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sábado, 29 de junho de 2013


Em dia com o Machado 56 (jlo)

 
            Carta descoberta entre as cinzas de um país longínquo, chamado Bavária, após sua destruição por uma chuva de lavas do mesmo vulcão que destruiu Sodoma e Gomorra. Ah, não? Estes últimos países ficavam no oriente e a Bavária estava na Europa? Tudo bem, o vulcão foi outro, e em outra época.           

Bavária, 29 de junho de...

Prezados membros do Partidus Terríficus (vulgo, partido do governo petista), 

Vou abrir o jogo com vocês: incomoda-me muito, como cristão que sou, a onda de permissividade que grassa pelo mundo, a ponto de parecer normal as anormalidades. Os pederastas, prostitutos e prostitutas estão tão senhores da situação que, por vezes, induzem até autoridades a publicar cartilhas, que depois são despublicadas, afirmando que sua opção profissional é de prostituição, sim, mas de uma opção feliz, ou de que ser bissexual é melhor do que ser heterossexual, e por aí vai...
           E por que isto acontece? Porque, em vez de as campanhas de orientação sexual, nos governos petistas serem feitas por profissionais de saúde responsáveis, são produzidas pelos interessados em causas sociais de uma minoria, a qual faz tanto estardalhaço de suas opções e direitos que se esquecem de que os outros, cujas opções diferem das suas, também têm direitos.
            Nunca me esqueço de uma frase atribuída a um político que era mais ou menos assim: “Antigamente, ser gay era pecado; depois, passou a ser tolerado... Vou-me embora daqui, antes que se torne obrigação”.
O que algumas mentes desequilibradas, em geral ateias, ainda que afirmem o contrário, desejam é isso mesmo. Que os princípios de moral, únicos verdadeiramente inquestionáveis, nas religiões, sejam substituídos pela amoralidade inconsequente.
A situação atual é de grande preocupação por parte dos líderes religiosos do mundo que, por covardia moral se calam ante os descalabros atuais, os quais pervertem tudo aquilo que, ao longo dos milênios, vem construindo as sociedades e mantendo o seu equilíbrio. E aqui na Bavária, não é diferente. As campanhas do Partidus Terríficus (PT), cuja maioria de governantes domina os demais partidos e mentes deste país, são no sentido de propagar estilos de vida e não de combate às doenças.
Resultado, em vez de esclarecimentos, de orientações, de prevenções, são distribuídas camisinhas, remédios e informações grátis para que cada um faça o que quiser de sua vida. Faz-se a apologia ao sexo inconsequente e não sua orientação no sentido de ser essa uma função orgânica voltada para o prazer, sim, mas sobretudo para o relacionamento amoroso e a procriação dos filhos e filhas de Deus, nossos irmãos e irmãs.
 Como falta a orientação moral, os esclarecimentos de leis naturais que “punem” implacavelmente os que as violam, pessoas supostamente esclarecidas, mormente jovens, contraem cada vez mais doenças sexualmente transmissíveis, em geral, e AIDS.
Deixo claro aqui que não tenho nada contra as opções sexuais de ninguém e acho justas as medidas protetoras contra a violência a essas pessoas, a quem respeito, embora não comungue de suas escolhas. Mas, do jeito que a coisa está, é preciso estabelecer limites para esses mesmos cidadãos e cidadãs, objetivando impedi-los de não somente fazer apologia às condutas sexuais em desacordo com a opção heterossexual dos demais cidadãos, como também de assediarem moralmente aqueles que não se comprazem com suas preferências.
E, por favor, não confundam homens e mulheres de bem com desequilibrados sexuais que não pensam em outra coisa, a não ser em sexo. Sou hétero, graças a Deus. Nessa condição, construí família harmonizada; e minha esposa me satisfaz há 40 anos, que espero multiplicar-se por outros 40, com muito amor.
Por fim, esclareço-lhes que é uma covardia muito grande, publicar livros didáticos e revistas destinados a crianças, estimulando-as a, por meio de caça-palavras e outros entretenimentos, identificar amiguinhos cuja conduta sexual tenda para opções sexuais fora do padrão milenar instituído por Deus:  a heterossexualidade.
Liberdade sexual pode até ser opção pessoal que não me caiba condenar, mas apologia à pederastia, ao bissexualismo, ao lesbianismo e outras atitudes em desacordo com a moral cristã, NÃO!
Atenciosamente,
Hacha.

 Antes que o leitor me peça para expressar minha opinião sobre o assunto, informo-lhe que, tanto eu quanto meu secretário concordamos perfeitamente com o signatário da carta acima.
Quanto às suas preferências, não sei, não quero saber e, se disser, está perdendo seu tempo comigo, amigo.
Falemos de outra coisa.

 

sábado, 22 de junho de 2013


Em dia com o Machado 55 (jlo)

 

Estoy convencido de que ese amigo no fué a la paseata. No fué, o no va? En el tiempo en que escribo, no fué; en aquel en que el lector puede leer éstas lineas no va.

Otros, sin embargo irán...

E aqui, o sangue latino se encontra para, em solidariedade, propor algumas propostas. Ou o amigo prefere sugerir algumas sugestões?

Há tanta redundância não percebida em nossa língua portuguesa, como, por exemplo, encarar cara a cara, conhecer-se a si mesmo, ter ido a algum lugar há anos atrás e outros pleonasmos brabos aos quais ninguém dá a menor, que, vez por outra, incorporo o hábito popular em meus escritos.

Até porque, no momento, inicio contigo, leitor amigo, um bate-papo sobre os últimos acontecimentos que envolvem nossa nação, a ponto de já se estar conjecturando se não estamos próximos de um golpe de Estado, ante o estado das coisas ocorridas nos diversos estados.
 
Sim, você leu isso mesmo, uma sucessão de estados. É que o povo está em estado de greve e, se continuar assim, quem diria, a ex-guerrilheira acabará por decretar estado de sítio.

Mas vamos ao que interessa. Temos lido ou ouvido uma série de sugestões, que pomos aqui, endereçadas aos pacatos participantes dos movimentos pacifistas, dos quais se aproveitam vândalos e marginais para incendiar, saquear, cometer os mais variados crimes para agredir a sociedade, para não deixar de fora a terceira conjugação ir...

Agressores que tais têm que ir para o xilindró; melhor ainda, para as searas de trabalho nos confins do Ceará... Ou no Ceará não tem disso não? Então vão para o Pará plantar batatas. Nesse caso, a máxima “Ao vencedor, as batatas” se inverte.

Tais movimentos pacíficos, já se sabe, não se prestam a marginais. Visam, isso sim, ao combate à corrupção, a cobrar investimento na segurança, saúde e educação, entre outras políticas em prol da expansão de nossa economia, como a de construção e melhoria dos meios de transportes marítimos, aéreos e terrestres, junto com o aumento da capacidade de nossos portos e silos, não os (a)silos políticos, mas os depósitos para acondicionamentos de víveres, vegetais, minerais e de mobiliários deste solo que é filho da “gentil pátria amada, Brasil”.

Então, vamos propor, aos cidadãos e cidadãs pacatos desta grande nação, com base em experiência colhida de nossos hermanos de la lengua española, dez atitudes a serem postas em prática antes, durante e depois das democráticas manifestações pela moralidade pública.
 
Vamos, pois, aos dez mandamentos do movimento popular pacífico, a fim de que acordemos e levantemo-nos do “berço esplêndido”, a fim de que fulguremos como verdadeiro “florão da América”, conclamando a todos os povos para a união em torno de um mundo justo e, consequentemente, melhor:

I - Iniciar o encontro com um Pai Nosso, repetido por todos em voz alta. Concluída a passeata, fazer uma pausa na caminhada e repetir o Pai Nosso. Esta prece se presta a todas as crenças. É tão simples que é feita até com fingimento por quem não crê, mas, por via das dúvidas...

II – Caminhar pacificamente com seus cartazes e, se houver carro de som, que a música não incite a violência e, sim, satirize a situación.

III – Tanto quanto possível, colaborar com a ordem pública, evitando impedir a passagem de pedestres que se dirigem ao serviço ou retornam dele.

IV – Se possível, distribuir as letras musicais que, irônica e pacificamente, critiquem os desmandos políticos, a má versação do dinheiro público e a corrupção nacionais.

V – Não gritar, nem incitar atos de violência.

VI – Não permitir propagandas de partidos políticos, seja por cartazes ou por discursinhos demagógicos e tendenciosos.

VII – Se perceber atos de vandalismo, sentar-se onde estiver, para demonstrar, com seu ato, a não aprovação dessa atitude e permitir à polícia agir.

VIII – Se possível, impedir atos de agressão e roubo, seja ao que for ou a quem for; caso contrário, comunicar imediatamente à polícia, para as providências legais.

IX – Não levar crianças e portadores de necessidades especiais para a manifestação. Inocentes não podem servir de escudo às nossas reivindicações, por mais legítimas que sejam.

X – Indicar representantes que não estejam a serviços de partidos e ou políticos para levarem às autoridades competentes “de um povo heroico o brado retumbante”, e que “o Sol da liberdade, em raios fúlgidos”, brilhe no “Céu da Pátria nesse instante”.

Es el que tengo a decirles, amados hermanos brasileños,  a fin de que ésta nación se torne en uno ejemplo de unión y solidaridad en medio nosostros e nuestros hermanos, no solamente de la América de el Sur, pero de todo el mundo.

Hasta la vista!

sábado, 15 de junho de 2013

Em dia com o Machado 54 (jlo)

Amigos, boa-noite.

Para que vocês não me julguem beato, após minha passagem para o Além, vou baixar, não o santo, mas a bola, e lhes falar mais um pouco sobre a situação socioeconomicopolítica de um antigo país, onde vivi, de saudosa memória, que muito se assemelhava ao Brasil, a já conhecida Baviera.
Houve lá, também, um jurista que dizia o que falava igualmente o nosso Rui Barbosa. E o que ele dizia era mais ou menos assim: — Tratar igualmente desiguais é injustiça tão grande quanto tratar desigualmente iguais.
Entretanto, embora aquele fosse um país que, à época, fizesse parte de uma sigla chamada Brics[1], do pentagrama assim formado, somente ele não se expandia com a intensidade dos demais componentes. Todavia, seu governo julgava-o com poderes mágicos a ponto de resolver utopicamente, por meio de programas governamentais, a situação dos miseráveis e pobres locais.
Estavam, como diz Jorge Hessen, em seu site http://aluznamente.com.br/, ressalvadas as exceções, como aqueles que abominam trabalhar e coisa alguma produzem de utilidade para a sociedade, vivendo como verdadeiros parasitas, vampirizando os recursos de programas estatais voltados aos realmente necessitados.
Ainda hoje, para tais pessoas, só existem direitos, não deveres. Não deveriam culpar a não ser a si próprias pela vida que levam, mas gostam de bancar as coitadinhas e usurpar os recursos sociais, tanto das políticas públicas, quanto da iniciativa privada.
Os países mais adiantados já resolveram esses problemas, instituindo programas que atendem as necessidades básicas de sobrevivência de tais pessoas, sem prejudicar os que desejem progredir socioeconomicamente, pelo estudo e esforço cotidiano em suas profissões. Neles, não há salários vis e desprezo social, como ocorria lá.
E não ficam esquecidos aqueles que trabalham cotidianamente, com dignidade e perseverança, para serem membros sociais úteis.
Urgia valorizar tais pessoas. Infelizmente, porém, no próprio governo bávaro, havia carradas de espertalhões. Citemos apenas um exemplo:
Certo dia, recebemos uma cartinha de um banco estadual informando-nos de que nosso limite de conta havia aumentado sem ônus para nós. Se não desejássemos o benefício, bastaria ligarmos para a agência informando-a disso, e nosso limite permaneceria sem acréscimo.
Sabedores de que tal oferta implicaria em cobranças futuras de taxas de administração mais altas, ligamos para o banco declinando da oferta.
Qual não foi nossa surpresa quando, poucos dias depois, nos foi cobrada uma taxa, equivalente a dez por cento do salário mínimo, pela ligação que fizéramos recusando um serviço que não pedíramos.
— Não foi má fé - disse-nos a funcionária -, a colega esqueceu-se de estornar o valor da ligação, que só ocorre quando o cliente pede um serviço ao banco.
Como diria um grande comunicador, cujo nome esqueceu-me: “Me engana que eu gosto”.  
Se o equívoco fosse meu, garanto que o banco, no mínimo, me cobraria uma taxa extra. E se eu tentasse me justificar, com certeza, passaria por mentiroso e agente de má fé.
Ainda bem que minha fé é boa.
Como não quero denegrir mais a imagem de tão relevante governo, o Bávaro, vou contar-lhe de que modo aquele país resolveu o problema do buraco de sua economia investindo em educação.
Entrava governo, saía governo e as constatações se repetiam, junto com as promessas políticas, como estas, de seu último governante, em minha época:
— O problema deste país é a educação. Quando todo o povo for educado, não haverá mais corrupção, nem pobreza. A segurança será melhor, a saúde terá profissionais mais capacitados e o povo adoecerá menos, pois terá altos salários e, consequentemente, será bem nutrido.
E prosseguia:
— Nossa nação será um modelo para as demais; por isso, no meu governo, vou investir prioritariamente em educação.
Logo, enfatizava:
— Os salários dos professores, junto a sua formação pedagógica e valorização técnica serão equacionados, e o analfabetismo terá fim.
Por fim, arrematava, apoteótico:
A capacitação profissional de nosso povo alavancará o progresso da nação como jamais houve igual na história deste país.
Aplausos. Eleição certa. Promessa incerta.
Tomada posse, os governadores dos estados, parlamentares e ministros tratavam de dissuadir o mandatário do país:
— Vossa Excelência já calculou quantos professores existem em nosso país e o que representa, para esses quinhentos mil profissionais, cada centavo a mais? Isso sem falar nos demais servidores envolvidos na educação. Acorda, presidente...
Ao que seu chefe de gabinete acrescentava:
Excelência, governar é transferir responsabilidades. A vida é curta. Não se mate. Depois, tudo acaba mesmo e Vossa Excelência ainda será lembrado como o sonhador de um governo só, pois aqui só tem voto quem é demagogo... Governar é a arte da demagogia, não se esqueça disso.
Outro “conselheiro” esclarecia:
Precisamos tapar buracos, não vê que nossa terra está cheia de buracos? Todos os políticos, legitimamente eleitos por esse povo que aí está, reclamam dos buracos enormes em suas contas bancárias.
E seu correligionário concluía, sabiamente:
— Para isso, é preciso muito dinheiro. Se não der para levar na mala nós levamos na cueca, nas meias, debaixo do chapéu...
Por fim, um pragmático parlamentar completava:
Pão e circo é o que o povo quer, não se esqueça. Desde a sábia Roma já se sabe disso.
E o alto mandatário, não para lamentar, concluía:
— Não sabia que teria de tapar tantos buracos neste país. E eu pensando em educação. Esqueceu-me que governar é construir estradas, ferrovias, portos e aeroportos...
— Sim, Excelência, — arremata um alto membro da corte —, para que nossas esposas, amantes, filhos, etc., etc., etc., possam sair deste buraco é preciso muito investimento (tradução: propina).
Ao que a primeira dama indagava:
Ou Vossa Excelência não quer ser reeleito?
Resultado, as professoras, teimosas como elas só, continuavam reclamando na Baviera:
— Falta mês no meu salário, mas não me falta educação.
— Falta sabonete em meu barraco, mas tomo banho com sabão.
— Falta pão fresco na mesa, mas como torrada sem manteiga.
— Falta açúcar pro café, mas o pior é faltar água, né?
Na escola, a infraestrutura era maravilhosa, todo dia faltavam alunos que precisavam ajudar seus pais nos trabalhos de casa, e, quando iam à aula, não tinham feito outros trabalhos de casa...
O respeito dos alunos, nas escolas, era espantoso:
Fessora, libera nóis mais cedo, ou nóis quebra suas fuça.
Os elogios abundavam:
— Sua incompetente, meu filho tirou zero na prova!
Mas a professora, o professor, o profissional do ensino, enfim, não perdiam a esperança:
— Nosso presidente sabe do tamanho do rombo na educação do país e prometeu tapá-lo, mas como precisa ser lembrado, vamos trocar nossas férias por mais uma greve. Quem sabe se não conseguiremos refrescar sua memória?
Enquanto isso, diziam os motoristas dos caminhões e dos ônibus:
— Com tanto buraco nas rodovias e um furo maior em nossos salários, vamos paralisar o transporte.
E o governo respondia:
— Vamos aumentar o preço das passagens, das tarifas e dos pedágios, para fechar nossas contas.
Mas o povo, que não é bobo, respondia com barricada de pneus em chamas, com coquetéis molotov e com gritos de ordem:
— Falta teto em nossas buracos.
E foi tudo buraco abaixo!
 — E no Brasil, Machado, o buraco é mais embaixo?
 — Não, meu caro amigo, aqui, infelizmente, o buraco ainda está mais acima.




[1][1] Brics: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (South Africa)

sábado, 8 de junho de 2013

Em dia com o Machado 53 (jlo)

            Boa-noite, amigo leitor! Olá, amiga leitora!
            Vamos hoje tratar de um assunto muito sério: a finalidade da vida. Para tal, faremos algumas considerações sobre a existência de Deus e a imortalidade da alma.
            Remontemos à alma. Como surge? Quando? Onde? Por quê? Para quê?
            Dizia Lavoisier (1743 – 1794), o pai da química, que na “natureza nada se cria, nada se perde, tudo de transforma”. Esse sábio teve o auxílio de sua esposa, Marie-Anne Pierrette Paulze, poliglota e ilustradora, que traduziu obras inglesas e latinas para o francês, com o objetivo de auxiliar o marido em seus estudos. Filósofo e gênio francês, Lavoisier teve a infelicidade de viver na época da Revolução Francesa e foi guilhotinado pelos burgueses revoltosos em 1794, quando ainda estava com 50 anos de idade.
            Não pude deixar de citar Marie-Anne, esposa exemplar, por sua conduta proativa junto a Lavoisier, porque ela me recorda minha inesquecível Carolina, sem a ajuda da qual minha obra deixaria muito a desejar. Também poliglota, quantas vezes minha meiga e atenciosa Carola esteve ao meu lado, subsidiando meus trabalhos, revisando, ou mesmo escrevendo meus textos; em especial quando fui acometido de sérios problemas visuais. E sua escrita ocorreu justamente quando elaboramos a memorável obra Memórias póstumas de Brás Cubas, romance que me consagraria definitivamente. Agora faço justiça ao discretíssimo anjo de minha vida, à Carolina, a quem encontrei em plano espiritual superior ao meu, após nossa despedida da Terra.
            No século seguinte ao de Lavoisier, que também foi o nosso, Charles Darwin (1809- 1882), naturalista britânico, apresentaria ao mundo sua teoria da seleção natural e sexual. Essa teoria viria a tornar-se o paradigma central dos diferentes fenômenos biológicos.
            Nesse mesmo século, por meio das vozes dos espíritos, surge a revelação de que, no universo, existem três elementos gerais: Deus, espírito e matéria (questão 27 de O livro dos espíritos — LE). Dizem os espíritos superiores que, “ao elemento material é preciso juntar o fluido universal, que desempenha o papel de intermediário entre o espírito e a matéria propriamente dita”.  O fluido universal nada mais é do que a energia em estado quintessenciado.
            Surge mais um século e, em 1905, Einstein demonstra que a energia, chamada fluido pelos espíritos, possui, como a matéria, a propriedade da inércia ou massa. Confirma, assim, a teoria lavoisiana de que “a matéria, ao nível das reações químicas, não desaparece, se transforma”.
            Algumas décadas depois, por intermédio de um espírito chamado André Luiz, recebemos diversos livros, psicografados por Chico Xavier, com narrações sobre a vida espiritual, que nos reafirmam a grande verdade comprovada cientificamente: “a matéria é luz coagulada”, ou: “a matéria é energia condensada”. Além disso, a psicologia confirma-nos que até o pensamento é matéria.
            Estaria assim confirmada a teoria materialista? Não, muito pelo contrário. O que foi confirmado é a teoria dos espíritos sobre a existência, no universo de uma “trindade universal” que não é a do pai, filho e espírito santo, da Igreja, mas a da presença, cósmica de um Espírito ordenador e regulador de tudo o que existe, ao qual podemos denominar Deus, grande Arquiteto, Ser supremo, suma Inteligência, etc., mas que a tudo rege, a tudo prevê e provê. Ele como que ejeta de Si, incessantemente, pela ação de seu pensamento uma força que movimenta inteligentemente a substância do universo: o elemento espiritual, que pode sofrer os mais diversos tipos de transformação, sob o poder da Inteligência divina.
            É desse elemento espiritual que provém a inteligência universal, da qual se formam as individualidades dos espíritos.
            Deus é o Eu sou, citado nas escrituras sagradas, o Ser incriado, eterno, imutável, único, soberanamente justo e bom, a que os espíritos superiores denominam inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas (questão 1 do LE). Pois bem, o próprio Jesus Cristo, ao se dirigir à samaritana que tirava água do poço, esclareceu-lhe: “— Deus é Espírito [...]” (João, 4: 24).
            — Mas nós também não somos espírito, ó Machado?
            — Sim, meu amigo, pois o Cristo confirmou o salmista, em João, quando lembrou aos judeus de sua época: “— Está escrito, vós sois deuses [...]” (João, 10: 34). Somos, pois, deuses criados, espíritos, filhos do Espírito, Pai de tudo o que é formado e se transforma, vez que, viu bem Lavoisier, nada se perde na natureza.
            Podemos, ainda, entender a modificação eterna não somente dos seres, como propôs Darwin, mas também de tudo o que existe.  Segundo os espíritos superiores (questão 607-a do LE), tudo na natureza se encadeia e tende para a unidade. Do elemento inteligente universal (questões 606 e 606-a LE) surgem as almas dos animais e as dos homens, mas a inteligência destes passa por uma elaboração superior à dos animais.
            Antes de responder à pergunta sobre o surgimento da alma, recordo-lhe, leitor inteligente, que, assim como há um mundo material, há também um mundo espiritual, “que preexiste e sobrevive a tudo” (questão 85 do LE).
E o que é a alma? Nada mais que “um espírito encarnado” (questão 134 do LE).  Passemos ao surgimento da alma. Ao longo de milhões de anos, o espírito inteligente é elaborado em sua passagem pelos três reinos: mineral, vegetal e animal. E está confirmada a teoria da evolução das espécies de Darwin.
Esse naturalista equivocou-se apenas num detalhe: tudo provém de Deus e a Ele retorna, numa evolução infinita, pois após o reino mineral, sucedido pelo vegetal, que, por sua vez, evolui para o animal, surge o reino hominal e, por fim, o último degrau da evolução espiritual: o reino angelical, quando já se pode afirmar, como disse o Cristo: — Eu e o Pai somos um” (João, 10: 30).
            E o que fazem os anjos? Tocam trombetas eternamente, sentados à mão direita de Deus? Não, meu amigo, para esses espíritos puros, o trabalho é uma lei. Leia no evangelho o que disse Jesus: “— Meu Pai trabalha até hoje, e eu trabalho também” (João, 5: 17).
Esse trabalho não é, porém, sinônimo de exaustão em atividades monótonas, entediantes. É o poder de transformação com Deus - único que também cria -, de desfrute indefinível, na linguagem humana, das delícias das produções transformadoras muito acima da arte e da ciência medíocres dos homens da Terra.
Concluamos, pois, com o poeta-filósofo do Espiritismo, Léon Denis (In: O grande enigma. Rio de Janeiro: FEB, 2008, cap. 1.):

De igual maneira que em nós a unidade consciente, a alma, o eu, persiste no meio das modificações incessantes da matéria corporal, assim, no meio das transformações do universo e da incessante renovação de suas partes, subsiste o Ser que é a Alma, a Consciência, o Eu que o anima e lhe comunica o movimento e a vida.

Ou seja, o que se transforma, incessantemente, é a matéria, até atingir a condição de espírito inteligente, a partir do qual participa da vida de eterna aventura; até atingir, com Deus, a imortal ventura da vida, ao compreender e praticar Sua Lei do Amor. Foi o que também levou o filósofo Léon Denis a dizer que a alma dorme no mineral, sonha no vegetal, agita-se no animal, desperta no homem e prossegue evoluindo na condição de anjo (In: O problema do ser, do destino e da dor. Ed. FEB).
Desse modo, a alma é elaborada na matéria, mas para tornar-se individualizada, é-lhe acrescentado o elemento inteligente universal, princípio espiritual. Nesse ponto, é criada a individualidade do espírito.
Por que surge a alma? Porque estamos nos transformando, desde a elaboração divina dos elementos primitivos, para atingir a perfeição (questão 132 do LE). Primeiro, no reino material, em seguida, individualizados, no espiritual. Quando tal acontecer, teremos atingido o para quê: para alcançarmos a felicidade dos espíritos perfeitos, como colaboradores divinos.
Tudo isso, pelo Poder da Vontade de Deus, expresso nesta frase: Fiat lux (Gênesis, 1: 3). E a luz foi feita.
Aproveitemos, pois, para realizar todo o bem que pudermos. Desse modo, aprendendo e trabalhando sempre, em prol do bem de todos e sob a direção de Jesus Cristo, já estaremos recebendo, desde já, o cêntuplo do que dermos ao nosso próximo (Mateus, 19: 29), sem o qual não é possível existirmos.
Como também não haveria necessidade da existência divina sem nossa incessante transformação em seu infinito Amor nos reinos material e espiritual, que interagem eternamente. Assim, a própria razão do Ser divino justifica-se por sua obra, que não se confunde com Ele, mas que, como projeção do Seu pensamento, da Sua vontade, na substância material e espiritual, age de modo incessante, sábio e eterno, amando até mesmo os tolos que duvidam de Sua existência.
Somos todos, portanto, interdependentes, pois, como diz Paulo: "Em Deus existimos, em Deus nos movemos". Ao que completamos: convivemos, nos amamos e nos transformamos.
Fica com Deus, amigo; Deus te proteja, amiga.

sábado, 1 de junho de 2013


Em dia com o Machado 52 (jlo)

 
            Amigos leitores, boa-noide!

            Vamos começar a falar hoje sobre um assunto que interessa a toda a humanidade: a publicação, na França, em 1864, da obra O Evangelho Segundo o Espiritismo. Faremos também um paralelo entre o que ocorreu antes e a partir dessa data, em nossa vida de mulatinho pobre, nascido no morro do Livramento, no Rio de Janeiro. Na época do lançamento do livro citado, estávamos com 25 anos e já ensaiávamos voos, rasteiros embora, pela literatura brasileira.

            Não foi a primeira obra espírita de que se tem conhecimento. Antes dela, publicou Hippolyte-Léon-Denizard Rivail, mais conhecido como Allan Kardec, O Livro dos Espíritos e O Livro dos Médiuns.

            O Evangelho Segundo o Espiritismo veio coroar as duas primeiras obras. Daqui do além, minha preferência de leitura é a desse livro, complemento natural do Evangelho de Jesus, do qual extraiu sua parte principal: a lei moral. Eis o que diz Kardec:

Podem dividir-se em cinco partes as matérias contidas nos Evangelhos: os atos comuns da vida do Cristo; os milagres; as predições; as palavras que foram tomadas pela Igreja para fundamento de seus dogmas; e o ensino moral. As quatro primeiras têm sido objeto de controvérsias; a última, porém, conservou-se constantemente inatacável. Diante desse código divino, a própria incredulidade se curva. É terreno onde todos os cultos podem reunir-se, estandarte sob o qual podem todos colocar-se, quaisquer que sejam suas crenças, porquanto jamais ele constituiu matéria das disputas religiosas, que sempre e por toda a parte se originaram das questões dogmáticas. Aliás, se o discutissem, nele teriam as seitas encontrado sua própria condenação, visto que, na maioria, elas se agarram mais à parte mística do que à parte moral, que exige de cada um a reforma de si mesmo.

Falemos um pouco sobre os atos comuns de nossa vida machadiana, figurados, literariamente, em parte, no texto de “Contos de escola”. Dizia ali que, embora me custasse dizer, era um dos alunos mais sabidos da escola e não quis afirmar ser também o mais inteligente, por escrúpulo consciencial. Afinal, a sabedoria começa pela humildade. Concluamos com Memorial de Aires, romance final de nossa vida que expressa muito do nosso temperamento e convívio social.

Quanto tempo estive na escola? Agora posso dizê-lo, pois não mais estou preso aos liames materiais: o tempo suficiente para aprender as quatro operações da aritmética, ler e escrever razoavelmente.

A partir de então, percebi que, se continuasse ali, acabaria expulso do colégio, pois tudo o que a professora ensinava era muito pouco em relação ao que aprendia por mim mesmo. Assim, com minha impaciência, acabei por criar-lhe algum constrangimento, vez que meus coleguinhas mais inteligentes tinham imensa dificuldade para entender o que por mim já era lido, tido e sabido. Conclusão: saí da escola e tornei-me autodidata.

Passei então a fazer o seguinte: todo dia acordava bem cedo, fazia minha higiene, tomava café com pão, punha minha melhor roupa, presente de minha madrinha e anjo da guarda, e partia para a Biblioteca Municipal, onde devorava os periódicos e livros de literatura da incipiente poesia e prosa nacionais, assim como, mais tarde, também obras lusitanas, francesas e inglesas.

— Você não brincava, como as outras crianças?

— Minha brincadeira preferida passou a ser a de professor de uma escolinha que criei, frequentada por meus amigos da quinta onde éramos agregados e os vizinhos das redondezas. A matéria preferida era o português, com ênfase na leitura de clássicos da literatura e na produção de textos literários. De início, a poesia.

Mas desde cedo, precisei trabalhar para ajudar meu pai e madrasta, Maria Inês, no sustento de casa. Então, fui caixeiro, mas não me saí bem nessa profissão e, três dias depois, demiti-me; algum tempo depois, fui vendedor de doces, fabricados por Maria Inês, numa escola pública em S. Cristóvão, local para o qual nos mudamos após o falecimento paterno.

Em S. Cristóvão, o forneiro da padaria de madame Gallot era francês, e com ele iniciei meus conhecimentos práticos dessa língua. Após ter feito amizade com algumas pessoas cultas e ser presenteado por minha madrinha com uma bíblia, da qual me tornei voraz leitor, passei um tempo como coroinha do padre da igreja da Lampadosa. Com ele, aprofundei meus conhecimentos do idioma francês.

Aos dezesseis anos, publiquei, na revista Marmota, de Paula Brito, o poema “Ela”. Contratado por esse mulato solidário, passei a colaborar com sua revista e a ter contato com os jovens escritores da época: Teixeira e Sousa, Manuel Antônio de Almeida, que me contrataria para trabalhar, como tipógrafo, na Imprensa Nacional. Por fim também conheci José de Alencar, entre outros moços talentosos da literatura brasileira.

Agora, os milagres: o primeiro deles foi ter sobrevivido à época de epidemias que levou para o além todos os meus familiares; o segundo foi o de, aos 25 anos, época de surgimento de O Evangelho Segundo o Espiritismo, eu publicar Crisálidas, livro de poesia medíocre, que, entretanto,  junto a outras publicações de igual quilate, tornaram-me, como poeta, anos depois, um grande prosador e romancista.

Como diria o poeta Tomaz Antônio Gonzaga: “Graças, Marília bela, graças à minha estrela”.

As predições estão em algumas de minhas crônicas que, segundo Gustavo Corção, têm o espírito de eternidade, por submeterem os fatos históricos do século XIX ao aspecto de atemporalidade. Querem exemplos? Numa de minhas crônicas, previ que o carnaval iria acabar (História de Quinze Dias, 15 fev. 1877). Hoje, essa festa pagã, no Brasil, não só continua cada vez melhor, como é sinônimo de cultura que atrai as atenções do mundo inteiro. Mas que o nosso carnaval de rua já não é o mesmo, lá isso é verdade...

Noutra crônica, anunciei o Espiritismo como uma doutrina de loucos (Bons Dias!, 7 jun. 1889). A Doutrina de Kardec, para minha vergonha, está renovando a concepção de religião no Brasil e no mundo, sem pretender substituir nenhuma crença, sem imposição, com humildade, amor e os mais eloquentes testemunhos de devotamento ao próximo e abnegação. Esse é o verdadeiro sentido da caridade. Esse foi, talvez, o meu maior vexame, como já lhes disse daqui do além.

Mas também previ acontecimentos futuros que vêm se concretizando de fato. Vejam minhas crônicas sobre a educação falida no Brasil (História de 15 Dias: Analfabetismo, 15 ago. 1876); sobre o progresso, o desaparecimento do bonde e de alguns costumes cariocas (crônica de 1º de jan. 1877 em História de Quinze Dias); sobre a inconstitucionalidade dos impostos (Balas de Estalo, 16 maio 1885); sobre o conceito de política (Balas de Estalo, 8 jul. 1885); e sobre o vegetarianismo (A Semana, 5 mar. 1893).

Com relação às palavras que foram utilizadas nos fundamentos dogmáticos, só tenho a lamentar a confusão que meus biógrafos fizeram, ao me atribuírem, no fim de minha vida física na Terra, uma profunda descrença na existência de Deus e da vida espiritual. Confundiram o escritor com o autor. Afastei-me sim, da Igreja Católica, em virtude de não aceitar seus dogmas e rituais pagãos, contrários à mensagem de Jesus Cristo. Cheguei mesmo a recusar a extrema unção de um padre no leito da morte. Entretanto, com leitor assíduo da Bíblia, nunca deixei de ser cristão.

Por fim, o ensino moral. Para não cansar o leitor, remeto-o à “Carta ao Sr. Bispo do Rio de Janeiro”, de 18 abr. 1862, e “A Paixão de Jesus”, de 1 abr. 1904, publicados em Miscelânia, vol III de Machado de Assis, obra completa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1973.

Em complemento ao ensino moral, relato meu grande amor à Carolina, expresso neste soneto, que também exprime minha fé e esperança na vida post mortem:

 

Querida, ao pé do leito derradeiro
Em que descansas desta longa vida,
Aqui venho e virei, pobre querida,
Trazer-te o coração do companheiro.

 
Pulsa-lhe aquele afeto verdadeiro
Que, a despeito de toda a humana lida,
Fez a nossa existência apetecida
E num recanto pôs o mundo inteiro.

 
Trago-te flores – restos arrancados
Da terra que nos viu passar unidos
E ora mortos nos deixa e separados.

 
Que eu, se tenho nos olhos malferidos
Pensamentos de vida formulados,
São pensamentos idos e vividos.

 
(ASSIS, Machado de. À Carolina. 1906)

 
            Lembro, por fim que, em carta a Joaquim Nabuco, datada de 20 de novembro de 1904, ano em que desencarnou minha querida Carola, expresso ao amigo minha fé na vida espiritual com estas frases finais: “Tudo me lembra a minha meiga Carolina. Como estou à beira do eterno aposento, não gastarei muito tempo em recordá-la. Irei vê-la, ela me esperará [...]”.

            Até a próxima, amigas!

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