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sábado, 17 de outubro de 2020


12.3 Instruções dos espíritos

12.3.1 A vingança

Jules Olivier

Paris, 1862

A vingança é um dos últimos resíduos dos costumes bárbaros, que tendem a desaparecer do meio dos homens. Ela é, como o duelo, um dos últimos vestígios dos costumes selvagens sob os quais se debatia a Humanidade no começo da era cristã. É por isso que a vingança é um indício certo do atraso dos homens que a ela se entregam e dos Espíritos que ainda podem inspirá-la. Portanto, meus amigos, esse sentimento jamais deve fazer vibrar o coração de quem quer que se diga e se afirme espírita. Vingar-se é, vocês  sabem, tão contrário a esta prescrição do Cristo: "Perdoem a seus inimigos", que aquele que se recusa a perdoar, não somente não é espírita, como também não é cristão.

A vingança é uma inspiração tanto mais funesta, quanto a falsidade e a baixeza são suas companheiras assíduas. Com efeito, aquele que se entrega a essa paixão cega e fatal quase nunca se vinga a céu aberto. Quando ele é o mais forte, cai como uma fera sobre o que considera seu inimigo, pois basta vê-lo para que se inflamem sua paixão, sua cólera e seu ódio. Mas frequentemente ele assume uma atitude hipócrita, dissimulando no mais profundo do seu coração os maus sentimentos que o animam. Toma caminhos escusos, segue o inimigo na sombra, sem que este desconfie e aguarda o momento propício para feri-lo sem perigo. Esconde-se do outro e vigia-o sem cessar. Prepara-lhe ciladas odiosas, e quando surge a ocasião, derrama-lhe o veneno na taça.

Quando seu ódio não chega a esses extremos, ataca-o na sua honra e nas suas afeições. Não recua diante da calúnia, e suas pérfidas insinuações, habilmente espalhadas por toda parte vão crescendo pelo caminho. Desse modo, quando o perseguidor aparece nos meios atingidos pelo seu sopro envenenado, admira-se de encontrar semblantes frios onde outrora havia rostos amigos e benevolentes. Fica estupefato, quando as mãos que procuravam a sua agora se recusam a apertá-la. Enfim, sente-se aniquilado, quando os amigos mais caros e os parentes o evitam e se esquivam dele. Ah! o covarde que se vinga dessa forma é cem vezes mais culpado do que aquele que vai direto ao inimigo e o insulta abertamente!

Fora, portanto, com esses costumes selvagens! Fora com esses hábitos de outros tempos! Todo espírita que pretendesse hoje ter o direito de vingar-se seria indigno de figurar por mais tempo na falange que tomou por divisa: Fora da caridade não há salvação. Mas não, não posso deter-me no pensamento de que um membro da grande família espírita seja capaz, no futuro, de preferir o impulso da vingança do que o de perdoar.


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