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domingo, 7 de julho de 2019


Cont. da trad. livre do cap. 4 d'O Evangelho Segundo o Espiritismo (Jorge Leite de Oliveira)


A união e a afeição que existem entre parentes são um indício da simpatia anterior que os aproximou. Também se costuma dizer, referindo-se a uma pessoa cujo caráter, gostos e inclinações não se assemelham aos dos seus parentes, que ela não pertence à família. Dizendo isso, enuncia-se uma verdade maior do que se pensa. Deus permite, nas famílias,  essas encarnações de Espíritos antipáticos ou estranhos, com o duplo propósito de servirem de provas para uns e de meio de progresso para outros. Assim, os maus se melhoram pouco a pouco, ao contato dos bons e por efeito das atenções que destes recebem. Seu caráter se abranda, seus costumes se depuram, as antipatias desaparecem. É assim que se estabelece a fusão das diferentes categorias de Espíritos, como se faz na Terra entre as raças e os povos.
O medo do aumento indefinido da parentela, em consequência da reencarnação, é um receio egoísta, provando em quem o sente falta de amor bastante amplo  para abranger grande número de pessoas. Um pai que tem muitos filhos  os ama menos do que se tivesse apenas um? Mas que os egoístas se tranquilizem, pois esse temor não tem fundamento. Do fato de um homem ter tido dez encarnações, não se segue que tenha de encontrar, no mundo dos Espíritos, dez pais, dez mães, dez esposas e um número proporcional de filhos e de novos parentes. Lá encontrará sempre os mesmos que foram objetos de sua afeição, que lhe estiveram ligados na Terra a títulos diversos, e talvez pelo mesmo título.
Vejamos agora as consequências da doutrina da não reencarnação. Essa doutrina anula necessariamente a preexistência da alma. Se as almas fossem criadas ao mesmo tempo que os corpos, não existiria entre elas vínculo anterior. Seriam completamente estranhas umas às outras. Os pais seriam estranhos a seus filhos. A filiação das famílias fica assim reduzida apenas à filiação corpórea, sem qualquer ligação espiritual. Não há, portanto, nenhum motivo para alguém se vangloriar de haver tido por antepassados tais ou tais personagens ilustres. Com a reencarnação, ascendentes e descendentes podem já se terem conhecido, vivido juntos, amado, e podem reunir-se mais tarde para estreitar os seus laços de simpatia.
Isso quanto ao passado. Quanto ao futuro, segundo os dogmas fundamentais que resultam da não reencarnação, a sorte das almas está irrevogavelmente fixada após existência única. A fixação definitiva da sorte implica a cessação de todo o progresso, porque, desde que haja qualquer progresso, já não há sorte definitiva. Conforme tenham vivido bem ou mal, elas vão imediatamente para a morada dos bem-aventurados ou para o inferno eterno. Ficam assim imediatamente separadas para sempre, sem esperança de jamais tornarem a juntar-se, de tal forma que pais, mães, filhos, maridos e esposas, irmãos, irmãs, amigos nunca podem estar certos de se reverem: é a mais absoluta ruptura dos laços de família.
Com a reencarnação e o progresso que lhe é consequente, todos os que se amam se reencontram na Terra e no Espaço, e juntos gravitam para chegarem a Deus. Se alguns fraquejam no caminho, retardam seu adiantamento e sua felicidade, mas a esperança não está de todo perdida. Ajudados, encorajados e amparados pelos que os amam, sairão um dia do atoleiro em que caíram. Com a reencarnação, enfim, há solidariedade perpétua entre os encarnados e os desencarnados, do que resulta o estreitamento dos laços de afeição.
Em resumo, quatro alternativas se apresentam ao homem, para seu futuro de além-túmulo:
1°) o nada, conforme a doutrina materialista; 2°) a absorção no todo universal, de acordo com a doutrina panteísta; 3°) a individualidade, com fixação definitiva da sorte, segundo a doutrina da Igreja; 4°) a individualidade, com o progressão infinita, de acordo com a Doutrina Espírita.
         Conforme as duas primeiras, os laços de família são rompidos após a morte, e não há esperança de se reencontrarem. Com a terceira, há possibilidade de se reverem, contanto que estejam no mesmo meio, podendo esse meio ser o inferno ou o paraíso. Com a pluralidade das existências, que é inseparável da progressão gradual, existe a certeza da continuidade das relações entre os que se amaram, e é isso o que constitui a verdadeira família.


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