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quinta-feira, 28 de novembro de 2019





6.3 Instruções dos Espíritos 
Advento do Espírito de Verdade

6.3.1 Espírito de Verdade (Paris, 1860)

Venho, como outrora, entre os filhos desgarrados de Israel, trazer a verdade e dissipar as trevas. Escutem-me. O Espiritismo, como outrora minha palavra, deve lembrar os incrédulos que acima deles reina a verdade imutável: o Deus bom, o Deus grande, que faz germinar as plantas e que levanta as ondas. Revelei a Doutrina Divina; e, como um ceifeiro juntei em feixes o bem esparso pela Humanidade, e disse: "Venham a mim, todos os que sofrem!"

Mas os homens ingratos se desviaram do caminho reto e largo que conduz ao Reino de meu Pai, e se perderam nas ásperas sendas da impiedade. Meu Pai não quer aniquilar a raça humana. Ele quer que, se ajudando uns aos outros, mortos e vivos, ou seja, mortos segundo a carne, porque a morte não existe, vocês se socorram, e que, não mais a voz dos profetas e dos apóstolos, mas a voz dos que se foram faça-se ouvir:  orem e creiam! Porque a morte é a ressurreição, e a vida é a prova escolhida, durante a qual suas virtudes cultivadas devem crescer e desenvolver-se como o cedro.

Homens fracos, que se limitam às trevas de sua inteligência, não afastem a tocha que a Clemência Divina lhes coloca nas mãos, para clarear seu caminho e reconduzi-los, crianças perdidas, ao regaço de seu Pai.

Estou muito tomado de compaixão por suas misérias, por sua imensa fraqueza, para não estender a mão em socorro aos infelizes extraviados que, vendo o Céu, caem nos abismos do erro. Creiam, amem, meditem sobre as coisas que lhes são reveladas; não misturem o joio ao bom grão, as utopias com as verdades.

Espíritas! amem-se, eis o primeiro ensinamento; instruam-se, eis o segundo. Todas as verdades  encontram-se no Cristianismo; os erros que nele se enraizaram são de origem humana. E eis que, de além-túmulo, que acreditavam vazio, vozes lhes clamam: Irmãos! nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal; sejam os vencedores da impiedade!

6.3.2 Espírito de Verdade (Paris, 1861)

Venho ensinar e consolar os pobres deserdados. Venho dizer-lhes que elevem sua resignação ao nível de suas provas; que chorem, porque a dor foi sagrada no Jardim das Oliveiras, mas que esperem, porque os anjos consoladores virão também enxugar suas lágrimas.

Trabalhadores, tracem seu sulco. Recomecem no dia seguinte a rude jornada da véspera. O trabalho de suas mãos fornece o pão terreno aos seus corpos, mas suas almas não estão esquecidas; e Eu, o Divino Jardineiro, as cultivo no silêncio dos seus pensamentos. Quando soar a hora do repouso, quando a trama escapar de suas mãos e seus olhos fecharem-se para a luz, sentirão que surge e germina em vocês minha preciosa semente. Nada se perde no Reino de Nosso Pai. Seus suores e suas misérias formam um tesouro, que os tornará ricos nas esferas superiores, onde a luz substitui as trevas, e onde o mais desnudo dentre vocês será talvez o mais resplandecente.

Em verdade lhes digo: os que carregam seus fardos e assistem seus irmãos são meus bem-amados. Instruam-se na preciosa Doutrina que dissipa o erro das revoltas e lhes ensina o objetivo sublime da prova humana. Como o vento varre a poeira, que o sopro dos Espíritos dissipe sua inveja dos ricos do mundo, que são frequentemente os mais miseráveis, porque suas provas são mais perigosas que as de vocês. Estou com vocês, e meu apóstolo lhes ensina. Bebam na fonte viva do amor e preparem-se, cativos da vida, para lançarem-se, um dia, livres e alegres, no seio d'Aquele que os criou fracos para os tornar perfeitos e deseja que modelem vocês mesmos sua dócil argila, para serem os artífices da sua imortalidade.

6.3.3 Espírito de Verdade (Bourdeaux, 1861)

          Sou o grande médico das almas, e venho trazer-lhes o remédio que os deve curar. Os débeis, os sofredores e os enfermos são meus filhos prediletos, e venho salvá-los. Venham, pois, a mim, todos os que sofrem e estão oprimidos, e serão aliviados e consolados. Não procurem além a força e a consolação, porque o mundo é impotente para dá-las. Deus dirige aos seus corações um apelo supremo, por meio do Espiritismo: escutem-no. Que a impiedade, a mentira, o erro, a incredulidade, sejam extirpados de suas almas doloridas. Esses são os monstros que sugam o mais puro do seu sangue e produzem-lhes chagas quase sempre mortais. Que no futuro, humildes e submissos ao Criador, pratiquem sua Lei Divina. Amem e orem. Sejam dóceis aos Espíritos do Senhor. Invoquem-no do fundo do coração. Então, Ele lhes enviará seu Filho bem-amado, para instruí-los e dizer-lhes estas boas palavras: Eis-me aqui; venho a vocês, porque me chamaram!

6.3.4 Espírito de Verdade (Le Havre, 1863)

Deus consola os humildes e dá força aos aflitos que a pedem. Seu Poder cobre a Terra, e por toda parte, ao lado de cada lágrima, põe o bálsamo que consola. O devotamento e a abnegação são uma prece contínua e encerram profundo ensinamento: a sabedoria humana reside nestas duas palavras. Possam todos os Espíritos sofredores compreender esta verdade, em vez de reclamar contra as dores, os sofrimentos morais, que são aqui na Terra o seu quinhão. Tomem, pois, por divisa, estas duas palavras: devotamento e abnegação, e serão fortes, porque eles resumem todos os deveres que lhes impõem a caridade e a humildade. O sentimento do dever cumprido dar-lhes-á a tranquilidade de espírito e a resignação. O coração bate melhor, a alma asserena-se, e o corpo já não sente desfalecimentos, porque o corpo sofre tanto mais, quanto mais profundamente abalado estiver o espírito.

           Tradução livre da terceira edição francesa pelo prof. dr. Jorge Leite de Oliveira em 28/11/2019.

terça-feira, 26 de novembro de 2019




EM DIA COM O MACHADO 395:
por um real...

         Quando Allan Kardec faz a pergunta 799 d’O Livro dos Espíritos  sobre o modo como o Espiritismo pode contribuir para o progresso, obtém como resposta que isso ocorrerá com a destruição do materialismo, uma das chagas sociais. No fim da resposta, lemos esta frase: “Destruindo os preconceitos de seitas, castas e cores, o Espiritismo ensina aos homens  a grande solidariedade que os há de unir como irmãos”.
         O Espiritismo bem estudado e bem compreendido, já dizia Kardec, é o maior inimigo do materialismo. Ciência de observação e de experimentação, a Doutrina Espírita vem comprovando, há mais de 160 anos, a sobrevivência e a imortalidade da alma após a morte do corpo físico e outras verdades confirmadas por diversos pesquisadores, anunciadas pelos profetas e pelo Cristo.
         Independentemente da crença nas revelações mediúnicas do Espiritismo, suas informações sobre as consequências do bom ou mau uso do livre-arbítrio vêm sendo confirmadas no dia a dia. Um exemplo atual do que afirmamos é o caso do assassínio da jovem chamada Neia no alvorecer do sábado, 16 de novembro de 2019.



        
         A jovem, segundo informação de sua irmã, embora tendo residência fixa, optou por morar em rua de Niterói. Às 5h20 do dia fatídico, teve fome e vendo um jovem passar, aproximou-se dele e pediu-lhe um real para comprar um pão.
Sentindo-se incomodado, o rapaz a mandou afastar-se. Como Neia insistisse, ele sacou sua arma e disparou dois tiros contra a vítima indefesa. Alguns motoristas, mesmo com o aceno de outra jovem que a amparara e lhes pedira socorro, desesperada, não se comoveram com a cena e seguiram em frente, sem compaixão...
Um dos comentários, dentre outros, que demonstram profundo descaso com a vida alheia, na matéria publicada foi o seguinte:
— Sei que é errado o que ele fez, mas às vezes a gente fica de saco cheio com esses moradores de rua.
Comentário da irmã de Neia:
— Matou minha irmã como se fosse um bicho. Ela apenas queria um real para comprar um pão.
Embora sabendo que nada acontece conosco se isso não estiver em nossas provas ou expiações, Jesus foi bem claro quando nos alertou: “Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalosmas ai daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mateus 18:7).
Neia libertou-se, temporariamente, de seu novo corpo físico. Certamente, não lhe faltará amparo espiritual, mas seu assassino, além de já ter sido alcançado pela justiça humana, não deixará de responder perante a própria consciência pelo crime cometido. Os indiferentes à sua sorte também não ficarão impunes pela falta de compaixão a um ser humano cruelmente assassinado.
O Espiritismo mostra-nos que o mal jamais encontra compensação. Quem extermina o corpo alheio, além de se sujeitar à justiça terrena, ganha um “encosto espiritual”, quase sempre, que não o abandona tão cedo, além da voz da própria consciência, a cobrar-lhe, implacavelmente: “— Caim, Caim, que fizeste do teu irmão!? Terás que sofrer o mesmo que ele, para que possas resgatar tua dívida perante a Lei de Deus, que estabelece, como norma geral: Tudo que desejares que teu próximo te faça, faze-o também a ele, pois esta é a lei e os profetas” (Mateus, 7:12).
Por outro lado, em Mateus, 10:26, alerta-nos o Cristo: “[...] nada há encoberto que não haja de revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se”. Se desejamos ser felizes, apenas pela prática da caridade, que começa pela compaixão com nosso próximo, podemos livrar-nos das consequências negativas de nossa falta de amor.
Somente o custo dos projetis de chumbo disparados contra a infeliz, com certeza, é bem mais do que o real que ela pedia para comprar um pão. Agora, seu assassino, tão cedo, não terá sossego, além de arcar com as custas advocatícias e a perda da liberdade.
Conhecesse ele o Espiritismo e praticasse sua doutrina, que expande a moral do Cristo e comprova os prejuízos do materialismo, e agora, em vez de estar preso e respondendo por um crime, teria como crédito a gratidão de alguém por tão pouco: um mísero real.

sábado, 23 de novembro de 2019




6 O CRISTO CONSOLADOR

O jugo leve. Consolador Prometido. Instruções dos Espíritos: advento do Espírito de Verdade

6.1 O jugo leve

Venham a mim, todos os que estão aflitos e sobrecarregados, e eu os aliviarei. Tomem sobre si meu jugo, e aprendam de mim, que sou manso e humilde de coração, e acharão descanso para suas almas. Porque meu jugo é suave e meu fardo é leve (Mateus, 11: 28-30).

Todos os sofrimentos: misérias, decepções, dores físicas, perdas de seres queridos, encontram sua consolação na fé no futuro e na confiança na justiça de Deus, que o Cristo veio ensinar aos homens. Sobre aquele que, pelo contrário, nada espera após esta vida, ou que simplesmente duvida, as aflições caem com todo o seu peso, e nenhuma esperança vem abrandar sua amargura. Eis o que levou Jesus a dizer: Venham a mim, todos os que estão fatigados, e eu os aliviarei.
Jesus, entretanto, impõe uma condição para a sua assistência e para a felicidade que promete aos aflitos. Essa condição é a da própria lei que ele ensina: seu jugo é a observação dessa lei. Mas esse jugo é leve e essa lei é suave, pois que impõe como dever o amor e a caridade.

6.2 Consolador prometido

Se vocês me amam, guardem meus mandamentos. E rogarei ao Pai, e Ele lhes dará outro Consolador, para ficar eternamente com vocês, o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece. Mas vocês o conhecerão, porque ele ficará com vocês e estará em vocês. O Consolador, que é o Santo Espírito que o Pai enviará em meu nome, lhes ensinará todas as coisas e lhes relembrará tudo o que lhes tenho dito (JOÃO, 14: 15 - 17; 26).
Jesus promete outro Consolador: o Espírito de Verdade, que o mundo ainda não conhece, pois não está suficientemente maduro para o compreender, e que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para rememorar o que o Cristo disse. Se, pois, o Espírito de Verdade deve vir mais tarde ensinar todas as coisas, é que Jesus não pôde dizer tudo. Se ele vem relembrar o que o Cristo disse, é que o seu ensino foi esquecido ou mal compreendido.
O Espiritismo vem, no tempo marcado, cumprir a promessa do Cristo. O Espírito de Verdade preside ao seu estabelecimento. Ele chama os homens à observância da lei; ensina todas as coisas, fazendo compreender o que Jesus só disse em parábolas. O Cristo disse: "Que ouçam os que têm ouvidos para ouvir". O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porque ele fala sem figuras e sem alegorias. Levanta o véu propositalmente lançado sobre certos mistérios. E vem, enfim, trazer uma suprema consolação aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, ao dar uma causa justa e um objetivo útil a todas as dores.
Jesus disse: "Bem-aventurados os aflitos, porque eles serão consolados". Mas como se pode ser feliz por sofrer, se não se sabe por que se sofre? O Espiritismo demonstra que a causa está nas existências anteriores e na própria destinação da Terra, onde o homem expia seu passado. Mostra também os objetivos dos sofrimentos, indicando-os como crises salutares que levam à cura, e que eles são a purificação que assegura a felicidade nas existências futuras. O homem compreende que mereceu sofrer e acha o sofrimento justo. Sabe que esse sofrimento auxilia seu adiantamento, e o aceita sem queixas, como o trabalhador aceita o serviço que lhe assegura o salário. O Espiritismo dá-lhe uma fé inabalável no futuro, e a dúvida pungente não mais se apossa de sua alma. Fazendo-o ver as coisas do alto, a importância das vicissitudes terrenas se perde no vasto e esplêndido horizonte que ele abarca, e a perspectiva da felicidade que o espera dá-lhe a paciência, a resignação e a coragem para ir até o fim do caminho.
Assim o Espiritismo realiza o que Jesus disse do Consolador: conhecimento das coisas, que faz o homem saber donde vem, para onde vai e por que está na Terra, lembrança dos verdadeiros princípios da lei de Deus e consolo pela fé e esperança.

Tradução livre do prof. dr. Jorge Leite de Oliveira da terceira edição francesa.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019




EM DIA COM O MACHADO 394:
luz do mundo e luz no mundo (Jó)

jojorgeleite@gmail.com



         Lemos em Mateus, 4:1 a 11, que Jesus foi conduzido ao deserto, em Espírito, para ser tentado pelo diabo. Após quarenta dias ali, em jejum, teve fome. O diabo, que nada mais é do que um espírito das trevas, cuja maldade associa-se à inteligência pervertida, chegou-se ao Cristo e desafiou-o: — Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães.

         Respondeu-lhe Jesus: — Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.

Então, o tentador o transportou à Cidade Santa, colocou-o sobre o pináculo do templo e disse-lhe: — Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; pois está escrito que aos seus anjos Ele ordenará a teu respeito, e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces em pedra alguma.

Respondeu-lhe Jesus: — Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus.

Por fim, após ser de novo transportado a um monte muito alto e lhe terem sido mostrados todos os reinos do mundo e sua glória, o maligno propôs-lhe: — Todos os reinos do mundo serão teus, se prostrado me adorares.

Então, disse-lhe Jesus: — Vai-te Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a Ele servirás.

O diabo, então, afastou-se, e os anjos vieram e serviram a Jesus.

Essa narrativa expressa um profundo simbolismo, que serve de alerta a todas as pessoas que se propõem estudar e divulgar o Cristianismo, assim como a nós, os espíritas cristãos. É que não basta conhecer o Evangelho, pregar a Boa-Nova, emocionar os corações com nossa cultura exegética. É preciso renunciar aos aplausos e às ilusões do mundo, tomar sobre nós a cruz de nossas expiações e provas e seguir os exemplos do Cristo, passo a passo, se quisermos vencer as tentações do diabo: poder, riqueza e glórias efêmeras do mundo.

Registra, ainda, Mateus, 5:14, que Jesus, dirigindo-se a seus discípulos, disse-lhes: “Sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte”. Logo adiante, no versículo 16, o Cristo completa: “Assim, resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam suas boas obras e glorifiquem vosso Pai, que está nos céus”.

Explica-nos o Espírito Emmanuel que, após mais de vinte séculos passados, as bases fundadas pelo sacrifício dos mártires do Cristianismo foram substituídas, no passar dos séculos, “pela ambição de domínio”.



E o resultado da grande incompreensão é presentemente vivido pela vossa época de supremas angústias.

Será, talvez, ociosa a vós outros nossa insistência no exame da civilização em curso, falha de valores espirituais. Acresce notar, porém, que o nosso esforço deve caracterizar-se pelo trabalho de encaminhar a luz divina ao vosso entendimento.

O mundo, na atualidade, experimenta transições angustiosas e rudes. Para a culminância da luta deste crepúsculo de civilização, as corridas armamentistas, no planeta, custam às nações fabulosas fortunas por dia, ignorando-se, na estatística exata, os elementos despendidos na educação do povo e na assistência às massas. No entanto, os políticos, os falsos sacerdotes e todos os cientistas da Terra enganam-se em suas ingratas cogitações.

A direção do orbe pertence a Jesus, cuja mão divina permanece no leme, apesar da escuridão da noite e não obstante a força destruidora da procela.

Os grandes gênios da Espiritualidade Superior reúnem-se no Infinito, examinando o curso dos humanos destinos, e, enquanto lembrais, em vossa assembleia humilde, o vulto luminoso da cruz, prepara-se no ilimitado um novo dia para o conhecimento terrestre.

O Cristianismo marcou uma era diferente e os séculos futuros viverão à claridade de uma outra luz que, em breve, raiará nos horizontes da Terra, para o coração aflito e sofredor da humanidade (XAVIER, F. C. Coletânea do Além, lição 52, O Evangelho).



         Trabalhemos, unidos, sem outro propósito que não seja o de amar e servir, humildemente, a todos os nossos irmãos em humanidade. A começar pelos do nosso lar, do nosso trabalho, da via pública, das casas comerciais... em toda parte. Exercitemos a humildade e o desinteresse, a abnegação e o devotamento até o fim, incansavelmente, pois o Cristo virá até nós, se nos dispusermos a ir até Ele. E, resistindo às tentações do mal, como nos foi narrado por Mateus, orando e vigiando, as trevas não prevalecerão jamais sobre a luz que haverá de brilhar em nossos corações e mentes.

         Jesus é a luz do Mundo. Que sejamos os representantes fiéis de sua luz no Mundo.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019







5.7.11 Um homem está agonizando, preso a cruéis sofrimentos. Sabe-se que seu estado é sem esperanças. É permitido poupar-lhe alguns instantes de angústia, apressando seu fim?

— Quem lhe daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode Ele conduzir um homem até a beira do fosso, para em seguida retirá-lo, com o fim de fazê-lo voltar a si e modificar-lhe os pensamentos? Ainda que ao extremo tenha chegado um moribundo, ninguém pode dizer com certeza que chegou sua hora final. A Ciência nunca se terá enganado nas suas previsões?
Bem sei que há casos que se podem considerar, com razão, como desesperadores. Mas se não há nenhuma esperança fundada de um retorno definitivo à vida e à saúde, existem  inúmeros exemplos de que, no momento do último suspiro, o doente se reanima e recobra suas faculdades por alguns instantes. Pois bem! essa hora de graça que lhe é concedida, pode ser para ele da maior importância, pois vocês desconhecem as reflexões que seu Espírito poderia ter feito nas convulsões da agonia, e quantos tormentos podem ser poupados por um súbito clarão de arrependimento.
O materialista, que somente vê o corpo, e não tem em nenhuma conta a alma, não pode compreender essas coisas, mas o espírita, que sabe o que se passa no além-túmulo, conhece o valor do último pensamento. Aliviem os últimos sofrimentos o quanto puderem, mas guardem-se de abreviar a vida, ainda que seja de um minuto, porque esse minuto pode poupar muitas lágrimas no futuro.
(São) Luís
Paris, 1860.

5.7.12 Aquele que está desgostoso da vida, mas não quer abreviá-la por si mesmo, será culpado, se procurar a morte num campo de batalha, com o pensamento de torná-la útil?

— Que o homem se mate ou se faça matar, o objetivo é sempre o de abreviar a vida, e por conseguinte, há o suicídio de intenção, se não de fato. O pensamento de que sua morte servirá para alguma coisa é ilusório, isso não passa de pretexto, para colorir sua ação e desculpá-la aos seus próprios olhos. Se ele tivesse seriamente o desejo de servir seu país, procuraria viver para defendê-lo, e não buscaria morrer, porque uma vez morto já não serviria para nada. O verdadeiro devotamento consiste em não temer a morte, quando se trata de ser útil, em enfrentar o perigo, e oferecer o sacrifício da vida, antecipadamente e sem pesar, se isso for necessário. Mas a intenção premeditada de procurar a morte, expondo-se para tanto ao perigo, mesmo para prestar serviço, anula o mérito da ação.
(São) Luís
Paris, 1860.

5.7.13 Um homem se expõe a um perigo iminente para salvar a vida de um semelhante, sabendo de antemão que sucumbirá; isso pode ser considerado como suicídio?

— Enquanto  a intenção de procurar a morte não existir, não haverá suicídio, mas devotamento e abnegação, mesmo com a certeza de perecer. Mas quem pode ter essa certeza? Quem diz que a Providência não reservará um meio inesperado de salvação, no momento mais crítico? Não pode ela salvar até mesmo aquele que estiver na boca de um canhão? Frequentemente ela pode querer levar a prova da resignação até o último limite, então, uma circunstância inesperada desvia o golpe fatal.
(São) Luís
Paris, 1860

5.7.14 Aqueles que aceitam com resignação seus sofrimentos, por submissão à vontade de Deus e com vistas à sua felicidade futura, não trabalham apenas para eles mesmos, e podem tornar seus sofrimentos proveitosos aos outros?

— Esses sofrimentos podem ser proveitosos aos outros, material e moralmente. Materialmente, se, pelo trabalho, privações e sacrifícios que se impõem contribuem para o bem-estar material do próximo. Moralmente, pelo exemplo que dão, com sua submissão à vontade de Deus. Esse exemplo do poder da fé espírita pode incitar os infelizes à resignação, salvá-los do desespero e de suas funestas consequências para o futuro.
(São) Luís
Paris, 1860.


Tradução livre do prof. dr. Jorge Leite de Oliveira da terceira edição francesa.






5.7.10  Deve-se pôr fim às provas do próximo, quando se pode, ou se deve, por respeito aos desígnios de Deus, deixá-las seguir adiante?

— Já lhes temos dito e repetido, muitas vezes, que vocês estão nessa Terra de expiação para completar suas provas, e que tudo o que lhes acontece é consequência de suas existências anteriores, são as parcelas da dívida que têm de pagar. Mas este pensamento provoca em certas pessoas reflexões que necessitam ser afastadas, porque podem causar graves consequências.
Algumas pessoas pensam que, uma vez que se está na Terra para expiar, é necessário que as provas sigam seu rumo. Há outras que chegam a pensar que não somente devemos evitar atenuá-las, mas também devemos contribuir para serem mais proveitosas, tornando-as mais vivas. É um grande erro. Sim, suas provas devem seguir o rumo que Deus lhes traçou, mas acaso conhecem esse rumo? Sabem até que ponto elas devem ir, e se seu Pai Misericordioso não disse ao sofrimento deste ou daquele seu irmão: "Não irás mais longe?" Sabem se a Providência não os escolheu, não como instrumento de suplício, para agravar o sofrimento do culpado, mas como bálsamo consolador, que deve cicatrizar as chagas abertas pela sua Justiça?
Não digam, portanto, ao ver um irmão ferido: "É a justiça de Deus, e é necessário que siga seu rumo", mas digam, ao contrário: "Vejamos que meios nosso Pai Misericordioso me concedeu, para aliviar o sofrimento de meu irmão. Vejamos se o meu conforto moral, meu amparo material, meus conselhos, poderão ajudá-lo a transpor esta prova com mais força, paciência e resignação. Vejamos mesmo se Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer cessar este sofrimento; se não me deu, como prova também, ou talvez como expiação, o poder de cortar o mal e substituí-lo pela bênção da paz".
Ajudem-se sempre, pois, em suas provas respectivas, e nunca se considerem como instrumentos de tortura. Esse pensamento deve revoltar todo homem de bom coração, sobretudo todo espírita, porque o espírita, melhor que qualquer outro, deve compreender a extensão infinita da bondade de Deus. O espírita deve pensar que sua vida inteira deve ser um ato de amor e de abnegação, e que por mais que faça para contrariar as decisões do Senhor, sua Justiça seguirá seu curso. Pode, pois, sem medo, fazer todos os esforços para aliviar o amargor da expiação, porque somente Deus pode cortá-la ou prolongá-la, segundo o que julgar a respeito.
Não seria um grande orgulho, da parte do homem, julgar-se com o direito de revirar, por assim dizer, a arma na ferida? De aumentar a dose de veneno para aquele que sofre, sob o pretexto de que essa é a sua expiação? Oh! Considerem-se sempre como o instrumento escolhido para fazê-la cessar. Resumamos assim: Vocês estão todos na Terra para expiar; mas todos, sem exceção, devem fazer todos os esforços para aliviar a expiação de seus irmãos, segundo a lei de amor e caridade.
Bernardin, Espírito protetor
Bordeaux, 1863.

 Tradução livre do prof. dr. Jorge Leite de Oliveira

terça-feira, 12 de novembro de 2019




Em dia com o Machado 393:
guerra e paz... (Jó)
jojorgeleite@gmail.com

Disse o Cristo: “Não pensem que vim trazer paz à Terra. Não vim trazer paz, mas espada. Com efeito, vim causar divisão entre o filho e seu pai, entre a filha e sua mãe e entre a nora e sua sogra. Então, os inimigos do homem serão os da sua própria casa” (Mateus 10: 34-36).
Como é sabido, os primeiros cristãos, por vezes, como ainda hoje ocorre, precisaram despojar-se das coisas materiais, até mesmo dos próprios familiares que não aceitavam a Boa-Nova. Também seriam perseguidos pelos romanos e judeus, representados pelos fariseus. Os primeiros, por não aceitarem que seus deuses, símbolos do poder e da glória, habitantes do Olimpo, fossem substituídos pela ideia de um Deus único, mais poderoso do que todas as suas divindades. Os segundos, por rejeitarem a concepção de que seu Deus da guerra, poderoso exterminador dos pagãos, fosse substituída pela noção de um Senhor que combatesse o ódio com o amor e a guerra com a paz...
Os judeus acreditavam que o Deus anunciado pelos profetas, há milênios, era exclusivo de seu povo. Um Deus guerreiro, a quem deveriam adorar e temer. Por estar à frente de todas as batalhas, derrotaria todos os seus inimigos, desde que lhe fosse prestada obediência total.
Desse modo, imaginavam que seu Deus lhes enviaria um poderoso Messias, exterminador de todos os povos pagãos, por não serem de sua raça nem crença. Embora o Decálogo recomendasse não matar, eles estavam sempre em guerra contra os pagãos e ainda eram fratricidas, pois havia mortes por dissensões nas interpretações religiosas entre seu próprio povo. Quando aparece Jesus, pregando o amor e o perdão, recomendando não resistir ao mal e amar os próprios inimigos, consideram sua doutrina abominável, típica dos fracos e covardes.
E os que adotassem o novo entendimento sobre as leis de um Deus que é amor e não ódio, paz e não guerra seriam perseguidos e entregues à sanha assassina dos romanos imperialistas. Foi o que ocorreu com os primeiros cristãos, transformados em tochas vivas, amarradas aos postes de suplício, atirados às masmorras infectas das prisões, degolados e devorados por feras, no circo romano, para gáudio desse povo cruel.
O tempo correu, o Cristianismo, após Constantino tê-lo legalizado, passou a ser considerado a religião do Estado por Teodósio, no século IV, e as Sagradas Escrituras tornaram-se lei para todos os povos do Ocidente e do Oriente. Sua leitura e hermenêutica, entretanto, era prerrogativa dos sacerdotes católicos. Os que ousassem interpretá-las eram considerados hereges e inimigos a serem neutralizados, após processos nefandos e torturas inomináveis, tão cruéis quanto as sofridas pelos primeiros cristãos. Estava instituída a Igreja Católica Apostólica Romana.
Daí surgir a “Santa Inquisição”, que também condenaria os hereges às masmorras infectas e à morte nas fogueiras. Muitos mártires, como João Huss e Joana d’Arc, foram considerados endemoniados, e seus corpos arderam no fogo cruel da nova Igreja, que, desse modo, julgava estar preservando de ataques demoníacos o Evangelho do Cristo, repleto de parábolas e de sentido simbólico, que não souberam interpretar.
No século XVI, as cobranças abusivas de dízimos pelos pais da Igreja, além da proibição do povo leigo de ler e interpretar a Bíblia, despertou, no sacerdote Martinho Lutero, a revolta e a criação de uma nova igreja, a Luterana, que deu origem a diversas outras igrejas protestantes. Cada uma interpretava a seu modo as palavras do Cristo...
A ele, seguiu-se Calvino, que, em seu zelo e radicalização de hermenêutica exclusiva das escrituras, foi responsável pela condenação e morte de quantos divergissem de certos dogmas. Um deles, até hoje tido como certo por alguns evangélicos, é o da salvação pela fé somente. Quem se arrepender e confessar seus pecados terá a vida eterna. Outro é o de que todos somos frutos do pecado original e nele morreremos. Porém, muitos cristãos sinceros e cheios de fé foram torrados nas fogueiras apenas por discordarem de certos princípios bíblicos.
A Igreja Católica, por sua vez, instituíra seus dogmas, e ai de quem se opusesse a eles. Criara-se a trindade universal, no século IV, sem fundamento na Bíblia; o papa e seus antecessores foram considerados infalíveis, em 1870, ainda que desmentidos pela ciência... Com tanta contradição, não é de admirar que a crença em Deus e na imortalidade da alma tenha esfriado no mundo desde o século XVIII.
A profecia crística realizava-se, ao longo de séculos de guerras religiosas, mais exterminadoras do que diversas lutas políticas. As famílias se dividiam por questões de interpretações religiosas ou por não crerem em mais nada que dissesse respeito à vida espiritual. Desse modo, pais se opunham a filhos, filhas a suas mães... Entretanto, a divisão começava na casa religiosa. Era a da intolerância às ideias hereges e o prosseguimento das lutas religiosas, que tantas mortes provocaram em nome de um Cristo e de um Deus, cuja Lei Maior sempre fora a do Amor.
Muitos desses seres humanos, perseguidos em nome de um profeta que passou sua existência entre nós pregando a tolerância, o perdão e o amor, ao desencarnarem, formaram verdadeiras legiões do mal. Ali, prega-se o ódio, a vingança, combate-se Deus e Jesus, que consideram seus inimigos eternos, por não os terem defendido contra aqueles que se diziam seus representantes na Terra.
Esses espíritos revoltados, cujos martírios tiveram sua razão de ser, não no fato de interpretarem de modo diverso as Escrituras Sagradas, mas por serem trânsfugas da Lei de Deus, em passado remoto, anterior às suas últimas existências físicas, estão tendo oportunidade de abandonarem o mal. Isso ocorre tanto pelo seu socorro e esclarecimento nas reuniões mediúnicas, como também pelo apelo do mundo espiritual, que jamais violenta nosso livre-arbítrio, no seu despertar para o bem.
Cumpre-se, assim, o alerta do Cristo, cujo tempo é diverso do nosso, como o é o tempo de Deus, nosso Pai eterno, que apenas nos exige, para vivermos em paz e sermos perfeitos, a guerra contra nosso orgulho, nosso egoísmo e nossa ambição pelo poder, que residem dentro de nós, assim como o seu Reino: “Embainhe sua espada, pois quem matar pela espada, pela espada morrerá” (Mateus, 26: 52).

segunda-feira, 4 de novembro de 2019




 Em dia com o Machado 392:
 A Comunidade dos Bichos (Jó)

       
Eu estava dormindo ontem à noite, quando fui acordado por uma voz bem conhecida. Era Machado, que foi logo me cumprimentando:
— Boa noite, Jó, deixei-te à vontade, por algum tempo, mas hoje, passando por aqui, resolvi contar-te uma fábula, que Esopo não teve tempo de narrar ainda em vida, mas que, consultando os arquivos do Mundo Espiritual, percebi a beleza da história. Quer ouvi-la?
— Bom dia, amigo Bruxo, será um prazer escutar-te.
— Bem no centro do lado setentrional da linha do Equador, da Floresta Amazônica, existe uma comunidade de bichos jamais descoberta, que remonta à era em que Eva foi enganada pela cobra. Lá, como ainda hoje, em todo o mundo, cada animal possui  sua língua: o porco grunhe, o cavalo relincha, o cão ladra, o pássaro pia etc. Percebendo que a dificuldade de comunicação ali era grande, devido à Babel, um papagaio, famoso por sua verve, propôs à comunidade florestal dos bichos, muito antes de Zamenhof, uma língua universal, que denominou bichoranto.
Essa foi, desde então, a língua oficial de todos os animais daquela imensa comunidade. Tão grande, que eles imaginavam ser um continente. Afinal, não havia ao menos bicicleta lá, e o animal mais veloz era, em terra, a onça pintada; na água, o pirarucu;  e no ar a harpia. E esta nunca se aventurava a voar mais do que algumas dezenas de quilômetros, pois suas presas eram fartas, as árvores gigantescas e as águas abundantes.
A língua oficial passou a ter três normas: popular, coloquial e culta. A primeira é falada pelo povaréu animal. A segunda é utilizada nos pergaminhos literários. A terceira, porém, é a que detém mais influência sobre tudo e sobre todos.
        Vivia-se ali em plena liberdade, mas imperava também a pena de talião: "olho por olho, dente por dente", aplicada a quem cometesse qualquer crime contra os seres de sua espécie. Impunha-se lá a lei de murici: “cada um cuide de si”. Com o tempo, as diversas sociedades animais perceberam que tal sistema era contraproducente, tendo  em vista que, quase sempre, favorecia os mais fortes e astutos. Reuniu-se a bicharada e combinou-se que, a partir de então, os animais teriam seus representantes entre os bichos mais votados.
     Também ficou acertada a criação de três poderes: 1.º - o Executivo, administrador da coisa pública e da regulamentação das covas a serem criadas, dos ninhos de cobras e passarinhos, limitação de filhotes etc.; 2.º o Legislativo, a quem cabe a criação das leis e a fiscalização dos demais poderes; 3.º - o Judiciário, que executa as leis, sob demanda pessoal, de coletividades ou dos demais poderes.
Todos têm seus representantes... No Executivo, reina soberana a sucuri, com a qual ninguém se mete impunemente. No Legislativo, impera a voz da ariranha, lontra feroz e venenosa, muito perigosa.
O Judiciário é formado pelos tribunais de primeira, segunda e terceira instância. Decidiu-se, também, que todas as instâncias desse poder só atuam se provocadas. Fora disso, não possuem autonomia. 
        Criadas as leis e, sobretudo, uma Suprema Lei ou Constituição, esta rege todas as demais. A terceira e última instância de julgamento é a do Tribunal de Justiça Supremo (TJS), a quem se pode recorrer, se inconformado com a condenação nas instâncias inferiores. Como nas demais instâncias, o TJS só atua se provocado, salvo se este for atacado. Nesse caso, o presidente pode agir de ofício em defesa própria e dos membros do colegiado. Prerrogativa do TJS...
         Os crimes simples são reprimidos pelos agentes policiais, e a investigação das infrações penais cabe aos delegados. Nesse caso, a subordinação é ao Executivo, mas ninguém permanecerá preso por mais de trinta dias sem autorização judicial.
      Não entrarei em detalhes sobre os juízos de primeiro e segundo grau. Apenas direi algo sobre o TJS, cuja última composição é:
um presidente: a onça pintada, carnívoro mais ágil, capaz de devorar qualquer animal menor que ele, da água, do solo ou do ar;
um vice-presidente: a arara azul, conhecida por sua beleza, tamanho e comportamento. Casais dessa espécie são fiéis e dividem as tarefas de criar seus filhotes;
cinco membros:
1.º o mico-leão dourado, símbolo da floresta, animal antiquíssimo, em extinção;
2.º a jacaretinga, impiedoso e velho caçador de répteis, anfíbios, aves e pequenos mamíferos; nunca ataca animais de grande porte;
3.º o boto cor-de-rosa, brincalhão que, à noite, se transforma em macaco, seduz as macacas e, na manhã seguinte, volta a ser boto;
4.º o camaleão, que se camufla nas cores verde, amarela, vermelha, para enganar suas presas e predadores; come moscas e mariposas com sua língua comprida, que gruda nas presas;
5.º a harpia, que é a ave de rapina mais perigosa do planeta; alimenta-se de outros animais, até mesmo de carneiros; chega a alcançar dois metros de comprimento da ponta de uma asa à outra.
        Pois bem, Jó, esses bichos, coerentes com sua elevada moral, já haviam proferido três decisões favoráveis sobre a prisão em segunda instância de animais condenados, em que defenderam brilhantemente a culpabilidade dos crimes imputados a esses seres de pequena monta. Utilizando a hermenêutica mais de acordo com a norma culta do bichoranto, concluíram que a Constituição dava amplo respaldo à prisão em segunda instância dos réus, com direito, inclusive, de continuar recorrendo do xilindró, que poderia ser uma gaiola, um aquário ou uma jaula, conforme o caso.
Acontece que, ultimamente, fora descoberta uma empresa de lavagem de animais sujos, que incomodara aos altos representantes da bicharada. Alguns deles eram clientes poderosos, mas, coitados, sem saberem que cometiam graves crimes de corrupção por nonadas como a sujeira, apelaram à Suprema Corte...
Agora, com licença. Vou correndo ao TJS ver como está o novo julgamento da bicharada da floresta, pois acabo de saber que a hermenêutica estava confusa. A coerência animal, por certo, há de prevalecer...
Até outro dia, amigo. Cuida-te.
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sexta-feira, 1 de novembro de 2019





5.7.9 Provas voluntárias.  Verdadeiro cilício

Perguntam se é permitido abrandar suas próprias provas. Essa pergunta equivale a isto: é permitido ao que se afoga buscar salvar-se? àquele que se espetou num espinho, retirá-lo? àquele que está doente, chamar o médico? As provas têm por fim exercitar a inteligência, assim como a paciência e a resignação. Um homem pode nascer numa posição penosa e embaraçosa, precisamente para obrigá-lo a procurar os meios de vencer as dificuldades. O mérito consiste em suportar sem murmurar as consequências dos males que não se podem evitar, em perseverar na luta, em não se desesperar quando não se sai bem, e nunca em deixar as coisas correrem, que seria mais preguiça do que virtude.
Essa questão leva-nos naturalmente a outra. Desde que Jesus disse: "Bem-aventurados os aflitos", há mérito em buscar aflições, agravando as provas por meio de sofrimentos voluntários? A isso responderei muito claramente: sim, há um grande mérito, quando os sofrimentos e as privações têm por fim o bem do próximo, porque é a caridade pelo sacrifício; não, quando eles só têm por fim o bem próprio, porque é egoísmo por fanatismo.
Aqui há grande distinção a ser feita. No que lhe diz respeito, pessoalmente, contente-se com as provas que Deus lhe envia e não aumente a carga já por vezes tão pesada; aceite-as sem se queixar e com fé. É tudo o que Ele lhe pede. Não enfraqueça seu corpo com privações inúteis e macerações sem objetivo, porque você tem necessidade de todas as suas forças para cumprir sua missão de trabalho na Terra.
Torturar voluntariamente e martirizar seu corpo é infringir a Lei de Deus, que lhe dá os meios de o sustentar e fortalecer. Enfraquecê-lo sem necessidade é um verdadeiro suicídio. Use, mas não abuse: tal é a lei. O abuso das melhores coisas traz sua punição, por suas consequências inevitáveis.
É diferente dos sofrimentos que alguém se impõe para aliviar o próximo. Se você suportar o frio e a fome para agasalhar e alimentar aquele que necessita, e seu corpo sofrer com isso, eis um sacrifício que é abençoado por Deus.
Vocês que deixam seus aposentos perfumados para levar consolação à morada infecta; que sujam suas mãos delicadas curando chagas; que se privam do sono para velar à cabeceira de um doente que é apenas seu irmão em Deus; vocês, enfim, que consomem sua saúde na prática das boas obras, eis seu cilício, verdadeiro e abençoado cilício, porque as alegrias do mundo não ressecaram seus corações. Vocês não adormeceram no seio das enervantes volúpias  da fortuna, mas se transformaram nos anjos consoladores dos pobres deserdados.
Mas vocês que se retiram do mundo para evitar suas seduções e viver no isolamento, qual a sua utilidade na Terra? Onde está sua coragem nas provas, pois que fogem da luta e desertam do combate? Se quiserem um cilício, apliquem-no às suas almas e não aos seus corpos; mortifiquem seu espírito e não sua carne; fustiguem seu orgulho; recebam as humilhações sem se queixarem; magoem seu amor-próprio; fortifiquem-se para a dor da injúria e da calúnia, mais pungentes que a dor física. Eis aí o verdadeiro cilício, cujas feridas lhes serão contadas, porque atestarão sua coragem e sua submissão à vontade de Deus.
Um Anjo da Guarda
Paris, 1863.

Tradução livre do Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira, da terceira edição francesa.

  Salve, 18 de abril, Dia Nacional do Espiritismo (Irmão Jó) Foi no dia 18 de abril que Kardec, Na Cidade de Luz, em manhã memorável, Lança ...