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segunda-feira, 30 de outubro de 2023

 


A NOVIDADE MAIOR

 

Inegavelmente o mundo progride, embora com lentidão.

À vista disso, em cada dia, é natural que a Terra surja, de algum modo, renovada em si mesma.

Entretanto, forçoso convir que no lado externo das situações e das coisas, com leves modificações, aquilo que vemos agora é o que já vimos.

O Sol cuja marcha Josué supôs haver paralisado no combate contra o rei de Jerusalém é o mesmo que clareia a estrada do deserto para o beduíno de hoje.

A Lua que afagava a cabeça de Sócrates não sofreu diferenças.

O mar que Tibério fitava das alturas do Capri oferece atualmente o mesmo espetáculo de imponência e beleza.

As grandes cidades da hora moderna são herdeiras das grandes cidades que o tempo sepultou em valas de cinza.

As tricas políticas que criam a guerra, nos dias que passam, não obstante mais espaçadas, são idênticas às que faziam a guerra no tempo dos faraós.

Os escritores de inspiração infeliz que há milênios envenenavam a cabeça do povo são substituídos na época presente pelos escritores inconsequentes que articulam palavras nobres e corretas fomentando o vício do pensamento.

Inegavelmente o progresso é a lei, contudo, só o conhecimento de nós próprios conseguirá realmente fundamentá-lo e apressá-lo em sadios alicerces na experiência.

Por essa razão, a maior novidade para nós, acima de tudo, ainda e sempre, é a nossa possibilidade imediata de manejar a própria vontade e melhorar a vida, melhorando a nós mesmos.

EMMANUEL (Espírito). In: Ideal Espírita. Espíritos Diversos. Psicografado por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. 1. ed. Brasília: FEB; Uberaba: CEC, 2023 (3).

 

Obs.: As mensagens de números ímpares, como é o caso desta, foram psicografadas por Waldo Vieira, as de números pares por Francisco Cândido Xavier.

sábado, 28 de outubro de 2023

 


Avise a Você 

Aprenda a admoestar-se, antes que a vida admoeste a você.

Se o seu problema é alimentar-se excessivamente, exponha na mesa esta legenda escrita, diante dos olhos:

— Devo moderar meu apetite.

Se a sua luta decorre da preguiça, dependure este dístico à frente do próprio leito para a reflexão cada manhã:

— Devo trabalhar honestamente.

Se a sua intranquilidade surge da irritação sistemática, coloque este aviso em evidência no lar para observação incessante:

— Devo governar minhas emoções.

Se o seu impedimento irrompe de vícios arraigados, carregue consigo um cartão com esta lembrança breve:

Devo renovar-me.

Se o seu caso difícil é a inquietação sexual, traga no pensamento este aviso constante:

Devo controlar meus impulsos.

Se o seu ponto frágil está na palavra irrefletida, espalhe este memorando em torno de seus passos:

Devo falar caridosamente.

Não acredite em liberdade incondicional. Todo direito está subordinado a determinado dever. Ninguém abusa sem consequências.

Repare os sistemas penalógicos da vida funcionando espontaneamente.

Enfermidades compartilham excessos...

Obsessões cavalgam desequilíbrios...

Cárceres segregam a delinquência.

Reencarnações expiatórias acompanham desatinos...

Corrijamos a nós mesmos, antes que o mundo nos corrija.

Todos sabemos proclamar os méritos do pensamento positivo, entretanto, não há pensamento positivo para o bem sem pensamento reto.

O tempo é aquele orientador incansável que ensina a cada um de nós, hoje, amanhã e sempre, que ninguém pode realmente brincar de viver. 

ANDRÉ LUIZ (Espírito). Ideal Espírita. In: Espíritos diversos. Psicografado por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. 1. ed. – 1. impr. Brasília: FEB; Uberaba: CEC, 2023 (2). 

Obs.: Nesta obra, as mensagens de números ímpares foram psicografadas por Chico Xavier, e as de números pares, por Waldo Vieira.


sexta-feira, 27 de outubro de 2023


 

Cura e Caridade

 

Cada vez que nos reportamos aos serviços da cura, é justo pensar nos enfermos, que transcendem o quadro da diagnose comum.

Enxameiam, aflitos, por toda parte, aguardando medicação.

Há os que cambaleiam de fome, a esmolarem doses de alimentação adequada.

Há os que tremem desnudos, requisitando a internação em roupa conveniente.

Há os que caem desalentados, a esperarem pela injeção de bom ânimo.

Há os que se arrojaram nos tormentos da culpa, rogando tranquilizantes do esquecimento.

Há os que se conturbam nas trevas da obsessão a pedirem palavras de luz por drágeas de amor.

Há os que choram de saudade nos aposentos do coração, suplicando a bênção do reconforto.

Há os que foram mentalmente mutilados por desenganos terríveis, a suspirarem por recursos de apoio.

E há, ainda, aqueles outros que se envenenaram de egoísmo e frieza, desespero e ignorância, exigindo a terapêutica incessante da desculpa incondicional.

Ajuda, sim, aos doentes do corpo, mas não desprezes os doentes da alma, que caminham na Terra aparentemente robustos, carregando enfermidades imanifestas que lhes consomem o pensamento e desfiguram a vida.

Todos podemos ser instrumentos do bem, uns para com os outros.

Não espere que o companheiro se acame prostrado ou febril para estender-lhe esperança e remédio.

Auxilia-o, hoje mesmo, sem humilhar ou ferir, de vez que a verdadeira caridade, tanto quanto possível, é tratamento indolor da necessidade humana.

Os emissários do Cristo curam os nossos males em divino silêncio.

Diante dos outros, procedamos nós igualmente assim.

EMMANUEL (Espírito). Ideal Espírita. In: Espíritos diversos. Psicografado por Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira. 1. ed. – 1. impr. Brasília: FEB; Uberaba: CEC, 2023 (1).

Obs.: Nesta obra, as mensagens de números ímpares foram psicografadas por Chico Xavier, e as de números pares, por Waldo Vieira.

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

 

EM DIA COM O MACHADO 599:
CONCEITOS ESPÍRITAS SOBRE RELIGIÃO E TERMOS RELIGIOSOS (Irmão Jó)

 

       Hoje vamos esclarecer algumas dúvidas correntes no meio espírita. Primeira delas: O Espiritismo é religião?

        Responde-nos o Espírito Bernardin, na Revista Espírita de junho de 1862 sob o título Ensinos e Dissertações Espíritas:

       “— Meus amigos, falamos do Espiritismo do ponto de vista religioso; agora que está bem estabelecido que ele não é uma religião nova, mas a consagração dessa religião universal cujas bases lançou o Cristo, e que hoje vem levar ao coroamento, vamos encarar o Espiritismo do ponto de vista moral e filosófico.”

        Acrescento o que diz o Espírito Emmanuel sobre o assunto no item 4.5 Religião e religiões, da obra intitulada Emmanuel psicografada por Chico Xavier: “A Religião é o sentimento divino que prende o homem ao Criador. As religiões são organizações dos homens, falíveis e imperfeitas como eles próprios [...]. Muitas delas, porém, estão desviadas do bom caminho pelo interesse criminoso e pela ambição lamentável dos seus expositores; mas a verdade um dia brilhará para todos, sem necessitar da cooperação de nenhum homem”.

        Também na conclusão d’O Livro dos Espíritos, esclarece-nos Allan Kardec: “[...] O Espiritismo é forte porque ele se apoia sobre as próprias bases da Religião”.

    Sim, da Religião, que é “[...] o sentimento divino, cujas exteriorizações são sempre o Amor, nas expressões mais sublimes. [...] a Religião edifica e ilumina os sentimentos [...]”. Esclarece, ainda, o iluminado Espírito Emmanuel na questão 260 da obra O Consolador, também psicografada por Chico Xavier.

        Prosseguimos com entendimentos espíritas que o Espírito André Luiz nos oferece sobre conceitos religiosos, como podemos ler em O Espírito da Verdade, obra psicografada pelo médium mineiro citado acima e Waldo Vieira, sendo este último responsável pela psicografia do capítulo intitulado A Rigor, do qual parafraseamos o seguinte: 

Espírito Santo — legião dos enviados divinos que se manifesta na coordenação das manifestações humanas nos mundos físico e espiritual.

Reino de Deus — estado sublimado do espírito purificado após inúmeras reencarnações.

Céus — dimensões santas nas quais habitam os espíritos superiores que trazem consigo a paz e a felicidade.

Milagres — fatos naturais ainda desconhecidos pela alma humana, mas que a ciência, gradativamente, irá desvendando.

Sobrenaturais — fenômenos inabituais ainda pouco conhecidos, mas que fazem parte da natureza.

Santo — o ser humano que, na aparência, cumpriu com êxito sua missão sem faltar com o dever.

Tentação — luta contra o domínio dos vícios insuperados pelas próprias criaturas.

Juízo final — colheita das plantações semeadas nos dois planos de existência: físico e espiritual.

Salvação — superação, pela prática da caridade, de tudo que nos impeça a felicidade e nos eleve espiritualmente. 

        Por fim, voltando a Allan Kardec, citamos seu conceito sobre o que é  Religião e Religião espírita, em seu discurso de reunião pública, em 1.º de novembro de 1868: 

Religião — “[...] em sua acepção larga e verdadeira, é um laço que religa os homens numa comunhão de sentimentos, de princípios e de crenças [...] é a abnegação dos interesses pessoais a verdadeira pedra de toque da fé sincera.” 

Religião espírita — “No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos vangloriamos disso, porque é a Doutrina que funda os vínculos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as próprias leis da natureza.”

        Paz e luz!


quinta-feira, 19 de outubro de 2023

 

EM DIA COM O MACHADO 598:
NAS TAREFAS DE CADA UM...
(IRMÃO JÓ)

 


O Espírito Emmanuel ditou a Chico Xavier a mensagem intitulada Em nossas tarefas, que exprime o comportamento de muita gente. Ele aconselha-nos a não ambicionar altas conquistas sem o merecimento do esforço próprio.

Muitas pessoas sobem na vida, mas nos ombros alheios. Querem os altos postos: coordenadores, diretores, chefes... Adoram mandar e quase nada fazem por iniciativa própria. Para elas, quanto mais criaturas humanas estiverem a seu serviço, mais facilmente conquistarão seus objetivos de riqueza e de poder.

Se ingressam em alguma instituição religiosa, em pouco tempo já desejam ser coroadas como santas. Se convidadas a exercerem atividades espirituais, desejam logo realizações que demandam esforço em longo tempo. Então, lembra-nos o ex-guia espiritual de Chico Xavier, Emmanuel, alguns fenômenos da natureza que nos servem à reflexão:

a)      a passagem de frágil arbusto antes de tornar-se árvore frutífera;

b)      a formação da catarata desde os fios d’água de seu nascedouro;

c)      os materiais utilizados na edificação da casa: picareta, tijolos, pedra...

Em vista do exposto, conclui Emmanuel que precisamos de humildade e perseverança, para que o projeto de realização futura do  nosso ideal seja bem sucedido. Por isso, conclui pela sabedoria das palavras de Paulo, quando este recomenda aos romanos não ambicionar coisas altas, porém agir, nas pequeninas, com humildade, segundo lemos em Romanos, 12:16.

Como demonstração de que a subida para o alto é árdua, mas luminosa para os que escalam a montanha da abnegação e do devotamento, sem esperar recompensas de nenhuma espécie no mundo físico, concluo com este soneto de Cruz e Sousa: Se queres

 

Se queres a ventura doce, etérea,

De outro mundo de luz, indefinido,

Serás, na Terra o filho incompreendido

Do Tormento casado com a Miséria.

 

Viverás na mansão triste, funérea,

Do Soluço, do Pranto, do Gemido;

Dos prazeres mundanos esquecido,

Outro Job pelas chagas da matéria.

 

Serás em toda a Terra o feio aborto

Das amarguras e do desconforto,

Encarcerado nas sinistras grades;

 

Mas um dia abrirás as portas de ouro

E encontrarás o fúlgido tesouro

De benditas e eternas claridades.

 

Sousa, Cruz. In: Parnaso de Além-Túmulo. Psicografado por Chico Xavier.

sábado, 14 de outubro de 2023

 


MAS ROGO-TE, SENHOR

 

Senhor, eu te agradeço.

Não somente

As horas boas da felicidade,

Em que o meu coração tranquilo e crente

Dá-se ao louvor que te bendiz...

Agradeço igualmente os dias longos,

Em que varo o caminho, a pedra e vento,

Nos quais me ensinas sem barulho,

Através das lições do sofrimento,

Como ser mais feliz.

 

Agradeço a alegria

Que me dispensas pelas afeições,

A bênção de ternura,

Em cuja luz balsâmica me pões

Sob chuvas de flor;

E agradeço a amargura

Que a incompreensão me traga,

O estilete da crítica ferina,

Que tanta vez me oprime o peito em chaga

Para que eu saiba amar sem reclamar amor.

 

Agradeço o sorriso da esperança

Com que me fazes crer na verdade do sonho,

A segura certeza com que aguardo

O futuro risonho

Pela fé natural;

E agradeço-te a lágrima dorida,

Com que me alimpas a visão,

A fim de que eu prossiga, trilhe afora,

Sem caminhar, em vão,

Sob a névoa, do mal.

 

Agradeço por tudo o que me deste,

A ventura, a afeição, a dor, a prova,

O dom de discernir e o dom de compreender,

O fel da humilhação que me renova

Para que eu permaneça em ti no meu próprio dever...

Mas rogo-te, Senhor,

Quando me veja

Sob a perseguição e o sarcasmo das trevas,

No exercício do bem,

Não me deixes perder a paz a que me elevas,

Nem me deixes ferir ou condenar ninguém.

DOLORES, Maria (Espírito). Antologia da espiritualidade. Psicografado por: Francisco Cândido Xavier. 6. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014.

 


EM DIA COM O MACHADO 597:

A NOVA ERA, UM SÓ DEUS E UM SÓ PASTOR (Jó)


 

 

        Ante as atrocidades terríveis que vivenciamos no tempo atual, movidas pelo fanatismo e ambição de poder, lembrei-me da mensagem dum Espírito israelita, recebida em 1861 e publicada n’O Evangelho Segundo o Espiritismo, intitulada A Nova Era. No texto, o mensageiro começa dizendo que “Deus é único, e Moisés é o Espírito que Ele enviou em missão para torná-lo conhecido” por todos os povos.

        Em seguida, somos informados de que não somente Moisés, como também os profetas foram enviados por Deus ao povo hebreu. Prosseguindo, o Espírito esclarece-nos sobre “o gérmen da mais ampla moral cristã”: os Dez Mandamentos. Mas, explica adiante, “a moral ensinada por Moisés era apropriada ao estado de adiantamento em que se encontravam os povos” ainda pouco adiantados moralmente.

        Logo abaixo, afirma: “O Cristo foi o iniciador da moral mais pura, da mais sublime: a moral evangélico-cristã, que há de renovar o mundo, aproximar os homens e torná-los irmãos; que há de fazer brotar de todos os corações humanos a caridade e o amor do próximo [...] enfim, que há de transformar a Terra, tornando-a morada de Espíritos superiores aos que hoje a habitam”.

        A “alavanca” utilizada por Deus para o avanço da humanidade, diz o Espírito Israelita, é o Espiritismo. E esses tempos “são chegados”, mas que não pensemos que esse avanço se dê sem “abalos e discussões”. Ao fim das lutas do bem contra o mal, ocorrerá a vitória do Cristo, que não é apressada, ainda que urgente aos nossos olhares ansiosos. É então que o mensageiro do Alto conclui: “Moisés abriu o caminho; Jesus continuou a obra; o Espiritismo a concluirá”.

        Ensina a sabedoria judaica: “Ama o Criador, as crianças, a caridade, a lealdade e a retidão. Evita as honrarias e não te orgulhes de teus conhecimentos. Não te alegres com as homenagens que recebes e age pela verdade e pela paz” (Hadid, Jacob. Organizador. Sobre as leis e a Sabedoria Judaica, s. l. e s. d., p. 13). Não é outra coisa que Jesus nos ensinou, e o Espiritismo reitera, inclusive com sua máxima-síntese de que “Fora da caridade, não há salvação” (Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 15).

        Confiemos, pois, no Cristo e na sua promessa: como lemos em João, 14:16, 17: “Se vocês me amam, obedecerão aos meus mandamentos. E eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro Conselheiro para estar com vocês para sempre. O Espírito da verdade [...]” (Bíblia Sagrada. Nova Versão Internacional).

O Espírito da Verdade, dessa promessa, veio para os que seguem Jesus como sendo o “Caminho, a Verdade e a Vida”. Ele é o Messias a quem o Pai, nosso Deus único, pela voz dos profetas, desde Moisés, anunciou.

 É por Jesus e por seus enviados que chegamos à compreensão de um só Deus e de um só pastor do seu imenso rebanho, que é toda a humanidade terrestre. É o que lemos em João, 14:6 a 9, confirmado pelo Espiritismo, capítulo 6 d’O Evangelho Segundo o Espiritismo.

 Jesus Cristo é o Senhor, cuja manifestação já se faz presente, no mundo, desde 18 de abril de 1857, quando Allan Kardec dele recebeu e nos manifestou a Doutrina Espírita-Cristã. Passadas estas últimas turbulências das trevas, como lemos na questão 743 d’O Livro dos Espíritos, e cujas consequências para seus causadores serão terríveis, segundo a questão 745 dessa obra, todos compreenderão a existência do único Deus, que é amor e não guerra.

Então surgirá uma era de paz definitiva na Terra regida pelo Senhor. Confiemos e oremos por vítimas e criminosos!

 


sexta-feira, 13 de outubro de 2023

 


TELA DO MUNDO

 

A tela esbanja beleza,

Na cúpula dos países.

Fulguram povos felizes,

Riquezas em profusão...

A Natureza soberba

Guarda tesouros na selva,

Flores enfeitam a relva,

Veludo que adorna o chão.

 

Das cidades opulentas,

Voam naves poderosas,

Surgem torres luminosas,

Brasões, legendas, troféus...

A inteligência se alteia,

Abrindo escolas e estradas,

Há mansões dependuradas,

Na luz dos arranha-céus!...

 

Mas à frente do esplendor

Em que o ouro se descobre,

Surge o mundo amargo e pobre

Dos que vivem de esperar.

Tristes mães rogam auxílio,

Em dolorosas andanças,

Para mirradas crianças

Que se agitam sem lugar!...

 

Irmãos despontam na praça,

Sob o fascínio do furto,

Avançam em passo curto,

De empórios retiram pães;

Moços fortes ao prendê-los

Prometem pancadaria,

Há tumulto e gritaria,

Em meio ao choro das mães.

 

Registro vozes diversas...

De quem são? Ouço gemidos,

É a multidão dos vencidos

Que mal conhece aonde vai...

Junto a um posto de assistência,

Formando enorme fileira,

Aguarda-se a noite inteira

O raro apoio que sai...

 

O progresso exalta o mundo...

E, no porão da grandeza,

Há pranto, angústia, tristeza,

Embates de chaga e dor!...

Só Jesus, vencendo as sombras,

Ergue a luz da Caridade,

Conduzindo a Humanidade

Para a vitória do Amor.

 

DOLORES, Maria (Espírito). In: ESPÍRITOS Diversos. Fé e vida. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1. ed. – 1. imp. Brasília: FEB; São Paulo: CEU, 2014.


quinta-feira, 12 de outubro de 2023


 

MEIA HORA

 

Ante a passagem do tempo,

Registra o valor do “agora”

Na bênção de meia hora,

Quanto bem a realizar!

Trinta minutos apenas

No espaço de cada dia

São plantações de alegria

Para quem busca ajudar.

 

Agora é a voz da coragem

Ao irmão que chora e luta,

Coração que pensa e escuta,

Podando aflição e dor!...

Em outro ensejo, é o socorro,

Que se oferece à criança,

Que vaga sem esperança,

A míngua de paz e amor.

 

Depois, o amparo ao doente

Em visita mesmo breve,

A página que se escreve

Para consolo de alguém!

O apontamento otimista,

A frase sincera e boa,

A conversa que abençoa,

A prece em louvor do bem!...

 

Meia hora – patrimônio,

De expressão indefinida,

Que o Céu nos concede à vida,

A todos, crentes e ateus!...

Irmãos, elevai o tempo,

Para o serviço fecundo,

Tempo é tesouro no mundo

Que verte do amor de Deus.

 

DOLORES, Maria (Espírito). Maria Dolores. Psicografado por Chico Xavier. 1. ed. Imp. pequenas tiragens. Brasília: FEB; São Paulo: IDEAL, 2022.

 

 


quarta-feira, 11 de outubro de 2023

 


PÁGINA DE FÉ

 

O homem de alma sofrida

Quer milagres para crer,

Carrega, porém, consigo

O prodígio de viver.

 

Um amigo pediu ao Céu

Mais dinheiro, em hora grave,

Ele tem um Céu no peito

No entanto, perdeu a chave.

 

Ouro, Cultura, Poder,

Posse, Influência e Abastança

São de Deus, nas mãos do Homem

E a Morte faz a cobrança.

 

DOLORES, Maria (Espírito). In: AUTORES Diversos. Esperança e luz. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. São Paulo: Cultura Espírita União, 1993.


terça-feira, 10 de outubro de 2023

 


OUVE, CORAÇÃO


Perguntas, coração,

Como sanar as dores sem medida,

De que modo enxugar a lágrima incontida

Sob nuvens de fel e de pesar!...

Recordemos o chão...

Quando o lodo ameaça uma estrada indefesa,

Em cada canto roga a Natureza:

Trabalhar, trabalhar. 


Fita o aguaceiro que se fez tormenta.

Ao granizo que estala, o vento insulta;

Seio de mágoas que se desoculta,

A terra, em torno, geme a desvairar...

Mas, finda a longa crise turbulenta,

Sobre teto quebrado, pedra e lama,

Renasce a paz do céu que vibra e chama:

Trabalhar, trabalhar.

 

Ressurge, inalterado, o sol risonho,

Não pergunta se o mal ganhou no mundo

A tudo abraça em seu amor profundo,

A criar e a brilhar!

Recebe cada flor um novo sonho,

Cada tronco uma bênção, cada ninho

Canta para quem passa no caminho:

Trabalhar, trabalhar.

 

Assim também, nas horas de amargura,

Enquanto a sombra ruge ou desgoverna,

Pensa na glória da Bondade Eterna,

Acende a luz da prece tutelar!

E vencerás tristeza e desventura,

Obedecendo à voz de Deus na vida

Que te pede em silêncio à alma ferida:

Trabalhar, trabalhar.



 

DOLORES, Maria (Espírito). Antologia da espiritualidade. Psicografado por: Francisco Cândido Xavier. 6. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014.


segunda-feira, 9 de outubro de 2023

 A SUBLIME POESIA DE MARIA DOLORES

NOTÍCIAS DE DEUS

 

Vimos a Caridade,

Um anjo a visitar antiga furna...

Irradiava amor

E, dissipando, em torno, a escuridão noturna,

Fitava o Céu, dizendo ao Supremo Senhor!

— Agradeço, meu Deus, as almas escondidas,

No espinheiral do sofrimento

Que me deste a zelar,

Os corações sem sol, as derradeiras vidas

Nas fileiras da prova, aos arrancos do vento,

Que avançam sem destino, à distância do lar!...

 


Agradeço o trabalho entre os irmãos do mundo,

Que endereçaste a mim, quando rolaram fundo

Nos precipícios da desilusão...

Porque aprendo com eles quando dói,

A loucura da inércia que destrói

Tudo o que prestigia o coração!...

 

Agradeço os enfermos das calçadas,

As mães sozinhas e desamparadas,

Em constante aflição para sobreviver,

As crianças sem rumo e os pedintes sem nome,

A imensa multidão que a penúria consome,

Para a qual a existência é sempre o anoitecer...

 

Agradeço-te, oh! Pai, os braços de carinho

Que me puseste no caminho,

Que se olvidam no bem – no bem que não se cansa –

Que me apoiam a luta dia a dia,

Transformando-se em luz para a noite sombria

Em que devo espalhar reconforto e esperança...

 

Sê louvado, meu Deus, pelos talentos nobres

Da Ciência e da Arte em que te cobres

Para que o mundo cinja o esplendor estelar!...

Mas perante a ampliação da Grandeza Celeste,

Sê bendito, Senhor, porque me deste

A dor da Terra para minorar!...

 

Nisso, ouvimos alguém de próxima choupana...

Era triste mulher na cruz da prova humana,

A suplicar, em prece, alívio e proteção!...

Calou-se a Caridade e abeirando-se dela,

Envolveu a doente em luz serena e bela,

Dando-lhe paz e fé nas bênçãos da oração...

 

De imediato,

A dor fez-se esquecida

E entendemos então

Com reverência enternecida,

— Nós que também buscamos

Apoio em devotados cireneus,

Que a Caridade é sempre em nossa vida,

A notícia real da presença de Deus.

 

DOLORES, Maria (Espírito). Maria Dolores. Psicografado por Chico Xavier. 1. ed. Imp. pequenas tiragens. Brasília: FEB; São Paulo: IDEAL, 2022.

 


domingo, 8 de outubro de 2023

 

A SUBLIME POESIA DE MARIA DOLORES



GENTE NOSSA

 

No atendimento à penúria

Da multidão que desfila

De alma cansada e intranquila,

Rogando agasalho e pão,

Não digas que esse trabalho

Vem de vaidade ou loucura

Desprimorando a cultura

Ou deprimindo a visão...

 

Silencia por instantes

O alarme da inteligência

E escuta na consciência

O coração a falar;

Essa fila enorme e aflita

É nossa família à frente,

Pedaço de nossa gente,

Em torno de nosso lar.


De sentimento a guiar-te,

Notarás no próprio peito

Surgir imenso respeito

Por esses irmãos na dor;

Olha o garoto que passa,

Enfermo, de olhar sem brilho,

Podia ser nosso filho,

Gritando por nosso amor.

 

Fita os irmãos fatigados

Sob as rugas da incerteza,

Marcados pela tristeza

De quem vive sempre a sós;

Foram jovens cintilantes,

Que em meio à graça e ao ruído,

Talvez pudessem ter sido

Nossos pais, nossos avós...

 

Alegra-te por servi-los.

Doar-lhes paz e esperança

É próprio de quem avança

Cumprindo as Divinas Leis;

Acolhe-os e escutarás

A voz do Cristo, onde fores:

— “Todo o amparo aos sofredores

É sempre a mim que o fazeis.”

 

(DOLORES, Maria. In: Alma e vida. Psicografado por Chico Xavier. São Paulo: Cultura Espírita União, 1984, p. 49)

 


sábado, 7 de outubro de 2023

 

EM DIA COM O MACHADO 596:

O homem que se veste com sacos de lixo

Brasília, DF

Irmão Jó


 

De tempos para cá, após a fase pior da pandemia da Covid-19, temos visto um rapaz, próximo ao comércio da Asa Norte, em Brasília, que se veste com sacos de lixo marrons e aborda os transeuntes aos quais estende a mão, em geral somente olhando as pessoas nos olhos, para que lhe deem alguns trocados.

Apiedados dele, alguns moradores dão-lhe roupas e calçados, entretanto, no dia seguinte, se deparam com ele vestido da mesma forma que antes. As roupas e os calçados podem ser encontrados jogados em algum  contêiner destinado a lixo.

Disseram-me que ele não aceita que lhe deem roupas. Seu desejo é trajar-se com sacos de lixo, que abre, costura e envolve seu corpo com esse traje. Se lhe oferecem alimento, costuma recusar.

Segundo também ouvi falar, ele é perturbado mental e os trocados que ganha são gastos com drogas. De que tem algum distúrbio da mente, se eu tinha dúvida, agora já não mais a tenho.

Ele também não tem paciência para esperar a ajuda que pede, praticamente sem falar, apenas se aproximando das pessoas com uma  das mãos estendida. Em geral, quando me vê, aproxima-se de mim com esse gesto. Há dois dias, quando eu estava entrando na farmácia, avistei-o junto de lixeira. Ele veio ao meu encontro e, para não abrir a carteira na rua, pedi-lhe para aguardar um pouco, pois na saída da farmácia eu lhe daria a espórtula pedida. Demorei-me cerca de 10 minutos, pois havia bastante gente na farmácia e, quando saí, ele havia desaparecido.

Hoje, ao sair do mercado com algumas compras, avistei-o do outro lado da rua, vestido com os sacos de sempre. Escondi-me atrás de um poste para tirar o dinheiro que lhe pretendia  dar e, para meu espanto, assim que guardei a carteira ele apareceu ao meu lado, com a mão estendida.

Dei-lhe o dinheiro que tivera tempo de passar da carteira ao bolso, mas talvez por pena, talvez por remorso por não o ter atendido de imediato antes, tentei conversar com ele.

— Por que você se veste assim? Posso dar-lhe uma roupa, eu disse-lhe.

Ele nada respondeu, mas meneou a cabeça negativamente. Então tornei a perguntar-lhe:

— Onde você mora?

Dessa vez, ele falou:

— Moro na rua.

Como eu havia comprado umas latas de cerveja, para oferecer a familiares que foram convidados a almoçar conosco no próximo domingo, perguntei-lhe se não gostaria de tomar uma cerveja. Apenas lembrei que a bebida não estava gelada.

Sua resposta foi mostrar-me entre os dedos o dinheiro recebido e balançar negativamente a cabeça. Afastei-me penalizado, sem saber mais o que fazer.

A única certeza, ou quase isto, que tenho é que, se tudo estiver bem com ele, amanhã ou depois eu o verei debruçado numa lixeira, vestido com os mesmos sacos de lixo. E, tão logo me veja, estenderá a mão para que eu lhe dê uma esmola, mas não aceitará nada para vestir, comer ou beber que eu lhe ofereça.

 


  Propriedade Intelectual (Irmão Jó) Houve época em que produzir Obra de arte legal Era incerto garantir Direito intelectual.   Mas com tant...