos.

Nota: por motivo de viagem, antecipei a postagem desta semana, que deveria ocorrer na sexta-feira. Na próxima semana, a postagem volta ao seu dia normal.

terça-feira, 23 de julho de 2019




EM DIA COM O MACHADO 377:
uma criatura (jó)

Quer conhecer alguém? Dê-lhe o poder...
Como disse, em minha última crônica, antes de falarmos algo, devemos sopesar se o que será dito passa pelos três crivos socráticos: verdade, utilidade e bondade. Entretanto, expliquei também que, segundo Aristóteles, “o homem é um animal político”. Como cidadãos, em especial, os formadores de opinião, não podemos calar-nos ante algo de que discordamos, ainda que estejamos equivocados, quando então devemos ter a humildade de admiti-lo.
Não conhecia uma pessoa, estigmatizada no meio político pelo seu suposto destempero verbal. Após assistir a algumas de suas falas ao vivo, simpatizei com ela. Percebi que é uma pessoa bem-intencionada. Alguém atentou contra sua vida, mas, obstinada e contra todas as previsões, essa criatura alcançou seu objetivo.
Isso me lembra poema do meu amigo Machado de Assis:
Uma criatura
Sei de uma criatura antiga e formidável,
Que a si mesma devora os membros e as entranhas,
Com a sofreguidão da fome insaciável.
Habita juntamente os vales e as montanhas;
E no mar, que se rasga, à maneira de abismo,
Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.
Traz impresso na fronte o obscuro despotismo.
Cada olhar que despede, acerbo e mavioso,
Parece uma expansão de amor e de egoísmo.
Friamente contempla o desespero e o gozo,
Gosta do colibri, como gosta do verme,
E cinge ao coração o belo e o monstruoso.
Para ela o chacal é, como a rola, inerme;
E caminha na terra imperturbável, como
Pelo vasto areal um vasto paquiderme.
Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo
Vem a folha, que lento e lento se desdobra,
Depois a flor, depois o suspirado pomo.
Pois esta criatura está em toda a obra:
Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto;
E é nesse destruir que as forças dobra.
Ama de igual amor o poluto e o impoluto;
Começa e recomeça uma perpétua lida,
E sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a Morte; eu direi que é a Vida.
         Nosso país passa por uma fase de transição. Isso ninguém contesta, ainda que muitos considerem ser este um período de retrocesso. Os que, como nós, votaram para mudar o que estava havendo na política, costumes e economia, como o próprio mandatário da nação admite, fazem parte de uma população conservadora.
         Mas conservadora de quê? Das bases morais da Boa-Nova de Jesus, principalmente, que estão analisadas de modo extraordinário no livro editado por Allan Kardec: O Evangelho Segundo o Espiritismo. No capítulo VI dessa obra, constam quatro profundas mensagens de Jesus, retransmitidas a nós pelo Espírito da Verdade[1]. Na última delas, lemos duas palavrinhas que resumem todo o sentimento de caridade e amor ao próximo, que nos devemos esforçar para pôr em prática, diariamente. Se o conseguirmos, teremos o Céu onde estivermos, pois sintetizam toda a doutrina e atos do Cristo: devotamento e abnegação.
         Segundo o Espírito da Verdade, essas palavras “resumem todos os deveres que a caridade e a humildade nos impõem”. Pelo devotamento, estamos sempre prontos a trabalhar e servir em benefício alheio. Consequentemente, sentimos o prazer de uma consciência tranquila, coerente entre o que falamos e o que fazemos. Esse é o amor real, sentimento sublime e divino, que não se confunde com a paixão humana. Pela abnegação, renunciamos a todas as vantagens que a vaidade nos proporciona entre os humanos, mas atraímos para nós a companhia dos bons, seja no plano físico, seja no espiritual.
         Em sua sabedoria, enquanto esteve entre nós, Jesus Cristo recomendou-nos olhar, vigiar e orar (Marcos, 13: 33). Sábio é quem segue sua recomendação.
         Há milênios, os grandes imperadores, reis, rainhas são objeto de inveja e perseguição. Diversos deles tiveram morte cruel por parte de seus inimigos. O objetivo sempre foi o de conquistar o poder a qualquer custo. Veja o caso de Caio Júlio César, que, antes de morrer apunhalado pelo próprio filho, expressou-lhe seu espanto com estas palavras: “— Até tu, Brutus?”
         Como faço parte da maioria da população que votou, sobretudo, pela mudança de um governo que, no conceito de várias pessoas, elevou à quinta potência os abusos da corrupção em nosso país, aqui deixo meu humilde recado ao nosso mandatário-mor: — Fale pouco, trabalhe mais. Sobretudo, cuidado com quem o bajula e diz ser seu amigo.
E não se esqueça de Júlio César...  


[1] Optei por Espírito da Verdade, como está nas bíblias de Jerusalém e de João Ferreira de Almeida, além de Obras Póstumas, de Allan Kardec, seg. parte, Meu guia espiritual, p. 245- 246, da 2. ed. FEB, de 2016, traduzida por Evandro Noleto Bezerra. Entretanto, nas edições francesas d’O Livro dos Espíritos, Prolegômenos, e d’O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 6, Intruções dos Espíritos, consta Espírito de Verdade.


sábado, 20 de julho de 2019


Continuação da tradução livre d'O Evangelho Segundo o Espiritismo (3ª ed. francesa) - Por: Jorge Leite de Oliveira

4.4 Necessidade da encarnação

A encarnação é uma punição, e somente os Espíritos culpados lhe estão sujeitos?

A passagem dos Espíritos pela vida corpórea é necessária, para que eles possam cumprir, com a ajuda da ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. É-lhes necessária a bem deles mesmos, porque a atividade que são obrigados a realizar lhes auxilia a desenvolver a inteligência. Deus, sendo soberanamente justo, deve tudo distribuir igualmente a todos os seus filhos. É por isso que Ele dá a todos o mesmo ponto de partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de agir.
Qualquer privilégio seria uma preferência, e toda preferência uma injustiça. Mas a encarnação, para todos os Espíritos, é apenas um estado transitório. É uma tarefa que Deus lhes impõe, quando iniciam a vida, como primeira experiência do uso que farão do seu livre-arbítrio.
Aqueles que cumprem essa tarefa com zelo, transpõem rapidamente e menos penosamente os primeiros degraus da iniciação, e gozam mais cedo do fruto dos seu trabalho. Os que, ao contrário, fazem mau uso da liberdade que Deus lhes concede, retardam o seu progresso. É assim que, por sua obstinação, podem prolongar indefinidamente a necessidade de reencarnar. E é então que a encarnação se torna um castigo — Luís (Paris, 1859).


4.4.1 Observação

Uma comparação vulgar nos fará melhor compreender essa diferença. O estudante só alcança os graus superiores da ciência, após haver percorrido a série de classes que o levam até lá. Essas classes, seja qual for o trabalho que exijam, são o meio de atingir o fim, e não uma punição. O estudante laborioso abrevia a caminhada, encontrando menos dificuldades. Acontece o contrário com aquele que a negligência e a preguiça obrigam a repetir certas classes. Não é o trabalho da classe que constitui uma punição, mas a obrigação de recomeçar o mesmo trabalho.
É o que se passa com o homem na Terra. Para o Espírito do selvagem, que está apenas no começo da vida espiritual, a encarnação é um meio de desenvolver a inteligência. Mas, para o homem esclarecido, em que o senso moral está largamente desenvolvido, e que se vê obrigado a repetir as etapas de uma vida corpórea cheia de angústias, quando já poderia ter chegado ao fim, é um castigo, pela necessidade em que se acha de prolongar a sua permanência nos mundos inferiores e infelizes. Aquele que, ao contrário, trabalha ativamente para o seu progresso moral, pode não só abreviar a duração de sua encarnação material, mas transpor de uma vez os graus intermediários, que o distanciam dos mundos superiores.
Os Espíritos não poderiam encarnar-se uma só vez num mesmo globo, e cumprir suas diversas existências em esferas diferentes? Essa opinião só seria admissível, se todos os homens estivessem, na Terra, exatamente no mesmo nível intelectual e moral. As diferenças existentes entre eles, desde o selvagem até o homem civilizado, mostram os degraus que ele deve atravessar. A encarnação, ademais, deve ter um fim útil. Ora, qual seria o das encarnações efêmeras das crianças que morrem em tenra idade? Teriam sofrido sem proveito para si e para os outros. Deus, cujas leis são todas soberanamente sábias, nada faz de inútil. Pela reencarnação no mesmo globo, Ele quis que os mesmos Espíritos, ao se encontrarem novamente, tivessem oportunidade de reparar seus erros recíprocos. Por meio de suas relações anteriores, quis, além disso, estabelecer os laços de família sobre base espiritual, apoiando numa lei da natureza os princípios de solidariedade, de fraternidade e de igualdade.

terça-feira, 16 de julho de 2019




EM DIA COM O MACHADO 376 (jó)
VUB & MIC
jojorgeleite@gmail.com

Conta-se que, certa vez, um amigo procurou Sócrates e lhe perguntou:
— Quer que lhe conte a última notícia que ouvi hoje?
— Só depois de você me garantir que a submeteu aos três crivos.
— Três crivos? Que é isso?
— Para que você me conte o caso, este tem que passar por três critérios.
— E quais são eles?
— Primeiro, o da veracidade: é verdade o que você ouviu?
— Bem, isso eu não posso garantir, mas quem me contou foi um  amigo...
— Certo, vamos ao segundo crivo, o da utilidade: é útil o que ele lhe disse?
— Pensando bem, não me parece ter utilidade...
— Vamos, então, ao último crivo, o da bondade: é bom, o que você quer dizer?
— De jeito nenhum...
— Bem, meu caro, se você não pode garantir que o caso contado por seu amigo não é verdadeiro, não é útil e não é bom, prefiro ignorá-lo.
Em nossos dias, no Brasil, tantos são os fakes, políticos ou não, venham da esquerda, do centro, da direita, de baixo ou de cima, que proponho aos meus quarenta honestos seguidores observarmos com rigor os três crivos socráticos, cuja sigla é VUB. Certamente viveremos bem melhor assim.
         Isso não significa alienação nossa aos eventos políticos que interessam ao futuro do Brasil. Precisamos, sim, estar bem informados, pois, como dizia Aristóteles, “o homem é um animal político”. No entanto, como dizem os mineiros, “prudência e caldo de galinha não fazem mal a ninguém”.
         Há muita gente por aí que faz parte da MIC. Quer saber o que é, amiga leitora? No final desta crônica, lhe digo...
         Ontem, conversei com minha esposa sobre um político considerado corrupto, que está preso. Não foi uma ideia feliz de minha parte, mas a intenção foi boa. Disse-lhe que não creio nesses vídeos acusatórios que são divulgados no Facebook ou no WhatsApp. Como também não acredito na inocência dele. Principalmente, não repasso esses vídeos cujos autores recomendam compartilhar com o maior número possível de pessoas... Aí tem...
Ainda assim, nunca é demais lembrar a recomendação feita a Allan Kardec, em resposta à sua questão 903 d’O Livro dos Espíritos, quando o Codificador do Espiritismo perguntou se é lícito estudar os defeitos alheios.  
Foi-lhe respondido que criticar e divulgar os atos negativos de alguém é falta de caridade, e quem faz isso incorre em grande falta;  a não ser que o estudo seja feito por quem deseje evitar os erros observados. Tudo está, pois, na intenção...
Por desconhecimento da Lei de Liberdade, entretanto, há ainda muita gente que faz parte da turma do MIC. Não se trata aqui da sigla homônima do Ministério da Indústria e Comércio. Falamos dos adeptos inconsequentes da mentira, da ignorância e da crueldade.
Na questão 828-a, d’O Livro dos Espíritos, Kardec é informado de que

Quanto mais inteligência tem o homem para compreender um princípio, tanto menos desculpável será de não o aplicar a si mesmo. Em verdade vos digo que o homem simples, porém sincero, está mais adiantado no caminho de Deus do que outro que pretenda parecer o que não é (op. cit.).

Quem ainda transita pelo reino das trevas se atola na MIC: mentira, ignorância e crueldade. Morrerá na mentira e entrará nas dores do choro e do ranger de dentes.
Quem prossegue no rumo do Reino de Deus, da alegria e da luz aprende e pratica a máxima cristã de jamais fazer a outrem o que não deseja que este lhe faça. Atenta, então, para a recomendação de Sócrates e observa a VUB: verdade, utilidade e bondade, antes de julgar os atos alheios.

sábado, 13 de julho de 2019




4.3 Instruções dos Espíritos: limites da encarnação

Quais são os limites da encarnação?

— A encarnação não tem, a bem dizer, limites nitidamente traçados, quando nos referimos ao envoltório que constitui o corpo do Espírito, tendo em vista que a materialidade desse  envoltório diminui à proporção que o Espírito se purifica. Em certos mundos, mais adiantados do que a Terra, o corpo já é menos compacto, menos pesado e menos grosseiro, e, desse modo, menos sujeito a vicissitudes. Em grau mais elevado, é diáfano e quase fluídico. De grau em grau, ele se desmaterializa e acaba por  se confundir com o perispírito. Conforme o mundo em que é  levado  a viver, o Espírito se reveste do envoltório apropriado à natureza desse mundo.
O próprio perispírito passa por transformações sucessivas. Eteriza-se cada vez mais, até a depuração completa, que constitui os Espíritos puros. Se mundos especiais estão destinados, como estações, aos Espíritos muito adiantados, estes últimos não lhes ficam presos, como nos mundos inferiores. O estado de desprendimento em que se encontram lhes permite ir a toda parte, onde sejam chamados às missões que lhes sejam confiadas.
Se considerarmos a encarnação do ponto de vista material, tal como ocorre na Terra, podemos dizer que ela se limita aos mundos inferiores. Depende, portanto, do Espírito libertar-se da encarnação mais ou menos rapidamente, trabalhando pela sua purificação. 
Considere-se também que, no estado errante, ou seja, no intervalo das existências corporais, a situação do Espírito está em relação com a natureza do mundo a que o liga o seu grau de adiantamento. Assim, na erraticidade, ele é mais ou menos feliz, livre e esclarecido, conforme seja mais ou menos desmaterializado — Luís (Paris, 1859).

terça-feira, 9 de julho de 2019




EM DIA COM O MACHADO 375:
a arte e a novela dos nossos dias (Jó)
               
Numa das aulas de literatura a que assisti, anos atrás, na UnB, uma de nossas professoras disse-nos que “literatura é mentira”. Como aluno disciplinado que sempre me esforcei em ser, ouvi calado o que a mestra disse, embora intimamente discorde disso. História e literatura, muitas vezes, se confundem, embora a segunda seja considerada ficção, irrealidade. Quantas vezes, porém, a história não é “irreal” e reformulada, sobretudo pelos que assumem o poder? Nesse caso, o vencedor enxerga as coisas sob forma diferente da que é vista pelo vencido.
Do meu modesto ponto de vista, a mimese literária, termo criado por Platão, ampliado em sua conceituação por Aristóteles e apropriado, entre outros, pelo francês René Girard, é a própria “realidade” trabalhada artisticamente. “Realidade” acontecida, acontecendo ou possível de  acontecer. Salvo casos especiais, como os da literatura fantástica. Por isso, a mimese objetiva imitar algo visto ou representar a natureza e as ações dos seres, estejam eles vivos ou mortos. Mas a visão pode ser real ou imaginária. E aqui entram os devaneios de Gaston Bachelard (A poética do espaço).
O Dicionário Aurélio informa-nos alguns conceitos de literatura que ratificam meu juízo sobre essa palavra: “1. Arte de compor ou escrever trabalhos artísticos em prosa ou em verso. 2. O conjunto de trabalhos literários dum país ou duma época [...]”. Literário, esclarece-nos Aurélio, é também adjetivo “respeitante a letras, à literatura ou a qualquer espécie de cultura adquirida pelo estudo ou pela leitura”. Ou seja, tudo o que se escreve, lato sensu, é literatura.
Nesse sentido, os roteiros de filmes e novelas enquadram-se na definição literária. Como as novelas imitam a realidade, ou, pelo menos, tentam convencer o telespectador atual de que “agora é assim”, observamos uma mudança radical entre o que era encenado anos atrás e o que vemos agora no Brasil. Refiro-me à representação do amor.
Antes, era o rapaz que se ajoelhava aos pés da dama e a pedia em casamento. Agora é esta quem o pede em matrimônio ou para ficarem juntos. Antes, nos filmes e novelas, um beijo dado, inesperadamente, pelo amado, era retribuído com um forte tapa da musa. Agora, é ela quem se atira aos braços dele, para beijá-lo, sem qualquer pudor... Quando não lhe desabotoa a roupa em caliente encontro.
As consequências disso têm sido desastrosas, para quem confunde “ficção” com “realidade”. Como exemplo, cito as novelas da Globo. Elas não retratam mais o amor e sim o sexo. No último sábado, 6 de julho, liguei rapidamente a TV no canal citado, enquanto preparava meu jantar e, em poucos minutos, o que vi passar, na novela das dezenove horas, confirmou minha impressão atual sobre a mensagem de tais programas, abertos ao público em geral.
Eis a cena que presenciei, representada, num quarto, entre uma jovem e um rapaz seminus: ela de calcinha e soutien; ele, só de cueca. O rapaz, com a cara apalermada, já de pé; a moça, deitada na cama.
Ele: — Fulana, acorda, vamos continuar a tese. Não sei o que aconteceu comigo. Dormi e não me lembro de mais nada.
Ela: — Fulano, espera... Não sei como adormeci e também não me recordo do que aconteceu conosco... Acho que colocaram alguma droga em nossa bebida. Depressa, vamos voltar à tese.
Desliguei a TV...
Au revoir, amour!

domingo, 7 de julho de 2019


Cont. da trad. livre do cap. 4 d'O Evangelho Segundo o Espiritismo (Jorge Leite de Oliveira)


A união e a afeição que existem entre parentes são um indício da simpatia anterior que os aproximou. Também se costuma dizer, referindo-se a uma pessoa cujo caráter, gostos e inclinações não se assemelham aos dos seus parentes, que ela não pertence à família. Dizendo isso, enuncia-se uma verdade maior do que se pensa. Deus permite, nas famílias,  essas encarnações de Espíritos antipáticos ou estranhos, com o duplo propósito de servirem de provas para uns e de meio de progresso para outros. Assim, os maus se melhoram pouco a pouco, ao contato dos bons e por efeito das atenções que destes recebem. Seu caráter se abranda, seus costumes se depuram, as antipatias desaparecem. É assim que se estabelece a fusão das diferentes categorias de Espíritos, como se faz na Terra entre as raças e os povos.
O medo do aumento indefinido da parentela, em consequência da reencarnação, é um receio egoísta, provando em quem o sente falta de amor bastante amplo  para abranger grande número de pessoas. Um pai que tem muitos filhos  os ama menos do que se tivesse apenas um? Mas que os egoístas se tranquilizem, pois esse temor não tem fundamento. Do fato de um homem ter tido dez encarnações, não se segue que tenha de encontrar, no mundo dos Espíritos, dez pais, dez mães, dez esposas e um número proporcional de filhos e de novos parentes. Lá encontrará sempre os mesmos que foram objetos de sua afeição, que lhe estiveram ligados na Terra a títulos diversos, e talvez pelo mesmo título.
Vejamos agora as consequências da doutrina da não reencarnação. Essa doutrina anula necessariamente a preexistência da alma. Se as almas fossem criadas ao mesmo tempo que os corpos, não existiria entre elas vínculo anterior. Seriam completamente estranhas umas às outras. Os pais seriam estranhos a seus filhos. A filiação das famílias fica assim reduzida apenas à filiação corpórea, sem qualquer ligação espiritual. Não há, portanto, nenhum motivo para alguém se vangloriar de haver tido por antepassados tais ou tais personagens ilustres. Com a reencarnação, ascendentes e descendentes podem já se terem conhecido, vivido juntos, amado, e podem reunir-se mais tarde para estreitar os seus laços de simpatia.
Isso quanto ao passado. Quanto ao futuro, segundo os dogmas fundamentais que resultam da não reencarnação, a sorte das almas está irrevogavelmente fixada após existência única. A fixação definitiva da sorte implica a cessação de todo o progresso, porque, desde que haja qualquer progresso, já não há sorte definitiva. Conforme tenham vivido bem ou mal, elas vão imediatamente para a morada dos bem-aventurados ou para o inferno eterno. Ficam assim imediatamente separadas para sempre, sem esperança de jamais tornarem a juntar-se, de tal forma que pais, mães, filhos, maridos e esposas, irmãos, irmãs, amigos nunca podem estar certos de se reverem: é a mais absoluta ruptura dos laços de família.
Com a reencarnação e o progresso que lhe é consequente, todos os que se amam se reencontram na Terra e no Espaço, e juntos gravitam para chegarem a Deus. Se alguns fraquejam no caminho, retardam seu adiantamento e sua felicidade, mas a esperança não está de todo perdida. Ajudados, encorajados e amparados pelos que os amam, sairão um dia do atoleiro em que caíram. Com a reencarnação, enfim, há solidariedade perpétua entre os encarnados e os desencarnados, do que resulta o estreitamento dos laços de afeição.
Em resumo, quatro alternativas se apresentam ao homem, para seu futuro de além-túmulo:
1°) o nada, conforme a doutrina materialista; 2°) a absorção no todo universal, de acordo com a doutrina panteísta; 3°) a individualidade, com fixação definitiva da sorte, segundo a doutrina da Igreja; 4°) a individualidade, com o progressão infinita, de acordo com a Doutrina Espírita.
         Conforme as duas primeiras, os laços de família são rompidos após a morte, e não há esperança de se reencontrarem. Com a terceira, há possibilidade de se reverem, contanto que estejam no mesmo meio, podendo esse meio ser o inferno ou o paraíso. Com a pluralidade das existências, que é inseparável da progressão gradual, existe a certeza da continuidade das relações entre os que se amaram, e é isso o que constitui a verdadeira família.


terça-feira, 2 de julho de 2019




EM DIA COM O MACHADO 374: 
pássaros sem asas

Enquanto eu corria, no Eixão de Brasília, como acontece todos os domingos, pela manhã, refletia no quanto é sofrida a vida de milhões de cidadãos... Esse sentimento surgiu, no âmago do meu ser, após minha visão renovada de pessoas morando debaixo das pontes da Capital Federal, algumas delas com filhos pequenos.
O tempo passa, e pouca coisa muda, em relação a políticas públicas benéficas aos cidadãos mais sofridos do nosso país, que vêm, em grande parte, do Nordeste para as grandes capitais, como Brasília, Rio, Minas e São Paulo. Por isso, lembrei-me de poema que escrevi há 29 anos: Maria da Ponte, publicado na antologia Poemas & Poetas II, da Litteris Editora, em 1990, e na crônica “Em dia com o Machado 199”, de 17/2/2016.
O poema relata o drama de uma jovem de menos de trinta anos,  despejada de seu barracão por uma empresa brasiliense, que ficou sem outra saída a não ser ir morar com seus seis filhos debaixo de uma das pontes da Capital.
Com esse mesmo sentimento compassivo, o padre Zezinho gravou a música Oração pela família, que também aborda seu desejo de não ver nenhuma família morar “debaixo da ponte”. O link de acesso à letra e música está no final desta crônica.
O Brasil está “quebrado” economicamente. Nossos governantes precisam minimizar sua ambição pelo poder e pela riqueza e atender aos anseios da população. Para isso, grande parte do nosso povo saiu às ruas, novamente, neste dia 30 de junho de 2019, apoiando a aprovação, pelo Congresso Nacional, da Reforma da Previdência, entre outras medidas, como a do combate à corrupção e à criminalidade.
Então, como cidadão cristão-espírita, desejei que o Cristo se fizesse presente em todas as famílias. Mais ainda, almejei que os adeptos de outras crenças e os ateus fossem respeitados em seus direitos de livre manifestação do pensamento, desde que a recíproca seja verdadeira.
Como todo poeta, idealizei uma administração honesta e eficiente do governo brasileiro. Imaginei o dia em que os gestores da verba pública a utilizarão em melhorias das condições de nossos hospitais, escolas, ruas, saneamento básico e segurança sem desvio de um centavo.
Sonhei com um Brasil em que cada prefeito dos 5570 municípios, subdivididos em 10.496 distritos e 683 regiões administrativas dava conta, com honestidade e amor ao povo, da verba recebida para proporcionar serviços públicos eficientes e concluídos em sua gestão.
Aspirei a uma instrução escolar em que todos os brasileiros e estrangeiros aqui residentes obtivessem formação baseada nos princípios espirituais milenares e formação intelecto-moral. Que os professores fossem respeitados e valorizados, com oportunidades permanentes de aperfeiçoamento e atualização de seus conhecimentos técnicos, além de salários compatíveis com o alto nível de seu apostolado.
Visualizei nossos vastos campos ocupados por agricultores felizes, multiplicando por cem nossa produção  agrícola, e o Brasil se tornando o “celeiro do mundo”. Também, em meus devaneios, sonhei que nossa indústria e tecnologia estavam à altura das nações mais desenvolvidas do planeta. E, oh, maravilha! vi nossas estradas, ferrovias, espaço aéreo e marítimo amplos e perfeitos, escoando, sem prejuízo, nossa produção interna e externa; além de facilitar o direito de ir e vir de todo cidadão.
Desejei que nossos médicos e especialistas da área médica e correlatas tivessem acesso, igualmente, à permanente atualização de seus conhecimentos, além da residência médica. E que seus salários e condições de trabalho fossem compatíveis com sua atividade missionária.
Almejei oportunidades justas de formação, trabalho, qualificação e remuneração a todos. Que cada pessoa, independentemente da profissão exercida, guardadas as diferenças pessoais, resultantes dos esforços nos estudos e na produtividade, tivesse ocupação e salário compatível com a aquisição de sua moradia, alimentação, vestuário e lazer.
Sobretudo, ainda sonho com o dia em que a fé de todos seja grande, sincera, e os missionários cristãos pautem suas existências pelo fiel cumprimento, na prática diária, dos elevados conceitos que recomendam do alto dos púlpitos. E que ninguém precise morar debaixo das pontes e marquises de edificações públicas. 
O Brasil precisa olhar piedosamente essas pessoas. O ideal seria, também, que a reforma da Previdência, em nosso país, começasse pela reforma do caráter de muitos políticos, que deveriam contentar-se com um teto salarial justo, que começa pela redução dos seus altos proventos.
Por enquanto, ainda vemos nas ruas nossos irmãos desprovidos de quase tudo. São como aves sem asas. Algumas delas jazem nas ruas da Asa Norte; outras, na Asa Sul do chamado Plano Piloto de Brasília. Por isso, fiz sua analogia metafórica com pássaros desprovidos de asas... 
Para acabar com a miséria dos párias sociais, é preciso que nos cristianizemos. E isso só será possível quando, não somente os agentes públicos, como todos nós nos conscientizarmos de que somos,  igualmente, responsáveis pela exclusão social desses nossos irmãos...
De início, os que temos lares, ouçamos, reflitamos e vivenciemos o clamor das artes que abordam temas espirituais e sociais, como o desta música: https://www.letras.mus.br/padre-zezinho/205789/

  Contador e ciência contábil (Irmão Jó)   Contador, tu não contas dor, Mas no balanço das contas O crédito há que ser superior.   Teu saldo...