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sábado, 10 de outubro de 2020

 


12.2 Se alguém o ferir na face direita, apresente-lhe a outra

 

Vocês têm ouvido o que se disse: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, digo-lhes que não resistam ao mal que lhes queiram fazer; mas se alguém  bater em sua face direita, ofereçam-lhe também a outra; e ao que quiser pleitear contra vocês, para tirar-lhes a túnica, larguem-lhe também a capa: e se alguém os obrigar a caminhar mil passos com ele, vão com ele ainda mais dois mil. Deem a quem lhes pedir e não  rejeitem os que desejam que lhes emprestem (Mateus, 5:38-42). 

Os preconceitos do mundo, a respeito daquilo que se convencionou chamar ponto de honra, produzem essa suscetibilidade sombria, nascida do orgulho e da exaltação da personalidade, que leva o homem a geralmente retribuir injúria por injúria, lesão por lesão, o que parece justo para aqueles cujo senso moral não se eleva acima das paixões terrenas. É por isso que a lei mosaica previa: Olho por olho e dente por dente, lei em harmonia com o tempo em que Moisés vivia.

Veio o Cristo e disse: "Não resistam ao mal que lhes queiram fazer. Se alguém os ferir numa face, ofereçam-lhe também a outra". Ao orgulhoso, essa máxima parece uma covardia, porque ele não compreende que há mais coragem em suportar um insulto, que em se vingar, sempre devido a sua visão ser incapaz de ir além do presente.

Devemos, entretanto, tomar essa máxima ao pé da letra? Não, da mesma maneira que aquela que manda arrancar o olho, se ele for causa de escândalo. Levada às últimas consequências, ela condenaria toda repressão, mesmo legal, e deixaria o campo livre aos maus, que nada teriam a temer. Não se pondo freio às suas agressões, bem logo todos os bons seriam suas vítimas. O próprio instinto de conservação, que é uma lei da natureza, nos diz que não devemos entregar de boa vontade o pescoço ao assassino.

Por essas palavras, Jesus não proibiu toda a defesa, mas condenou a vingança. Dizendo-nos para oferecer uma face quando formos batidos na outra, disse, por outras palavras, que não devemos retribuir o mal com o mal; que o homem deve aceitar com humildade tudo o que tende a abater-lhe o orgulho; que é mais glorioso para ele ser ferido que ferir; suportar pacientemente uma injustiça que cometê-la; que mais vale ser enganado que enganar, ser arruinado que arruinar os outros.

Isso, ao mesmo tempo, é a condenação do duelo, que não passa de uma manifestação do orgulho. A fé na vida futura e na Justiça de Deus, que jamais deixa o mal impune, é a única que nos pode dar a força de suportar, pacientemente, os atentados aos nossos interesses e ao nosso amor-próprio. Eis porque lhes dizemos incessantemente: Lancem seus olhos adiante; quanto mais os elevarem, pelo pensamento, acima da vida material, menos serão feridos pelas coisas da Terra.

Tradução livre: prof. dr. Jorge Leite de Oliveira


2 comentários:

  1. Jorge, bela reflexão! Conheço também a interpretação de que dar a outra face significa mostrar outra forma de sentir, pensar, agir: ao agressor, mostrar como a violência prejudica a ele próprio, mais que à vítima; mostrar, pelo exemplo, que é possível resolver conflitos ou expressar emoções sem agressividade!

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  2. Sim, Ana Cláudia, excelente reflexão

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