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quinta-feira, 1 de outubro de 2020

 

IMPORTÂNCIA DO NOSSO PAPEL NA DIVULGAÇÃO ESPÍRITA

Jorge Leite de Oliveira

 

[...] estudemos Allan Kardec, ao clarão da mensagem de Jesus Cristo, e, seja no exemplo ou na atitude, na ação ou nas palavras, recordemos que o Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade – a caridade da sua própria divulgação. -Pelo Espírito Emmanuel (In: XAVIER, 2008, cap. 40).

 

A educação humanista, religiosa e positivista de Allan Kardec não é desconhecida. Ele foi educado, a partir dos 10 anos, no Instituto de Yverdon, na Suíça pelo evangélico ecumênico Johann Henrich Pestalozzi, consoante as informações de Wantuil (2004, p. 51). Segundo este autor,

 

No seu Instituto de Educação, em Yverdon, cidade de cantão protestante, Pestalozzi conviveu com professores calvinistas e luteranos extremados no zelo religioso, mas, apesar disso e não obstante pertencer também à igreja reformada, ele sempre se colocou equidistante do misticismo, dos preconceitos e das paixões religiosas (WANTUIL; THIESEN, 2004, cap. 11, p. 73).

 

Essa instituição pedagógica, mundialmente conhecida, foi pautada pelo ensino intelecto-moral, e sabe-se que Kardec, o Codificador do Espiritismo, era filho de pais católicos. Desse modo, desde jovem, habituara-se a ler e analisar as Escrituras Sagradas, o que, mais tarde, na elaboração d’O Evangelho Segundo o Espiritismo, o fez refletir nos cinco núcleos cristãos, que comentou na introdução dessa obra: os atos comuns da vida de Jesus; suas predições; suas expressões tomadas como dogmas pela Igreja; seus milagres; e seus ensinamentos morais (KARDEC, 2016, introd.). Estes últimos, os únicos que não permitem controvérsias, segundo o Codificador.

Após tomar conhecimento dos fenômenos mediúnicos, em 1854, e comprovar sua veracidade, a partir de maio de 1855, na casa da Sr.ª Roger, sonâmbula, Allan Kardec passa a assistir aos inúmeros fenômenos espirituais e, em 12 de junho de 1856, por intermédio da jovem Aline C..., recebe a informação do Espírito Verdade sobre sua missão, na difusão do Espiritismo, já anunciada antes por outros Espíritos. Nessa comunicação, o Espírito Verdade esclarece a Kardec (2009, Minha missão, p. 368) que este teria de enfrentar uma guerra permanente, na qual sacrificaria seu descanso, seu sossego, sua saúde e até sua existência física, que poderia ser bem mais longa sem esses esforços na codificação e difusão do Espiritismo.

Conclui o Espírito Verdade que Kardec necessitaria de ser prudente, humilde, modesto e desinteressado. Por fim, teria que ter "[...] devotamento, abnegação e disposição a todos os sacrifícios [...]” no sucesso de sua missão (id., ibid.).

A isso, responde o Missionário da Terceira Revelação humildemente:

 

Espírito Verdade, agradeço os teus sábios conselhos. Aceito tudo, sem restrição e sem ideia preconcebida.

Senhor! já que te dignaste lançar os olhos sobre mim para cumprimento dos teus desígnios, faça-se a tua vontade! A minha vida está nas tuas mãos; dispõe do teu servo. Reconheço a minha fraqueza diante de tão grande tarefa; a minha boa vontade não desfalecerá, mas talvez as forças me traiam. Supre a minha deficiência; dá-me as forças físicas e morais que me forem necessárias. Ampara-me nos momentos difíceis e, com o teu auxílio e o amparo dos teus celestes mensageiros, tudo farei para corresponder aos teus desígnios (KARDEC, 2009, p. 369).

 

            Assim agem os grandes missionários. Não fogem aos desafios de sua missão, abandonam tudo o que é supérfluo, em prol dela, e dedicam toda a sua vida para bem cumpri-la, sem outro objetivo que não seja o do bem da Humanidade. Allan Kardec foi um desses gigantes escolhido a dedo por Jesus Cristo. Tudo abandonou, quando observou conscienciosamente e pesquisou, sem ideias preconcebidas, os fenômenos mediúnicos. Não receou, mesmo, abandonar o conceito católico que possuía sobre a vida na Terra, acatando, humildemente, as ponderações dos Espíritos superiores sobre a necessidade da reencarnação e sua justiça na explicação de todas as desigualdades existentes no mundo.

Autor de cursos renomados, de obras didáticas premiadas, nome já consagrado no meio científico, podia fazer fortuna nesse ambiente, mas diante da grandiosidade da tarefa que vislumbrava pela frente, não titubeou em abraçar a causa espírita com todo o ardor de sua alma missionária. Cabe a nós seguir seus passos, como ele seguiu os do Cristo, nosso Irmão Maior e Modelo Divino para toda a Humanidade. Acompanhar Kardec na vivência e divulgação do Espiritismo é doar-nos em prol de um mundo melhor, é combater o materialismo, é praticar o bem incansavelmente, para que possamos, desde já, ser felizes.

Preocupado com o futuro da Doutrina Espírita, e empenhado na produção d’O Livro dos Espíritos, Kardec, na questão 798, deseja saber se o Espiritismo tornar-se-ia crença geral. Então, foi informado de que este não somente se tornará “crença comum”, como “marcará uma Nova Era na História da Humanidade, porque está na Natureza e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos [...]”.

Em seguida, esclarecem os Imortais que o Espiritismo haveria ainda que sustentar, por algum tempo,

 

[...] grandes lutas, mais contra os interesses, do que contra a convicção, pois não se pode dissimular a existência de pessoas interessadas em combatê-lo, umas por amor-próprio, outras, por causas inteiramente materiais. Porém, seus contraditores se tornarão cada vez mais isolados, serão forçados a pensar como os demais, sob pena de se tornarem ridículos (KARDEC, 2006, p. 438).

 

 Allan Kardec (2014, p. 361) previu quatro períodos distintos na difusão do Espiritismo: o primeiro foi o da curiosidade; o segundo foi o da observação ou fase filosófica da Doutrina Espírita; o terceiro e o quarto períodos ainda dependem muito do nosso esforço para se concretizarem. Com o advento da internet, proporcionando a globalização das comunicações e a aprovação, cada vez maior de dissertações e teses espíritas acadêmicas, o terceiro período, que é o de sua admissão “entre as crenças oficialmente reconhecidas” está em pleno curso.

Cabe-nos, como adeptos, esforçar-nos para que o Espiritismo exerça “sua influência sobre a ordem social”, em seu quarto período, como previu Kardec que ocorrerá. Quando isso acontecer, em sua plenitude, a Humanidade “entrará num novo caminho moral” e, consequentemente, o mundo será mais feliz.

Em seu período inicial, o Espiritismo foi bastante ridicularizado pelas pessoas supostamente doutas, em especial, pelos adeptos das teorias materialistas. Também o meio religioso via a Doutrina Espírita como concorrente dos seus interesses em dominar as mentes, no que se refere ao sagrado, além de desmistificar os dogmas sem fundamentos reais, como o da doutrina das penas eternas e outros, já bastante conhecidos.

Em nossos relacionamentos sociais, estudos e esforços na divulgação do Espiritismo, temos constatado o acerto das seguintes palavras kardequianas:

 

 O temor do ridículo entre uns, e noutros o receio de melindrar certas susceptibilidades os impedem de proclamarem alto e bom som as suas opiniões; isso é sem dúvida pueril; entretanto, nós os compreendemos perfeitamente. Não se pode pedir a certos homens aquilo que a Natureza não lhes deu: a coragem de desafiar o “que dirão disso?” Porém, quando o Espiritismo estiver em todas as bocas – e esse tempo não está longe – tal coragem virá aos mais tímidos. Sob esse aspecto uma mudança notável já vem se operando desde algum tempo; fala-se dele mais abertamente; já se arriscam, e isso faz abrir os olhos dos próprios antagonistas, que se interrogam se é prudente, no interesse de sua própria reputação, combater uma crença que, por bem ou por mal, infiltra-se por toda parte e encontra apoio no ápice da sociedade. Assim, o epíteto de loucos, tão largamente prodigalizado aos adeptos, começa a tornar-se ridículo; é um lugar-comum que se torna trivial, pois em breve os loucos serão mais numerosos que as pessoas sensatas, havendo mais de um crítico que já se colocou do seu lado. Finalmente, é o cumprimento do que anunciaram os Espíritos, ao dizerem: os maiores adversários do Espiritismo tornar-se-ão seus mais ardorosos partidários e propagandistas (KARDEC, 2014, p. 362).

 

            No mundo atual, as ideias materialistas e a falta de uma crença pautada nas eternas leis naturais, junto com outros fatores socioeconômicos e políticos, têm causado muitos distúrbios sociais e levado milhões de pessoas ao crime e ao suicídio. Cabe, então, ao adepto sincero do Espiritismo atuar, com denodo e amor, na divulgação de sua elevada concepção, a fim de que, rapidamente, sua revelação se espalhe por toda a Terra. Sem nossa transformação moral, entretanto, pouco ajudaremos nessa tarefa, pois, como nos informa o Espírito Emmanuel: “Não é tão fácil a conversão do homem, quanto o afirmam os portadores de convicções apressadas. Muitos dizem: ‘eu creio’, mas poucos podem declarar: ‘estou transformado” (XAVIER, 2005, cap. 15, p. 45).

            Segundo Léon Denis, que já entrevia, no início do século XIX, as dificuldades que provoca o sectarismo religioso, na concretização de uma identidade comum com a doutrina do Cristo no mundo, centrada na humildade e no amor,

 

O que é presentemente necessário à Humanidade não é mais uma crença, uma fé decorrente de um sistema ou de uma religião particular, inspirada em textos respeitáveis, mas de autenticidade duvidosa, em que a verdade e o erro se mesclam e se confundem. O que se impõe é uma crença baseada em provas e em fatos; uma certeza fundada no estudo e na experiência, de que se destacam um ideal de justiça, uma noção positiva do destino, um estímulo de aperfeiçoamento, suscetíveis de regenerar os povos e ligar os homens de todas as raças e de todas as religiões (DENIS, 2016, cap. 8).

 

            Já na Revista Espírita e nas obras básicas de Kardec, encontramos alertas, como esta síntese: “Para a parte moral do Espiritismo, nenhuma dificuldade na teoria, muita na prática”. Um Espírito. (KARDEC, 2004, it. A melhor propagada, p. 476). Cabe a nós, os novos cristãos, à luz do Espiritismo, esforçarmo-nos para pôr em prática esses brilhantes ensinamentos que tanto nos emocionam, mas que precisam também ser aplicados no cotidiano de nossas existências físicas. Isso porque, segundo o Espírito Emmanuel, guia espiritual de Chico Xavier (2005, cap. 19): “Os que afirmam apenas na forma verbal que o Mestre se encontra aqui ou ali, arcam com profundas responsabilidades. A preocupação de proselitismo é sempre perigosa para os que se seduzem com as belezas sonoras da palavra sem exemplos edificantes”.

            Somente estaremos em condições de, não somente atrair, como também de convencer a outrem sobre a grandeza de nossas convicções, observando com rigor o que diz Allan Kardec: “Reconhece-se o verdadeiro espírita se pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más” (KARDEC, 2016, cap. 17). A  isso, o Espírito Emmanuel acrescenta o seguinte: “Tua mensagem não se constitui apenas do discurso ou do título de cerimônia com que te apresentas no plano convencional; é a essência de tuas próprias ações, a exteriorizar-se de ti, alcançando os outros” (XAVIER, 2008, cap. 2).

 

REFERÊNCIAS

 

DENIS, Léon. Cristianismo e espiritismo. Trad. Leopoldo Cirne. 17. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2016.

KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 1ª ed. comemor. Rio de Janeiro: FEB, 2006.

______.Obras póstumas. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Rio de Janeiro: FEB, 2009.

______. O evangelho segundo o espiritismo. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 2. reimp. Brasília: FEB, 2016.

______. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos. Ano 1, n. 9,  set. 1858. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 5. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2014.

______. _____. Ano 11, n. 11, nov. 1868. Trad. Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB, 2004.

WANTUIL, Zeus; THIESEN, Francisco. Allan Kardec: o educador e o codificador. 2. ed. Rio de Janeiro: 2004.

XAVIER, Francisco Cândido. Caminho, verdade e vida. Pelo Espírito Emmanuel. 1. ed. esp. Rio de Janeiro: FEB, 2005.

______; VIEIRA, Waldo. Estude e viva. Pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz. 13. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008.

 

Publicado no periódico mensal Reformador, da Federação Espírita Brasileira, set. 2017.

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