ANÁLISE COMPARATIVA ESPÍRITA DE SONETOS DE CRUZ E SOUSA
Eternidade
Retrospectiva
Fonte: GERALDO, José. Cem anos com Cruz e Sousa. 2. ed. Brasília: CEUB; LGE Editora, 1998. Últimos sonetos, p. 105.
Comentários
Segundo Elias Barbosa (2016, p. 413),
expressão e conteúdo são inseparáveis no estilo de Cruz e Sousa. Isso porque,
"forma é fundo aparecendo", diz Barbosa (loc. cit.). Para
Roger Bastide, Cruz e Sousa foi o maior poeta da escola simbolista universal e,
para V. Garcia Calderón é o "maior poeta sul-americano" (id.).
Nós, entretanto, compartilhamos da opinião daqueles que o vêm como um dos
maiores poetas de todos os tempos, como podemos ler nos comentários críticos da
obra Coleção fortuna crítica, v. 4, organizada por Afrânio Coutinho.
Civilização Brasileira, 1979.
Em nosso ponto de vista, o tema aqui é o
mesmo: recordação de outras existências. Se nos detivermos na comparação
de ambos os sonetos, percebemos que Eternidade retrospectiva inicia de
modo pessimista: "Mudo e só...; velhas primaveras; regiões do prantos e do
gemido; onde as almas erravam; quimeras" são expressões e palavras que
podemos recortar dos quartetos do soneto. Os
tercetos que encerram o poema, porém, expressam saudade das
"estrelas longínquas; violáceas madrugadas" e " imaginativos luares
liriais" e "contemplativos" de sua vida eterna.
Analisando o soneto psicografado: Noutras
eras, podemos observar, agora, um posicionamento contrário do poeta
desencarnado. Ele começa citando sua marcha por "estradas flóreas, cheias
de risos e de pedrarias". Nelas seus dias eram plenos de hinos de vitórias
"esplêndidas". Seu passado fora carregado de "glórias,
maravilhas de ouro e de alegrias", quando não reparava nas "sendas
tristes das dores meritórias". Esses dois versos do segundo quarteto
introduzem a constatação do poeta de que o abuso dos seus "deveres
soberanos" foi a causa de sua infelicidade, que o deixara "a sós no
mesmo horto", antes glorioso e agora desconfortável, dorido e desamparado.
É, pois, na visão espírita, a confirmação
do genial poeta, noutro plano da vida eterna, de que seus sofrimentos
resultaram da chamada lei de causa e efeito. Os abusos cometidos por
ele, nessa lembrança da "Eternidade
retrospectiva" explicavam sua temporária situação de solidão e dor. Agora,
do plano espiritual, lembra-se do que fez "Noutras eras" e pode
melhor avaliar a causa de sua vida sofrida, quando encarnado, embora toda a sua
inteligência e arte incomparável na elaboração de poemas metafísicos.
Prof. dr. Jorge Leite de Oliveira
Brasília, 23 de outubro de 2020.
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