Em dia com o
Machado 115 (jlo)
Amigo leitor e bela leitora, houve
um tempo em que recomendei aos jovens para não serem tão açodados na elaboração
de seus textos. Lembrei-me agora de ter lido uma frase do Senhor Allan Kardec
sobre a formação intelecto-moral de um sábio. Dizia ele que, para se produzir
um médico medíocre, são necessários alguns anos de estudos compenetrados, mas
para se formar um sábio é preciso dedicar três quartas partes da existência. E
isso não somente no aprendizado teórico, como também no aspecto prático (O livro dos espíritos, introd., item
XIII).
Logicamente, o mestre lionês não se
referia a uma curta existência e, sim, a alguém que tenha alcançado ao menos
meio século de vida na matéria. Fazendo-se as contas, o sábio necessitaria de
37,5 anos de estudos aplicados se só vivesse 50 anos.
Alhures, afirmou José de Alencar que
"A mocidade é uma sublime impaciência. Diante dela, a vida se dilata, e
parece-lhe que não tem para vivê-la mais que um instante. Põe os lábios na taça
da vida, cheia a transbordar de amor, de poesia, de glória, e quisera
estancá-la de um sorvo".[1] Porém,
em seguida, acrescentou Alencar que "A sobriedade vem com os anos; é
virtude do talento viril. Mais entrado na vida, o homem aprende a poupar sua
alma".[2]
Quero relembrar-lhes, leitores,
minhas considerações sobre a pureza da linguagem. Está na crônica intitulada A língua[3].
O problema é muito sério, em especial para os críticos e revisores
textuais.
Suponhamos que uma obra para revisão
e avaliação crítica tivesse duzentas páginas, e cada página tivesse 30 linhas,
e cada linha, setenta toques e doze palavras em média. Calculei, a grosso modo,
420.000 toques e 72.000 palavras por obra. Toots, toots, and words, words...
Por aí se vê a dureza do trabalho do crítico,
que também deve ser a do revisor. Além das ideias, ele igualmente precisa estar
atento à forma. E ai do revisor que, nesses mais de quatrocentos mil toques,
deixar passar erros em apenas 0,001% deles... O crítico tem de ir além disso;
precisa ver, naquelas 72.000 palavras, se elas não se repetem muito, em cada
frase, se a sua morfossintaxe está correta e, sobretudo, se expressam, com
objetividade e singeleza um pensamento criativo, uma alma sensível, um senso de
humor elevado, uma originalidade...
Há algum tempo, meu secretário
estava revisando uma obra tão mal digitada que se deparou, logo de início, com
o seguinte verso de um poema: "Triste vi meti pai morrendo na
bigorna". Sem entender nada, conferiu com o texto da obra original, cujo
verso correto era o seguinte: "Triste, vendo meu pai morrendo na
bigorna". Era o relato de um filho sobre a contemplação de sua mãe diante
da morte do esposo em acidente de trabalho em sua oficina mecânica.
Se até para copiar os outros, nossos
jovens têm dificuldade, quanto mais grave é o que eles mesmos escrevem, de modo
precipitado, como se estivessem disputando uma corrida a cujo vencedor fossem
concedidas as láureas de campeão, embora o percurso percorrido por este fosse
bem mais curto do que o dos seus demais concorrentes. No domínio linguístico,
isso é improvável e mesmo impossível. Não basta a inteligência, é preciso o
esforço persistente, para se obter sucesso nas lides literárias, como em tudo
na vida.
O Espírito Thomas Édson acaba de me
pedir para lembrar-lhe, amiga leitora, sua frase memorável: "O gênio se
faz com 99% de transpiração e 1% de inspiração.
A não ser na psicografia...
De
tout mon coeur.