12.2 Se alguém o ferir na
face direita, apresente-lhe a outra
Vocês têm ouvido o que se disse: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, digo-lhes que não resistam ao mal que lhes queiram fazer; mas se alguém bater em sua face direita, ofereçam-lhe também a outra; e ao que quiser pleitear contra vocês, para tirar-lhes a túnica, larguem-lhe também a capa: e se alguém os obrigar a caminhar mil passos com ele, vão com ele ainda mais dois mil. Deem a quem lhes pedir e não rejeitem os que desejam que lhes emprestem (Mateus, 5:38-42).
Os
preconceitos do mundo, a respeito daquilo que se convencionou chamar ponto
de honra, produzem essa suscetibilidade sombria, nascida do orgulho e da exaltação
da personalidade, que leva o homem a geralmente retribuir injúria por injúria, lesão
por lesão, o que parece justo para aqueles cujo senso moral não se eleva acima
das paixões terrenas. É por isso que a lei mosaica previa: Olho por olho e
dente por dente, lei em harmonia com o tempo em que Moisés vivia.
Veio o
Cristo e disse: "Não resistam ao mal que lhes queiram fazer. Se alguém os ferir
numa face, ofereçam-lhe também a outra". Ao orgulhoso, essa máxima parece uma
covardia, porque ele não compreende que há mais coragem em suportar um insulto,
que em se vingar, sempre devido a sua visão ser incapaz de ir além do presente.
Devemos,
entretanto, tomar essa máxima ao pé da letra? Não, da mesma maneira que aquela
que manda arrancar o olho, se ele for causa de escândalo. Levada às últimas consequências,
ela condenaria toda repressão, mesmo legal, e deixaria o campo livre aos maus,
que nada teriam a temer. Não se pondo freio às suas agressões, bem logo
todos os bons seriam suas vítimas. O próprio instinto de conservação, que é uma
lei da natureza, nos diz que não devemos entregar de boa vontade o pescoço ao
assassino.
Por
essas palavras, Jesus não proibiu toda a defesa, mas condenou a vingança.
Dizendo-nos para oferecer uma face quando formos batidos na outra, disse, por
outras palavras, que não devemos retribuir o mal com o mal; que o homem deve
aceitar com humildade tudo o que tende a abater-lhe o orgulho; que é mais
glorioso para ele ser ferido que ferir; suportar pacientemente uma injustiça
que cometê-la; que mais vale ser enganado que enganar, ser arruinado que
arruinar os outros.
Isso,
ao mesmo tempo, é a condenação do duelo, que não passa de uma manifestação do orgulho.
A fé na vida futura e na Justiça de Deus, que jamais deixa o mal impune, é a
única que nos pode dar a força de suportar, pacientemente, os atentados aos
nossos interesses e ao nosso amor-próprio. Eis porque lhes dizemos
incessantemente: Lancem seus olhos adiante; quanto mais os elevarem, pelo
pensamento, acima da vida material, menos serão feridos pelas coisas da Terra.
Tradução livre: prof. dr. Jorge Leite de Oliveira
Jorge, bela reflexão! Conheço também a interpretação de que dar a outra face significa mostrar outra forma de sentir, pensar, agir: ao agressor, mostrar como a violência prejudica a ele próprio, mais que à vítima; mostrar, pelo exemplo, que é possível resolver conflitos ou expressar emoções sem agressividade!
ResponderExcluirSim, Ana Cláudia, excelente reflexão
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