EM DIA COM O MACHADO 374:
pássaros sem asas
Enquanto eu corria, no Eixão de Brasília,
como acontece todos os domingos, pela manhã, refletia no quanto é sofrida a
vida de milhões de cidadãos... Esse sentimento surgiu, no âmago do meu ser, após
minha visão renovada de pessoas morando debaixo das pontes da Capital Federal,
algumas delas com filhos pequenos.
O tempo passa, e pouca coisa muda, em
relação a políticas públicas benéficas aos cidadãos mais sofridos do nosso
país, que vêm, em grande parte, do Nordeste para as grandes capitais, como
Brasília, Rio, Minas e São Paulo. Por isso, lembrei-me de poema que escrevi há 29
anos: Maria da Ponte, publicado na antologia Poemas & Poetas II,
da Litteris Editora, em 1990, e na crônica “Em dia com o Machado 199”, de
17/2/2016.
O poema relata o drama de uma jovem de
menos de trinta anos, despejada de seu
barracão por uma empresa brasiliense, que ficou sem outra saída a não ser ir
morar com seus seis filhos debaixo de uma das pontes da Capital.
Com esse mesmo sentimento compassivo, o
padre Zezinho gravou a música Oração pela família, que também aborda seu
desejo de não ver nenhuma família morar “debaixo da ponte”. O link de acesso à
letra e música está no final desta crônica.
O Brasil está “quebrado” economicamente.
Nossos governantes precisam minimizar sua ambição pelo poder e pela riqueza e
atender aos anseios da população. Para isso, grande parte do nosso povo saiu às
ruas, novamente, neste dia 30 de junho de 2019, apoiando a aprovação, pelo
Congresso Nacional, da Reforma da Previdência, entre outras medidas,
como a do combate à corrupção e à criminalidade.
Então, como cidadão cristão-espírita,
desejei que o Cristo se fizesse presente em todas as famílias. Mais ainda,
almejei que os adeptos de outras crenças e os ateus fossem respeitados em seus
direitos de livre manifestação do pensamento, desde que a recíproca seja
verdadeira.
Como todo poeta, idealizei uma
administração honesta e eficiente do governo brasileiro. Imaginei o dia em que
os gestores da verba pública a utilizarão em melhorias das condições de nossos
hospitais, escolas, ruas, saneamento básico e segurança sem desvio de um
centavo.
Sonhei com um Brasil em que cada prefeito
dos 5570 municípios, subdivididos em 10.496 distritos e 683 regiões
administrativas dava conta, com honestidade e amor ao povo, da verba recebida
para proporcionar serviços públicos eficientes e concluídos em sua gestão.
Aspirei a uma instrução escolar em que
todos os brasileiros e estrangeiros aqui residentes obtivessem formação baseada
nos princípios espirituais milenares e formação intelecto-moral. Que os
professores fossem respeitados e valorizados, com oportunidades permanentes de
aperfeiçoamento e atualização de seus conhecimentos técnicos, além de salários
compatíveis com o alto nível de seu apostolado.
Visualizei nossos vastos campos ocupados
por agricultores felizes, multiplicando por cem nossa produção agrícola, e o Brasil se tornando o “celeiro do
mundo”. Também, em meus devaneios, sonhei que nossa indústria e tecnologia estavam
à altura das nações mais desenvolvidas do planeta. E, oh, maravilha! vi
nossas estradas, ferrovias, espaço aéreo e marítimo amplos e perfeitos,
escoando, sem prejuízo, nossa produção interna e externa; além de facilitar o
direito de ir e vir de todo cidadão.
Desejei que nossos médicos e especialistas
da área médica e correlatas tivessem acesso, igualmente, à permanente
atualização de seus conhecimentos, além da residência médica. E que seus
salários e condições de trabalho fossem compatíveis com sua atividade missionária.
Almejei oportunidades justas de formação,
trabalho, qualificação e remuneração a todos. Que cada pessoa,
independentemente da profissão exercida, guardadas as diferenças pessoais,
resultantes dos esforços nos estudos e na produtividade, tivesse ocupação e
salário compatível com a aquisição de sua moradia, alimentação, vestuário e
lazer.
Sobretudo, ainda sonho com o dia em que a
fé de todos seja grande, sincera, e os missionários cristãos pautem suas
existências pelo fiel cumprimento, na prática diária, dos elevados conceitos
que recomendam do alto dos púlpitos. E que ninguém precise morar debaixo das
pontes e marquises de edificações públicas.
O Brasil precisa olhar piedosamente essas
pessoas. O ideal seria, também, que a reforma da Previdência, em nosso país, começasse
pela reforma do caráter de muitos políticos, que deveriam contentar-se com um
teto salarial justo, que começa pela redução dos seus altos proventos.
Por enquanto, ainda vemos nas ruas nossos
irmãos desprovidos de quase tudo. São como aves sem asas. Algumas delas jazem
nas ruas da Asa Norte; outras, na Asa Sul do chamado Plano Piloto de Brasília.
Por isso, fiz sua analogia metafórica com pássaros desprovidos de asas...
Para acabar com a miséria dos párias
sociais, é preciso que nos cristianizemos. E isso só será possível
quando, não somente os agentes públicos, como todos nós nos conscientizarmos de
que somos, igualmente, responsáveis pela
exclusão social desses nossos irmãos...
De início, os que temos lares, ouçamos,
reflitamos e vivenciemos o clamor das artes que abordam temas espirituais e sociais,
como o desta música: https://www.letras.mus.br/padre-zezinho/205789/
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