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quinta-feira, 8 de outubro de 2020


DALE OWEN E OS FATOS MEDIÚNICOS: 

um clássico espírita-cristão

Jorge Leite de Oliveira



 

Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, qual imenso exército que se movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda a superfície da Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir os olhos aos cegos – O Espírito de Verdade (In: KARDEC, 2017, prefácio).

 

            Não são poucos os pesquisadores que, desde o século XIX, vêm observando os fenômenos espíritas, e realizando experiências que confirmam sua realidade, conforme método de pesquisa proposto por Allan Kardec. Um desses notáveis teóricos, que dedicou sua vida a esse elevado trabalho, foi Robert Dale Owen. Em sua obra Região em Litígio, Owen relata-nos inúmeros fatos citados por pessoas idôneas ou observados pessoalmente por ele: comunicações mediúnicas obtidas por meio de pancadas (tiptologia), elevação sem contato de mesas de diversos tamanhos; movimentos de objetos pesados por Espíritos; escrita mediúnica direta; manifestações espontâneas de Espíritos; e dons espirituais.

            Em Nova Iorque, o autor observou fenômenos de tiptologia e outros fenômenos mediúnicos, produzidos por membros da família Fox Underhill. Em especial, na presença das irmãs Kate Fox e Leah Fox. Em algumas ocasiões, os fenômenos eram acompanhados da visão de mãos que se materializavam e luzes, com forma de cabeça que flutuava ou de punho humano que tocava o assoalho da casa como se desse marteladas. Essas manifestações respondiam a pedidos mentais feitos por Owen (2006, parte terc., cap. I). Ora ele solicitava pancada forte ora fraca, e elas aconteciam como era pedido.

            Em nova experiência na casa da família Underhill, meses depois, ocorreu a materialização de mão luminosa, que tocava Owen e se comunicava com ele e as pessoas presentes por meio de pancadas. Cerca de dois meses após, na sala da família citada, manifestou-se um Espírito homicida. Se antes os toques locais e contatos de mãos eram suaves, agora esses fenômenos eram como os de um martelo de 5 kg que batesse no soalho com força. A entidade disse chamar-se Jackson, um estalajadeiro que assassinara um coronel americano. Não foi informado como o estalajadeiro morreu, mas provavelmente tenha sido executado pelo crime cometido.

Outros fenômenos assustadores foram presenciados por Dale Owen e testemunhas, além da família Underhill, que demonstraram a presença de Espíritos, nem sempre pacíficos, quando produziam pancadas violentíssimas, sem que o móvel apresentasse qualquer avaria, ao final da sessão mediúnica (OWEN, op. cit., p. 324 – 329).

Todos esses fenômenos mediúnicos são respaldados por outros, semelhantes, narrados na Bíblia. Ao relatar os movimentos de objetos, como o em que ocorre o aumento e diminuição do  peso de uma mesa, por um poder oculto, Owen (p. 330- 332) cita 2 Reis, 6: 4 – 6, em que é narrada a submersão de um martelo caído no fundo da água do rio Jordão, que veio à tona após o lançamento ao rio de um pedaço de pau pelo profeta Eliseu.

Eis o relato de fenômeno mediúnico observado por Owen e outras testemunhas, na sala de jantar do Sr. Underhill, estando presentes este, sua mulher, Kate Fox e Chambers:

 

Achando-se a mesa suspensa e a balança indicando o peso de 55 quilos, pedimos que diminuísse seu peso. Em poucos segundos, o braço da balança teve de ser diminuído, até indicar 45 quilos [...]. Então, pedimos que aumentasse o peso e este subiu a 58 e depois a 65 quilos! (OWEN, 2006, p. 331).

 

 No capítulo seguinte, sobre a “escrita espiritual direta, é citado Daniel, 5:5, que relata o aparecimento de “[...] dedos de mão humana, escrevendo à luz do candieiro, sobre a caiadura da parede do palácio real [...]” (apud OWEN, p. 339).

O autor de Região em litígio cita o conhecimento da obra e pessoa do barão de Guldenstubbé, pesquisador russo que dedicou sua vida ao estudo dos fenômenos espirituais, cujo livro publicado em 1857 não teve a merecida divulgação. O barão obteve mais de quinhentas comunicações mediúnicas pela escrita direta, obtidas, principalmente, em templos religiosos, como “velhas catedrais” ou “residências históricas”. Desse total, compartilhou com Owen 67, que acrescenta: “Essas experiências foram testemunhadas por mais de cinquenta pessoas, dentre as quais ele publica os nomes de treze, sendo por essas testemunhas fornecido o papel para as experiências” (OWEN, 2006, p. 340). Tais pesquisas, infelizmente, foram proibidas e mesmo demonizadas pela Igreja.

Em 8 de agosto de 1861, na casa da família Fox, Owen teve a visão de mão luminosa que respondia as perguntas feitas por escrito. Após todos os cuidados tomados para evitar fraude, mesmo em condições adversas informadas pela entidade comunicante e após ter colocado seu sinete em cada folha, concluiu ser verdadeiro o fenômeno espiritual, com as frases impressas nas folhas assinadas por ele sem contato de mais ninguém. O autor cita outros exemplos de clara intervenção espiritual, que ratificam experiências obtidas por ele ou por outros pesquisadores em sua época.

Dale também testemunhou fenômenos espíritas extraordinários produzidos por Daniel Dunglas Home, como os que ocorreram na casa de Owen, na presença de sua família, do conde d’Áquila e do príncipe Luiz, irmão do rei de Nápoles. Apareceram mãos, como a da filha de Owen, falecida em tenra idade, segundo lhe foi informado, o vestido da Sr.ª Owen foi puxado com violência na direção contrária a em que estava o médium, e a mesa em que este estavam pousadas as mãos de Home elevou-se duas vezes e caminhou alguns centímetros. Na segunda vez, “[...] prendeu ao solo o vestido da Sr.ª Owen, impedindo que ela se levantasse, como o havia feito da primeira vez, e sendo preciso afastar a mesa para liberar o vestido” (OWEN, 2006, p. 361). Ainda mais impressionante foi o relato sobre o movimento de uma cadeira que pesava 20,5 quilos, situada atrás de Home, em direção à mesa, que parou a cerca de cinco centímetros (duas polegadas) desta antes de se chocarem.

Owen narra, ainda, as manifestações espontâneas dos Espíritos, como demonstração de sua realidade sem ideias preconcebidas, como a de Violeta, jovem de grande elevação espiritual, falecida há vinte anos, que se manifestou a ele em reunião sem que ele estivesse pensando nela. A emoção do autor foi grande, quando o Espírito esclareceu uma frase, inicialmente incompleta, sobre a finalidade de sua manifestação. Disse-lhe Violeta que viera: “Cumprir uma promessa escrita para me fazer lembrada, mesmo depois da morte” (OWEN, 2006, p. 400).

Informa-nos ainda o autor que, dias depois, o mesmo Espírito voltara a manifestar-se e respondeu a várias perguntas mentais que Owen lhe fizera, de “caráter privado e as verdadeiras respostas” conhecidas, então, somente por ele (op. cit., p. 401). Após considerações pessoais sobre a necessidade de muitas pessoas em vencer a relutância de narrar suas experiências com a manifestação espontânea dos Espíritos, o autor diz ser necessário “[...] um desejo ardente de servir à verdade, de fornecer um testemunho importante, de vital interesse para a Humanidade” (OWEN, 2006, p. 401).

Por fim, reforçado pelos fatos narrados nos Evangelhos sobre os dons espirituais e epístola de Paulo em I Coríntios, 12: 4 e 9, Owen cita as curas obtidas por influência dos Espíritos. Diz o autor então que

 

Quando João Batista mandou perguntar-lhe se Ele era o que tinha de vir ou se deviam esperar um outro, Jesus em resposta lhe manda anunciar o seguinte: “Os cegos veem, os coxos caminham, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, e os pobres recebem o Evangelho que lhes é pregado” (OWEN, 2006, p. 478).

 

O dom de curar, reivindicado pela Igreja romana, como exclusivo de seus santos, não é seu privilégio. Em seu tempo, diz Owen (op. cit., p. 479), que a cura magnética vinha realizando prodígios. Cita, então, o caridoso marquês de Guibert, fidalgo francês que em seu hospital situado na Comuna de Tarascon, do Estado de Fontechateau, tratou gratuita e magneticamente mais de três mil e trezentos pacientes. “Cerca de três quintos desses doentes (1.948) tiveram alta por terem sido curados, e trezentos e setenta e cinco saíram muito aliviados” (OWEN, 2006, p. 479).

Em seguida, o autor narra dois casos em que não se pode negar a cura espiritual. Ambas as curas foram extraordinárias, mas, se a primeira foi de paralisia nos membros curada após vários meses de um acidente, a segunda ocorreu após 25 anos de moléstia cardíaca da Sr.ª A. Kyd. Andava com dificuldade e, para subir escadas, precisava ser carregada. Além do problema do coração, possuía diversas outras doenças crônicas, como câimbras, espasmos, prolapso do útero, mal da bexiga etc. Consultado conhecido médium, de Paris, após fortuna gasta inutilmente com consultas médicas, ficou curada com um passe dado por ele à altura do seu coração (op. cit., p. 486).

Concluindo sua bela obra, para os que têm olhos de ver, ouvidos para ouvir e buscam a verdade sem mescla, como aquela que o Cristo nos ensinou, o autor nos esclarece que o Reino de Deus e seu Espírito não está nas imposições dogmáticas ou intolerâncias religiosas. Seu Espírito, como seu Reino, estão na consciência leve, no amor ao bem pelo bem, sem ideias preconcebidas de recompensa, a não ser a da alegria de servir, perdoar e amar nosso próximo.

Das diversas reflexões expostas pelo autor dessa obra ainda pouco conhecida, após sua constatação de que a promessa de nos enviar o Consolador, realizada pelos fenômenos espíritas, atualmente mais focados na evangelização humana, atrevemo-nos a pinçar três. A primeira relaciona-se aos planos de Deus, previstos por Jesus, para que “as [...] revelações espirituais [...] viessem perenemente de um mundo mais adiantado que este [...]”; a segunda é a de que a caridade é a lei suprema, que nos exige a renúncia do apego às riquezas e poder humanos, “a pureza nos pensamento e nos atos, a resignação à vontade de Deus”; a última está no derradeiro parágrafo de Owen:

 

Com o auxílio dos Espíritos que pela triunfal transformação da morte partiram antes de nós para a feliz região sideral, com o auxílio da plácida voz que nos aconselha e do Cristo, nosso guia principal, com segurança e proveito interrogaremos o Inexplorado. Precisamos conhecer suas leis; precisamos da evidência que os seus fenômenos nos dão. Nas fronteiras dos dois mundos, encontramos influências muito mais necessárias, muito mais poderosas que qualquer das terrenas: influências benévolas, destinadas a reerguer a moral degenerada e auxiliar o progresso espiritual.

 

            Palavras que se aplicam, sem tirar nem pôr, aos nossos dias atuais. Roguemos a Deus que nos continue enviando as luzes do Alto, para que, fazendo nossa parte no incansável dever de praticar o bem, possamos atender aos objetivos Divinos de livrar a Terra da ignorância e seus maus frutos. Pois, como disse Jesus, pela árvore se reconhece seus frutos. Ainda que a nossa seja a mais pequenina do Jardim Divino, que ela se desenvolva, dia a dia, na produção de frutos maduros e saborosos.  

           

 

REFERÊNCIAS

 

KARDEC, Allan. O evangelho segundo o espiritismo. 2. ed. – 5. imp. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. Brasília, FEB, 2017.

OWEN, Robert Dale. Região em litígio: entre este mundo e o outro. 5. ed. Tradução de Francisco Raymundo Ewerton Quadros. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2006.

 

(Publicado em Reformador, periódico mensal da Federação Espírita Brasileira (FEB), em abril de 2020.)

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