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domingo, 27 de fevereiro de 2022

 

Em 27 fev. 2022

 


19.3 Parábola da figueira que secou

 

Quando saíram de Betânia, ele estava com fome; e avistando ao longe uma figueira, ele foi ver se ali encontrava alguma coisa, e, aproximando-se dela, encontrou apenas folhas, porque não era tempo de figos.  Então, Jesus disse à figueira: Que ninguém coma fruto algum de você. O que seus discípulos entenderam. Na manhã seguinte, ao passarem pela figueira, viram que ela secara até as raízes. Pedro, lembrando-se do que dissera Jesus, disse: Mestre, veja como a figueira que você amaldiçoou ficou seca. Jesus, então, lhe disse: Tenham fé em Deus. Eu lhes digo, em verdade, que qualquer um que disser a esta montanha: Saia daí e jogue-se ao mar, sem hesitar em seu coração, mas crendo firmemente de que tudo o que disser sucederá, ele o verá acontecer (Marcos, 11:12-14 e 20-23).

 

            A figueira que secou é o símbolo das pessoas que apenas aparentam aparência do bem, mas na realidade nada produzem de bom; dos oradores que possuem mais brilho do que solidez; suas palavras trazem o verniz superficial; elas agradam aos ouvidos, mas quando as analisamos, nada revelam de substancial aos corações; após faladas, pergunta-se que proveito foi tirado delas.

         É também o símbolo de todas as pessoas que tendo meios de ser úteis  não o são; de todas as utopias, de todos os sistemas vazios, de todas as doutrinas sem base sólida. O que falta, na maioria das vezes, é a verdadeira fé, a fé realmente fecunda, a fé que faz vibrar as fibras do coração, em uma palavra, a fé que transporta montanhas. Essas são árvores cobertas de folhas, mas sem frutos. É por isso que Jesus as condena à esterilidade, pois dia virá em que ficarão secas até as raízes. Significa dizer que todos os sistemas, todas as doutrinas que não produziram nenhum bem para a Humanidade, tombarão reduzidas a nada; que todos os homens voluntariamente inúteis, que não se utilizaram dos recursos de que traziam consigo, serão tratados como a figueira que secou.

         Os médiuns são os intérpretes dos Espíritos. Suprem os órgãos materiais que faltam àqueles, para nos transmitirem as suas instruções. É por isso que são dotados de faculdades para esse efeito. Nestes tempos de renovação social, eles têm uma missão especial: são como árvores que devem fornecer o alimento espiritual aos seus irmãos. Eles multiplicam-se, para que o alimento seja abundante. 

        Estão por toda parte, em todos os países, em todas as classes sociais, entre os ricos e os pobres, entre os grandes e os pequenos, a fim de que em parte alguma haja deserdados, e para provar aos homens que todos são chamados. Mas se eles desviam de seu fim providencial a faculdade preciosa que lhes foi concedida, se a usam em coisas fúteis e prejudiciais, se a empregam a serviço dos interesses mundanos, se em vez de frutos salutares dão maus frutos, se recusam-se a torná-la proveitosa para os outros, se não tiram proveito dela para si mesmos, melhorando-se, eles são como a figueira estéril. Deus lhes retirará um dom que se tornou inútil em suas mãos: a semente que não sabem fazer frutificar, e os deixará tornar-se vítimas dos maus Espíritos.

Tradução livre de Jorge L. de Oliveira

http://lattes.cnpq.br/0494890808150275

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

 

EM DIA COM O MACHADO 511:
GANDHI E A PAZ COMO META DE LIBERTAÇÃO (Jó)


            Paz e luz, amigos!

            Quando Mahatma Gandhi, sob a acusação de agitar o povo, estava preso, após sete anos de sua permanência no cárcere, desenvolveu seu método de comportamento baseado no tripé da coragem, da  não violência e da verdade. Certo dia, foi entrevistado na prisão a pedido de seus acusadores sobre a razão de sua manifestação política pacífica ao povo, que o idolatrava.

            O primeiro a questioná-lo foi o advogado que lhe pediu para explicar sobre o ideal de paz, tão admirado pelo povo. Gandhi respondeu-lhe o seguinte:

            — A honestidade e o culto à verdade são as bases da paz. A violência é filha da mentira. A pessoa sincera, ou seja, bem-intencionada, brevemente deixará de ser violenta, por perceber que a verdade é incompatível com a agressão.

            Daí surgir a expressão: "violência gera violência".

            Outro dos seus interrogadores perguntou-lhe:

            — Como deixar de ser violento, num mundo como este, em que as nações investem em pesados armamentos? — E ele respondeu:

             Pelo afastamento da ganância, do desejo de domínio e de exploração do próximo em proveito próprio. A não violência requer completa ausência da exploração, seja ela de que forma for. Somente quando todas as nações compreenderem que não lhes é lícita a exploração em detrimento da união que deve haver entre elas, as armas perderão sua finalidade.

            Percebendo o ambiente pesado em torno de si, causado pela impaciência de seus interrogadores aliada à penumbra do ambiente inóspito em que se encontrava, Mahatma acrescentou-lhes corajosamente:

            — Há muito tempo, percebi que há falta de coerência entre o que os homens dizem sobre a paz em contraste com suas mútuas intolerâncias e agressividade aos que não compartilham suas ideias. O Universo é regido pela força moral. Somente em nossa dedicação à paz com verdadeira fé compreenderemos isso.

            Um de seus interrogadores portava uma Bíblia e perguntou-lhe o que conhecia sobre Jesus Cristo. Gandhi respondeu-lhe:

            — O Evangelho de Jesus está todo sintetizado no Sermão da Montanha. Lendo essa bela página e, sobretudo, praticando o que aí está, nada mais nos falta ao entendimento da Lei de Deus. Sem a fé profunda em Deus e na paz, é impossível vivermos em harmonia.

            Não foi por outro motivo que o Cristo afirmou aos seus discípulos ter-lhes deixado a sua paz e não a paz mundana, quando afirma: "Deixo-lhes a paz, minha paz lhes dou; mas não como o mundo a dá. Não se perturbe nem se intimide seu coração" (João, 14:27).

            Por fim, Mahatma completou:

            — A não ser pelo amor profundo dedicado ao nosso Criador, é impossível morrer sem ódio no coração, sem temor e com a certeza de que Deus estará sempre presente em nossa vida, na vitória do bem contra o mal. O trabalhador da paz deve respeitar as religiões de toda a humanidade, ter caráter irrepreensível, buscar relações de respeito e amizade com todas as pessoas. Somente assim, alcançará sua pacificação e poderá pacificar seu próximo.

            Ao final da entrevista, todos ser retiraram pensativos. Então, Mahatma Gandhi permaneceu em paz e oração em benefício da libertação de seu povo, o que veio a acontecer algum tempo depois.

            E nós terminamos esta crônica com as seguintes palavras do maior de todos os Messias, Jesus Cristo: "Venham a mim todos os que estão cansados sob o peso do seu fardo e lhes darei descanso. Tomem sobre si meu jugo e aprendam de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrarão descanso para suas almas, pois meu jugo é suave e meu fardo é leve" (Mateus, 11:28- 30).

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

 

Em: 20 fev. 2022



19.2 A fé religiosa. Condição da fé inabalável

 

         Do ponto de vista religioso, a fé é a crença nos dogmas particulares que constituem as diferentes religiões. Todas as religiões têm seus artigos de fé. Sob esse aspecto, a fé pode ser raciocinada ou cega. A fé cega nada examina, aceitando sem controle o falso e o verdadeiro, e a cada passo se choca com a evidência da razão. Levada ao excesso, ela produz o fanatismo. Quando a fé se firma no erro, ela desmorona cedo ou tarde. Aquela que tem por base a verdade é a única que tem o futuro assegurado, porque nada deve temer do progresso das luzes, já que o verdadeiro na obscuridade também o é à plena luz do dia. Cada religião pretende estar na posse exclusiva da verdade; preconizar a fé cega sobre uma questão de crença é confessar a impotência para demonstrar que se está com a razão.

         Vulgarmente se diz que a fé não se prescreve, o que leva muitas pessoas a alegarem que não são culpadas de não terem fé. Sem dúvida que a fé não pode ser prescrita, ou o que é ainda mais certo: a fé não pode ser imposta. Não, a fé não se prescreve, ela se adquire, e não há ninguém que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários. Falamos das verdades espirituais fundamentais, e não desta ou daquela crença particular. Não é a fé que deve procurar essas pessoas, mas elas é que devem procurá-la, e se o fizerem com sinceridade a encontrarão. Estejam certos de que aqueles que dizem: "Não queríamos nada melhor do que crer, mas não o podemos fazer", apenas o dizem com os lábios, e não com o coração, pois ao mesmo tempo que o dizem, fecham os ouvidos. As provas, entretanto, abundam ao seu redor. Por que, pois, se recusam a ver? Nuns, é a indiferença; noutros, o medo de serem forçados a mudar de hábitos; e na maior parte, o orgulho que se recusa a reconhecer um poder superior, porque teria de inclinar-se diante dele.

         Para algumas pessoas, a fé parece de alguma forma inata: uma centelha é suficiente para desenvolvê-la. Essa facilidade para assimilar as verdades espirituais é sinal evidente de progresso anterior. Noutras pessoas, ao contrário, elas dificilmente penetram, sinal não menos evidente de naturezas retardatárias. As primeiras já creram e compreenderam. Trazem ao renascer, a intuição do que sabiam. Sua educação está feita. As segundas ainda têm que aprender tudo; sua educação está por fazer. Ela será feita e, se não  terminar nesta existência, terminará noutra.

         A resistência do incrédulo, convenhamos, quase sempre se deve menos a ele do que à maneira pela qual lhe apresentam as coisas. A fé necessita de uma base, e essa base é a perfeita compreensão daquilo em que se deve crer. Para crer, não basta ver, é necessário sobretudo compreender. A fé cega não é mais deste século. É precisamente o dogma da fé cega que hoje em dia produz o maior número de incrédulos. Porque ela quer impor-se, exigindo a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: o raciocínio e o livre-arbítrio. É contra essa fé, sobretudo, que se levanta o incrédulo, o que mostra a verdade de que a fé não se impõe. Não admitindo provas, ela deixa no espírito um vazio, de que nasce a dúvida. A fé raciocinada, que se apoia nos fatos e na lógica, não deixa nenhuma obscuridade; a pessoa acredita porque tem certeza, e tem certeza porque compreendeu. Eis porque ela não se dobra: só é inabalável a fé que pode enfrentar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade.

         É a esse resultado que o Espiritismo conduz, triunfando assim da incredulidade, todas as vezes em que não encontrar a oposição sistemática e interessada.

            Tradução livre: Jorge L. de Oliveira
            http://lattes.cnpq.br/0494890808150275.

 

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

 

EM DIA COM O MACHADO 510:
A OBRA (Jó) 

 


            João, dedicado operário, trabalhara por cerca de dois anos na construção de um edifício. Enquanto contemplava a obra terminada e olhava para sua marmita fria, preparada carinhosamente por sua esposa, ele refletia na transitoriedade das coisas materiais neste mundo. O prédio continha vários andares, o operário residia em humilde casa de dois cômodos com esposa e dois filhos.

            Embora ainda bastante jovem, pois estava com pouco mais de 30 anos de idade, João matutava sobre o tempo de existência das obras como aquela e a de sua modesta casa residencial. Esta, certamente, duraria algumas dezenas de anos a mais do que ele ainda viveria. Mas ainda que duzentos anos se passassem, chegaria o dia em que sua moradia voltaria ao pó de onde surgira.

           Da mesma forma, ainda que mais de duas centenas de anos se passassem, o lindo prédio que ele ajudara a construir precisaria ser demolido. Assim, não ficaria pedra sobre pedra daquelas obras, como do templo que frequentava. E refletiu que também seu corpo físico voltaria ao pó em muito menos tempo, ainda que vivesse mais 60 anos.

            Outros operários entrariam em ação. Novas casas e novos prédios seriam construídos. Mas será que apenas para isso eles teriam nascido? Aprendera que não, pois ainda lhes restariam suas almas, senhoras de seus pensamentos, de sua vontade...

            Lembrou-se, então, da fala do religioso que disse aos seus ouvintes sobre a importância de um prédio construído, mas para não se esquecerem de agradecer a Deus pelos andaimes que serviram aos construtores da obra... E, enquanto comia o arroz com feijão preparados com carinho por sua esposa, João pensava nela e em todos os operários esquecidos pelo orador.

            De repente, o vento soprou por uma janela do prédio um pedaço de papel. Após pegá-lo, leu ali as seguintes estrofes do poema de Vinícius de Moraes intitulado: O operário em construção 

[...]
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
[...]
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.
 

            Sob a luz do seu atual entendimento, João não se revoltou. Sua fé inabalável dava-lhe a certeza de que a vida no corpo físico é breve e de que é no céu que devemos juntar os tesouros imperecíveis da alma. Em seguida, leu a mensagem que, entre outras, começou a melhorar sua visão de mundo. Nela estava escrito o seguinte, sob o título: O ponto de vista

 

A ideia clara e precisa que se faça da vida futura dá uma fé inabalável no porvir, e essa fé tem consequências enormes sobre a moralização do homem, porque muda completamente o ponto de vista sob o qual ele encara a vida terrena.

[...]

Ele então percebe que grandes e pequenos se confundem como as formigas num monte de terra; que proletários e potentados são da mesma estatura; e lamenta que essas criaturas efêmeras tanto se fatiguem para conquistar uma posição que as elevará tão pouco e por tão pouco tempo. É assim que a importância atribuída aos bens terrenos está sempre na razão inversa à fé na vida futura.

Se todos pensassem assim, dir-se-á, ninguém mais se ocupando das coisas da Terra, tudo periclitará. Não, o homem, instintivamente, procura o seu bem-estar, e mesmo tendo a certeza de que ficará por pouco tempo em algum lugar, ainda quererá estar aí o melhor ou o menos mal possível. Não há quem, sentindo um espinho sob a mão, não a retire para não se picar. Ora, a procura do bem-estar força o homem a melhorar todas as coisas, impelido que ele é pelo instinto do progresso e da conservação, que está nas leis da natureza. Ele trabalha, portanto, por necessidade, por gosto e por dever, e com isso cumpre os desígnios da Providência, que o colocou na Terra para esse fim. [...] KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Trad. de Evandro Noleto Bezerra. Brasília: FEB, cap. 2.

 

            Continuou a frequentar com a esposa o centro espírita situado em São Sebastião, cidade do Distrito Federal; engajou-se em trabalhos voluntários e de estudo das obras espíritas; inscreveu suas crianças nas aulas de evangelização daquela instituição e acompanhou, com a esposa, a formação escolar dos filhos. Pelo seu novo entendimento da lei divina, João nunca mais duvidou da sabedoria de Deus, pois passou a compreender o sentido desta frase de Jesus: "A cada um será dado segundo as suas obras". Sua esposa, alma gêmea da sua, ainda teve tempo de se formar em pedagogia e de se tornar excelente educadora.

            Por sua humildade e dedicação amorosa ao trabalho, nunca faltou ocupação remunerada a João. Atualmente aposentado, tanto quanto a esposa, é o feliz avô de duas netas e dois netos lindos, frutos do casamento dos seus filhos bem sucedidos, os arquitetos Marcos e Filipe, dedicados profissionais e espíritas reconhecidos por suas famílias e por toda a comunidade local.

domingo, 13 de fevereiro de 2022

 

   Em 13 fev. 2022.




19 A FÉ QUE TRANSPORTA MONTANHAS

 

Poder da fé - A fé religiosa - Condição de fé inabalável - Parábola da figueira seca - Instruções dos Espíritos: A fé, mãe da esperança e da caridade - A fé divina e a fé humana.

 

19.1 Poder da fé

 

            E depois que veio para onde estava o povo, chegou-se a Ele um homem que, posto de joelhos, lhe dizia: Senhor, tenha compaixão de meu filho que é lunático e sofre muito, porque muitas vezes cai no fogo, e muitas na água. E tenho-o apresentado a seus discípulos, e eles não o puderam curar. E respondendo Jesus, disse: Oh! geração incrédula e perversa, até quando hei de estar com vocês, até quando os hei de sofrer? Tragam-no aqui. E Jesus o abençoou, e saiu dele o demônio, e desde àquela hora ficou o moço curado. Então lhe perguntaram: Por que nós não pudemos expulsar esse demônio? Jesus lhes disse: Por causa da sua pouca fé. Porque na verdade lhes digo que, se tiverem fé do tamanho dum grão de mostarda, dirão a este monte: Passa daqui para acolá, e ele há de passar, e nada lhes será impossível (Mateus, 17:14-19).

         É certo que, no sentido próprio, a confiança nas próprias forças torna-nos capazes de realizar coisas materiais que não podemos fazer, quando duvidamos de nós mesmos. Mas aqui é somente no seu sentido moral que devemos entender essas palavras. As montanhas que a fé transporta são as dificuldades, as resistências, a má vontade, numa palavra, que encontramos entre os homens, mesmo quando se trata das melhores coisas. Os preconceitos da rotina, o interesse material, o egoísmo, a cegueira do fanatismo, as paixões orgulhosas são outras tantas montanhas que barram o caminho dos que trabalham para o progresso da Humanidade.

         A fé robusta confere a perseverança, a energia e os recursos necessários para a vitória sobre os obstáculos, tanto nas pequenas quanto nas grandes coisas. A fé vacilante produz a incerteza, a hesitação, de que se aproveitam o adversários que devemos combater: ela nem sequer procura os meio de vencer, porque não crê na possibilidade de vitória.

         Noutra acepção, considera-se fé a confiança que se deposita na realização de determinada coisa, a certeza de atingir um objetivo. Nesse caso, ela confere uma espécie de lucidez, que faz antever pelo pensamento os fins que se tem em vista e os meios de atingi-los, de maneira que aquele que a possui avança, por assim dizer, infalivelmente. Num e noutro caso, ela pode fazer que se realizem grandes coisas.

         A fé sincera e verdadeira é sempre calma. Proporciona a paciência que sabe esperar, porque estando apoiada na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao fim. A fé vacilante sente sua própria fraqueza, e quando estimulada pelo interesse torna-se furiosa e acredita poder suprir com violência a força que lhe falta. A calma na luta é sempre um sinal de força e de confiança, enquanto a violência, pelo contrário, é prova de fraqueza e de falta de confiança em si mesmo.

         Não se deve confundir a fé com a presunção. A verdadeira fé se alia à humildade. Aquele que a possui deposita mais confiança em Deus do que em si mesmo, pois sabe que, simples instrumento da vontade de Deus, nada pode sem Ele. É por isso que os Bons Espíritos vêm em seu auxílio. A presunção é mais orgulho do que fé, e o orgulho é sempre castigado cedo ou tarde, pela decepção e pela derrota que lhes são infligidas.

         O poder da fé tem aplicação direta e especial na ação magnética. Graças a ela, o homem age sobre o fluido, agente universal, modifica-lhe as qualidades e lhe dá impulso por assim dizer irresistível. É por isso que a criatura dotada de grande poder fluídico normal pode operar unicamente pela sua vontade, dirigida para o bem, esses estranhos fenômenos de cura e de outra natureza que antigamente eram considerados prodígios, e que entretanto não passam de consequências de uma lei natural. Essa a razão porque Jesus disse aos seus apóstolos: "Se não o conseguiram curar, foi por causa de sua pouca fé".









 


 
            

terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

 

EM DIA COM O MACHADO 509:
APRENDENDO COM A NATUREZA
 

 

Paz e luz, queridos leitores!

Sonhei que caminhava pelo parque Olhos d'água, outro dia, quando vi um senhor simpático, de óculos escuros e com um livro na mão. Ao passar por mim, ofereceu-me a obra gratuitamente. A capa era esta:

 

 


 

Após lhe agradecer, comecei a folhear o livro de belas imagens e 95 páginas. Curioso, sentei-me num dos bancos do parque e convidei-o a fazer o mesmo. Minha primeira pergunta foi sobre a autoria da obra. Ele, modestamente, disse-me que as ideias eram suas, mas a parte material do livro eram de Chico Xavier e da equipe da Federação Espírita Brasileira, cuja missão é divulgar a teoria e prática da Doutrina Espírita por diversos modos: pela assistência social, pela contribuição de pessoas idealistas, pela palestra de seus dirigentes e colaboradores, pelo passe, pela internet, pelo livro mediúnico ou não e pelas obras de Allan Kardec.

Em seguida, explicou-me que o livro a mim ofertado baseava-se em poemas simples, que também foram publicados noutras três obras.

— Seu nome? Perguntei-lhe.

— Casimiro Cunha.

— Casimiro, acho muito criativa sua ideia de versificar sobre a Criação, subtítulo deste livro, intitulado Cartilha da Natureza. Em geral, o último ou os últimos quartetos sintetizam o tema de cada poema, leve e singelo, que nos traz grandes ensinamentos. Posso lhe fazer algumas perguntas sobre alguns desses poemas?

— Primeiramente, obrigado pelos cumprimentos de nosso trabalho conjunto... Sou apenas humilde Espírito que, após passar por rude prova, na Terra, o que não é privilégio meu, resolvi colaborar, do plano espiritual, na obra de Jesus, com singelos poemas. Sugiro-lhe, somente, a seleção de apenas três desses poemas, e eu lhe responderei com seus quartetos finais. Pode ser assim?

— Claro, meu amigo! Até porque, se formos copiar todos os poemas, o leitor vai pensar que não precisa ler o resto... Eis a primeira pergunta: Por que o amigo diz, na penúltima estrofe do poema intitulado: Os Animais, que o pet de nossa casa tem laços com nossa vida?

 

  • — A lei é conjunto eterno
  • De deveres fraternais:
  • Os anjos cuidam dos homens,
  • Os homens, dos animais.

 

— Muito bem. Agora entendi que tudo na natureza tem uma finalidade divina. Mas por que, no final do poema: O Botão, somos informados de que nunca devemos impor nossa crença a ninguém?

 

  • — Se tua alma vive em festa,
  • Na fé que pratica o bem,
  • Ajuda, coopera e passa...
  • Não busques torcer ninguém.

 

— Perfeito. Vamos, agora, à última pergunta: Como manter a calma ante A Tempestade, título de novo poema?

 

  • — Caso venha a tempestade
  • Guarda a força calma e sã.
  • Deus é Pai. Ora e confia.
  • A vida volta amanhã.

 

Antes de desaparecer, o Espírito Cunha, cunhou estes versos em minha homenagem, o que muito me emocionou:

 

  • Jó, segue com fé e paz
  • E faz brilhar tua luz.
  • Por mais negra seja a treva,
  • Ao teu lado está Jesus.

 

 

domingo, 6 de fevereiro de 2022

 


18.6 É por suas obras que o cristão é reconhecido

Simeão

Bordeaux, 1863

Nem todos os que me dizem Senhor! Senhor! entrarão no Reino dos Céus, mas apenas os que fazem a vontade de meu Pai, que está nos céus.

          Escutem essas palavras do Mestre, todos vocês que repelem a Doutrina Espírita como obra do demônio! Abram seus ouvidos, pois chegou o momento de ouvir!

         Será suficiente se dizer a serviço do Senhor, para ser um fiel servidor? Será bastante dizer: "Sou cristão", para ser servidor do Cristo? Procurem os verdadeiros cristãos e os conhecerão por suas obras. "Uma árvore boa não pode dar maus frutos, nem uma árvore má pode dar bons frutos."

         "Toda árvore que não der bons frutos será cortada e lançada ao fogo." Essas palavras são do Mestre. Discípulos do Cristo, compreendam-nas bem! Quais os frutos que a árvore do Cristianismo deve dar, árvore possante, cujos ramos frondosos cobrem com a sua sombra uma parte do mundo, mas que ainda não abrigam  todos os que devem reunir-se em torno dela? Os frutos da árvore da vida são frutos de vida, de esperança e de fé. O Cristianismo, como o fizeram após muitos séculos, prega sempre essas divinas virtudes. Ele procura distribuir seus frutos, mas quão poucos os colhem! A árvore é sempre boa, mas os jardineiros são maus.

         Quiseram adaptá-la às suas ideias, modelá-la conforme suas necessidades; talharam-na, rebaixaram-na, mutilaram-na. Seus ramos estéreis já não dão maus frutos, pois nada mais produzem. O viajor sedento que se detém sob sua sombra, procurando o fruto da esperança, que lhe deve dar força e coragem, encontra apenas os ramos adustos, pressagiando tempestade. Busca em vão o fruto da vida na árvore da vida; as folhas tombam secas aos seus pés. As mãos do homem tanto as manipulou que as acabou queimando!

         Abram, pois, seus ouvidos e seus corações, meus bem-amados! Cultivem essa árvore da vida, cujos frutos proporcionam a vida eterna. Aquele que a plantou os convida a cuidá-la com amor, para que possam vê-la dar com abundância seus frutos divinos. Deixem-na assim como o Cristo lhes deu. Não a mutilem. Sua sombra imensa quer estender-se por todo o universo; não lhe cortem seus ramos. Seus frutos generosos caem em abundância, para alentar o viajor cansado, que deseja chegar ao fim da jornada. Não os amontoem, para guardá-los e deixá-los apodrecer, sem servirem a ninguém. 

            "São muitos os chamados e poucos os escolhidos." É que há os monopolizadores do pão da vida, como os há do pão material. Não se coloquem entre eles; a árvore que dá bons frutos deve distribuí-los para todos. Vão, pois, procurar os que estão famintos; conduzam-nos sob as ramagens da árvore e partilhem com eles o abrigo que ela lhes oferece. "Não se colhem uvas nos espinheiros." Meus irmãos, afastem-se, pois, dos que os chamam para apontar as sarças do caminho, e sigam os que os conduzem à sombra da árvore da vida.

         O divino Salvador, o justo por excelência, disse, e suas palavras não passarão: "Nem todos os que me dizem Senhor! Senhor! entrarão no Reino dos Céus, mas apenas os que fazem a vontade de meu Pai, que está nos Céus."

         Que o Senhor de bênçãos os abençoe, que o Deus de luz os ilumine; que a árvore da vida lhes ofereça, com abundância, seus frutos! Creiam e orem!

            Jorge Leite de Oliveira - Dr. em Lit. pela UNB, com pós-doutorado cultural pela UNEB.

            Tradução livre em 3.ª pessoa.

 

terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

 

EM DIA COM O MACHADO 508:
CONSCIÊNCIA E JUSTIÇA DIVINA

        


         Bom dia, amigos!

 

         N'O Livro dos Espíritos, lemos que a lei de Deus está escrita em nossa consciência. Questão nº 621. Antes disso, na questão 466 dessa obra, somos informados sobre a influência de bons e maus Espíritos em nossas vidas quando, ao final, Kardec diz que é desse modo que Deus deixa à nossa consciência a decisão sobre qual escolha fazer.

         Na questão 835, somos informados de que a consciência é nosso "pensamento íntimo" que, de acordo com o que lemos na questão 875-a, rege nossos atos da vida pessoal, haja vista que nem sempre o "direito instituído pelos homens é conforme a justiça".

         Essa ligeira pesquisa surgiu de nossa reflexão sobre o conto intitulado O enfermeiro, escrito por Machado de Assis. A história relata o caso de um velho coronel rabugento, muito doente, que era assistido pacientemente por um dedicado enfermeiro, que é o seu narrador.

         No início, o enfermeiro informa que, durante algum tempo, estudava teologia quando foi consultado, por carta de um padre, se aquele estava disposto a prestar serviços de enfermagem a um coronel chamado Felisberto em troca de um bom salário. Convite aceito, o enfermeiro viajou para a vila de residência do coronel.

         Chegando lá, ficou sabendo que o "homem era insuportável". Ninguém gostava dele. Todos os enfermeiros que cuidaram dele desistiram do emprego. Chegou mesmo a quebrar a cara de dois deles. Por esse motivo, o padre lhe pedira que agisse com paciência e caridade...

         O doente recebeu-o bem e disse-lhe que os enfermeiros anteriores eram preguiçosos, dorminhocos e que dois deles eram até "gatunetes", palavra que tomei emprestada de um amigo rico de Floripa, que desconfia de que quase todos os seus amigos e alguns parentes estão de olho no que ele tem...

         Tendo simpatizado com Procópio, o enfermeiro, o coronel disse ao vigário que, de todos os anteriores, esse era o melhor enfermeiro. Na primeira semana, correu tudo bem entre os dois, mas a partir do oitavo dia começou o "inferno" para Procópio: o doente não o deixava dormir em paz e o estava sempre ofendendo. O enfermeiro percebeu que o melhor meio de haver boa convivência entre ambos era obedecer em tudo ao coronel, homem mau e acostumado a humilhar todo o mundo.

         Após três meses de trabalho, o enfermeiro estava resolvido a deixar a casa do velho. Aguardava apenas uma ocasião favorável, que surgiu no dia em que o coronel lhe deu duas bengaladas. Procópio preparava sua mala, quando o velho o procurou para lhe pedir desculpas e implorar que ficasse, alegando que não valia a pena ir embora por causa de duas bengaladas de um velho rabugento. Falou-lhe, inclusive, que já estava para morrer e que não dispensava os cuidados do enfermeiro por nada.

         Nos dias seguintes, o coronel continuou a maltratar o enfermeiro, só o poupando das bengaladas, mas chamando-o de "burro, camelo, pedaço d'asno, idiota" etc.  O paciente não tinha mais parentes, e os amigos só o visitavam raramente e por poucos minutos.

         Algumas vezes, Procópio desejou novamente sair da casa, mas permaneceu, por insistência do vigário. Deu a este, entretanto, um mês de prazo para ser substituído.

         Certa noite, porém, o coronel enfureceu-se e chegou a ameaçar dar um tiro no enfermeiro. Acabou atirando-lhe o prato de mingau, que achou frio. O prato não atingiu o enfermeiro, mas estraçalhou-se na parede. Em seguida, o doente disse ao enfermeiro que este iria pagar pelo prato e acusou-o de roubo.

         Às 23 horas, o coronel adormeceu e Procópio passou a ler um livro, enquanto aguardava dar meia-noite para ministrar-lhe remédio. Adormeceu, também, e acordou com os gritos do doente, que lhe arremessou uma moringa ao rosto. A dor foi tanta que o enfermeiro atirou-se ao pescoço do coronel e, após lutar com este, acabou esganando-o.

         Procópio, aterrado, recuou e gritou sem ser ouvido. Tentou reanimar o coronel, mas percebeu que este havia morrido. O enfermeiro foi para a sala ao lado e só após duas horas teve coragem de retornar ao local do crime. Antes, relata o terror sentido naquela noite em que lhe repercutiam na mente vozes a bradar: "Assassino! Assassino!"

         E relata seu estado íntimo assim: "Tudo o mais estava calado. O mesmo som do relógio, lento, igual e seco sublinhava o silêncio e a solidão. Colava a orelha à porta do quarto na esperança de ouvir um gemido, uma palavra, uma injúria, qualquer coisa que significasse a vida, e me restituísse a paz da consciência." Confirmada a morte do doente, maldisse a hora em que aceitara aquele emprego.

         Em síntese, no dia seguinte, Procópio já desfizera a cena do crime, curara a pancada da moringa em seu rosto, maquiara e amortalhara o cadáver, para que ninguém percebesse as marcas de estrangulamento em seu pescoço. Então chamou o padre e o médico e permaneceu no local o tempo todo, simulando estar consternado pela morte do coronel... Como todos os que estavam presentes conheciam sua dedicação ao doente, ninguém suspeitou de seu crime.

         Mandou dizer uma missa em benefício do coronel, a cuja celebração assistiu sozinho, por não ter convidado ninguém para o evento. Distribuiu esmolas na porta da igreja e, a todos que encontrava, falava sempre bem do coronel, chegando a contar anedotas engraçadas sobre o "velho". Depois, viajou para o Rio de Janeiro, com a intenção de não voltar mais à vila onde trabalhara.

         Sete dias após chegar ao Rio, entretanto, recebeu carta do vigário dizendo-lhe que achara o testamento do coronel e que ali o enfermeiro fora constituído seu único herdeiro. Procópio desconfiou se isso não seria mentira, e a verdadeira intenção fosse a de o prenderem, quando retornasse à vila. Ainda assim, resolveu conferir a informação e confirmou tudo o que lera na carta ao retornar àquele local.

         Durante anos, a todas as pessoas com quem conversava sobre o coronel, dizia que este era boa pessoa, que alguma coisa do temperamento deste era devido às rivalidades locais; e ao dizerem-lhe que o falecido "era o diabo" respondia que ele era, sim, um pouco violento. Com isso, ninguém concordava, pois todos sabiam da má-fama do coronel.

         Confessa ter feito algumas doações com o dinheiro recebido da herança, em especial para a "matriz da vila" e à Santa Casa de Misericórdia, além de mandar erguer túmulo à memória do coronel. Passados os anos, sem que ninguém desconfiasse dele, Procópio diz que não mais sentia os terrores de antes. Termina com esta ironia: "Bem-aventurados os que possuem, porque eles serão consolados".

         Não restam dúvidas de que, pelos relatos do personagem, ele passou longo tempo arrependido do seu ato, ainda que, até certo ponto, mais desejasse defender-se do que cometer um crime. Excedeu-se, entretanto, movido pela raiva, e isso depõe contra ele. Por outro lado, como foi explicado na questão 992 d'O Livro dos Espíritos, sempre se pode melhorar, quando se ouve a censura da consciência.

         Não podemos esquecer, porém, de que, conforme disse Jesus, não cai uma folha de uma árvore sem que Deus o perceba. Por outro lado, quem não é punido pela justiça dos homens um dia prestará contas à justiça divina.

        

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