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quinta-feira, 29 de julho de 2021

 

Rumo à evolução

                                                                                                        por Alexsandro M. Medeiros

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29/10/2017 16:49

 



        Como ressaltamos até aqui, existem tipos de personalidades diferentes correspondentes ao grau de entendimento e maturidade de consciência, conquistado por evolução, através das variadas experiências realizadas nas vidas sucessivas, das quais estamos analisando dois tipos, por assim dizer, os extremos: os involuídos e o evoluído.

A diferença entre os dois níveis é esta: que nos planos inferiores prevalece o antagonismo que divide os seres entre si e contra Deus, de modo que a obediência é uma opressão antivital, enquanto nos planos superiores tudo isto desaparece numa unidade que funde os seres entre si e com Deus, numa só vontade dirigida para a mesma finalidade de bem, o que transforma a obe­diência em elemento vital (1988b, p. 15).

            O grande trabalho que as leis da vida têm para realizar no momento presente é fazer ascender o atual biótipo dominante, o involuído, para formas de vida mais adiantadas, com o objetivo de que ele possa entender e praticar a ética do evoluído.

O evoluído não julga que o involuído seja culpado ou mau, mas considera-o um menino a educar, ao qual é útil mostrar, para que ele o saiba, o que melhor lhe convém fazer para seu bem. Cabe aos mais adiantados o dever de ajudar os menos adiantados, não os con­denando, mas indo ao seu encontro com a devida compreensão (1988b, p. 28).

            Ubaldi nos oferece um exemplo tirado dos Evangelhos:

O contraste entre essas diferentes posições biológicas nos apa­rece evidente neste exemplo: quando Cristo foi preso no Getsêma­ne, Simão Pedro puxou da espada e, dando um golpe no servo do sumo sacerdote, decepou-lhe uma orelha. Então, Jesus lhe disse: "Embainha a tua espada; pois todos os que tomam a espada, mor­rerão pela espada. Então, tendo tocado a orelha, a sarou".

Vemos aqui chocarem-se dois sistemas [...] Simão Pedro pretendia usar a força para uma finalidade benéfica, defendendo um justo.  Mas Cristo preferiu praticar um método superior, o do evoluído, o da não-re­sistência e do perdão, para dar este exemplo e ensinar esta lição, avisando ao mesmo tempo do perigo que espera quem desce ao ní­vel do involuído e pratica os seus métodos — o perigo de ter depois de ficar sujeito ao domínio das reações e leis ferozes daquele plano (1988b, p. 31).

            Se existe um tipo de personalidade humana que age obedecendo apenas aos impulsos primitivos, de maneira inconsciente e até descontrolada e, por isso, se torna mecanicamente arrastado pelas forças da Lei, há, porém, um tipo de personalidade mais evoluída que tem consciência de uma vida muito mais vasta e que conhece, em maior ou menor grau, o duplo problema da personalidade e do destino, “isto é, sabe quem ele é e qual é o objetivo particular que ele deve atingir na sua atual vida física, em função dos objetivos maiores de toda a sua evolução” (1988b, p. 41).

            Em nosso mundo estão misturados os biótipos terrestres do nível do involuído e do evoluído e a personalidade humana pode oscilar entre cada um dos dois. Cada indivíduo representa uma personalidade diferente, de acordo com o nível em que se encontra, ao mesmo tempo em que em cada indivíduo estes biótipos coexistem simultaneamente. Não são apenas tipos de personalidade diferentes (de indivíduo para indivíduo), mas também diferentes personalidades, por assim dizer, em uma só. E o mundo está suspenso entre dois mundos:

um debaixo e um acima dele, do primeiro re­cebendo impulsos inferiores, do segundo, impulsos superiores, im­pulsos opostos em luta, que, porém, representam o trabalho criador do amadurecimento evolutivo. Assim, quando em nós surge um impulso, pela sua natureza podemos entender de que nível evolutivo ele chega. As chamadas tentações de pecado, para fazer o mal, perten­cem ao nível inferior, enquanto as boas inspirações de fazer o bem pertencem ao superior. Mas em cada um surgirão com mais poder os impulsos do seu plano biológico e estes vencerão. Assim, com a sua conduta cada um revelará a que plano pertence, quem é e qual é o seu grau de evolução. É claro que, tratando-se de indivíduos em transformação, destinados mais cedo ou mais tarde a mudar de um andar para outro, encontramos em nosso mundo impulsos e condutas de todo o gênero (1988b, p. 58).

            Ocorre, assim, que um indivíduo possa estar em uma fase de transição, de um nível para outro, no qual se mesclam impulsos de níveis diferentes (instintos, inteligência, intuição). Por se tratar de um fenômeno de evolução, representa um contínuo transformismo, e é bem provável que um indivíduo oscile de um nível para outro. É assim que nasce a luta entre o novo e o velho. E assim acontece que um indivíduo não ocupe somente um nível de evolução. Há casos em que os impulsos instintivos dominam e o ser permanece no nível inferior. Mas há outros, em que a inteligência começa a predominar, ora em favor dos instintos (e o ser continua no nível inferior) ora em favor das aspirações do espírito (e o ser se eleva ao nível superior). E há ainda casos em que o espírito vence a matéria, a animalidade, e supera definitivamente os instintos inferiores.

            O maior e mais penoso trabalho que deve ser realizado por cada indivíduo é subir de um nível psicológico para outro, transformando a sua personalidade e afastando-se da dor e do sofrimento.

Filosofia Política → Filosofia Contemporânea → Pietro Ubaldi → Como a maturidade psíquica influencia as relações e a vida em sociedade na perspectiva espiritualista de Pietro Ubaldi  Rumo à evolução



Leia mais: https://www.sabedoriapolitica.com.br/news/rumo-a-evolucao/

terça-feira, 27 de julho de 2021

 

EM DIA COM O MACHADO 481:

AS RODAS DA VIDA (Jó)


 

         Bom dia, amigos leitores!

        Enquanto eu esperava o retorno de minha esposa, que conduzi para tratamento no CBV/Hospital de Olhos, em Brasília, sentei-me do lado de fora do nosocômio. Dali observei os movimentos dos passantes e acompanhantes, como foi o caso do menino de cerca de três anos e seus pais. O pai faria uma consulta oftalmológica.

        Então, vi quando o menino veio correndo, após despedir-se do pai, e subiu no colo de sua mãe, que estava sentada. Em seguida, ele desceu e ficou brincando com seu carrinho sob a vigilância materna.

        Passei, então, a observar os pacientes que voltavam amparados por seus acompanhantes ou enfermeiros. Senhor idoso, com grande dificuldade de deambular, foi levado por seu jovem acompanhante até o carro que os aguardava; enfermeiro cuidadoso guiou moça de triste expressão, em cadeira de rodas, até o interior do prédio; e senhora d'olhos vendados foi amparada  por sua filha até sumir do alcance dos meus olhos.

        Lembrei-me então da história do príncipe Sidarta Gautama. Após ter visto, em espírito, um velho, um doente, um cadáver e um monge, Gautama deixou mulher e filho para trás, devolveu as roupas principescas que usava ao pai, vestiu-se de monge e foi para o deserto, em busca da autoiluminação. Conseguida esta, após anos de renúncia às paixões do mundo, deduziu que a causa do sofrimento é o desejo. Ao longo do tempo, conquistou adeptos à sua crença, que se expandiu, passou a ser conhecida como Budismo e Gautama foi considerado Buda, que, em sânscrito, significa "o iluminado".

        Longe de mim dizer que minha visão possa ser comparada com a do Buda. Entretanto, ao ver as cenas descritas acima, refleti nas conclusões iniciais pregadas por esse iluminado espírito: as três primeiras visões representam a natureza do mundo; a quarta simboliza a solução para as misérias humanas. Então podemos dizer que o  monge simboliza a espiritualidade proposta por Deus a cada um de nós para nos libertarmos das misérias inerentes às paixões nefastas.

        Ao contrário das visões do Buda, minha primeira visão representa o compromisso da família ante a educação da criança e, portanto, a mais importante de todas que vi. Também ali há um simbolismo...

        Pouco antes de morrer, aos 80 anos de idade, Buda disse isto em suas últimas palavras: "A decadência é inerente a todas as coisas. Com a mente clara, dê a devida atenção à sua salvação". Lembrei-me então desta máxima espírita: "Fora da caridade não há salvação". Paz e luz!

domingo, 25 de julho de 2021

 O Céu e o Inferno

 

Allan Kardec

Por Astolfo Olegário Oliveira Filho  

Parte 13

 

Continuamos o estudo metódico do livro “O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, com base na 1ª edição da tradução de João Teixeira de Paula publicada pela Lake.




Eis as questões de hoje:

 

97. O assassino, ao escolher sua existência, sabia antes de reencarnar que nela cometeria um crime?

Não. Ele sabia apenas que, escolhendo uma vida de luta, teria probabilidades de matar um semelhante, ignorando porém se o faria, pois estava quase sempre em luta consigo mesmo. (O Céu e o Inferno – Segunda Parte, cap. VI, Verger, item 18.)

98. Qual a punição reservada aos criminosos?

Depende de cada caso. Respondendo a semelhante questão, o Espírito de Verger disse: “Sou punido porque tenho consciência da minha falta, e para ela peço perdão a Deus; sou punido porque reconheço a minha descrença nesse Deus, sabendo agora que não devemos abreviar os dias de vida de nossos irmãos; sou punido pelo remorso de haver adiado o meu progresso, enveredando por caminho errado, sem ouvir o grito da própria consciência que me dizia não ser pelo assassínio que alcançaria o meu desiderato. Deixei-me dominar pela inveja e pelo orgulho; enganei-me e arrependo-me, pois o homem deve esforçar-se sempre por dominar as más paixões – o que aliás não fiz”. (Obra citada - Segunda Parte, cap. VI, Verger, perguntas 14 e 15.)

99. Que sente o Espírito de um indivíduo decapitado?

No caso de Lemaire, que foi condenado e decapitado, a primeira sensação foi de vergonha. Imerso em grande perturbação, sentiu uma dor imensa, afigurando-se-lhe ser o coração quem a sofria. Viu rolar não sei quê aos pés do cadafalso; viu o sangue que corria e mais pungente se lhe tornou a sua dor. Na sequência, o primeiro sentimento que experimentou ao penetrar na nova existência foi um sofrimento intolerável, uma espécie de remorso pungente cuja causa então ignorava. (Obra citada - Segunda Parte, cap. VI, Lemaire.)

100. Um religioso que fracassa é mais culpável do que um indivíduo qualquer?

Sim. Referindo-se ao caso Benoist, o guia espiritual do médium explicou que as atrocidades por ele cometidas não tinham número nem conta, e maior era a sua culpa porque possuía inteligência, instrução e luzes para guiar-se. Tendo falido com conhecimento de causa, mais terríveis lhe seriam os sofrimentos, os quais, não obstante, se suavizariam com o exemplo e o auxílio da prece, de modo a que, confortado pela esperança, pudesse vislumbrar seu termo. (Obra citada - Segunda Parte, cap. VI, Benoist, perguntas 3 e 23 e mensagem do Guia do médium.)

101. A prece beneficia também os Espíritos votados ao mal?

Sim, mas a prece só aproveita ao Espírito que se arrepende. Para aqueles que, arrebatados de orgulho, se revoltam contra Deus e persistem no erro, exagerando-o mesmo, tal como procedem os infelizes, a prece nada adianta, nem adiantará, senão quando tênue vislumbre de arrependimento começar a germinar-lhes na consciência. A ineficácia da prece também é para eles um castigo. Enfim, ela só alivia os não totalmente endurecidos. (Obra citada - Segunda Parte, cap. VI, O Espírito de Castelnaudary, pergunta inicial a S. Luís e perguntas 9 e 10 da segunda mensagem.)

102. O tempo corre para os Espíritos como para os homens?

Não. Em alguns casos, como o do Espírito de Castelnaudary, o tempo parecia até mais longo. De modo diverso com o que se dá com os Espíritos que já atingiram elevadíssimo grau de adiantamento, o tempo é, para os inferiores, frequentemente moroso, sobretudo quando sofrem. (Obra citada - Segunda Parte, cap. VI, O Espírito de Castelnaudary, perguntas 4 e 5.)

103. Existem casas mal-assombradas?

Sim. Os fatos ocorridos em Castelnaudary são uma prova disso. A casa em que houve o crime ficou desabitada por longo tempo. (Obra citada - Segunda Parte, cap. VI, O Espírito de Castelnaudary, perguntas 1 e 2.)

104. O Espírito de um criminoso pode ficar magneticamente preso a uma casa localizada na Crosta da Terra?

Pode. O Espírito que cometeu o crime em Castelnaudary ficou por longo tempo como que condenado a habitar a casa em que o fato ocorreu, sem poder fixar o pensamento noutra coisa que não no crime, tendo-o sempre ante os olhos e acreditando na eternidade de tal tortura. Ele ali permanecia como no momento do próprio crime, porque qualquer outra recordação lhe foi retirada e interditada toda comunicação com qualquer outro Espírito. Sobre a Terra, só podia permanecer naquela casa, e no Espaço só lhe restavam solidão e trevas. (Obra citada - Segunda Parte, cap. VI, O Espírito de Castelnaudary, perguntas 1 a 4.)

 

Leia mais em: 

https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/06/blog-post_17.html

 

quinta-feira, 22 de julho de 2021

 

A psicanálise evolucionista e espiritualista de Pietro Ubaldi

A psicanálise evolucionista e espiritualista de Pietro Ubaldi

por Alexsandro M. Medeiros

lattes.cnpq.br/6947356140810110

postado em jun. 2017

atualizado em out. 2020

            A personalidade humana na teoria ubaldiana é constituída por uma parte inconsciente (dividido em subconsciente e superconsciente) e outra consciente, como na teoria psicanalítica freudiana. “A personalidade humana não é um ponto, mas uma zona onde se distinguem 3 partes: o subconsciente, o consciente e o superconsciente” (NCTM, 1982, p. 375).

            O consciente está, por assim dizer, na superfície da psyché, se quisermos usar a imagem utilizada por Freud, da estrutura da psyché como um iceberg onde a parte submersa corresponde ao inconsciente. Pietro Ubaldi segue esta compreensão e afirma que a parte consciente é a zona analítica, onde se realiza o trabalho atual de construção da personalidade e aquisição de conhecimentos e experiências. “Debaixo desta zona, na qual o homem comum vive a sua vida de cada dia, há outras zonas, sobrepostas, situadas fora desse consciente, no inconsciente” (UBALDI, PNE, p. 94), que são o subconsciente e o superconsciente.

Enquanto o subconsciente representa a assimilação completa de velhas experiências em estratificações antigas donde emergem co­mo instintos [...] o superconsciente, no extremo oposto, representa a zona de espera, onde se registam as experiências de vanguarda, pela quais se antecipa o futuro, zona que não está, como a outra, no fim mas na frente da evolução (NCTM, 1982, p. 375-376).

            Na zona inconsciente o pensamento deixa de ser analítico e se torna mais vasto, mais profundo dirigido para a assimilação e conservação do velho, ao contrário do consciente que é a exploração do novo e construção do eu. O que é vivido pelo consciente na superfície vai estratificando-se no inconsciente.

Nas jazidas do subconsciente fica depositado tudo o que nele colocamos. De lá ele está pronto para ressuscitar no consciente [...] Em substância, se trata de uma restituição, pela qual o subconsciente devolve ao consciente o material que na vida este conquistou e lhe transmitiu, e que agora o consciente recebe de vol­ta, mas elaborado e assimilado em forma de impulsos e qualida­des pessoais (UBALDI, PNE, p. 100)

            No subconsciente estão os resquícios da animalidade (zona do instinto), no superconsciente (zona da intuição) a dimensão do espírito que visa a evolução. No primeiro o passado, o patrimônio adquirido, a personalidade constituída. No segundo “as experiências em formação, novas, incertas, instáveis, mas audazes, elevadas, complexas” (NCTM, 1982, p. 376), o patrimônio em vias de aquisição, o complemento da personalidade. O consciente é a zona intermediária, a zona de trabalho, da razão, de novas formações e, por isso, de desequilíbrio, de contrastes. Temos então passado, presente e futuro: “No subconsciente está escrito nossa história, no consciente está o esforço da subida, no superconsciente, o futuro” (NCTM, 1982, p. 380). Cada zona da personalidade corresponde a três tipos biológicos: o animal, o homem, o super-homem. “Portanto três fases: captação pela intuição, assimilação pela razão, depósito pelo instinto” (NCTM, 1982, p. 378).

            Por ser passado o subconsciente foi, em algum momento, consciente que, por sua vez, amanhã será subconsciente. Seguindo a mesma linha de raciocínio o superconsciente, amanhã, será consciente e depois subconsciente. E assim se processa o aperfeiçoamento da personalidade humana. “O que para alguns é superconsciente, persona­lidade futura, embrional, ainda a ser acabada, para outros é consciente em formação ou mesmo subconsciente, isto é, personalidade instintiva já construída. O que para o invo­luído é futuro, para o evoluído é passado” (NCTM, 1982, p. 381). Todo indivíduo caminha tendo à frente o superconsciente e atrás de si o subconsciente. O sistema é o mesmo para todos, mas a posição em que cada um se encontra é diferente. A estrutura da personalidade é a mesma. A posição evolutiva é que muda para cada caso particular. Os diferentes tipos de personalidade se explicam de acordo com a condição em que cada um se encontra no que diz respeito ao subconsciente, consciente, superconsciente. “As zonas de subconsciente, consciente e superconsciente são, portanto, relativas ao desenvolvimento do indivíduo e podem ocupar diferentes graus na escala da evolução” (NCTM, 1982, p. 382).

            “O que para o consciente constitui trabalho atual, para o subconsciente é passado vivido, não morto, cuja síntese so­brevive sepultada em seu íntimo como resultado da opera­ção que atualmente é desenvolvida pelo consciente” (NCTM, 1982, p. 377). Por fazer parte de um passado mais longínquo, o instinto, mais velho, embora inferior como nível evolutivo, é superior como maturidade formativa, é obra terminada, ao passo que a razão, em processo de formação, de análise, de experiência incompleta, é inferior como maturidade formativa mas superior como forma mais complexa. A razão “é fase inicial de assimilação de qualidades novas mas em grau mais elevado de evolução” (NCTM, 1982, p. 377). A intuição, por sua vez, que atua no superconsciente “é uma antena estendida como antecipação em di­reção aos mais altos e inexplorados graus de evolução, para captar o novo, o inédito, o futuro” (NCTM, 1982, p. 378). “A medida que se avança, a fase evolutiva, inicialmente conseguida somente pelos raios da intuição, torna-se domínio normal e controlado da razão, cumprindo a função de assimilação que encontramos terminada no instinto” (NCTM, 1982, p. 378 – grifo do autor).

 

Psicanálise e Psicologia: ciências da alma

            Vemos assim porque para Pietro Ubaldi a psicanálise, como a psicologia, é ciência da alma, com a diferença que à primeira cabe o estudo do inconsciente para descobrir os elementos componentes da personalidade do indivíduo e, igualmente, o seu destino, que é uma consequência necessária do passado (inscrito no subconsciente) e das ações presen­tes que por sua vez ficarão inscritas também no subconsciente quando se tornar passado adquirido.

            O estudo da psicanálise é, assim, fundamental para uma compreensão mais exata da personalidade humana que não se resume apenas no seu consciente. Esse estudo é tão mais importante quanto nos ajuda a entender a nossa existência, porque é no interior de nossa psyché que iremos encontrar as origens de nossos atos. Os nossos atos, para serem melhor compreendidos, precisam ser analisados à luz dos impulsos interiores do qual derivam.

Isto prova a importância da psicanálise, mas uma psicanálise concebida em sentido mais vasto do que a atual vigorante, isto é, como ciência que desvenda o mistério da alma, descobrindo o que fomos no passado e, por conseguinte, seremos no futuro, nos reve­lando o conteúdo de uma vida nossa muito maior, da qual a atual não é senão um breve episódio (UBALDI, PNE, p. 80)

            Todo esse conhecimento é importante e necessário para a (re)construção do eu. É o conhecimento que pode nos proporcionar a sabedoria necessária para buscar “o conhecimento de si mesmo”, como acreditavam Sócrates e os antigos filósofos. Ou como entre os povos orientais que acreditam que através da prática da meditação profunda seja possível alcançar o conhecimento de si mesmo. Através da psicanálise é possível descobrir quem somos, quais forças agem no nosso interior, o ponto frágil de nossas almas e assim evitar a dor e o sofrimento. É um trabalho do qual não podemos escapar, mas podemos decidir se vamos realizá-lo de forma inconsciente (como até hoje o fizemos) ou se o faremos de forma consciente.

            Mas para isso a psicanálise não pode ficar limitada ao organismo animal. “O psica­nalista do futuro será o médico do nosso organismo espiritual, da saúde do qual depende o bem-estar do corpo” (UBALDI, PNE, p. 82). Hoje predomina o médico do corpo mas, no futuro, os dois médicos, do corpo e da alma, trabalharão lado a lado. Mais do que um médico, o psicanalista do futuro será um educador, um orientador de almas, cujo maior e mais importante objetivo é trabalhar pela sua evolução espiritual.

            Não é difícil saber quais instintos são dominantes na alma humana. O conteúdo do subconsciente pode ser revelado através daquilo que mais toca indivíduo, através do cinema, dos noticiários, das novelas. Se um indivíduo é chamado a atenção pelos crimes, pela selvageria, pela forma violenta com que são noticiados os fatos do cotidiano, revela que ainda predomina no seu subconsciente o instinto da fera. O mesmo pode ser dito em relação aos apetites sexuais, à exposição erótica com o qual somos bombardeados todos os dias pelas propagandas dos mais diversos meios de comunicação.

Tudo isto re­vela quais são os instintos ainda dominantes, que com tais meios procuram desabafar com a fantasia, agora que as leis de um mundo mais civilizado proíbem que tais impulsos se concretizem nos fatos. Assim, a mente se satisfaz com tais substitutos, que revelam sua na­tureza, sempre pronta, porém, a se satisfazer com fatos, logo que desaparece o freio da ordem, disciplina mantida com a força (UBALDI, PNE, p. 85).

            Um exame de consciência pode revelar facilmente quais instintos ainda predominam na personalidade humana. Basta mergulhar em nossos pensamentos, acompanhar-lhes o curso, e vê como e para onde se dirigem. Assim é possível ler o subconsciente no qual não iremos encontrar apenas a fera, mas também o anjo, as aspirações divinas, que nos impulsionam para o alto e para Deus. É desse conflito entre a fera e o anjo que surge a luta incessante e desapiedada do homem que deseja transformar a sua personalidade, concertar o passado e os erros nele cometidos, seguir na senda do bem. Eis o bom combate! Eis a luta que surge

entre duas posições evolutivas dentro do mesmo indivíduo que as contém: de um lado a sabedoria do instinto bem comprovada e confirmada por longa experiência, profundamente arraigada nos alicerces da vida, sabedoria encarregada de defendê-la, garantindo-lhe a continuação. De outro lado, a sabedoria do homem consciente, conquista nova que se coloca acima do instinto, destinada não a conservar o pas­sado, mas a explorar o futuro (UBALDI, PNE, p. 84).

            É a luta entre o involuído e o evoluído que existe dentro de cada indivíduo, chocando-se o passado com o futuro, a matéria e o espírito, a animalidade e a espiritualidade, a fera e o anjo. Alguns podem ver aí múltiplas personalidades dentro de um mesmo indivíduo, uma personalidade resultado do passado e outra que deseja o futuro. Uma das duas irá prevalecer. As Leis da vida querem que o espírito vença a matéria, que a fera se transforme em anjo, que o novo substitua o velho, que os instintos superiores tomem o lugar dos inferiores. É um trabalho que deve ser realizado no interior de cada indivíduo. Trabalho que já vem sendo realizado a séculos, de mais de uma vida, de inúmeras vidas sucessivas.

 

A Nova Psicanálise: Psicanálise e Reencarnação

            Na teoria ubaldiana os instintos são automatismos adquiridos ao longo de toda a existência e gravados no subconsciente. Todavia, ao contrário da psicanálise hodierna que está fechada nos limites estreitos que vai do nascimento até a morte física, a nova psicanálise considera não apenas a vida atual, mas todas as vidas precedentes: teoria reencarnacionista. A psicanálise hodierna ignora essa realidade muito mais vasta e muito mais profunda que tem suas raízes em um passado longínquo, que se perde ao longo das eras, de outras vidas, da qual esta não presenta senão um átimo no universo. Tal psicanálise só pode abranger um espaço mínimo da nossa existência, bastante curto, diga-se de passagem, para explicar a totalidade da existência humana.

            Por isso Ubaldi fala de uma Nova Psicanálise, que complete a atual, limitada ao terreno dos efeitos, ignorando as causas onde tudo se origina. Falta à psicanálise atual a parte mais importante: “aquela onde estão os alicerces que sustentam o edifício do eu, aquela das raízes onde se apoia a árvore, e das razões que explicam e justificam o estado atual do indivíduo” (UBALDI, PNE, p. 81). Esse entendimento de que a vida vai além do nascimento é fundamental para a psicanálise “sem a qual esta não pode entender o presente, que é conseqüência daquele passado, que representa sua raiz” (UBALDI, PNE, p. 90).

          No início de cada existência, cada indivíduo traz consigo o seu passado (de vidas pretéritas) gravado no subconsciente e esta base representa um aspecto significativo de sua personalidade e determinante de sua existência. Cada um traz em si na forma instintiva o conhecimento adquirido. É assim que surge o homem prodígio: o poeta, o artista, o filósofo, o homem de ciência. E seu destino é determinado de acordo com o aprendizado adquirido e o aprendizado que deve realizar. Mas sempre em função de sua personalidade. Na sua viagem pela jornada da vida, o indivíduo traz o fruto de sua experiência passada, mas que não permanece estática, e que vai acumulando novos conhecimentos, nova sabedoria, que no futuro farão parte do seu subconsciente, cristalizando-se tanto mais quanto mais forte for o aprendizado. Cada vida é uma continuação, visando a evolução do espírito, e não pode ser vivida senão em cima do que foi construído no passado e existe como potencialidade para viver no futuro.

            O subconsciente contém um mundo muito vasto do que aquele preterido pela psicanálise hodierna: um passado imenso, muito mais rico, muito mais cheio de automatismos e instintos, em que o eu vive infinitas experiências, diferente para cada um, de acordo com o caminho percorrido.

 

A Estrutura da Personalidade

            A filosofia espiritualista de Pietro Ubaldi nos permite uma densa e complexa análise da personalidade humana considerando, inclusive, a ideia de que a personalidade não se limita a dimensão consciente mas possui, tal como postulado pela psicanálise, uma dimensão inconsciente.

            Na filosofia de Ubaldi, “A personalidade humana não é um ponto, mas uma zona onde se distinguem três partes: o subconsciente, o consciente e o superconsciente” (UBALDI, ANCTM, p. 375). Uma zona em movimento, através de um dinamismo que amadurece e se desloca através da evolução. “sob o minúsculo eu normal de superfície, se estende em profundidade um eu ilimitado. E o homem inquire de si mesmo: que coisa, pois, sou eu? [...] a personalidade humana se estende em zonas que estão além dos limites normais da consciência racional e prática” (UBALDI, AM, p. 93 – grifo do autor). Esse eu ilimitado, a psique humana, é um organismo em contínuo processo de expansão (crescimento) formado por estratificações onde se depositam as experiências da vida.

            Temos uma personalidade de natureza não puntiforme, mas trifásica. Uma personalidade em torno da qual ocorre um movimento ascensional nesta zona trifásica, de correntes ascendentes e descendentes. É um fenômeno que pode ser observado de forma dinâmica, como vibração e de um ponto de vista cinético: “é o mes­mo que dizer que o estado cinético se desloca para estados evolutivos mais elevados, isto é, que o movimento toma ritmo vibratório cada vez em mais alta frequência e ondas cada vez mais curtas” (UBALDI, ANCTM, p. 381), o que é o mesmo que dizer que o consciente, com a evolu­ção, tende a passar do nível inferior a um superior.

            Vejamos agora em detalhes cada uma destas zonas.

 

1. SUBCONSCIENTE

2. CONSCIENTE

3. SUPERCONSCIENTE

4. OS TRÊS NÍVEIS DA PERSONALIDADE

5. A TAREFA DA PSICANÁLISE E DO PSICANALISTA

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

Filosofia Política → Filosofia Contemporânea → Pietro Ubaldi → A psicanálise evolucionista e espiritualista de Pietro Ubaldi



Leia mais: https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/a-psicanalise-evolucionista-e-espiritualista-de-pietro-ubaldi/

terça-feira, 20 de julho de 2021

 

EM DIA COM O MACHADO 480:

CURA DO ÓPIO PELA  AÇÃO (Jó)

 

        Salve! leitores queridos. Há poucos dias, assisti palestra de Jorge Elarrat, que nos informou a existência nas quatro letrinhas da palavra ÓPIO dos quatro defeitos da personalidade humana que nos fazem infelizes: ódio, paixões, inveja e orgulho. Ocorreu-me a ideia de escolher algumas trovas de Jó e outras, psicografadas pelo inolvidável Chico Xavier, colhidas na obra: Trovadores do Além, sobre cada um defeito do ÓPIO e de sua cura pela AÇÃO: amor, ciência, abnegação e oração. Começo pelo O do ódio:

 

Ódio – Jó

 

Ao ódio, disse o amor:
Perdoa, abençoa, esquece...
Às ofensas do agressor,
O antídoto é a prece.

 

        Vamos agora às paixões e quejandos:

 

Paixões – Espírito Belmiro Braga

 

Há muita paixão que arrasa
Qual fogueira bela e vã.
Hoje, brilho, chama e brasa
E muita cinza amanhã.

 

Inveja - Jó

 

Não se deve invejar
As bênçãos dos bens do próximo.
A lei pede trabalhar
Na conquista do pão nosso.

 

Orgulho

 

Orgulho, irmão da vaidade,
Doenças do egoísmo.
Seu remédio é a humildade,
Mãe zelosa do altruísmo.

 

         Para a cura do ÓPIO, como dissemos acima, o tratamento é a AÇÃO. Comecemos pelo A de amor:

 

Amor – Espírito Ulisses Bezerra

 

Amor — da sombra em que existo,
Parece clarão de aurora,
Consolo de Jesus Cristo,
Mão estendida a quem chora.

 

Ciência – Espírito Da Costa e Silva

 

Quem da Ciência duvida
Decerto tem que aprender
Que quem diz que não há saudade
Que morra para saber.

 

Abnegação – Espírito Luiz Murat

 

Deus ama a todos, porém
Dá mais amor às raízes
Do amor de alguém que ama alguém
Fazendo os outros felizes.

 

Oração – Espírito Ivan Albuquerque

 

Oração — luz que levanta,
Êxtase — névoa que embala...
Deus põe a fruta na planta,
Mas nunca vem descascá-la.

 

        Concluo com esta frase proferida pelo Chico Xavier, no último programa Pinga Fogo em que foi entrevistado, realizado pela antiga TV Tupi: "Sem Jesus Cristo em nossas vidas, não estaremos muito longe de uma regressão para as selvas". Abraços fraternos.

       

domingo, 18 de julho de 2021

 O Céu e o Inferno

Estudo realizado por Astolfo Olegário Oliveira Filho. 

Allan Kardec

 

Parte 12

 

Continuamos o estudo metódico do livro “O Céu e o Inferno ou A Justiça Divina segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, com base na 1ª edição da tradução de João Teixeira de Paula publicada pela Lake.



Eis as questões de hoje:

 

89. Qual é o suicídio mais severamente punido? 

O suicídio mais severamente punido é o que tem por objetivo a fuga às misérias terrenas, misérias que são ao mesmo tempo expiações e provações. Furtar-se a elas é recuar ante a tarefa aceita e, às vezes, ante a missão que se deve cumprir. É preciso entender também que o suicídio não consiste somente no ato voluntário que produz a morte instantânea, mas em tudo quanto se faça conscientemente para apressar a extinção das forças vitais. (O Céu e o Inferno, Segunda Parte, cap. V, O pai e o conscrito, pergunta 10, e nota de Kardec.)

90. Que acontece àqueles que se suicidam para unir-se no outro mundo? 

No caso examinado por Kardec, que trata de um duplo suicídio por amor, a pena consistirá em ambos se procurarem em vão e por muito tempo, quer no mundo espiritual, quer noutras encarnações terrestres – pena essa que é agravada pela perspectiva de sua eterna duração. (Obra citada, Segunda Parte, cap. V, Duplo suicídio por amor e por dever, perguntas 1 e 8 e comentários de Kardec.)

91. Como encarar o suicídio oriundo do amor que se frustrou? 

O suicídio oriundo do amor que se frustrou é menos criminoso aos olhos de Deus do que o suicídio de quem procura libertar-se da vida por covardia. No caso examinado nesta obra, é à moça que cabe a maior responsabilidade, por haver entretido em Luís, por brincadeira, um amor que não sentia. Quanto ao moço, punido pelo sofrimento que experimentava, sua pena seria leve, porquanto apenas cedeu a um movimento irrefletido em momento de exaltação, o que difere da fria premeditação dos suicidas que buscam subtrair-se às provações da vida. (Obra citada, Segunda Parte, cap. V, Luís e a pespontadeira de botinas, perguntas 5 e 8.)

92. Para evocar com êxito um Espírito, quais os requisitos indispensáveis? 

As evocações não se fazem assim de momento, porque os Espíritos nem sempre correspondem ao nosso apelo. Para que tenha êxito uma evocação, é preciso que eles queiram vir e também que possam fazê-lo. É preciso, ainda, que encontrem um médium que lhes convenha, com as aptidões especiais necessárias e que esse médium esteja disponível em dado momento. É preciso, enfim, que o meio lhes seja simpático. (Obra citada, Segunda Parte, cap. V, Um ateu, último parágrafo.)

93. Como pode existir materialista se, tendo já passado pelo mundo espiritual por inúmeras vezes, o indivíduo deveria guardar intuição desse fato? 

Segundo Allan Kardec, é precisamente essa intuição que é recusada a alguns Espíritos que, conservando o orgulho, não se arrependeram de suas faltas. Para esses tais, a prova consiste na aquisição, durante a vida corporal e à custa do próprio raciocínio, da prova da existência de Deus e da vida futura, que eles têm, por assim dizer, incessantemente sob os olhos. Muitas vezes, porém, a presunção de nada admitir acima de si os empolga e absorve. Assim, sofrem eles a pena até que, domado o orgulho, se rendem à evidência. (Obra citada - Segunda Parte, cap. V, Um ateu, pergunta 8 e comentário de Kardec.)

94. Como podem os Espíritos evitar-se no mundo espiritual, se ali não existem obstáculos materiais nem refúgios? 

Tudo é, no mundo espiritual, relativo e conforme à natureza fluídica dos seres que o habitam. Só os Espíritos superiores têm percepções indefinidas, que nos Espíritos inferiores são limitadas. Para estes, os obstáculos fluídicos equivalem a obstáculos materiais. Os Espíritos furtam-se às vistas dos semelhantes por efeito volitivo, que atua sobre o envoltório perispiritual e fluidos ambientes. A Providência lhes concede ou nega essa faculdade, conforme as suas disposições morais, o que constitui, de acordo com as circunstâncias, um castigo ou uma recompensa. (Obra citada - Segunda Parte, cap. V, Um ateu, pergunta 19 e comentários de Kardec.)

95. O suicida está submetido a uma fatalidade? Seu ato une ou separa os que se amam? 

Não; nenhuma fatalidade há no suicídio. A pessoa pode estar submetida a um encadeamento de circunstâncias que lhe podem dar, não a necessidade, mas a tentação do suicídio, à qual ela pode perfeitamente resistir. No caso de Feliciano, relatado por Kardec, a situação deveria renovar-se ainda, ou seja, ele teria de enfrentar acontecimentos que lhe sugeririam a ideia do suicídio, e assim aconteceria até que ele tivesse vencido a prova. Como é demonstrado pelo caso da mãe que se matou para encontrar o filho, o suicídio não une, mas sim separa o suicida do alvo de sua pretensão, e essa separação pode perdurar por longo tempo. (Obra citada - Segunda Parte, cap. V, Feliciano e Mãe e filho.)

96. A obsessão pode levar ao suicídio? 

Sim. Quando não tratada convenientemente, a obsessão pode levar o obsidiado ao suicídio, como ocorreu no caso de Antônio Bell. O indivíduo só arrosta com a perseguição dos maus, dos obsessores, enquanto estes não o encontram bastante forte para resistir-lhes. Encontrando resistência, eles o abandonam, convictos da inutilidade dos seus esforços. (Obra citada - Segunda Parte, cap. V, Antônio Bell, pergunta 5 e resposta do Guia do médium.)

 Leia mais em

https://espiritismo-seculoxxi.blogspot.com/2021/06/blog-post_10.html

 

 

 

 

 

  

quinta-feira, 15 de julho de 2021

 

Como a maturidade psíquica influencia as relações e a vida em sociedade na perspectiva espiritualista de Pietro Ubaldi

Como a maturidade psíquica influencia as relações e a vida em sociedade na perspectiva espiritualista de Pietro Ubaldi

por Alexsandro M. Medeiros

lattes.cnpq.br/6947356140810110

postado em mar. 2017

atualizado em out. 2017

 

            Este texto toma como base as ideias do pensador italiano Pietro Ubaldi, que está contido em uma série de 24 volumes, das quais A Grande Síntese, Deus e Universo, O Sistema Queda e Salvação oferecem um sistema científico-filosófico-teológico que toma como princípio fundante a existência de Deus, do espírito, e a ideia de que este mesmo espírito evolui através de vidas sucessivas (reencarnação) cujo principal propósito é aperfeiçoar-se sempre mais e melhor, seja do ponto de vista gnosiológico, seja do ponto de vista moral e espiritual. Utilizando o conceito de A Grande Equação da SubstânciaUbaldi (1997, p. 19-20) explica como a divindade criou o espírito, a energia e a matéria e ao longo desta obra estuda em pormenores a fase matéria (1997, p. 20-30), a desagregação da matéria em energia (1997, p. 30-32; p. 65-70) as origens do psiquismo e do espírito (1997, p. 89-92) e como tudo isso se entrelaça em uma teia dinâmica evolutiva. A evolução é um princípio fundamental da Lei e o ser está continuamente em marcha desde a fase matéria até o espírito.

            Com base nestes princípios Ubaldi constrói uma rica teoria da psyché humana, levando em consideração o princípio espiritual e a teoria reencarnacionista que explica os aspectos da personalidade humana e do biótipo terrestre e como essa mentalidade interfere na dinâmica social e moral.

            Ao analisar a mentalidade psíquica humana Ubaldi destaca pelos menos quatro níveis diferentes de “forma mental” e amadurecimento evolutivo característico dos seres humanos: o 1º grau da forma mental elementar do “animal” e res­pectiva ética de obediência mecânica aos impulsos primitivos; o 2º grau da forma mental do “selvagem” e respectiva ética da força e do princípio da luta; o 3º grau da forma mental do “involuído” e respectiva ética de obediências às leis, mas de forma superficial, porque constrangido pela força, e alimentada pelo desejo de transgressão da lei para satisfação dos desejos que difere do 2º grau pelo tipo de violência que não é mais física, “mas econômica, nervosa, psicológica, e a desobediência está disfar­çada sob as aparências da obediência” (1988b, p. 37); e o 4º grau da forma mental e respectiva ética “do evoluí­do que abandonou todos esses métodos de luta, porque chegou a entender a Lei de Deus e a esta espontaneamente obedece” (1988b, p. 37). “Eis os biótipos que encontramos em nosso mundo atual, cada um com a sua forma mental e ética respectiva” (1988b, p. 37) (ver mais em: Princípios de uma nova ética, do mesmo autor).

            A mentalidade psíquica do primeiro nível determina um modo de ação social e moral instintiva semelhante aos animais “aos quais ele obedece cega e mecani­camente, não entendendo o porquê do que ele faz, não se orientan­do por autonomia de juízo, mas imitando, isto é, repetindo o que fazem os outros, porque para ele o que faz a maioria representa a verdade” (1988b, p. 44). Funciona por imitação e repetição do que fazem os outros e aceitando a solução dos outros. É o método do “rebanho de ovelhas”, fazendo o que as outras fazem, sem necessariamente saber porque o faz e age de tal forma. A ignorância é o estado normal deste biótipo que não tem problemas morais ou intelectuais. Age de acordo com seus instintos básicos: da fome, do amor, do esforço necessário para satisfazer tais necessidades. As necessidades imediatas são os problemas mais elementares e urgentes que ele lhe impõe, para a continuação da vida. É a escola primária “na qual se aprende sem entender, repetindo por sugestão, imitando um mode­lo, até que pela longa repetição mecanicamente se adquirem hábi­tos, que assim se fixam no subconsciente como novas qualidades” (1988b, p. 44) (para uma compreensão mais ampla da personalidade a partir da estrutura trifásica dividida em subconsciente, consciente e superconsciente, veja o texto: A psicanálise evolucionista e espiritualista de Pietro Ubaldi).

            Entre o invoulído e o evoluído temos ainda o que podemos chamar de mentalidade psíquica do nível médio que é algo mais complexa e racional. Além dos instintos, ele age através do intelecto, o que implica pensar, refletir, analisar, e não apenas imitar. Aceita as normas da ética e da sociedade com relativa autonomia de juízo. A inteligência controla os instintos e emoções e dirige os impulsos cegos do subconsciente, não se deixando levar mecanicamente por eles. Entende os processos lógicos e exige provas e demonstrações para ser levado à compreensão e convicção e não aceita algo como verdade simplesmente porque lhe disseram que é assim ou tem que ser assim. E mesmo que ainda não saiba o porquê, sua ação não é cega ou fruto do subconsciente, mas obedece a regras que são ditadas porque estabelece uma disciplina e uma ordem, ainda que exterior e formal. “Então esse biótipo possui outros recursos mais adiantados: para a norma de conduta certa, ele tem um guia representado pelas soluções oferecidas pelas éticas teoricamente aceitas, que representam uma sabedoria descida dos pla­nos superiores” (1988b, p. 44). Os problemas que se impõe vão além das necessidades da vida animal da fome e do amor: ele quer conhecer, que entender as normas de vida social, quer sair do seu estado de ignorância, descobrir novos caminhos para o progresso da humanidade. É uma escola um pouco mais adiantada, que não se contenta com os métodos de aprendizagem anteriores: “cogita de com­preender e julgar com a inteligência, que é a qualidade que agora se vai desenvolvendo” (1988b, p. 45).

            Enfim o nível superior, onde aparecem novas qualidades. Além do controle racional dos instintos e do subconsciente surge a intuição, que permite perceber a verdade por visão imediata. Enquanto a razão vai por um caminho mais longo, a intuição atinge diretamente o conhecimento e o conteúdo do pensamento que constitui a Lei que tudo rege. Sua ação não é mais atividade baseada nos instintos do subconsciente animal, nem as normas éticas exteriores e formais da razão. A sua disciplina é iluminada pelo conhecimento da Lei divina que alcançou por intuição, por visão imediata, por haver entendido a ordem estabelecida pela Lei. Esse biótipo vibra pela sua sensibilidade, reflete e pensa com sua mente racional, e ilumina o seu conhecimento através da intuição. É o nível superior de conhecimento, depois de ter passado pela escola primária e pelo ginásio, chegando enfim à faculdade. E assim como o aluno não fica estacionário na escola primária, o espírito vai se movendo de um nível a outro, de acordo com os esforços que faz para progredir e amadurecer, mudando com isso a sua personalidade, suas qualidades e o seu modo de agir.

            Uma classificação semelhante nós encontramos na obra A Nova Civilização do Terceiro Milênio (1982, p. 431), quando Ubaldi fala de três tipos humanos predominantes:

1) O tipo sensorial, que vive exteriormente nos sentidos: é o selvagem, que forma grande parte até mesmo de povos civilizados. Sua fé e sua vida baseiam-se na força.

2) O tipo racional, que vive mais internamente, no cé­rebro; é o cerebral, tipo que, embora muitas vezes constitua a classe culta e dirigente, ainda continua egoísta, isto é, isolado e, em geral, desorientado. Sua fé e sua vida baseiam­-se na astúcia.

3) O tipo intuitivo-espiritual, que vive ainda mais in­ternamente, no espírito; é o evoluído, exceção biológica, sábio, altruísta, irmanado a todos os outros seres do universo, enquadrado no seu funcionamento orgânico, em que repre­senta uma parte e tem uma missão. Sua fé e sua vida ba­seiam-se na honestidade (cf. cap. VI, deste volume: "A Lei da Honestidade e do Merecimento"). Esse tipo constitui o ponto nevrálgico deste nosso livro.

             Uma imagem que consta na obra Ascese Mística nos ajuda a resumir boa parte do que temos exposto até aqui. Representando ciclos sucessivos de consciência em processo de expansão, desde os primórdios da evolução, até os altos planos divinos.

 

(UBALDI, 1988a, p. 26).

 

           

            Uma imagem mais detalhada foi elaborada por Gilson Freire em uma palestra intitulada “Rumo a superconsciência”: https://www.youtube.com/watch?v=ZWZt6QLFvU8

 

 

            A figura “planos evolutivos da consciência” é explicada da seguinte forma por Gilson Freire: no nível mais baixo temos a inconsciência (insensibilidade e determinismo; matéria), surge posteriormente a consciência sensória (sensibilidade e instinto; vida), depois a consciência racional-analítica (despertar da razão e da inteligência) que se expande cada vez mais até a consciência intuitivo-sintética (síntese e verdade) e por fim a consciência místico-unitária e crístico-unitária: amor e percepção do pensamento divino; amor e perfeita união com Deus.

            Segundo Ubaldi, a evolução do espírito determina na realidade uma infinidade de formas de mentalidade psíquica diferentes. Os três ou quatro tipos analisados até aqui são apenas uma forma mais didática de pensar a evolução humana, para facilitar a redação deste texto, das quais vamos destacar pelo menos duas considerando de modo mais direto a estrutura psíquica dos seres humanos: uma psicologia egocêntrica individualista que se baseia na desconfiança e na luta; e outra psicologia altruísta orgânica, que se baseia na colaboração. Tomando estes princípios vamos dividir este texto em quatro partes: a primeira dedicada ao estudo da mentalidade dos involuídos, a segunda dos evoluídos, uma terceira que analisa simultaneamente os dois tipos de mentalidade e, finalmente, como essa mentalidade se reflete na vida em sociedade.

 

 

Parte II - A mentalidade psíquica do involuído

Parte III - A mentalidade psíquica do evoluído

Parte IV - Rumo à evolução

Parte V - Mentalidade psíquica e relações sociais

Referências Bibliográficas

 

 

Filosofia Política → Filosofia Contemporânea → Pietro Ubaldi → Como a maturidade psíquica influencia as relações e a vida em sociedade na perspectiva espiritualista de Pietro Ubaldi



Leia mais: https://www.sabedoriapolitica.com.br/products/como-a-maturidade-psiquica-influencia-as-relacoes-e-a-vida-em-sociedade-na-perspectiva-espiritualista-de-pietro-ubaldi/

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