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sábado, 15 de junho de 2013

Em dia com o Machado 54 (jlo)

Amigos, boa-noite.

Para que vocês não me julguem beato, após minha passagem para o Além, vou baixar, não o santo, mas a bola, e lhes falar mais um pouco sobre a situação socioeconomicopolítica de um antigo país, onde vivi, de saudosa memória, que muito se assemelhava ao Brasil, a já conhecida Baviera.
Houve lá, também, um jurista que dizia o que falava igualmente o nosso Rui Barbosa. E o que ele dizia era mais ou menos assim: — Tratar igualmente desiguais é injustiça tão grande quanto tratar desigualmente iguais.
Entretanto, embora aquele fosse um país que, à época, fizesse parte de uma sigla chamada Brics[1], do pentagrama assim formado, somente ele não se expandia com a intensidade dos demais componentes. Todavia, seu governo julgava-o com poderes mágicos a ponto de resolver utopicamente, por meio de programas governamentais, a situação dos miseráveis e pobres locais.
Estavam, como diz Jorge Hessen, em seu site http://aluznamente.com.br/, ressalvadas as exceções, como aqueles que abominam trabalhar e coisa alguma produzem de utilidade para a sociedade, vivendo como verdadeiros parasitas, vampirizando os recursos de programas estatais voltados aos realmente necessitados.
Ainda hoje, para tais pessoas, só existem direitos, não deveres. Não deveriam culpar a não ser a si próprias pela vida que levam, mas gostam de bancar as coitadinhas e usurpar os recursos sociais, tanto das políticas públicas, quanto da iniciativa privada.
Os países mais adiantados já resolveram esses problemas, instituindo programas que atendem as necessidades básicas de sobrevivência de tais pessoas, sem prejudicar os que desejem progredir socioeconomicamente, pelo estudo e esforço cotidiano em suas profissões. Neles, não há salários vis e desprezo social, como ocorria lá.
E não ficam esquecidos aqueles que trabalham cotidianamente, com dignidade e perseverança, para serem membros sociais úteis.
Urgia valorizar tais pessoas. Infelizmente, porém, no próprio governo bávaro, havia carradas de espertalhões. Citemos apenas um exemplo:
Certo dia, recebemos uma cartinha de um banco estadual informando-nos de que nosso limite de conta havia aumentado sem ônus para nós. Se não desejássemos o benefício, bastaria ligarmos para a agência informando-a disso, e nosso limite permaneceria sem acréscimo.
Sabedores de que tal oferta implicaria em cobranças futuras de taxas de administração mais altas, ligamos para o banco declinando da oferta.
Qual não foi nossa surpresa quando, poucos dias depois, nos foi cobrada uma taxa, equivalente a dez por cento do salário mínimo, pela ligação que fizéramos recusando um serviço que não pedíramos.
— Não foi má fé - disse-nos a funcionária -, a colega esqueceu-se de estornar o valor da ligação, que só ocorre quando o cliente pede um serviço ao banco.
Como diria um grande comunicador, cujo nome esqueceu-me: “Me engana que eu gosto”.  
Se o equívoco fosse meu, garanto que o banco, no mínimo, me cobraria uma taxa extra. E se eu tentasse me justificar, com certeza, passaria por mentiroso e agente de má fé.
Ainda bem que minha fé é boa.
Como não quero denegrir mais a imagem de tão relevante governo, o Bávaro, vou contar-lhe de que modo aquele país resolveu o problema do buraco de sua economia investindo em educação.
Entrava governo, saía governo e as constatações se repetiam, junto com as promessas políticas, como estas, de seu último governante, em minha época:
— O problema deste país é a educação. Quando todo o povo for educado, não haverá mais corrupção, nem pobreza. A segurança será melhor, a saúde terá profissionais mais capacitados e o povo adoecerá menos, pois terá altos salários e, consequentemente, será bem nutrido.
E prosseguia:
— Nossa nação será um modelo para as demais; por isso, no meu governo, vou investir prioritariamente em educação.
Logo, enfatizava:
— Os salários dos professores, junto a sua formação pedagógica e valorização técnica serão equacionados, e o analfabetismo terá fim.
Por fim, arrematava, apoteótico:
A capacitação profissional de nosso povo alavancará o progresso da nação como jamais houve igual na história deste país.
Aplausos. Eleição certa. Promessa incerta.
Tomada posse, os governadores dos estados, parlamentares e ministros tratavam de dissuadir o mandatário do país:
— Vossa Excelência já calculou quantos professores existem em nosso país e o que representa, para esses quinhentos mil profissionais, cada centavo a mais? Isso sem falar nos demais servidores envolvidos na educação. Acorda, presidente...
Ao que seu chefe de gabinete acrescentava:
Excelência, governar é transferir responsabilidades. A vida é curta. Não se mate. Depois, tudo acaba mesmo e Vossa Excelência ainda será lembrado como o sonhador de um governo só, pois aqui só tem voto quem é demagogo... Governar é a arte da demagogia, não se esqueça disso.
Outro “conselheiro” esclarecia:
Precisamos tapar buracos, não vê que nossa terra está cheia de buracos? Todos os políticos, legitimamente eleitos por esse povo que aí está, reclamam dos buracos enormes em suas contas bancárias.
E seu correligionário concluía, sabiamente:
— Para isso, é preciso muito dinheiro. Se não der para levar na mala nós levamos na cueca, nas meias, debaixo do chapéu...
Por fim, um pragmático parlamentar completava:
Pão e circo é o que o povo quer, não se esqueça. Desde a sábia Roma já se sabe disso.
E o alto mandatário, não para lamentar, concluía:
— Não sabia que teria de tapar tantos buracos neste país. E eu pensando em educação. Esqueceu-me que governar é construir estradas, ferrovias, portos e aeroportos...
— Sim, Excelência, — arremata um alto membro da corte —, para que nossas esposas, amantes, filhos, etc., etc., etc., possam sair deste buraco é preciso muito investimento (tradução: propina).
Ao que a primeira dama indagava:
Ou Vossa Excelência não quer ser reeleito?
Resultado, as professoras, teimosas como elas só, continuavam reclamando na Baviera:
— Falta mês no meu salário, mas não me falta educação.
— Falta sabonete em meu barraco, mas tomo banho com sabão.
— Falta pão fresco na mesa, mas como torrada sem manteiga.
— Falta açúcar pro café, mas o pior é faltar água, né?
Na escola, a infraestrutura era maravilhosa, todo dia faltavam alunos que precisavam ajudar seus pais nos trabalhos de casa, e, quando iam à aula, não tinham feito outros trabalhos de casa...
O respeito dos alunos, nas escolas, era espantoso:
Fessora, libera nóis mais cedo, ou nóis quebra suas fuça.
Os elogios abundavam:
— Sua incompetente, meu filho tirou zero na prova!
Mas a professora, o professor, o profissional do ensino, enfim, não perdiam a esperança:
— Nosso presidente sabe do tamanho do rombo na educação do país e prometeu tapá-lo, mas como precisa ser lembrado, vamos trocar nossas férias por mais uma greve. Quem sabe se não conseguiremos refrescar sua memória?
Enquanto isso, diziam os motoristas dos caminhões e dos ônibus:
— Com tanto buraco nas rodovias e um furo maior em nossos salários, vamos paralisar o transporte.
E o governo respondia:
— Vamos aumentar o preço das passagens, das tarifas e dos pedágios, para fechar nossas contas.
Mas o povo, que não é bobo, respondia com barricada de pneus em chamas, com coquetéis molotov e com gritos de ordem:
— Falta teto em nossas buracos.
E foi tudo buraco abaixo!
 — E no Brasil, Machado, o buraco é mais embaixo?
 — Não, meu caro amigo, aqui, infelizmente, o buraco ainda está mais acima.




[1][1] Brics: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (South Africa)

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