Em dia com o Machado
439:
VERDADE,
CARIDADE E FRATERNIDADE (Jó)
No dia 4 de outubro de 2020, o papa
Francisco lançou nova encíclica intitulada Fratelli
Tutti (todos irmãos). Nessa data, foram escolhidos cem jovens, de
diferentes crenças, para integrar o Comitê da Fraternidade Humana.
Diversas personalidades ecumênicas
manifestaram sua grata satisfação nos comentários que fizeram sobre o tema.
Falou-se na busca da "harmonia individual e coletiva em favor das leis
universais", que não excluem ninguém. Condenaram-se as perseguições por
motivos étnicos e religiosos e foi lembrado que a pandemia atual de coronavírus
proporciona-nos a reorganização do nosso modo de vida.
Nas palavras do cardeal Pietro Parolin,
precisamos buscar a paz, combater a miséria aguda e mudar o conceito do "é
preciso" para o do "eu preciso". Esse vigário do Cristo
reforçou nosso dever de demonstrar a supremacia do Evangelho de Jesus, pelo exemplo,
sem distinção de religião, sexo e raça. Dito isso, enalteceu a encíclica papal
sobre a necessidade da harmonia entre ciência e fé. Essa seria uma abertura sem
precedentes entre os seguidores de diferentes religiões e não religiosos.
Anna Rowlands lembrou a Parábola do
bom samaritano. E reforçou as orientações da encíclica papal de que as
religiões devem unir-se a serviço da fraternidade no mundo e "procurar
Deus com o coração sincero". Recordou, também, que a mensagem papal é a de
que todos somos irmãos e irmãs, ninguém fica excluído. A fraternidade proposta
por Francisco é a que envolve as pessoas de diferentes crenças, mas também "os
não crentes", a meu ver eufemismo utilizado para evitar a pronúncia da
palavra ateus.
Por fim, o cardeal Miguel Angel reforçou
a mensagem da encíclica papal sobre a necessidade da "construção de
sociedades mais saudáveis e justas", "baseadas na benevolência e
misericórdia". Não basta a tolerância, disse, é preciso "convivência
fraternal", repúdio a todo tipo de violência, sem que para tal precisemos
"renunciar à nossa própria identidade".
Isso nos faz evocar o conceito de
caridade, segundo Jesus, contido na resposta à questão 886 d'O Livro dos
Espíritos: "Benevolência para com todos, indulgência para as
imperfeições dos outros, perdão das ofensas". Ao que Kardec comenta:
"O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o
próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejaríamos que nos
fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros
como irmãos" (destaquei).
Como previu Allan Kardec, inspirado pelo
Espírito de Verdade, representante de Jesus no advento do Espiritismo, tudo
começa com a caridade. Tanto isso é verdade que o Codificador do Espiritismo
acrescentou à máxima "Fora da caridade não há salvação" estoutra: "Fora
da caridade não há verdadeiro espírita", em mensagem aos espíritas de Lyon
e Bordeaux, em suas viagens pela Europa, publicadas pela Federação Espírita
Brasileira, em 2005, na obra Viagens espíritas em 1862 e outras viagens de Kardec.
É o que lemos no capítulo intitulado Discursos pronunciados nas reuniões
gerais dos espíritas de Lyon e Bordeaux, página 54.
Como o verdadeiro espírita é igualmente
discípulo do Cristo, também se pode dizer que, sem a prática dos ensinamentos
de Jesus, não há "verdadeiro cristão" e muito menos fraternidade.
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