5.7.11
Um homem está agonizando, preso a cruéis sofrimentos. Sabe-se que seu estado
é sem esperanças. É permitido poupar-lhe alguns instantes de angústia, apressando
seu fim?
— Quem lhe daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não
pode Ele conduzir um homem até a beira do fosso, para em seguida retirá-lo, com
o fim de fazê-lo voltar a si e modificar-lhe os pensamentos? Ainda que ao
extremo tenha chegado um moribundo, ninguém pode dizer com certeza que chegou sua
hora final. A Ciência nunca se terá enganado nas suas previsões?
Bem sei que há casos que se podem considerar, com razão, como
desesperadores. Mas se não há nenhuma esperança fundada de um retorno
definitivo à vida e à saúde, existem inúmeros exemplos de que, no momento do último
suspiro, o doente se reanima e recobra suas faculdades por alguns instantes.
Pois bem! essa hora de graça que lhe é concedida, pode ser para ele da maior
importância, pois vocês desconhecem as reflexões que seu Espírito poderia ter
feito nas convulsões da agonia, e quantos tormentos podem ser poupados por um
súbito clarão de arrependimento.
O materialista, que somente vê o corpo, e não tem em nenhuma
conta a alma, não pode compreender essas coisas, mas o espírita, que sabe o que
se passa no além-túmulo, conhece o valor do último pensamento. Aliviem os
últimos sofrimentos o quanto puderem, mas guardem-se de abreviar a vida, ainda que
seja de um minuto, porque esse minuto pode poupar muitas lágrimas no futuro.
(São) Luís
Paris, 1860.
5.7.12
Aquele que está desgostoso da vida, mas não quer abreviá-la por si mesmo,
será culpado, se procurar a morte num campo de batalha, com o pensamento de
torná-la útil?
— Que o homem se mate ou se faça matar, o objetivo é sempre o de
abreviar a vida, e por conseguinte, há o suicídio de intenção, se não de fato.
O pensamento de que sua morte servirá para alguma coisa é ilusório, isso não
passa de pretexto, para colorir sua ação e desculpá-la aos seus próprios olhos.
Se ele tivesse seriamente o desejo de servir seu país, procuraria viver para defendê-lo,
e não buscaria morrer, porque uma vez morto já não serviria para nada. O
verdadeiro devotamento consiste em não temer a morte, quando se trata de ser
útil, em enfrentar o perigo, e oferecer o sacrifício da vida, antecipadamente e
sem pesar, se isso for necessário. Mas a intenção premeditada de procurar a
morte, expondo-se para tanto ao perigo, mesmo para prestar serviço, anula o
mérito da ação.
(São) Luís
Paris, 1860.
5.7.13
Um homem se expõe a um perigo iminente para salvar a vida de um semelhante,
sabendo de antemão
que sucumbirá; isso pode ser considerado como suicídio?
— Enquanto a intenção de
procurar a morte não existir, não haverá suicídio, mas devotamento e abnegação,
mesmo com a certeza de perecer. Mas quem pode ter essa certeza? Quem diz que a
Providência não reservará um meio inesperado de salvação, no momento mais
crítico? Não pode ela salvar até mesmo aquele que estiver na boca de um canhão?
Frequentemente ela pode querer levar a prova da resignação até o último limite,
então, uma circunstância inesperada desvia o golpe fatal.
(São) Luís
Paris, 1860
5.7.14
Aqueles que aceitam com resignação seus sofrimentos, por submissão à vontade
de Deus e com vistas à sua felicidade futura, não trabalham apenas para eles
mesmos, e podem tornar seus sofrimentos proveitosos aos outros?
— Esses sofrimentos podem ser proveitosos aos outros, material e
moralmente. Materialmente, se, pelo trabalho, privações e sacrifícios que se
impõem contribuem para o bem-estar material do próximo. Moralmente, pelo
exemplo que dão, com sua submissão à vontade de Deus. Esse exemplo do poder da
fé espírita pode incitar os infelizes à resignação, salvá-los do desespero e de
suas funestas consequências para o futuro.
(São) Luís
Paris, 1860.
Tradução livre do prof. dr. Jorge Leite de Oliveira da terceira edição francesa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário