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segunda-feira, 31 de julho de 2023

 


VERDADE E AMOR
 
Era ele um cristão de crença pura,
 Caminhava na vida
 Mostrando fé vibrante e fronte erguida,
 Devoto da verdade e da brandura...
 
 Escrevia e pregava em verbo ardente,
 Vergastava costumes e preceitos,
 Exigia no mundo irmãos perfeitos,
 Reclamava virtude em toda gente.
 
 Alentava, no entanto, antigo anseio,
 Entretecido de carinho e luz,
 Nas súplicas ao Céu, dia por dia,
 Clamava e ansiosamente repetia
 Em alto devaneio:
 — "Quero encontrar Jesus! Quero encontrar Jesus!..."
 Sonhava ver e ouvir o Mestre Amigo,
 Abraçá-lo, retê-lo,
 Depois, testemunhar-lhe todo o zelo
 Que trazia consigo
 A inflamar-se de amor...
 
 Mas, ei-lo a procurar, em andanças no mundo,
 Erros, falhas, defeitos, cicatrizes,
 A fim de levantar o látego infecundo
 Sobre os irmãos caídos e infelizes.
 
Páginas primorosas escrevia
 Com lindas conferências de permeio,
 No intuito de afastar do campo alheio
 As nódoas que ele, acaso, percebia...
 
 Tempos rolaram sobre o tempo mudo
 E nada mais fazia o cristão combatente...
 Entretanto,
 Em matéria verbal, sabia tudo,
 Tudo o que fosse amargo ou deprimente.
 Em nome de Jesus, erguia a frase rara,
 Qual bisturi que corta, poda e apura,
 Manejava a palavra fina e rara,
 Em constante censura.
 
 Certa noite, porém, depois de muitos anos,
 Viu-se fora do corpo, a pervagar...
 De improviso, oh! surpresa!... viu Jesus
 Que nele punha o generoso olhar...
Notava que Jesus o fitava em silêncio,
 Dispondo-se, talvez, a partir sem demora,
 Ele gritou: — "Senhor, abençoa-me a fé,
 Espero, desde a infância, este encontro de agora...
 Dize, amado Jesus, se estou certo em caminho,
 Quero apenas fazer aquilo que te agrade,
 Tenho feito da vida um combate sem tréguas,
 Mostro os erros do mundo e defendo a verdade!
 Ao meditar em ti, vejo em franca expansão,
 Os conflitos mortais que amarguram a Terra,
 Paixão, intemperança, orgulho, hipocrisia
 E a presença do mal trazendo a morte e a guerra!...
 Irmãos dilapidando irmãos, estrada a estrada.
 Convertem-me a palavra em chicote violento,
 Grito, protesto, acuso e denuncio...
 Explica-me, Senhor, se tenho estado atento!..."
 
 Mas Jesus respondeu: — "Agradeço-te, irmão,
 Quanto me tens doado em franqueza e rigor,
 Não olvides, porém,
 Que a construção do Bem,
 Solicitando, embora, a base da verdade,
 Nunca se elevará no apoio à Humanidade,
 Sem o teto do Amor...
 Não deixes de amparar... Anota as leis da vida,
 Esclarece, corrige, ensina, mostra, fala!...
 Mas, recorda: não basta apontar a ferida,
 Depois de conhecê-la, é preciso tratá-la.
 Volta ao mundo e prossegue,
 Retifica sem fel e ajuda sem impor,
 Verdade que produz é aquela que auxilia,
 À maneira do Sol que acende a luz do dia
 E estende a vida ao chão em dádivas de amor!..."
 
 O amigo despertou a desfazer-se em pranto,
 Inflamado de júbilo e de espanto,
 Ergueu-se novamente para a vida...
 Em seguida,
 Descerrou-se a janela junto dele...
 Fitando a rua em frente,
 Viu homens construindo
 A se esforçarem afanosamente,
 Doentes repousavam na calçada,
 Pobre mãe desprezada
 Passava carregando um pequeno enfermiço...
 Tudo era petição de amparo e de serviço...
 Não longe, uma criança sem ninguém
 Começou a chorar...
 
 Nisso, ele ouviu de novo a voz do Mestre Amado,
 No íntimo do ser,
 Qual se estivesse ali, respirando a seu lado,
 Presente a lhe dizer:
 — "Escuta, meu irmão,
 Posso falar-te aqui na paz do coração!..."
 Depois, disse baixinho:
 — "Se queres atingir a luz do Eterno Lar,
 Eis, em teu mundo mesmo, os marcos do caminho:
 —Trabalhar e servir, servir e trabalhar!..."
 
DOLORES, Maria; MEIMEI. (Espíritos). Somente amor. 1. ed. – Impressão pequenas tiragens. Brasília: FEB; São Paulo: IDEAL, 2022.


sábado, 29 de julho de 2023

 
EM DIA COM O MACHADO 586:
A arte e a evolução (Irmão Jó)


 
        O grande jurista Rui Barbosa ao observar, em sua época, que as leis brasileiras eram interpretadas conforme os interesses políticos escusos, escreveu com indignação: “De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.
    Alma amiga, parodiando Rui Barbosa, eu diria: De tanto ver triunfar a iniquidade de alguns, de tanto ver crescer a maldade de outros, de tanto ver prosperar a mediocridade nas artes, precisamos restaurar, com urgência o culto ao belo e à sublimidade poética. Por esse motivo, escrevi o poema abaixo, que compartilho com você:
 
Arte e evolução
 
A arte é o culto ao belo,
a forma
também do conteúdo
faz parte.
 
Fazer das excrescências
da mente
suposta obra d’arte
é crer
 
Então que, no improviso,
o esforço
de todo o nosso estudo
é vão.
 
Confesso que não vejo
no feio
sem estética ser
progresso.
 
Um tolo sem estudo
é mudo
quando expressa besteira
e besta
 
Não fala, nunca pensa,
relincha
e fica por preguiça
no chão.
 
A alma evoluída
excede
qualquer limitação
e é bela!
 
Porém jamais será
medíocre,
pois crê na evolução
também.
 
A arte transcendente
é assim:
requer trabalho e luta
em parte
 
 
E parte é inspiração
de quem
já se esforça no bem
com arte.
 
Autor: Irmão Jó.
 
        Ouvi de um professor de literatura, há alguns anos: “A salvação está na literatura”. Também perguntado a outra professora sobre qual área em que se enquadra a literatura espírita, ela respondeu: “Na literatura brasileira”.
        Sábias respostas. A literatura espírita, com milhares de poemas psicografados por Chico Xavier e outros médiuns, além de crônicas, romances etc., restaura o conceito do belo, do sublime e do útil no texto literário. Se vamos praticar seus elevados ensinamentos, isso cabe a nós mesmos decidir.
        Só não nos podemos esquecer do alerta de Jesus, que Lucas registrou no capítulo 12, versículo 2, de seu evangelho: “Nada há de encoberto que não venha a ser revelado, nem de oculto que não venha a ser conhecido”.
        O que considero certo é que a verdadeira arte, como culto ao belo e ao divino, deve estar sempre a serviço da evolução. Sem isso, não cumpre bem seu papel e, consequentemente, não sobrevive.

 


sexta-feira, 28 de julho de 2023

 


DRAMA NO MUNDO
 
 O cavalheiro de renome e brilho,
 Quarenta e dois dezembros de existência,
 Tinha consigo um filho,
 Irrequieto rapaz de vinte primaveras...
 
 Viúvo, ele encontrara uma jovem bonita,
 De maneiras sinceras,
 Com quem se reuniria em casamento...
 
 Mas, conduzindo o filho de visita
 Ao lar da noiva, em doce entendimento,
 Eis que o rapaz por ela se apaixona
 E, moço inteligente,
 Ante a afeição que lhe transborda à tona
 Do coração ardente,
 Dá-se, de todo, à treva que o invade...
 E, tão astuto quanto desumano,
 Friamente executa um lamentável plano
 De indescritível crueldade...
 
 Notando, em certo dia, o pai acometido
 Por resfriado leve,
 Ministra-lhe o rapaz um forte entorpecente.
 O genitor caído,
 Em tremendo torpor, delira estranhamente,
 E, de dose a outra dose, parecia
 Mais doente e cansado, a cada novo dia.
 
 O rapaz busca a jovem para vê-lo
 E a moça foge amedrontada,
 Fitando o descontrole e o desmazelo
 Daquele que não mais conseguiria
 Conceder-lhe migalha de alegria
 Da ventura sonhada...
 
 O resto da ocorrência
 Qualquer pessoa pode imaginar:
 O fazendeiro se afastou do lar,
 Quase que inconsciente,
 E, recolhido a um pensionato
 Para enfermos da mente,
 Muito longe da casa,
 Eis que todo o equilíbrio se lhe arrasa,
 Ante em texto legal que o destitui
 Da regência de tudo o que possui.
 
 O filho conseguira ilhá-lo em supremo desgosto...
 O pai tanto reclama e tanto se tortura,
 Que apresenta, rebelde e descomposto,
 Um quadro indiscutível de loucura.
 
 Não se descuida o moço...Mês a mês,
 Envia ao pensionato o justo numerário
 Para o custeio necessário
 Das despesas do pai
 Que deixara de vez...
 
 Tempo vem, tempo vai
 E, ao termo de dois anos,
 De pesados e rudes desenganos,
 Certa noite, o doente
 Abandona a pensão e foge sem destino...
 
 O jovem na cidade interiorana
 Finalmente conquista
 A ex-noiva do pai que acredita, inocente,
 Na morte imaginária
 Do homem bom que adorara, ternamente,
 Através de uma carta simulada
 Que o moço sedutor lhe expõe à vista.
 
 O casal prosperou, vivendo agora
 Na metrópole grande, em formosa mansão,
 Um filho se lhe fez a base da união
 E marido e mulher viviam, de hora a hora,
 Em constante alegria...
 
 De lembranças do pai nenhum sinal
 Que lhes turvasse a vida
 No azul do céu mental...
 Festas, viagens, luxo, fantasia...
 O menino – seis anos de ternura –
 Vive ligado à ama que o não solta,
 Ambos sob a atenção de um guarda que os escolta,
 Era o garoto um gênio de doçura...
 
 Quase todos os dias,
 Quando descia ao pátio ajardinado,
 Via a criança um velho embriagado
 A sorrir-lhe, por trás das grades de um portão,
 — "Uma esmola, meu filho" – ele pedia,
 Mostrando o rosto magro em desconsolo.
 Ia o menino à ama e, em breve, aparecia,
 Trazendo-lhe, feliz, grande porção de bolo.
 — "Deus te abençoe, meu anjo!..."
 – O velho abençoava.
 Curioso, o pequeno perguntava:
 — "Onde é que você mora?"
 O pedinte dizia: — "Aqui por fora,
 Moro no Sítio da Calçada..."
 A ama, compreendendo a alusão do mendigo,
 Endereçava aos dois um olhar piedoso e amigo,
 Sabendo com bondade e simpatia
 Que a cena, no outro dia,
 Seria renovada.
 
 Certa noite em que os pais se afastaram mais cedo
 Para uma longa festa em chácaras distante,
 Dois ágeis salteadores
 Prendem o guarda num recanto escuro,
 Depois, transpondo o muro,
 Penetram na mansão...A dupla alcança
 O aposento onde jaz a tranquila criança...
 A ama é silenciada com mordaça,
 O pequeno, a gritar, segue sob a ameaça
 Das mãos armadas dos sequestradores;
 A dupla arrasta, a esmo, o menino que chora,
 Mas, atingindo os três o portão de saída,
 Alguém surge com fúria desmedida,
 Um homem que se agarra ao pequeno indefeso
 E clama em alta voz: "Sou da polícia!...
 Sereis mortos, ladrões!... Meu carro aceso
 Chegará neste instante..."
 
 Ouvindo aquela voz tonitruante,
 Um deles grita ao outro: — "Apague o velho tonto...
 Depois, é dar no pé, nosso carro está pronto!..."
 Enquanto o homem semiembriagado
 Guarda o pequeno ao lado,
 Ouve-se um tiro e o pobre tomba e geme...
 
 Despertaram servidores,
 Distanciam-se os dois sequestradores.
 No piso do jardim, faz-se enorme alarido.
 A governanta chega...O velho é conhecido,
 É o mendigo que ali espera esmola,
 O mesmo que a criança alivia e consola...
 
 Nisso o casal regressa à casa.
 Um empregado descreve o acontecido...
 Enquanto a jovem mãe abraça o filho amado,
 O dono da mansão busca ver o ferido,
 Depois, grita ao mordomo:
 "Temos aqui um herói, um amigo leal,
 Ele salvou meu filho, o anjo que conheço...
 Quero agora salvar-lhe a vida, a qualquer preço,
 No melhor hospital..."
 Mas o homem caído
 Nele pousou o olhar profundo
 E vendo-se a morrer, de segundo a segundo,
 Disse, calmo e sereno:
 — "Meu filho, agora é tarde...
 Se algo posso pedir, guarde o nosso pequeno..."
 Depois, como quem vê nas Telas do Invisível,
 Acrescentou com a voz a elevar-se de nível:
 — "Maria Clara veio... É a despedida...
 Devo hoje segui-la em outra vida...'
 
Ouvindo ali o nome
Da mãezinha que, há muito, falecera,
O dono da mansão, mais pálido que a cera,
Bradou atormentado:
— "Quem é você? Alguém do meu passado?”
 
 O velho sente o fim,
 Estirado a gemer, no piso do jardim...
 E, no esforço supremo a que se atira,
 Na tremenda exaustão, em que ele expira,
 Diz, ainda, no pranto que lhe cai:
 — "Graças aos Céus, cumpri o meu desejo,
 Ver você junto a mim é a luz maior que eu vejo...
 Deus o abençoe, meu filho!...Eu sou seu pai!..."
 
DOLORES, Maria; MEIMEI. (Espíritos). Somente amor. 1. ed. – Impressão pequenas tiragens. Brasília: FEB; São Paulo: IDEAL, 2022.


quinta-feira, 27 de julho de 2023


 

AÇÃO DE GRAÇAS
 
No tempo que se desdobra,
 Sem um minuto de sobra
 No dia a se recompor,
 Entendendo o tempo agora,
 Pelos bens de toda hora,
 Muito obrigado, Senhor!...
 
 Pelo Sol que envolve o mundo
 Pelo chão vivo e fecundo,
 Pela fonte, pela flor,
 Por toda a amplidão que vejo
 Do trabalho benfazejo,
 Muito obrigado, Senhor!
 
 Pela fé que me descansa
 No regaço da esperança,
 Pelas promessas do amor,
 Pelo caminho risonho
 Do ideal a que me exponho,
 Muito obrigado, Senhor!...
 
 Por todas as alegrias,
 Ante as bênçãos que me envias
 Do Plano Superior,
 Pelos problemas e provas
 Da senda em que me renovas,
 Muito obrigado, Senhor!..
 
DOLORES, Maria; MEIMEI. (Espíritos). Somente amor. 1. ed. – Impressão pequenas tiragens. Brasília: FEB; São Paulo: IDEAL, 2022.


quarta-feira, 26 de julho de 2023

 


NOTÍCIAS DE MARIA RAIMUNDA
 
 Maria José Raimunda da Silva...
 Era apenas Maria, entre os parentes.
 Viveu de sacrifícios, cada dia,
 A carregar crianças e doentes.
 
 Se convidada para festas,
 Natalícios de Antônio ou de Alencar,
 Respondia colocando as mãos na testa:
 “Não posso ir, preciso trabalhar”.
 
 Noventa e quatro anos de existência!...
 Sem se importar com isso,
 Morreu Maria, a mãe da paciência,
 Entregando-se a Deus, mas pensando em serviço.
 
 De corpo inerte, e, agora em outra dimensão,
 Despertou, pouco a pouco, para o caminho da libertação.
 Sabia-se acordada em novo leito,
 Não mais sentia a dor que se lhe impunha ao peito.
 
 Interiormente, via-se feliz,
 Servidora fiel, agora transformada,
 Ouvia o pipilar dos passarinhos
 E entendeu que nascia a madrugada.
 
 O enterro começou no esforço de três moças:
 Lynete, Donda, Nega e mais alguns amigos,
 Seguido por irmãos desencarnados
 Seus afetos e laços mais antigos.
 
 Deposta, a fim de viajar sob a grande mudança,
 Levantou-se Maria, a sorrir de esperança.
 Amparada por vários benfeitores,
 Notou que se encontrava num montão de flores...
 
 Desconhecendo a nova dimensão,
 Fitou-os e falou enternecida:
 “Sou muito grata a todos,
 Deus lhes compense a vida...”
 
 Não dava a ideia de lembrar
 As feridas do próprio sofrimento.
 Nós, porém, víamos com clareza
 Que ela exigia novo tratamento.
 
 Maria, valorosa, embora manquejando,
 Entrou na grande fila dos que iam pedir apoio e certidão.
 No entanto, veio até nós, um anjo que lhe disse:
 “Maria, não ceda à inquietação!...”
 
 Entre: A casa é sua. Venha tomar
 sua certidão, seu passaporte.
 O serviço que é seu, em seu próprio lugar,
 Você não tem problemas ante a morte...”.
 
 O anjo abraçou-a e guiou-lhe a caminhada,
 Indagando o que ela, em si, mais pretendia...
 Maria respondeu: - “O que mais quero, anjo bom,
 É aprender a voltar para a lavanderia .
 
DOLORES, Maria (Espírito). Dádivas de amor. Psicografado por Chico Xavier. 1. ed. Brasília: FEB: São Paulo, SP: IDEAL, 2022.


terça-feira, 25 de julho de 2023

 


NOTA DE FÉ
 
Em qualquer fase da vida,
Quando a prova te apareça,
Tempestade ou mágoa espessa
Ao peso de férrea cruz,
Recorda que o Céu te envia
Mais amparo do que pensas,
Mesmo nas trevas mais densas,
Deus te acende nova luz.
 
Conflitos, problemas, lutas,
Nas sendas por onde vamos,
São lições que precisamos,
A fim de saber servir;
Não há desprezo ante os Céus.
Olha o charco que se enflora,
Pensa na noite e na aurora
E guarda a fé no porvir.
 
Sofrimento é igual à nuvem...
Estrondo, fúria, ameaça...
Depois... é chuva que passa,
Frutos ganhando apogeus;
Se hoje sofres, não te esqueças,
Que amanhã, no Espaço Infindo,
O dia virá mais lindo,
Brilhando no amor de Deus.
 
DOLORES, Maria (Espírito). Maria Dolores. Psicografado por Chico Xavier. 1. ed. Imp. pequenas tiragens. Brasília: FEB; São Paulo: IDEAL, 2022.


segunda-feira, 24 de julho de 2023

 


RENDIÇÃO
 
Perdoa-me, Senhor, se estou cansada
De meus sonhos falidos,
Longe de ti, vagando, estrada a estrada,
Nas muitas quedas de meus tempos idos.
 
Jesus, se posso ainda despenhar-me
Na treva em que o passado me envolvia,
Que a tua previdência me desarme
Qualquer inclinação à rebeldia.
 
Se ainda posso afundar-me em desalinho,
Replantando ilusões para frutos amargos,
Não me deixes a sós, nos passos do caminho,
Conserva-me no chão de meus próprios encargos.
 
Se agindo ou imaginando, estiver a ferir
Nos gestos sem razão de que ainda me valho,
Guarda-me no dever sem meios de fugir
À escravidão bendita do trabalho.
 
Nas construções verbais a que me entrego
No anseio de encontrar tarefas benfazejas,
Não consintas que eu siga as sombras que carrego,
Induze-me a falar, conforme o que desejas.
 
Quando vacile ou tente desertar
Da luz bendita com que me renovas
Não me deixes sair de meu justo lugar,
Mesmo à custa de crises e de provas.
 
Despoja-me, Senhor, da sombra que me enlaça,
A minha teimosia chega ao fim,
Consente-me entender o que queres que eu faça,
Ajuda-me, Senhor, a esquecer-me de mim!...
 
DOLORES, Maria (Espírito). Maria Dolores. Psicografado por Chico Xavier. 1. ed. Imp. pequenas tiragens. Brasília: FEB; São Paulo: IDEAL, 2022.

sábado, 22 de julho de 2023


 
EM DIA COM O MACHADO 585:
SAÚDE! (Jó)
 

            Quando eu era menino, no Rio de Janeiro, toda vez que alguém da família espirrava, papai dizia: — Saúde!
            Cresci com esse hábito e, sempre que minha esposa espirra, eu grito do meu escritório: — Saúde! Isso porque agora estamos sós, pois os filhos já se casaram, deram-nos seis netos, mas o procedimento é o mesmo, se qualquer deles ou outrem espirrar e eu ouvir.
            A saúde é um bem tão precioso, que em 1947 a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu-a como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença”.
            Para nós, espíritas, a mente nada mais é do que a manifestação da alma no comando do corpo, seja ele físico ou perispirítico, que é a parte do ser integral: espírito, perispírito e físico. Então, esse conceito da OMS, no meu entendimento, é perfeito.
            E quem nos auxilia na manutenção do corpo e da mente com saúde é o médico. Seu juramento, cujo autor foi Hipócrates, nascido em 460 a.C. na Grécia, atualmente foi bastante modificado e mesmo dispensado por algumas faculdades de medicina.  Resume-se ao seguinte: 
“Juro por Apolo, médico, e por Esculápio, por Hygeia, por Panaceia, e por todos os deuses e deusas, constituindo-os juízes de como, na medicina das minhas forças e do meu juízo, haverei de fazer executado o seguinte juramento e o seguinte compromisso: [...] Passarei a minha vida e praticarei a minha arte pura e santamente [...]. Em quantas casas entrar, fá-lo-ei só para a utilidade dos doentes, abstendo-me de todo o mal voluntário e de toda voluntária maleficência e de qualquer outra ação corruptora [...]. O que quer que veja ou ouça, concernente à vida das pessoas, no exercício da minha profissão ou fora dela, e que não haja necessidade de ser revelado, eu calarei, julgando que tais coisas não devem ser divulgadas [...].” 
           Segundo o professor Sandoval[1], a Declaração de Genebra adotada pela Associação Médica Mundial, inspirada no Juramento de Hipócrates e com sua redação aprovada em 1936, começa assim: 
“Prometo solenemente consagrar a minha vida a serviço da humanidade. Darei aos meus mestres o respeito e o reconhecimento que lhes são devidos. Exercerei a minha arte com consciência e dignidade. A saúde do meu doente será a minha primeira preocupação.” 
            Destaco a conclusão de Sandoval sobre a base do juramento hipocrático: “Portanto, o importante, mesmo que haja versão reduzida, que se mantenha o cerne dos princípios e das regras éticas contidos no Juramento de Hipócrates constantes de seu original, princípios e regras éticas que permanecem atuais, apesar de decorridos 2.600 anos”.
            Infelizmente, porém, atualmente, há profissionais da medicina que não são fiéis ao Juramento de Hipócrates, mas reféns do ganho fácil com a medicina. Então, ignoram ou desprezam o conceito de saúde no seu atendimento médico. Por isso, sugerimos-lhes que coloquem sobre sua mesa ou parede do consultório ou ainda num chaveirinho, para leitura e prática diária, as primeiras frases do texto do juramento hipocrático supracitado.
            O médico que atente para o conceito atual de saúde, à luz da ética, precisa observar clinicamente tanto a doença da alma quanto a do corpo físico do seu paciente. Para isso, deve colocar-se no lugar de quem o procure por um mal orgânico, que reflete também o estado espiritual do seu paciente. É o que entendemos quando lemos o conceito de saúde da OMS e do Juramento de Hipócrates, que pode ser lido integralmente na versão aprovada pela Associação Médica Mundial em 1936.
            Só o fato de ser tratado com dignidade e respeito já auxilia, em boa parte, no bem-estar do doente. Desse modo, independentemente de quem espirre, o bom médico agirá como verdadeiro apóstolo divino, no tratamento do seu paciente, após dizer-lhe: — Saúde!
 

[1] SANDOVAL, Ovídio Rocha Barros. O Juramento de Hipócrates. Disponível em www.fmrp.usp.br (Faculdade de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo), 24 de abril de 2019. Acesso em 19.7.2023.



sexta-feira, 21 de julho de 2023

 


OBREIROS DE DEUS
 
Escuta, alma querida,
Se a força que orienta as construções da vida
Resolveu entregar-te
A comunicação do bem e da cultura
Pelos caminhos da arte,
Por maior seja a dor que te renova e apura,
Nunca te desanimes
No alto ministério em que te pões,
Sê fiel à missão em que te exprimes,
Criando e recriando gerações.
 
Mesmo de coração amarfanhado,
Perante o mundo desatento,
Não desistas da luta que te alcança,
Em amassando, a trigo de esperança,
O pão do pensamento.
 
Entre a imortalidade e as visões da beleza,
Contempla o mundo à frente,
Pensa no plano artístico esplendente
Em que se fundamenta a Natureza.
 
Onde o verde se alonga, anota nos caminhos
Aves lembrando intérpretes de sonhos
E equipes orquestrais nos troncos e nos ninhos.
 
Quando a tarde aparece sobre os campos
E a sombra se desata,
Fita a erva a surgir sob adornos de prata
Feitos na tênue luz dos pirilampos.
 
Vejamos nos jardins:
Cravos recordam belos arlequins
Dançando ao sol e ao vento,
Enquanto sob o azul do firmamento,
Quase concretizando músicas divinas,
No tecido aromal que os entretece,
Os lírios são pierrôs filosofando em prece
E as rosas são alegres colombinas.
 
Quando as nuvens no Espaço
Lançam granizos e clamores,
Em raios e trovões ameaçadores
Nos golpes da tormenta,
De estrondo a estrondo e estilhaço a estilhaço,
É uma tragédia que se representa.
 
Sem que as distâncias possam escondê-las
Quando a treva noturna tudo invade,
Olha o bailado e as luzes das estrelas
Com notícias dos Céus na Imensidade!...
 
Assim também, alma querida,
Cumpre a missão que te engrandece a vida,
Educa, eleva, ampara, serve e ama...
Arte é divina chama,
Realeza sem plebeus,
E artistas que se dão ao trabalho fecundo
De aliviar a dor e melhorar o mundo
São obreiros da paz com mensagens de Deus.


quinta-feira, 20 de julho de 2023

 


MENSAGEM DA PAZ
 
Às vezes, cismas, coração amigo,
Como varar a treva, a cilada e o perigo,
Fazendo luz no próprio ser...
Das perguntas que fiz, onde a aflição me encosta,
Deu-me a vida por única resposta:
— Esquecer, esquecer...
 
Perguntei à roseira, aberta em pétalas e cores,
Como aguentar espinhos, produzindo flores
Por ofício e dever...
Balançando a folhagem viridente,
A roseira me disse simplesmente:
— Esquecer, esquecer...
 
Indaguei do diamante burilado
Que lâmina lhe dera a forma de bordado,
Por estrela a esplender...
E a pedra, recordando lágrima perdida,
Respondeu, como quem louvasse o sofrimento e a vida:
— Esquecer, esquecer...
 
Inquiri da mulher pela maternidade,
Como criar um filho e dá-lo à Humanidade,
Amando intensamente, a chorar e a sofrer...
Comentando o progresso e o mundo,
Em novo brilho,
Ela disse, beijando as mãos do próprio filho:
— Esquecer, esquecer...
 
Desse modo, também, alma fraterna e boa,
Se buscas elevar-te, esquece-te e abençoa,
Não fujas à lição, se queres aprender...
Serve e conquistarás o reino do amor puro,
Ouvindo a voz do Céu, chamando-te ao futuro:
— Esquecer, esquecer...
 
DOLORES, Maria (Espírito). Maria Dolores. Psicografado por Chico Xavier. 1. ed. imp. pequenas tiragens. Brasília: FEB; São Paulo: IDEAL, 2022.


  Propriedade Intelectual (Irmão Jó) Houve época em que produzir Obra de arte legal Era incerto garantir Direito intelectual.   Mas com tant...