Páginas

terça-feira, 30 de junho de 2020




EM DIA COM O MACHADO 425:
três pilares da educação segundo Sebastião (Jó)

            Desde os cinco anos de idade, recordo-me destes ensinos do meu pai: a primeira coisa é nunca mentir, seja o que for que tenha feito. — Assuma seus atos, mesmo sabendo que será advertido... A mentira tem pernas curtas, repetia ele, por fim, esse refrão popular.
            Ao longo da vida, eu procuro seguir seu conselho onde quer que esteja. Relembro a história que narrei tempos atrás. O pai dizia para seu filho jamais mentir, pois isso era feio. Minutos depois, estando aquele senhor ocupado com trabalho em seu lar, o telefone tocou, e o menino foi logo atender. Em seguida, voltou e disse ao pai: — É para o senhor...
            Esquecido das recomendações dadas, há pouco tempo, o pai disse-lhe baixinho: — Diga que não estou.
            Isso faz-me relembrar, também, a recomendação de um coronel do Exército, na unidade militar em que servi, na época de soldado, no Rio de Janeiro: — Nunca digam: façam o que eu digo, mas não façam o que eu faço. Ao contrário, recomendem: façam o que eu digo, mas principalmente o que eu faço.
            Mentir é um defeito feio e desonesto, que aprendi com seu Sebastião a jamais ter. A não ser que isso seja necessário e plenamente justificado, como ato de caridade visando a salvar uma reputação ou mesmo a vida de alguém. Ainda assim, é sempre importante avaliar antes se o adiamento da verdade justifica tal atitude. No momento certo, porém, a verdade deve sempre prevalecer. Fora disso, a mentira com a intenção de se beneficiar com algo que não temos ou com o que não somos é injustificável.
            Esse foi o primeiro pilar da educação de papai, o seu Sebastião. O segundo foi o de que devemos ser sempre honestos. No direito, existe uma teoria denominada “teoria da insignificância”. Com base nela, um juiz pode absolver o acusado de ato cometido. O outro motivo judicial para não condenar alguém é o “roubo famélico”. A pessoa rouba um alimento para não adoecer ou morrer de fome. Meu pai, entretanto, embora fôssemos muito pobres, recomendava-nos sempre ser honestos. Nas mínimas coisas. Se ao comprar um pão, o padeiro errasse o troco, em qualquer valor, para mais, deveríamos restituir a diferença imediatamente.
O último pilar inesquecível de seu Sebastião é este: a lei da reencarnação é a única que confirma a Justiça Divina. — Como explicar tanta desigualdade, na Terra, sem que haja um Deus justo, questionava? Como explicar que uns nasçam ricos, com acesso a tudo de material que desejem, ao passo que outros nasçam debaixo de uma ponte, nus e alimentando-se com as migalhas que passantes piedosos lhes atirem? Que tantos nasçam perfeitos, enquanto outros nasçam deficientes? Pessoas que, desde a infância demonstram uma inteligência muito acima do normal e outras cuja capacidade intelectual seja muito baixa? Crianças muito bondosas, desde os primeiros anos de seu nascimento, e outras, já com tendência ao mal nessa fase da vida. Sem a reencarnação, essas e outras diferenças não se justificariam.
            Por nunca duvidar das palavras do seu Sebastião, busco sempre pautar minha vida com base nestes três pilares: verdade, honestidade e justiça da reencarnação. Com isso, busco sempre aprender para melhor servir e servir para vir a ser melhor. Sem isso, haja dor de cotovelo, dor de consciência e falta de coerência...

domingo, 28 de junho de 2020




João, bispo de Bordeaux, 1862



Sejam indulgentes com as faltas alheias, quaisquer que elas sejam. Não julguem com severidade senão suas próprias ações, pois o Senhor usará de indulgência com vocês, do mesmo modo como forem indulgentes com os outros.

Sustentem os fortes: encorajem-nos à perseverança; fortifiquem os fracos, mostrando-lhes a bondade de Deus, que leva em conta o menor arrependimento; mostrem a todos o anjo do arrependimento, estendendo suas brancas asas sobre as faltas dos humanos, e ocultando-as assim aos olhos daquele que não pode ver o que é impuro. Compreendam toda a misericórdia infinita de seu Pai, e nunca se esqueçam de lhe dizer em pensamento, mas sobretudo pelas suas ações: "Perdoe as nossas ofensas como perdoamos aos nossos ofensores". Compreendam bem o valor destas sublimes palavras. Não só a letra é admirável, como também o ensinamento que ela encerra.

Que solicitam ao Senhor quando lhe pedem perdão? Somente o esquecimento de suas ofensas? Esquecimento que os deixaria no nada, pois se Deus se contentasse de esquecer as suas faltas, não os puniria, mas também não os recompensaria. A recompensa não pode ser o prêmio do bem que não foi feito, e menos ainda do mal que se tenha feito, mesmo que esse mal fosse esquecido. Pedindo perdão para suas transgressões, o que lhe pedem é o favor de suas graças, para não caírem de novo, é a força necessária para entrarem num novo rumo de submissão e de amor, no qual poderão juntar a reparação ao arrependimento.

Quando perdoarem seus irmãos, não se contentem em estender o véu do esquecimento sobre suas faltas. Esse véu é frequentemente muito transparente aos seus olhos. Acrescentem o amor ao seu perdão. Façam por eles o que pediriam a seu Pai Celeste que fizesse por vocês. Substituam a cólera que mancha pelo amor que purifica. Preguem pelo exemplo, essa caridade ativa, infatigável, que Jesus lhes ensinou. Preguem-na como Ele mesmo o fez durante todo o tempo em que viveu na Terra, visível aos olhos do corpo, e como ainda prega, sem cessar, depois que se fez visível apenas aos olhos do espírito. Sigam esse Divino Modelo, caminhem sobre suas pegadas; elas os conduzirão ao refúgio onde encontrarão o descanso após a luta. Como Ele, todos vocês tomem sua cruz e subam penosamente, mas corajosamente, seu calvário: no seu topo está a glorificação.



Tradução livre, em terceira pessoa, pelo Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira.

sexta-feira, 26 de junho de 2020


KARDEC PROSSEGUE...
Jorge Leite de Oliveira

“O homem que se esforça seriamente por se melhorar
assegura para si a felicidade já nesta vida.” 
(KARDEC, 2009, preâmbulo)


Estava-se em 17 de janeiro de 1857, nos primeiros anos de observação e experimentação do Codificador do Espiritismo. Informa-nos Allan Kardec que, em reunião mediúnica na casa do Sr. Baudin, a filha deste psicografou uma mensagem do Espírito Z, protetor de Kardec, na qual o alertava para não exagerar em seus trabalhos, reconhecendo embora o esforço imenso que a obra lhe requeria.
Pedia-lhe Z para não se deixar levar pelos “entusiastas, nem pelos muito apressados” e que, embora os elevados conhecimentos que lhe seriam postos ao alcance, mais do que a qualquer outra pessoa, somente após muito tempo a verdade seria conhecida e aceita por todo o mundo. E conclui deste modo: “Terás que voltar, reencarnado em outro corpo, para completar o que houveres começado e, então, te será dada a satisfação de ver em plena frutificação a semente que houveres espalhado sobre a Terra” (KARDEC, 2009, p. 379).
É interessante a observação inicial feita abaixo dessa informação pelo Codificador: “Já tive ocasião de dizer que Z não era um Espírito superior, porém muito bom e muito benfazejo [...]”. Mas esse não foi o único Espírito a anunciar uma próxima reencarnação de Kardec, o próprio Espírito de Verdade a prenunciaria alguns anos após seu primeiro aviso.
Três anos depois, no dia 24 de janeiro de 1860, Allan Kardec estava na casa do Sr. Forbes. O Codificador do Espiritismo havia calculado a duração de seus trabalhos em cerca de dez anos. Então, recebeu do Espírito de Verdade, manifestado por intermédio da Sr.ª Forbes, a confirmação de que esse seria o tempo aproximado de conclusão de “sua tarefa”, embora acrescentando, o Espírito, que esse tempo poderia ser prolongado por alguns anos, caso houvesse necessidade (op. cit., it. Duração dos meus trabalhos, p. 385).
Em 10 de junho de 1860, em casa de Kardec, a médium Sr.ª Schmidt transmitiu-lhe a informação do Espírito de Verdade de que o insigne Codificador regressaria, “por um pouco” ao Mundo Espiritual, mas teria de “voltar à Terra” a fim de concluir sua missão (id., p. 389). Allan Kardec deduz que seu retorno dar-se-ia no fim do século XIX ou no início do século XX. E como calcula o tempo de seu crescimento e idade necessária para prosseguir seu trabalho, com base nas fases de infância e juventude, é natural que o Codificador do Espiritismo imaginasse sua reencarnação nessa época (id., p. 390). Nada mais lógico, pois a previsão de seu retorno à vida física fora ratificada pelo Espírito de Verdade, que representa a manifestação do Pensamento e da Vontade de Jesus Cristo. O tempo, entretanto, para os Espíritos superiores, não possui a mesma medida que é adotada por nós, nesse curto espaço de anos de uma existência no mundo físico.
Seria, ainda, natural imaginar-se que, a ser cumprida a previsão do Espírito Erasto e do Espírito de Verdade, Kardec reencarnasse na própria França, para continuar seu trabalho, inclusive de união e uniformização dos conceitos doutrinários entre os países europeus, como o seu, e os Estados Unidos. Tal necessidade devia-se ao fato de que o povo americano e inglês rejeitava, em especial, a ideia da reencarnação; por isso, a Nova Revelação, chamada Neoespiritualismo, nos países de língua inglesa, precisava da autoridade moral e intelectual de alguém, como Kardec, para promover a união e unificação espírita em todo o mundo. Assim, justifica-se a previsão do representante de Jesus, mas em tempo indeterminado.
Em mensagem póstuma, o Codificador esclarece que o ponto polêmico para a unificação da Doutrina Espírita era, justamente, o da reencarnação, princípio que ele próprio estranhou, quando lhe fora revelado pelos Espíritos, mas acabou por acatá-lo, por encontrar, na “lei dos renascimentos”, a única forma de se aceitar a Justiça de Deus. Se o ponto principal motivador das controvérsias da fé espírita para a do chamado Neoespiritualismo, em especial entre os EUA, Inglaterra e França era esse, o tabu vem sendo demolido por pesquisadores norte-americanos há várias décadas.
Um dos primeiros cientistas que divulgou suas descobertas sobre crianças de poucos anos de vida que lembravam de suas encarnações anteriores foi Ian Stevenson, psiquiatra e professor da Universidade Escola de Medicina de Virgínia. Sua obra, intitulada em português Vinte casos sugestivos de reencarnação, ficou mundialmente conhecida. Stevenson teve, entre seus discípulos norte-americanos, Walter Semkiw e Jim Tucker, que continuaram suas pesquisas, sempre confirmando suas descobertas.
Outra pesquisadora é Helen Wambach, psicóloga norte-americana que publicou os livros Recordando vidas passadas (1978) e Vida antes da vida (1982). Diversos outros psiquiatras e psicólogos norte-americanos e europeus vêm comprovando aquilo que os Espíritos disseram a Kardec: o aperfeiçoamento do Espírito e a Justiça de Deus exigem nossa reencarnação (KARDEC, 2013, q. 166 e 167).
O Codificador do Espiritismo, entretanto, fez um trabalho monumental, no qual construiu, com as cinco obras básicas do Espiritismo, complementadas pela Revista Espírita, a essência de uma Filosofia de consequências morais suficientes para esclarecer-nos sobre nossa origem, finalidade e destino nos planos físico e espiritual. Já a unificação dos princípios universais demandaria ainda muito tempo, dada a influência milenar da Igreja sobre as mentes humanas por meio de seus dogmas e interesse em manter, para si, o monopólio das verdades sagradas.
            Por outro lado, a expansão das teorias materialistas e socialistas, na cultura dos diversos países europeus e em grande parte do mundo, inibiu a atuação das religiões sobre o comportamento humano no século XX e em nossos dias. Acrescem-se a isso os diversos conflitos bélicos mundiais favorecendo a ascensão de governos ditatoriais, empenhados em coibir a manifestação religiosa, em especial a do Espiritismo, por sua proposta antimaterialista, em nações como Rússia, Espanha, Portugal, Itália, entre outros, onde o culto religioso foi proibido ou limitado pelos governos ateus no século passado.
Na França de Kardec, a intolerância da Igreja, aliada ao espírito cético acadêmico, relegou o Espiritismo a um ostracismo que, aos poucos, vem sendo ali superado, graças aos esforços de espíritas brasileiros e coirmãos locais como, aliás, ocorre em vários países.
            O Espiritismo precisava expandir-se novamente. E nada melhor do que essa expansão ser feita em pátria como o Brasil, onde a tolerância religiosa e o espírito de fraternidade predominam. Para isso, Jesus Cristo já havia escolhido os Espíritos de escol que dariam continuidade às manifestações do Mundo Espiritual. Como diz o Espírito Emmanuel, no prefácio do livro Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho,

O Brasil não está somente destinado a suprir as necessidades materiais dos povos mais pobres do planeta, mas também a facultar ao mundo inteiro uma expressão consoladora de crença e de fé raciocinada e a ser o maior celeiro de claridades espirituais do orbe inteiro (In: XAVIER, 2013, p. 7).

Desse modo, médiuns extraordinários surgiram na Terra, como Vera Krijanowski, na Rússia, Amália Domingo Soler, na Espanha, Fernando de Lacerda, em Portugal. Contudo, principalmente ao Brasil caberia a tarefa de sua restauração e expansão mundiais, com a reencarnação de um número seleto de médiuns altamente evangelizados e idealistas.  
            Allan Kardec voltou a estar conosco, mas em Espírito, como lemos nas mensagens ditadas por ele, no final do século XIX, publicadas na Revista Espírita, após sua desencarnação, e também nas primeiras três décadas do século XX, quando se manifestou, na França, por intermédio de “médium em transe”, diversas vezes, como foi citado por Léon Denis, em seu prefácio à obra Biografia de Allan Kardec (2012).
Denis esclarece-nos que Kardec, desde 1925, passou a comunicar-se com seu grupo e, a partir de então, em novas manifestações, insistiu com ele para publicar a obra O gênio céltico e o mundo invisível (In: SAUSSE, 2012, p. 14). Denis publicou essa obra, que tanto o emocionou, quando já era bastante idoso e estava em avançado estado de cegueira (op. cit., p. 15). Nessa época, aquele que seria considerado um dos maiores médiuns de todos os tempos, Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier, já reencarnara e estava, entre nós, com a idade de quinze anos.
Por esse tempo, outra médium excelente, no Brasil, receberia diversas comunicações do Codificador: Zilda Gama. Essa médium, que nasceu em 11 de março de 1878 e faleceu em 10 de janeiro de 1969, com 90 anos de idade, em 1912, também psicografou a primeira mensagem assinada por Allan Kardec. Segundo ela informou, dessa data até 1927, esse Espírito dirigiu suas atividades espirituais.
Essa médium foi a primeira destacada psicógrafa das mensagens dos Espíritos no Brasil, e sua obra mediúnica precisa ser melhor estudada, tal é a genialidade do seu principal comunicante, o Espírito Victor Hugo, e a idoneidade moral da médium. Na introdução do livro intitulado Na sombra e na luz, ditado por esse Espírito, Zilda Gama assegurou-nos não ter havido qualquer participação sua, no que escreveu, como ocorreu com outras obras do gênero romance ou novela, por ela psicografadas. Por fim, afirma-nos, em comovente demonstração de honestidade, o seguinte:

Detesto o embuste. Como aluna da extinta Escola Normal de São João del-Rei, parece-me ter lá deixado um nome imáculo; exercendo o magistério público, tenho-me esforçado por ser irrepreensível, e pelo governo deste estado já me foram conferidas quase todas as provas de apreço a que faz jus o magíster mineiro. Na minha vida privada nunca pratiquei uma ação que fosse censurável. Tenho, pois, minha reputação ilibada, que muito prezo e não a quero macular faltando à verdade ou usando de qualquer burla para me salientar perante o público, que respeito e muito temo (GAMA, 2007, p. 16).

            Assim também tem sido com outros médiuns brasileiros conhecidos por sua conduta moral irrepreensível, como Yvonne do Amaral Pereira, também desencarnada em avançada idade, e, ainda entre nós, Divaldo Pereira Franco, que, além de psicografar centenas de obras, dirige a Mansão do Caminho, instituição social espírita de Pau da Lima, em Salvador, BA, que educa, alimenta e cuida da saúde física e espiritual de milhares de cidadãos locais há décadas. Divaldo é ainda um dos mais destacados conferencistas espíritas do Brasil, reconhecido internacionalmente. E, sabiamente, ele criou um conselho de membros espíritas para dar continuidade à sua obra, quando desencarnar.
            Essa foi também a preocupação de Allan Kardec, que tem sido seguida por diversas instituições espíritas no Brasil. Pressentindo que sua obra estava concluída, criou uma comissão central encarregada de continuar a obra, que, humildemente, afirmava não ser dele e, sim, dos Espíritos superiores, emissários do Cristo.
Essa comissão, entre outras funções, teria o encargo de propagar a Doutrina Espírita, manter-lhe a unidade e integralidade dos seus princípios, estimular a fraternidade entre os espíritas e suas instituições, além de administrar todos os setores criados.
Qual ocorre com os grandes missionários, Kardec e Chico Xavier reuniam todas as condições morais para dar prosseguimento à grandiosa obra de renovação moral do mundo. Transcenderam a matéria, com todas as suas mazelas e, portanto, a nosso ver, não mais necessitam retornar ao nosso mundo físico senão em Espírito. Salvo em missão muitíssimo especial e daqui a um tempo relativamente longo para nós, curto, todavia, para Jesus.
Chico expandiu o aspecto religioso do Espiritismo com a elevada obra psicografada, cujo principal comunicante foi o Espírito Emmanuel, que nos legou belos romances, como Renúncia e a obra histórica Paulo e Estêvão, além de grande quantidade de livros com mensagens doutrinárias de profunda elevação e calcadas no Evangelho de Jesus.
Kardec não somente observou, coletou, analisou e organizou as mensagens recebidas por diversos médiuns, como também consolidou as bases do tripé: Ciência, Filosofia e religião. Seus comentários, nas obras codificadas e na Revista Espírita, demonstram, como ocorria com o médium mineiro, grande humildade, mas também um preparo intelectual, fruto de primorosa educação, que o credenciou, perante Jesus, a ser o mensageiro do cumprimento da sua promessa de enviar, à Terra, o Consolador, quando sua Doutrina ameaçasse ser esquecida, para no-la relembrar e permanecer conosco para sempre.
Kardec, portanto, prossegue trabalhando com o Cristo e com os Espíritos bons, a fim de combater, pelo amor em ação, e pelo incentivo ao estudo elevado, as nefastas influências da ignorância espiritual no mundo. Entretanto, conta também com o nosso amor e perseverante esforço, no estudo de sua obra, para “domar as nossas más inclinações”, a fim de podermos atestar nossa “transformação moral” e demonstrar, mais pelos exemplos que pelas palavras, nossa condição de discípulos de Jesus e de sua 3ª Revelação: a Doutrina Espírita.

Referências

KARDEC, Allan. Obras póstumas. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2009.
______. O livro dos espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 93. ed. Brasília: FEB, 2013 (ed. histórica).
______. Revista Espírita. Ano décimo segundo – 1869. Tradução Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB, 2005.
SAUSSE, Henri. Biografia de Allan Kardec. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2012.
ESPIRITISMO RESSURGE NA EUROPA. Entrevista com Josef Jackulak. Disponível em:< http://visaoespiritabr.com.br/noticias/espiritismo-ressurge-na-europa>. Acesso em 10 de março de 2017.
FORMIGA, Luiz Carlos. O materialismo e a tarefa de Vlado. Disponível em: https://blogdobrunotavares.wordpress.com/2017/03/06/o-materialismo-e-a-tarefa-de-vlado-por-luiz-carlos-formiga/. Acesso em 10 de março de 2017.
XAVIER, Francisco Cândido. Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho. Pelo espírito Humberto de Campos. 33. ed. Brasília: FEB, 2013.

Publicado em Reformador, periódico mensal da Federação Espírita Brasileira, em outubro de 2017.

terça-feira, 23 de junho de 2020



EM DIA COM O MACHADO 424
Os falsos profetas ante a lei do amor (Jó)
FRATERLUZ: Falsos Profetas

No capítulo XXI d'O Evangelho Segundo o Espiritismo, item 10, o Espírito Erasto, discípulo de Paulo, ao se referir a falso profeta do mundo espiritual, diz o seguinte:

[...] todas as vezes que um Espírito indica, como remédio aos males da humanidade ou como meio de conseguir-se a sua transformação, coisas utópicas e impraticáveis, medidas pueris e ridículas; quando formula um sistema que as mais rudimentares noções da ciência contradizem, não pode ser senão um Espírito ignorante e mentiroso.

                Esse comentário de Erasto, que também se aplica a nós, surge em decorrência do que Jesus já nos alertara sobre os "falsos cristos e falsos profetas". Precisamos ter cuidado, pois embora o Espiritismo nos informe sobre a inexistência de demônios no Plano Espiritual, sabemos, não somente pela leitura da obra codificada por Allan Kardec, como também das que lhe são complementares, que há Espíritos perversos, no Além, que tramam contra as leis divinas durante vários séculos. Diversas obras espíritas esclarecem-nos sobre isso, em especial citamos as obras do Espírito Philomeno de Miranda, que realizam excelente trabalho de esclarecimento espiritual a todos que as leem.
        Chega um dia, porém, que tais seres embrutecidos têm seu livre-arbítrio suspenso. É quando, ainda que Deus seja infinitamente bom, esses Espíritos percebem que Ele também é infinitamente justo. E, por ser assim, para o próprio bem de tais criaturas, encarnadas ou desencarnadas, surge a necessidade da correção severa desse Pai amoroso, que por tanto tempo aguardou que esses seus filhos réprobos abandonassem a rebeldia, saíssem das trevas e ingressassem na luz.
        Então, como lemos nesta quadra simples e espirituosa, para quem nada tem a temer, mas de inconteste verdade, o Espírito Casimiro Cunha, na obra Dicionário da Alma, psicografada por Chico Xavier, esclarece-nos:

Na verdade, Deus é bom,
Mas se o filho é rude e mau,
Por vezes, descem do céu
Pedra e fogo, corda e pau.
       
        E, como diz o Espírito Emmanuel, na mesma obra:

Seremos defrontados pelas arremetidas da sombra, pelas ciladas sutis do mal, pelos aguilhões do ódio, pelo veneno viscoso da discórdia e pelos tóxicos da incompreensão, entretanto, o nosso programa fundamental permanece traçado na revivescência do Evangelho Redentor.

        A Lei Suprema de Deus, que reside em nossa consciência, chama-se Amor. E foi por Amor que Jesus nos provou a imortalidade e nos deixou também este alerta: "Mete no seu lugar a tua espada, porque todos os que lançarem mão da espada à espada morrerão.” – Mateus, 26:52 (Bíblia Sagrada. Trad. João Ferreira de Almeida).
        Reflitamos nisso, optemos pelo bem, e seremos felizes.


sábado, 20 de junho de 2020




A INDULGÊNCIA - Para 19/6/20
José
Espírito protetor, Bordeaux, 1863

Espíritas, queremos hoje falar-lhes da indulgência, esse sentimento tão doce, tão fraternal, que toda pessoa deve ter para com os seus irmãos, mas que tão poucos praticam.

A indulgência não vê os defeitos dos outros, ou, se os vê, evita comentá-los e divulgá-los. Ao contrário, oculta-os, para que não sejam conhecidos somente dela e, se a malevolência os descobre, ela tem sempre uma desculpa pronta para os disfarçar, isto é, uma desculpa plausível, séria, e não daquelas que, aparentando atenuar a falta, mais a evidenciam com hábil perversidade.

A indulgência jamais se preocupa com os maus atos alheios, a menos que seja para prestar um serviço, mas ainda assim ela tem o cuidado de os atenuar tanto quanto possível. Não faz observações chocantes, nem tem censuras nos lábios, mas apenas conselhos quase sempre velados. Quando você critica, que consequência se deve tirar de suas palavras? A de que você, que censura, não pratica o que condena, e vale mais do que o culpado. Ó humanidade! Quando passará a julgar seu próprio coração, seus próprios pensamentos e seus próprios atos, sem se ocupar do que fazem seus irmãos? Quando abrirá seus olhos somente sobre si mesma?

Sejam, pois, severos para consigo mesmos, indulgentes para com os outros. Lembrem-se daquele que julga em última instância, que vê os secretos pensamentos de cada coração e que, por conseguinte, desculpa frequentemente as faltas que censuram ou condena as que desculpam, porque conhece o motivo de todas os atos. Lembrem-se de que vocês, que clamam bem alto: "anátema!", talvez tenham cometido faltas mais graves.

Sejam indulgentes, meus amigos, porque a indulgência atrai, acalma, corrige, enquanto o rigor desanima, afasta e irrita.

Tradução livre, em terceira pessoa, pelo Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira.

quinta-feira, 18 de junho de 2020




As Moradas Espirituais Divinas
Jorge Leite de Oliveira
Como será o Novo Céu e a Nova Terra? A terra será destruída?

O Evangelista João anota algumas das últimas recomendações do Cristo: "Não se perturbem. Creiam em Deus e também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai. Se não fosse assim, Eu já lhes teria dito, pois  vou preparar seus lugares. E, depois que me for e já tiver feito isso, voltarei e os levarei comigo para o Reino de Deus" (João, 14: 1 a 3).
Perturbar, segundo o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, significa “causar abalo ou comoção a”, perder a paz ou a “serenidade de espírito”. Jesus é o nosso maior exemplo de tranquilidade diante da mais absurda acusação, perseguição e morte cruel e injusta. Por já saber o que o aguardaria, disse a seus apóstolos, estas palavras, que também se dirigem a nós: “Deixo-lhes a paz.  Dou-lhes minha paz”. Mas, em seguida, completa que sua paz não é a que o mundo nos dá e volta a recomendar: “Não se perturbe nem se intimide seu coração” (João, 14: 27).
            Allan Kardec esclarece-nos que a palavra casa, no contexto da primeira frase, supracitada, representa o Universo, e as muitas moradas podem ser tanto os mundos que circulam no Universo quanto o Mundo Espiritual, que ele chamava de “erraticidade”, espaço metafísico no qual o Espírito pode sentir-se feliz ou infeliz, conforme o uso que tiver feito do seu livre-arbítrio. Por espaço metafísico entendemos as outras “moradas não circunscritas nem localizadas”, ou seja, o do Mundo dos Espíritos, que interpenetra o nosso, sem influência da matéria como a conhecemos,  e que transcende os sentidos físicos normais.
            É sobre esse mundo que tratamos aqui: o de nossa “morada espiritual”. Seus habitantes, os  Espíritos, estão permanentemente em contato conosco, que ainda estamos na “veste física”. Nossos atos e pensamentos são observados por eles, que nos influenciam de modo a poderem até mesmo nos “dirigir” (KARDEC, 2017, q. 456- 459).
Isso não quer dizer  que não tenhamos livre-arbítrio no pensar, falar e fazer do cotidiano de nossas vidas. A responsabilidade de todos os nossos atos é, principalmente, nossa. Salvo se não tivermos controle mental deles, como no caso da loucura. Sabendo dessa poderosa influência espiritual, que pode ser muito boa, ou muito má, Jesus nos recomendou ficar atentos, orando e vigiando, constantemente, nossos pensamentos, palavras e atos (Marcos, 13:33).
Um ditado popular já nos alerta: “Diz-me com quem andas e te direi quem és”, ou seja, dependendo de nossa companhia, esteja ela no plano físico ou no plano espiritual, nós mostramos quem somos. Refletindo nisso, Kardec adaptou e ampliou o ditado, “em relação aos nossos Espíritos simpáticos”, que nos acompanham: “Diz-me o que pensas e te direi com quem andas” (KARDEC, 1859).
Na questão nº 621 de O livro dos espíritos, em resposta à pergunta de Kardec sobre onde se situa a Lei de Deus, é-lhe dito que ela está “na consciência”. Então, essa seria outra morada da Casa de Deus. Por isso, é muito importante que evitemos qualquer atitude em relação às outras pessoas e às demais criaturas divinas que,  cedo ou tarde, nos provoque remorso.
            Livre da matéria, o Espírito, por efeito de sua vontade, pode ir a qualquer lugar que lhe seja permitido por Deus. Mas, ao preparar-se para uma nova encarnação, o grupo espiritual responsável por ele, prepara o Espírito, por meio de conselhos, esclarecimentos e estímulos para seu sucesso no retorno à vida física. Ninguém, jamais, fica só, seja no Mundo Espiritual, seja no Mundo Físico. O objetivo é sempre o do progresso, pela depuração do mal que ainda exista em cada um. Isso resulta da prática do bem e da conquista da sabedoria.
            O Espírito Mesmer manifestou-se, pela mediunidade de Delanne, não o filho, Gabriel Delanne, à época muito jovem, mas a seu pai, e comunicou que não devemos elevar-nos apenas pela virtude, mas também pela purificação da matéria. Esclarece-nos Mesmer que “o mundo dos invisíveis” é como o nosso mundo físico, mas é “etéreo”, como o perispírito, “verdadeiro corpo do Espírito, haurido nesses meios moleculares”. Nosso mundo é reflexo grosseiro e muito imperfeito do existente no Além-Túmulo.
            Somos, por fim, esclarecidos de que sempre houve relação entre esses dois mundos. Quando compreendermos as conexões entre as leis que os regem, a Lei Divina estará próxima de sua execução. Nesse tempo, segundo o Espírito Mesmer, cada um de nós “[...] compreenderá sua imortalidade e, a partir de então, não apenas se tornará um ardente trabalhador da grande causa, mas, também, um digno servidor de suas obras” (KARDEC, 1865).
Há diversos outros relatos sobre a vida no Mundo Espiritual, como os das médiuns Zilda Gama, Yvonne Pereira e outros, não somente no Brasil, mas em diversos países. Também sobre a comprovação desse mundo, eterna morada da Casa do Pai, podemos citar as extraordinárias obras psicografadas por Chico Xavier, como as da série de obras reunidas sob o título A vida no mundo espiritual, pela Federação Espírita Brasileira (FEB Editora), iniciada com o relato do que se passava na colônia espiritual Nosso Lar, pelo Espírito André Luiz, que deu título ao primeiro livro dessa série, num total de treze livros.
Igualmente marcantes são os relatos de Frederico Fígner, com o pseudônimo de “Irmão Jacó”, na obra intitulada Voltei (FEB Editora), por tratar-se de alguém que foi bastante conhecido no meio espírita e social do seu tempo, pelas obras caridosas e empresariais que realizou. A obra do Espírito Humberto de Campos, também psicografada por Chico Xavier, é de uma fidelidade estilística tão perfeita quanto se poderia esperar de um escritor que, aos 33 anos foi, considerado, no Rio de Janeiro, “Príncipe dos Prosadores Brasileiros”. Nesse tempo, 1919, Humberto era membro da Academia Brasileira de Letras e, em 1920, foi eleito Deputado Federal pelo Maranhão. Foi reeleito sucessivamente, até que a Revolução de 1930 dissolveu o Congresso.
            Em 1934, no auge da carreira literária, Humberto de Campos desencarna. Três anos depois, do Mundo Espiritual, pela psicografia de Chico Xavier, proporciona-nos sua primeira obra mediúnica, intitulada Crônicas de além-túmulo. Sua primeira crônica, nessa nova “morada da Casa do Pai, chama-se De um casarão do outro mundo.
            Nesse relato, desmistifica a ideia de um céu e de figuras bíblicas ali presentes, a aguardá-lo, como São Pedro e anjos tocando harpas, cantando e sendo acompanhados por um coral. Sua conclusão, agora que se deparara com a própria sobrevivência, da qual duvidara, em vida física, é de que o mundo físico é pouco significante, em relação ao mundo espiritual.
            Essa obra seria sucedida por outras. Todas elas atribuídas ao grande escritor, político e membro da Academia Brasileira de Letras. Sua grande importância deve-se ao relato, já nessa primeira crônica, de que Humberto fora levado para um “casarão” onde ele faria diversas pesquisas do que ele chamou de “folclore” do mundo espiritual e viria relatar-nos em mais onze livros. O segundo deles, foi o best-seller Brasil, coração do mundo, pátria do evangelho, que, até 2013, já tinha sido publicado 33 vezes e reimpresso quatro vezes em sua última edição.
            Humberto de Campos, em vida física, adotou diversos pseudônimos. O mais conhecido deles foi o de Conselheiro XX. Do Mundo Espiritual, suas cinco primeiras obras foram psicografadas com o nome Humberto de Campos, pelo médium Chico Xavier. Após processo movido contra a FEB por sua viúva, que a justiça deu ganho de causa à Federação, instituição a que Chico Xavier havia cedido seus direitos autorais, o Espírito comunicante optou pelo pseudônimo Irmão X, sob o qual ainda ditou ao médium mineiro outras sete obras.
            Todas as obras mediúnicas citadas, assim como as do Espírito Humberto de Campos, são atestados vivos da realidade do Mundo Espiritual, essa Casa do Pai que antecede à vida material e nos concita a superar a influência da matéria pela prática do bem e pela aquisição do conhecimento. Em relação aos céticos de todos os tempos, Allan Kardec dizia:

É sem dúvida lamentável para certas pessoas, como para certos colecionadores, que os Espíritos não possam ser postos dentro de um garrafão de vidro, a fim de serem observados à vontade; não imagineis, entretanto, que eles escapem aos nossos sentidos de maneira absoluta. Se a substância que compõe o seu envoltório é invisível em estado normal, também pode, em certos casos, como o vapor, mas por outra causa, experimentar uma espécie de condensação ou, para ser mais exato, uma modificação molecular que a torna momentaneamente visível e mesmo tangível. Então podemos vê-los, como nos vemos, tocá-los, apalpá-los; eles podem pegar-nos e deixar impressão sobre os nossos membros. Apenas esse estado é temporário; podem deixá-lo tão rapidamente quanto o tomaram, não em virtude de uma rarefação mecânica, mas por efeito da vontade, considerando-se que são seres inteligentes e não corpos inertes. Se a existência dos seres inteligentes que povoam o espaço está provada; se, como acabamos de ver, exercem uma ação sobre a matéria, que há de surpreendente em que possam comunicar-se conosco e transmitir seus pensamentos por meios materiais? (RE, dez, 1859, p. 464).

                Diversos sábios, como William Crookes (Fatos espíritas,  FEB Editora), e Alexandre Aksakof (Animismo e espiritismo, 2 v. FEB Editora), confirmaram as palavras acima de Kardec. Mais adiante, o Codificador do Espiritismo esclarece:

Com o materialismo, que é a crença de que morremos como animais, que depois de nós será o nada, o bem não terá nenhuma razão de ser, os laços sociais nenhuma consistência: é a sanção do egoísmo. A lei penal será o único freio a impedir o homem de viver à custa de outrem. Se fosse assim, com que direito puniríamos o homem que mata o semelhante para apoderar-se de seus bens? Porque é um mal, diríeis vós. Mas por que esse mal? Ele vos responderá: Depois de mim não há nada; tudo se acaba; nada tenho a temer; quero viver aqui o melhor possível e, para isso, tomarei dos que têm. Quem mo proíbe? Vossa lei? Vossa lei terá razão se for mais forte, isto é, se me pegar. Mas se eu for mais astucioso, se lhe escapar, a razão estará comigo (KARDEC, dez. 1859, p. 466).

            Um dos mais conceituados estudiosos espíritas do século passado, tradutor das obras de Allan Kardec, foi o filósofo brasileiro Herculano Pires. Eis a conclusão que esse  pesquisador chega, em relação à contribuição gigantesca do Espiritismo, para auxiliar a Humanidade a conhecer esse mundo eterno de onde viemos e para onde vamos, após a desencarnação, sem jamais nos extinguir, mas também nos proporcionando a certeza de que nada do que fazemos, aqui na Terra, fica sem resposta, se não perante as leis humanas, ante as Leis Divinas:
Sir Oliver Lodge, o grande físico inglês, entendia que o Espiritismo realiza uma nova revolução copérnica. Essa revolução consiste exatamente na modificação da nossa atitude em face do problema da vida. Se Copérnico destruiu a concepção geocêntrica do universo, o Espiritismo, por sua vez, destrói a concepção organocêntrica da vida. Do ponto de vista organocêntrico, que caracteriza o materialismo, a vida só é possível nos organismos vegetais e animais. O Espiritismo afirma e prova o contrário, ou seja, que a vida independe desses organismos e se manifesta por mil formas e maneiras diferentes, no universo infinito.
Os religiosos que criticam as descrições mediúnicas do além não deixam de aceitar essa descentralização da vida, mas não admitem a sua interpretação ou explicação racional. Apegam-se a dogmas, a princípios rígidos de fé, mantendo-se no plano do mistério. Entretanto, se convivessem um pouco mais com os textos sagrados de suas próprias religiões, veriam que a existência de cidades espirituais no além-túmulo, de habitações, vegetais e animais, não é, como supõem, uma invenção dos espíritas. O Velho Testamento e o Novo Testamento, por exemplo, estão cheios de descrições dessa ordem. Basta lembrar-se o que diz Isaías (33:17- 20) sobre “a terra de longe” e a “Sião da solenidade”, e o Apocalipse de João sobre a Jerusalém celeste (PIRES, 1989, p. 105-110).

            Tudo é vida no Universo. O Nada não existe, e os Espíritos Superiores, enviados do Cristo, sob a coordenação do Espírito de Verdade, que nos retransmite seus ensinamentos morais, vêm provar, aos que têm olhos de ver e ouvidos de ouvir, que somos eternos, que somos filhos de Deus e irmãos de Jesus, responsável, perante o Pai, por este mundo azul, no qual a vida pulula. E, se ainda nos encontramos imersos nas trevas da ignorância, é chegada a hora de abrirmos ou olhos e os ouvidos para vermos e ouvirmos as vozes celestes que nos repetem as brandas palavras do Cristo: “Irmãos! nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade” — O Espírito de Verdade (KARDEC, 2017, cap. VI, it. 5).
            Procuremos habitar as moradas Divinas de nossas mentes, higienizando-as com bons pensamentos, com propósitos elevados, com vontade de servir. Evitemos macular a morada de Deus, expressa na Lei que reside em nossa consciência, e esforcemo-nos para combater o mal que ainda trazemos arraigado na alma. Estudemos as obras que Allan Kardec nos legou, complementadas pelos relatos dos Espíritos benevolentes, cujas informações vêm sendo confirmadas por médiuns das mais diversas partes do mundo, atendendo, assim, ao critério do consenso universal proposto por Kardec, intuído pelos prepostos do Cristo. Certamente, assim, o Céu prometido pelo Senhor estará sendo edificado dentro de nós, como  é concedido, equanimemente, a cada vencedor do mal, o Reino de Deus com suas diversas moradas.


Referências

KARDEC, Allan. Revista Espírita, jul. 1859.
______. ______. maio de 1865.
______.______. dez. 1859.
______. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2017.
_____. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed.  Brasília: FEB, 2017.
PIRES, José Herculano. O infinito e o finito. São Bernardo do Campo: Correio Fraterno, 1989.
XAVIER, Francisco Cândido. Crônicas de além-túmulo. 16. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008.

Reformador – Federação Espírita Brasileira – fev. 2019 (capa)

terça-feira, 16 de junho de 2020

Jesus-e-o-jovem-rico | maisfe.org


EM DIA COM O MACHADO 423:
o jovem rico e Jesus (jó)

Conta-nos Mateus[1] que um jovem se aproximou de Jesus e lhe perguntou: —Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?
Jesus, que conhecia os mais recônditos pensamentos e sentimentos de qualquer pessoa, demonstrando profunda tolerância para com o jovem, após dizer-lhe que bom mesmo só Deus é, completa: —Guarda os mandamentos divinos, se queres entrar na vida.
Entrar na vida, para o Rabi da Galileia, é desprender-se das coisas materiais e cultivar as do espírito, haja vista serem aquelas temporárias e este ser eterno. Em Dicionário da Alma, psicografado por Chico Xavier, encontramos esta profundíssima frase, ditada pelo Espírito J. P. O. Martins: "O homem precisa convencer-se de que a única realidade da vida é a sua alma. Tudo o mais que o rodeia reveste-se do caráter transitório".
Estivesse convencido disso aquele jovem, que era muito rico, e ele entenderia o que depois lhe foi proposto por Jesus, quando este é novamente indagado: "Quais?".
E ouve do Cristo: — Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe e ama teu próximo como a ti mesmo.
Desejando mostrar-se justo, o jovem informa a Jesus que desde sua mocidade vinha guardando esses mandamentos. Com isso, imaginava preencher os requisitos básicos para ser herdeiro da vida eterna. Mas Jesus conhecia o apego do moço aos bens materiais. Daí fazer-lhe a proposta fundamental para que o rapaz revelasse o que, de  fato, guardava em seu coração: a usura, que leva tanta gente a amontoar tesouros na Terra, imaginando que são criaturas privilegiadas por Deus em relação aos menos afortunados: — Se queres ser perfeito, vai, vende tudo que possuis, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu... — Em seguida, faz-lhe último apelo: — E vem e segue-me.
Seguir Jesus é renunciar a todas as glórias e coisas efêmeras do mundo. É contentar-se com o que a bondade infinita de Deus nos concedeu e que fizemos por merecer com nosso trabalho. É desapegar-nos das coisas materiais, repartir os recursos que nos sobram à mesa com os que nada têm. É perdoar... É, enfim, ter a certeza de nossa impermanência na Terra, mas para onde teremos de retornar inumeráveis vezes, sofrendo os aguilhões da dor, enquanto não nos libertarmos das nossas imperfeições.
Aquele jovem, por estar apegado mais aos bens transitórios que aos espirituais propostos por Jesus, retirou-se cabisbaixo.
  Dias depois, participando de uma corrida de bigas, esporte comum às altas classes sociais na época, os cavalos tombaram em cima dele, que faleceu, deixando para trás todas as propriedades que imaginava possuir.
Precisamos conscientizar-nos de que, sendo Deus Amor, criou-nos por amor e para amar. Sendo assim, se nos afastamos do Seu Amor e do amor ao próximo, o instrumento de correção acionado por nossas consciências chama-se dor.




[1] Mateus, 19: 16 a 23.

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Jorge, o sonhador: EM DIACOM O MACHADO 423:o jovemrico e Jesus (jó)...

Jorge, o sonhador: EM DIACOM O MACHADO 423:o jovemrico e Jesus (jó)...: EM DIA COM O MACHADO 423: o jovem rico e Jesus (jó) Conta-nos Mateus [1] que um jovem se aproximou de Jesus e lhe perguntou: —Bo...

Cantinho da poesia

A presença de Deus
Autor: Jorge Leite de Oliveira



Perguntava aquele filho
A seu douto genitor
A respeito de alguns temas
Sobre o Supremo Senhor:

— Pai, onde é que Deus está?
— No espaço, na Terra e mar...
Ele está em toda a parte,
Até no singelo altar...

— E como podemos vê-Lo?
— Na vastidão do Universo,
Na força da Natureza
E na beleza de um verso...

— Mas como, então, percebê-Lo?
— Nas conquistas da Ciência,
Nos pensamentos dos sábios,
E na nossa Consciência...

— Podemos, pai, ouvir Deus?
—Nos pios de um passarinho,
Nos zumbidos de um inseto,
No amor provindo de um ninho...


— Que fazer para senti-Lo?
— No banho da cachoeira,
Nos raios do Sol ameno,
No perfume da roseira...

— Em tudo Ele está presente?
— Sim, mas nós estamos n'Ele...
Sendo Deus o nosso Pai,
Nós fazemos parte d'Ele.

Deus é o Amor Infinito!
Ele está em toda parte,
Está dentro de você,
E na beleza das artes.

E por ser Deus puro Amor,
E a ninguém ter por eleito,
Deu-nos por modelo o Cristo,
De todos o mais perfeito.

O nosso Mestre Jesus,
Que jamais matou alguém,
Mas que pregamos na cruz,
Por viver só para o Bem.


Pub. Reformador em abr. 2015.
                    

  Contador e ciência contábil (Irmão Jó)   Contador, tu não contas dor, Mas no balanço das contas O crédito há que ser superior.   Teu saldo...