EM
DIA COM O MACHADO 481:
AS
RODAS DA VIDA (Jó)
Enquanto eu esperava o retorno de minha
esposa, que conduzi para tratamento no CBV/Hospital de Olhos, em Brasília, sentei-me
do lado de fora do nosocômio. Dali observei os movimentos dos passantes e acompanhantes,
como foi o caso do menino de cerca de três anos e seus pais. O pai faria uma
consulta oftalmológica.
Então, vi quando o menino veio correndo,
após despedir-se do pai, e subiu no colo de sua mãe, que estava sentada. Em
seguida, ele desceu e ficou brincando com seu carrinho sob a vigilância materna.
Passei, então, a observar os pacientes
que voltavam amparados por seus acompanhantes ou enfermeiros. Senhor idoso, com
grande dificuldade de deambular, foi levado por seu jovem acompanhante até o
carro que os aguardava; enfermeiro cuidadoso guiou moça de triste expressão, em
cadeira de rodas, até o interior do prédio; e senhora d'olhos vendados foi amparada por sua filha até sumir do alcance dos meus
olhos.
Lembrei-me então da história do príncipe
Sidarta Gautama. Após ter visto, em espírito, um velho, um doente, um cadáver e
um monge, Gautama deixou mulher e filho para trás, devolveu as roupas
principescas que usava ao pai, vestiu-se de monge e foi para o deserto, em
busca da autoiluminação. Conseguida esta, após anos de renúncia às paixões do
mundo, deduziu que a causa do sofrimento é o desejo. Ao longo do tempo,
conquistou adeptos à sua crença, que se expandiu, passou a ser conhecida como
Budismo e Gautama foi considerado Buda, que, em sânscrito, significa "o
iluminado".
Longe de mim dizer que minha visão possa
ser comparada com a do Buda. Entretanto, ao ver as cenas descritas acima,
refleti nas conclusões iniciais pregadas por esse iluminado espírito: as três
primeiras visões representam a natureza do mundo; a quarta simboliza a solução
para as misérias humanas. Então podemos dizer que o monge simboliza a espiritualidade proposta por
Deus a cada um de nós para nos libertarmos das misérias inerentes às paixões nefastas.
Ao contrário das visões do Buda, minha
primeira visão representa o compromisso da família ante a educação da criança
e, portanto, a mais importante de todas que vi. Também ali há um simbolismo...
Pouco antes de morrer, aos 80 anos de
idade, Buda disse isto em suas últimas palavras: "A decadência é inerente
a todas as coisas. Com a mente clara, dê a devida atenção à sua salvação".
Lembrei-me então desta máxima espírita: "Fora da caridade não há
salvação". Paz e luz!
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