DALE
OWEN E OS FATOS MEDIÚNICOS:
um
clássico espírita-cristão
Jorge
Leite de Oliveira
Os Espíritos do Senhor, que são as
virtudes dos Céus, qual imenso exército que se movimenta ao receber as ordens
do seu comando, espalham-se por toda a superfície da Terra e, semelhantes a
estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir os olhos aos cegos – O Espírito de Verdade (In:
KARDEC, 2017, prefácio).
Não são poucos os pesquisadores que,
desde o século XIX, vêm observando os fenômenos espíritas, e realizando
experiências que confirmam sua realidade, conforme método de pesquisa proposto
por Allan Kardec. Um desses notáveis teóricos, que dedicou sua vida a esse
elevado trabalho, foi Robert Dale Owen. Em sua obra Região em Litígio, Owen relata-nos inúmeros fatos citados por
pessoas idôneas ou observados pessoalmente por ele: comunicações mediúnicas
obtidas por meio de pancadas (tiptologia), elevação sem contato de mesas de
diversos tamanhos; movimentos de objetos pesados por Espíritos; escrita
mediúnica direta; manifestações espontâneas de Espíritos; e dons espirituais.
Em Nova Iorque, o autor observou
fenômenos de tiptologia e outros fenômenos mediúnicos, produzidos por membros
da família Fox Underhill. Em especial, na presença das irmãs Kate Fox e Leah
Fox. Em algumas ocasiões, os fenômenos eram acompanhados da visão de mãos que
se materializavam e luzes, com forma de cabeça que flutuava ou de punho humano
que tocava o assoalho da casa como se desse marteladas. Essas manifestações
respondiam a pedidos mentais feitos por Owen (2006, parte terc., cap. I). Ora
ele solicitava pancada forte ora fraca, e elas aconteciam como era pedido.
Em nova experiência na casa da
família Underhill, meses depois, ocorreu a materialização de mão luminosa, que
tocava Owen e se comunicava com ele e as pessoas presentes por meio de pancadas.
Cerca de dois meses após, na sala da família citada, manifestou-se um Espírito
homicida. Se antes os toques locais e contatos de mãos eram suaves, agora esses
fenômenos eram como os de um martelo de 5 kg que batesse no soalho com força. A
entidade disse chamar-se Jackson, um estalajadeiro que assassinara um coronel
americano. Não foi informado como o estalajadeiro morreu, mas provavelmente
tenha sido executado pelo crime cometido.
Outros fenômenos assustadores foram
presenciados por Dale Owen e testemunhas, além da família Underhill, que
demonstraram a presença de Espíritos, nem sempre pacíficos, quando produziam
pancadas violentíssimas, sem que o móvel apresentasse qualquer avaria, ao final
da sessão mediúnica (OWEN, op. cit., p. 324 – 329).
Todos esses fenômenos mediúnicos são
respaldados por outros, semelhantes, narrados na Bíblia. Ao relatar os
movimentos de objetos, como o em que ocorre o aumento e diminuição do peso de uma mesa, por um poder oculto, Owen
(p. 330- 332) cita 2 Reis, 6: 4 – 6, em que é narrada a submersão de um
martelo caído no fundo da água do rio Jordão, que veio à tona após o lançamento
ao rio de um pedaço de pau pelo profeta Eliseu.
Eis o relato de fenômeno mediúnico
observado por Owen e outras testemunhas, na sala de jantar do Sr. Underhill,
estando presentes este, sua mulher, Kate Fox e Chambers:
Achando-se a mesa suspensa e a
balança indicando o peso de 55 quilos, pedimos que diminuísse seu peso. Em
poucos segundos, o braço da balança teve de ser diminuído, até indicar 45
quilos [...]. Então, pedimos que aumentasse o peso e este subiu a 58 e depois a
65 quilos! (OWEN, 2006, p. 331).
No
capítulo seguinte, sobre a “escrita espiritual direta, é citado Daniel, 5:5,
que relata o aparecimento de “[...] dedos de mão humana, escrevendo à luz do
candieiro, sobre a caiadura da parede do palácio real [...]” (apud OWEN,
p. 339).
O autor de Região em litígio cita o
conhecimento da obra e pessoa do barão de Guldenstubbé, pesquisador russo que
dedicou sua vida ao estudo dos fenômenos espirituais, cujo livro publicado em
1857 não teve a merecida divulgação. O barão obteve mais de quinhentas comunicações
mediúnicas pela escrita direta, obtidas, principalmente, em templos religiosos,
como “velhas catedrais” ou “residências históricas”. Desse total, compartilhou
com Owen 67, que acrescenta: “Essas experiências foram testemunhadas por mais
de cinquenta pessoas, dentre as quais ele publica os nomes de treze, sendo por
essas testemunhas fornecido o papel para as experiências” (OWEN, 2006, p. 340).
Tais pesquisas, infelizmente, foram proibidas e mesmo demonizadas pela Igreja.
Em 8 de agosto de 1861, na casa da família
Fox, Owen teve a visão de mão luminosa que respondia as perguntas feitas por
escrito. Após todos os cuidados tomados para evitar fraude, mesmo em condições
adversas informadas pela entidade comunicante e após ter colocado seu sinete em
cada folha, concluiu ser verdadeiro o fenômeno espiritual, com as frases
impressas nas folhas assinadas por ele sem contato de mais ninguém. O autor
cita outros exemplos de clara intervenção espiritual, que ratificam
experiências obtidas por ele ou por outros pesquisadores em sua época.
Dale também testemunhou fenômenos
espíritas extraordinários produzidos por Daniel Dunglas Home, como os que
ocorreram na casa de Owen, na presença de sua família, do conde d’Áquila e do
príncipe Luiz, irmão do rei de Nápoles. Apareceram mãos, como a da filha de
Owen, falecida em tenra idade, segundo lhe foi informado, o vestido da Sr.ª
Owen foi puxado com violência na direção contrária a em que estava o médium, e
a mesa em que este estavam pousadas as mãos de Home elevou-se duas vezes e
caminhou alguns centímetros. Na segunda vez, “[...] prendeu ao solo o vestido
da Sr.ª Owen, impedindo que ela se levantasse, como o havia feito da primeira
vez, e sendo preciso afastar a mesa para liberar o vestido” (OWEN, 2006, p.
361). Ainda mais impressionante foi o relato sobre o movimento de uma cadeira
que pesava 20,5 quilos, situada atrás de Home, em direção à mesa, que parou a
cerca de cinco centímetros (duas polegadas) desta antes de se chocarem.
Owen narra, ainda, as manifestações
espontâneas dos Espíritos, como demonstração de sua realidade sem ideias
preconcebidas, como a de Violeta, jovem de grande elevação espiritual, falecida
há vinte anos, que se manifestou a ele em reunião sem que ele estivesse
pensando nela. A emoção do autor foi grande, quando o Espírito esclareceu uma
frase, inicialmente incompleta, sobre a finalidade de sua manifestação.
Disse-lhe Violeta que viera: “Cumprir uma promessa escrita para me fazer
lembrada, mesmo depois da morte” (OWEN, 2006, p. 400).
Informa-nos ainda o autor que, dias
depois, o mesmo Espírito voltara a manifestar-se e respondeu a várias perguntas
mentais que Owen lhe fizera, de “caráter privado e as verdadeiras respostas”
conhecidas, então, somente por ele (op. cit., p. 401). Após considerações
pessoais sobre a necessidade de muitas pessoas em vencer a relutância de narrar
suas experiências com a manifestação espontânea dos Espíritos, o autor diz ser
necessário “[...] um desejo ardente de servir à verdade, de fornecer um
testemunho importante, de vital interesse para a Humanidade” (OWEN, 2006, p.
401).
Por fim, reforçado pelos fatos narrados
nos Evangelhos sobre os dons espirituais e epístola de Paulo em I Coríntios,
12: 4 e 9, Owen cita as curas obtidas por influência dos Espíritos. Diz o autor
então que
Quando João Batista mandou
perguntar-lhe se Ele era o que tinha de vir ou se deviam esperar um outro,
Jesus em resposta lhe manda anunciar o seguinte: “Os cegos veem, os coxos
caminham, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, e
os pobres recebem o Evangelho que lhes é pregado” (OWEN, 2006, p. 478).
O dom de curar, reivindicado pela Igreja
romana, como exclusivo de seus santos, não é seu privilégio. Em seu tempo, diz
Owen (op. cit., p. 479), que a cura magnética vinha realizando
prodígios. Cita, então, o caridoso marquês de Guibert, fidalgo francês que em
seu hospital situado na Comuna de Tarascon, do Estado de Fontechateau, tratou
gratuita e magneticamente mais de três mil e trezentos pacientes. “Cerca de
três quintos desses doentes (1.948) tiveram alta por terem sido curados, e
trezentos e setenta e cinco saíram muito aliviados” (OWEN, 2006, p. 479).
Em seguida, o autor narra dois casos em
que não se pode negar a cura espiritual. Ambas as curas foram extraordinárias, mas,
se a primeira foi de paralisia nos membros curada após vários meses de um
acidente, a segunda ocorreu após 25 anos de moléstia cardíaca da Sr.ª A. Kyd.
Andava com dificuldade e, para subir escadas, precisava ser carregada. Além do problema
do coração, possuía diversas outras doenças crônicas, como câimbras, espasmos,
prolapso do útero, mal da bexiga etc. Consultado conhecido médium, de Paris,
após fortuna gasta inutilmente com consultas médicas, ficou curada com um passe
dado por ele à altura do seu coração (op. cit., p. 486).
Concluindo sua bela obra, para os que têm
olhos de ver, ouvidos para ouvir e buscam a verdade sem mescla, como aquela que
o Cristo nos ensinou, o autor nos esclarece que o Reino de Deus e seu Espírito
não está nas imposições dogmáticas ou intolerâncias religiosas. Seu Espírito,
como seu Reino, estão na consciência leve, no amor ao bem pelo bem, sem ideias
preconcebidas de recompensa, a não ser a da alegria de servir, perdoar e amar
nosso próximo.
Das diversas reflexões expostas pelo autor
dessa obra ainda pouco conhecida, após sua constatação de que a promessa de nos
enviar o Consolador, realizada pelos fenômenos espíritas, atualmente mais
focados na evangelização humana, atrevemo-nos a pinçar três. A primeira
relaciona-se aos planos de Deus, previstos por Jesus, para que “as [...]
revelações espirituais [...] viessem perenemente de um mundo mais adiantado que
este [...]”; a segunda é a de que a caridade é a lei suprema, que nos exige a
renúncia do apego às riquezas e poder humanos, “a pureza nos pensamento e nos
atos, a resignação à vontade de Deus”; a última está no derradeiro parágrafo de
Owen:
Com o auxílio dos Espíritos que
pela triunfal transformação da morte partiram antes de nós para a feliz região
sideral, com o auxílio da plácida voz que nos aconselha e do Cristo, nosso guia
principal, com segurança e proveito interrogaremos o Inexplorado. Precisamos
conhecer suas leis; precisamos da evidência que os seus fenômenos nos dão. Nas
fronteiras dos dois mundos, encontramos influências muito mais necessárias,
muito mais poderosas que qualquer das terrenas: influências benévolas,
destinadas a reerguer a moral degenerada e auxiliar o progresso espiritual.
Palavras que se aplicam, sem tirar
nem pôr, aos nossos dias atuais. Roguemos a Deus que nos continue enviando as
luzes do Alto, para que, fazendo nossa parte no incansável dever de praticar o
bem, possamos atender aos objetivos Divinos
de livrar a Terra da ignorância e seus maus frutos. Pois, como disse Jesus,
pela árvore se reconhece seus frutos. Ainda que a nossa seja a mais pequenina
do Jardim Divino, que ela se desenvolva, dia a dia, na produção de frutos
maduros e saborosos.
REFERÊNCIAS
KARDEC,
Allan. O evangelho segundo o espiritismo. 2. ed. – 5. imp. Tradução de
Evandro Noleto Bezerra. Brasília, FEB, 2017.
OWEN,
Robert Dale. Região em litígio: entre este mundo e o outro. 5. ed.
Tradução de Francisco Raymundo Ewerton Quadros. Rio de Janeiro: Federação
Espírita Brasileira, 2006.
(Publicado em Reformador, periódico mensal da Federação
Espírita Brasileira (FEB), em abril de 2020.)