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sábado, 3 de outubro de 2020

 

12.1.2 Os inimigos desencarnados

 


O espírita tem ainda outros motivos para ser indulgente com seus inimigos. Ele sabe, primeiramente, que a maldade não é o estado permanente do homem, que ela provém de imperfeição momentânea e que, assim como a criança se corrige dos seus defeitos, o homem mau reconhecerá um dia seus erros e se tornará bom.

Sabe ainda que a morte só pode livrá-lo da presença material do seu inimigo, mas que este pode persegui-lo com o seu ódio, mesmo depois de haver deixado a Terra, que assim, a vingança não atinge seu objetivo, mas, ao contrário, tem por efeito produzir maior irritação, que pode passar de uma existência a outra. Cabia ao Espiritismo provar, pela experiência e pela lei que rege as relações do mundo visível com o mundo invisível, que a expressão: extinguir o ódio com o sangue é radicalmente falsa, e que, na verdade, o sangue alimenta o ódio mesmo no além-túmulo.  Em consequência, dá uma razão de ser positiva e uma utilidade prática ao perdão e à sublime máxima de Cristo: Ame seus inimigos

Não há coração tão perverso que não se deixe tocar pelas boas ações mesmo a contragosto. O bom procedimento não dá, pelo menos, nenhum pretexto a represálias, e com ele se pode fazer de um inimigo um amigo antes e depois da morte. Com o mau procedimento ele irrita seu inimigo, que, então, serve de instrumento à justiça de Deus para punir aquele que não perdoou.

Pode-se, pois, ter inimigos entre os encarnados e os desencarnados. Os inimigos do mundo invisível manifestam sua maldade pelas obsessões e subjugações, a que tantas pessoas estão expostas, e que são uma variedade das provas da vida. Essas provas, como as demais, contribuem para o adiantamento do ser e devem ser aceitas com resignação, como uma consequência da natureza inferior do globo terrestre. Se não existissem homens maus na Terra, não haveria Espíritos maus à sua volta. Se devemos, portanto, ter indulgência e benevolência para os inimigos encarnados igualmente as devemos ter para os que estão desencarnados.

Antigamente, ofereciam-se sacrifícios sangrentos para apaziguar os deuses infernais, que nada mais eram do que Espíritos maus. Aos deuses infernais sucederam os demônios, que são a mesma coisa. O Espiritismo vem provar que esses demônios nada mais são do que as almas de homens perversos, que ainda não se despojaram dos instintos materiais; que não se pode apaziguá-los senão pelo sacrifício dos maus sentimentos, ou seja, pela caridade; e que a caridade não tem apenas o efeito de impedi-los de fazer o mal, mas também de conduzi-los ao caminho do bem e contribuir para sua salvação. É assim que a sentença: Ame seus inimigos não fica circunscrita ao círculo estreito da Terra e da vida presente, mas integra-se na grande lei da solidariedade e da fraternidade universais.

Tradução livre do prof. dr. Jorge Leite de Oliveira

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