Continuação da tradução livre d'O Evangelho Segundo o Espiritismo (3ª ed. francesa) - Por: Jorge Leite de Oliveira
4.4 Necessidade
da encarnação
A encarnação é uma punição, e somente os Espíritos culpados lhe
estão sujeitos?
A passagem dos Espíritos pela vida corpórea é necessária, para
que eles possam cumprir, com a ajuda da ação material, os desígnios cuja
execução Deus lhes confia. É-lhes necessária a bem deles mesmos, porque a
atividade que são obrigados a realizar lhes auxilia a desenvolver a
inteligência. Deus, sendo soberanamente justo, deve tudo distribuir igualmente
a todos os seus filhos. É por isso que Ele dá a todos o mesmo ponto de partida,
a mesma aptidão, as mesmas obrigações a cumprir e a mesma liberdade de agir.
Qualquer privilégio seria uma preferência, e toda preferência
uma injustiça. Mas a encarnação, para todos os Espíritos, é apenas um estado
transitório. É uma tarefa que Deus lhes impõe, quando iniciam a vida, como
primeira experiência do uso que farão do seu livre-arbítrio.
Aqueles
que cumprem essa tarefa com zelo, transpõem rapidamente e menos penosamente os primeiros
degraus da iniciação, e gozam mais cedo do fruto dos seu trabalho. Os que, ao contrário,
fazem mau uso da liberdade que Deus lhes concede, retardam o seu progresso. É assim que, por sua obstinação, podem prolongar
indefinidamente a necessidade de reencarnar. E
é então que a encarnação se torna um castigo — Luís (Paris, 1859).
4.4.1
Observação
Uma comparação vulgar nos fará melhor compreender essa
diferença.
O estudante só alcança os graus superiores da
ciência, após haver percorrido a série de classes que o levam até lá. Essas
classes, seja qual for o trabalho que exijam, são o meio de atingir o fim, e
não uma punição. O estudante laborioso abrevia a caminhada, encontrando menos
dificuldades. Acontece o contrário com aquele que a negligência e a preguiça
obrigam a repetir certas classes. Não é o trabalho da classe que constitui uma
punição, mas a obrigação de recomeçar o mesmo trabalho.
É o que se passa com o homem na Terra. Para o Espírito do selvagem, que está apenas no começo da
vida espiritual, a encarnação é um meio de desenvolver a inteligência. Mas,
para o homem esclarecido, em que o senso moral está largamente desenvolvido, e
que se vê obrigado a repetir as etapas de uma vida corpórea cheia de angústias,
quando já poderia ter chegado ao fim, é um castigo, pela necessidade em que se
acha de prolongar a sua permanência nos mundos inferiores e infelizes. Aquele
que, ao contrário, trabalha ativamente para o seu progresso moral, pode não só
abreviar a duração de sua encarnação material, mas transpor de uma vez os graus
intermediários, que o distanciam dos mundos superiores.
Os Espíritos não poderiam encarnar-se uma só vez num mesmo
globo, e cumprir suas diversas existências em esferas diferentes? Essa opinião só
seria admissível, se todos os homens estivessem, na Terra, exatamente no mesmo
nível intelectual e moral. As diferenças existentes entre eles, desde o
selvagem até o homem civilizado, mostram os degraus que ele deve atravessar. A
encarnação, ademais, deve ter um fim útil. Ora, qual
seria o das encarnações efêmeras das crianças que morrem em tenra idade? Teriam
sofrido sem proveito para si e para os outros. Deus,
cujas leis são todas soberanamente sábias, nada faz de inútil. Pela reencarnação
no mesmo globo, Ele quis que os mesmos Espíritos, ao se encontrarem novamente,
tivessem oportunidade de reparar seus erros recíprocos. Por meio de suas
relações anteriores, quis, além disso, estabelecer os laços de família sobre
base espiritual, apoiando numa lei da natureza os princípios de solidariedade, de
fraternidade e de igualdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário