IMPORTÂNCIA
DO NOSSO PAPEL NA DIVULGAÇÃO ESPÍRITA
Jorge Leite de Oliveira
[...] estudemos
Allan Kardec, ao clarão da mensagem de Jesus Cristo, e, seja no exemplo ou na atitude,
na ação ou nas palavras, recordemos que o Espiritismo nos solicita uma espécie
permanente de caridade – a caridade da sua própria divulgação. -Pelo Espírito
Emmanuel (In: XAVIER, 2008, cap. 40).
A educação humanista, religiosa e positivista de Allan Kardec não é
desconhecida. Ele foi educado, a partir dos 10 anos, no Instituto de Yverdon,
na Suíça pelo evangélico ecumênico Johann Henrich Pestalozzi, consoante as
informações de Wantuil (2004, p. 51). Segundo este autor,
No seu Instituto de Educação, em
Yverdon, cidade de cantão protestante, Pestalozzi conviveu com professores
calvinistas e luteranos extremados no zelo religioso, mas, apesar disso e não
obstante pertencer também à igreja reformada, ele sempre se colocou equidistante
do misticismo, dos preconceitos e das paixões religiosas (WANTUIL; THIESEN, 2004, cap. 11, p.
73).
Essa instituição pedagógica, mundialmente conhecida, foi pautada
pelo ensino intelecto-moral, e sabe-se que Kardec, o Codificador do Espiritismo,
era filho de pais católicos. Desse modo, desde jovem, habituara-se a ler e
analisar as Escrituras Sagradas, o
que, mais tarde, na elaboração d’O
Evangelho Segundo o Espiritismo, o fez refletir nos cinco núcleos cristãos,
que comentou na introdução dessa obra: os atos comuns da vida de Jesus; suas
predições; suas expressões tomadas como dogmas pela Igreja; seus milagres; e seus ensinamentos morais (KARDEC,
2016, introd.). Estes últimos, os únicos que não permitem controvérsias,
segundo o Codificador.
Após tomar conhecimento dos fenômenos mediúnicos, em 1854, e
comprovar sua veracidade, a partir de maio de 1855, na casa da Sr.ª Roger,
sonâmbula, Allan Kardec passa a assistir aos inúmeros fenômenos espirituais e,
em 12 de junho de 1856, por intermédio da jovem Aline C..., recebe a informação
do Espírito Verdade sobre sua missão, na difusão do Espiritismo, já anunciada
antes por outros Espíritos. Nessa comunicação, o Espírito Verdade esclarece a
Kardec (2009, Minha missão, p. 368) que este teria de enfrentar uma guerra permanente, na qual sacrificaria
seu descanso, seu sossego, sua saúde e até sua existência física, que poderia
ser bem mais longa sem esses esforços na codificação e difusão do Espiritismo.
Conclui o Espírito Verdade que Kardec necessitaria de ser prudente,
humilde, modesto e desinteressado. Por fim, teria que ter "[...] devotamento,
abnegação e disposição a todos os sacrifícios [...]” no sucesso de sua missão (id.,
ibid.).
A isso, responde o Missionário da Terceira Revelação humildemente:
Espírito Verdade, agradeço os teus
sábios conselhos. Aceito tudo, sem restrição e sem ideia preconcebida.
Senhor! já que te dignaste lançar
os olhos sobre mim para cumprimento dos teus desígnios, faça-se a tua vontade!
A minha vida está nas tuas mãos; dispõe do teu servo. Reconheço a minha
fraqueza diante de tão grande tarefa; a minha boa vontade não desfalecerá, mas
talvez as forças me traiam. Supre a minha deficiência; dá-me as forças físicas
e morais que me forem necessárias. Ampara-me nos momentos difíceis e, com o teu
auxílio e o amparo dos teus celestes mensageiros, tudo farei para corresponder
aos teus desígnios (KARDEC, 2009, p. 369).
Assim agem os grandes
missionários. Não fogem aos desafios de sua missão, abandonam tudo o que é
supérfluo, em prol dela, e dedicam toda a sua vida para bem cumpri-la, sem
outro objetivo que não seja o do bem da Humanidade. Allan Kardec foi um desses
gigantes escolhido a dedo por Jesus
Cristo. Tudo abandonou, quando observou conscienciosamente e pesquisou, sem
ideias preconcebidas, os fenômenos mediúnicos. Não receou, mesmo, abandonar o
conceito católico que possuía sobre a vida na Terra, acatando, humildemente, as
ponderações dos Espíritos superiores sobre a necessidade da reencarnação e sua
justiça na explicação de todas as desigualdades existentes no mundo.
Autor de cursos renomados, de obras didáticas premiadas, nome já
consagrado no meio científico, podia fazer fortuna nesse ambiente, mas diante
da grandiosidade da tarefa que vislumbrava pela frente, não titubeou em abraçar
a causa espírita com todo o ardor de sua alma missionária. Cabe a nós seguir
seus passos, como ele seguiu os do Cristo, nosso Irmão Maior e Modelo Divino
para toda a Humanidade. Acompanhar Kardec na vivência e divulgação do
Espiritismo é doar-nos em prol de um mundo melhor, é combater o materialismo, é
praticar o bem incansavelmente, para que possamos, desde já, ser felizes.
Preocupado com o futuro da Doutrina Espírita, e empenhado na
produção d’O Livro dos Espíritos,
Kardec, na questão 798, deseja saber se o Espiritismo tornar-se-ia crença
geral. Então, foi informado de que este não somente se tornará “crença comum”,
como “marcará uma Nova Era na História da Humanidade, porque está na Natureza e
chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos [...]”.
Em seguida, esclarecem os Imortais que o Espiritismo haveria ainda
que sustentar, por algum tempo,
[...] grandes lutas, mais contra
os interesses, do que contra a convicção, pois não se pode dissimular a
existência de pessoas interessadas em combatê-lo, umas por amor-próprio,
outras, por causas inteiramente materiais. Porém, seus contraditores se
tornarão cada vez mais isolados, serão forçados a pensar como os demais, sob
pena de se tornarem ridículos (KARDEC, 2006, p. 438).
Allan Kardec (2014, p. 361)
previu quatro períodos distintos na difusão do Espiritismo: o primeiro foi o da
curiosidade; o segundo foi o da observação ou fase filosófica da Doutrina
Espírita; o terceiro e o quarto períodos ainda dependem muito do nosso esforço
para se concretizarem. Com o advento da internet, proporcionando a globalização
das comunicações e a aprovação, cada vez maior de dissertações e teses
espíritas acadêmicas, o terceiro período, que é o de sua admissão “entre as
crenças oficialmente reconhecidas” está em pleno curso.
Cabe-nos, como adeptos, esforçar-nos para
que o Espiritismo exerça “sua influência sobre a ordem social”, em seu quarto
período, como previu Kardec que ocorrerá. Quando isso acontecer, em sua
plenitude, a Humanidade “entrará num novo caminho moral” e, consequentemente, o
mundo será mais feliz.
Em seu período inicial, o Espiritismo foi
bastante ridicularizado pelas pessoas supostamente doutas, em especial, pelos
adeptos das teorias materialistas. Também o meio religioso via a Doutrina
Espírita como concorrente dos seus interesses em dominar as mentes, no que se
refere ao sagrado, além de desmistificar os dogmas sem fundamentos reais, como
o da doutrina das penas eternas e outros, já bastante conhecidos.
Em nossos relacionamentos sociais, estudos
e esforços na divulgação do Espiritismo, temos constatado o acerto das
seguintes palavras kardequianas:
O
temor do ridículo entre uns, e noutros o receio de melindrar certas
susceptibilidades os impedem de proclamarem alto e bom som as suas opiniões;
isso é sem dúvida pueril; entretanto, nós os compreendemos perfeitamente. Não
se pode pedir a certos homens aquilo que a Natureza não lhes deu: a coragem de
desafiar o “que dirão disso?” Porém, quando o Espiritismo estiver em todas as
bocas – e esse tempo não está longe – tal coragem virá aos mais tímidos. Sob
esse aspecto uma mudança notável já vem se operando desde algum tempo; fala-se
dele mais abertamente; já se arriscam, e isso faz abrir os olhos dos próprios
antagonistas, que se interrogam se é prudente, no interesse de sua própria
reputação, combater uma crença que, por bem ou por mal, infiltra-se por toda
parte e encontra apoio no ápice da sociedade. Assim, o epíteto de loucos, tão
largamente prodigalizado aos adeptos, começa a tornar-se ridículo; é um
lugar-comum que se torna trivial, pois em breve os loucos serão mais numerosos
que as pessoas sensatas, havendo mais de um crítico que já se colocou do seu
lado. Finalmente, é o cumprimento do que anunciaram os Espíritos, ao dizerem:
os maiores adversários do Espiritismo tornar-se-ão seus mais ardorosos
partidários e propagandistas (KARDEC, 2014, p. 362).
No mundo atual, as ideias materialistas e
a falta de uma crença pautada nas eternas leis naturais, junto com outros
fatores socioeconômicos e políticos, têm causado muitos distúrbios sociais e
levado milhões de pessoas ao crime e ao suicídio. Cabe, então, ao adepto sincero
do Espiritismo atuar, com denodo e amor, na divulgação de sua elevada
concepção, a fim de que, rapidamente, sua revelação se espalhe por toda a
Terra. Sem nossa transformação moral, entretanto, pouco ajudaremos nessa
tarefa, pois, como nos informa o Espírito Emmanuel: “Não é tão fácil a
conversão do homem, quanto o afirmam os portadores de convicções apressadas.
Muitos dizem: ‘eu creio’, mas poucos podem declarar: ‘estou transformado”
(XAVIER, 2005, cap. 15, p. 45).
Segundo Léon Denis, que já entrevia,
no início do século XIX, as dificuldades que provoca o sectarismo religioso, na
concretização de uma identidade comum com a doutrina do Cristo no mundo, centrada
na humildade e no amor,
O que é presentemente necessário à
Humanidade não é mais uma crença, uma fé decorrente de um sistema ou de uma
religião particular, inspirada em textos respeitáveis, mas de autenticidade
duvidosa, em que a verdade e o erro se mesclam e se confundem. O que se impõe é
uma crença baseada em provas e em fatos; uma certeza fundada no estudo e na
experiência, de que se destacam um ideal de justiça, uma noção positiva do
destino, um estímulo de aperfeiçoamento, suscetíveis de regenerar os povos e
ligar os homens de todas as raças e de todas as religiões (DENIS, 2016, cap. 8).
Já na Revista Espírita e nas obras básicas de Kardec, encontramos
alertas, como esta síntese: “Para a parte moral do Espiritismo, nenhuma
dificuldade na teoria, muita na prática”. Um Espírito. (KARDEC, 2004, it. A melhor
propagada, p. 476). Cabe a nós, os novos cristãos, à luz do Espiritismo,
esforçarmo-nos para pôr em prática esses brilhantes ensinamentos que tanto nos
emocionam, mas que precisam também ser aplicados no cotidiano de nossas
existências físicas. Isso porque, segundo o Espírito Emmanuel, guia espiritual
de Chico Xavier (2005, cap. 19): “Os que afirmam apenas na forma verbal que o
Mestre se encontra aqui ou ali, arcam com profundas responsabilidades. A
preocupação de proselitismo é sempre perigosa para os que se seduzem com as
belezas sonoras da palavra sem exemplos edificantes”.
Somente estaremos em condições de,
não somente atrair, como também de convencer a outrem sobre a grandeza de
nossas convicções, observando com rigor o que diz Allan Kardec: “Reconhece-se o
verdadeiro espírita se pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega
para domar suas inclinações más” (KARDEC, 2016, cap. 17). A isso, o Espírito Emmanuel acrescenta o
seguinte: “Tua mensagem não se constitui apenas do discurso ou do título de
cerimônia com que te apresentas no plano convencional; é a essência de tuas
próprias ações, a exteriorizar-se de ti, alcançando os outros” (XAVIER, 2008,
cap. 2).
REFERÊNCIAS
DENIS,
Léon. Cristianismo e espiritismo. Trad. Leopoldo Cirne. 17. ed. 4. imp.
Brasília: FEB, 2016.
KARDEC,
Allan. O livro dos espíritos. Trad.
Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. comemor. Rio de Janeiro: FEB, 2006.
______.Obras póstumas. Trad. Evandro Noleto
Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009.
______.
O evangelho segundo o espiritismo.
Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 2. reimp. Brasília: FEB, 2016.
______.
Revista Espírita: jornal de estudos
psicológicos. Ano 1, n. 9, set. 1858.
Trad. Evandro Noleto Bezerra. 5. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2014.
______.
_____. Ano 11, n. 11, nov. 1868. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB, 2004.
WANTUIL,
Zeus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec:
o educador e o codificador. 2. ed. Rio de Janeiro: 2004.
XAVIER,
Francisco Cândido. Caminho, verdade e
vida. Pelo Espírito Emmanuel. 1. ed. esp. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
______;
VIEIRA, Waldo. Estude e viva. Pelos
Espíritos Emmanuel e André Luiz. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008.
Publicado no periódico
mensal Reformador, da Federação
Espírita Brasileira, set. 2017.
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