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segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

 

Em: 20 fev. 2022



19.2 A fé religiosa. Condição da fé inabalável

 

         Do ponto de vista religioso, a fé é a crença nos dogmas particulares que constituem as diferentes religiões. Todas as religiões têm seus artigos de fé. Sob esse aspecto, a fé pode ser raciocinada ou cega. A fé cega nada examina, aceitando sem controle o falso e o verdadeiro, e a cada passo se choca com a evidência da razão. Levada ao excesso, ela produz o fanatismo. Quando a fé se firma no erro, ela desmorona cedo ou tarde. Aquela que tem por base a verdade é a única que tem o futuro assegurado, porque nada deve temer do progresso das luzes, já que o verdadeiro na obscuridade também o é à plena luz do dia. Cada religião pretende estar na posse exclusiva da verdade; preconizar a fé cega sobre uma questão de crença é confessar a impotência para demonstrar que se está com a razão.

         Vulgarmente se diz que a fé não se prescreve, o que leva muitas pessoas a alegarem que não são culpadas de não terem fé. Sem dúvida que a fé não pode ser prescrita, ou o que é ainda mais certo: a fé não pode ser imposta. Não, a fé não se prescreve, ela se adquire, e não há ninguém que esteja impedido de possuí-la, mesmo entre os mais refratários. Falamos das verdades espirituais fundamentais, e não desta ou daquela crença particular. Não é a fé que deve procurar essas pessoas, mas elas é que devem procurá-la, e se o fizerem com sinceridade a encontrarão. Estejam certos de que aqueles que dizem: "Não queríamos nada melhor do que crer, mas não o podemos fazer", apenas o dizem com os lábios, e não com o coração, pois ao mesmo tempo que o dizem, fecham os ouvidos. As provas, entretanto, abundam ao seu redor. Por que, pois, se recusam a ver? Nuns, é a indiferença; noutros, o medo de serem forçados a mudar de hábitos; e na maior parte, o orgulho que se recusa a reconhecer um poder superior, porque teria de inclinar-se diante dele.

         Para algumas pessoas, a fé parece de alguma forma inata: uma centelha é suficiente para desenvolvê-la. Essa facilidade para assimilar as verdades espirituais é sinal evidente de progresso anterior. Noutras pessoas, ao contrário, elas dificilmente penetram, sinal não menos evidente de naturezas retardatárias. As primeiras já creram e compreenderam. Trazem ao renascer, a intuição do que sabiam. Sua educação está feita. As segundas ainda têm que aprender tudo; sua educação está por fazer. Ela será feita e, se não  terminar nesta existência, terminará noutra.

         A resistência do incrédulo, convenhamos, quase sempre se deve menos a ele do que à maneira pela qual lhe apresentam as coisas. A fé necessita de uma base, e essa base é a perfeita compreensão daquilo em que se deve crer. Para crer, não basta ver, é necessário sobretudo compreender. A fé cega não é mais deste século. É precisamente o dogma da fé cega que hoje em dia produz o maior número de incrédulos. Porque ela quer impor-se, exigindo a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: o raciocínio e o livre-arbítrio. É contra essa fé, sobretudo, que se levanta o incrédulo, o que mostra a verdade de que a fé não se impõe. Não admitindo provas, ela deixa no espírito um vazio, de que nasce a dúvida. A fé raciocinada, que se apoia nos fatos e na lógica, não deixa nenhuma obscuridade; a pessoa acredita porque tem certeza, e tem certeza porque compreendeu. Eis porque ela não se dobra: só é inabalável a fé que pode enfrentar a razão face a face, em todas as épocas da Humanidade.

         É a esse resultado que o Espiritismo conduz, triunfando assim da incredulidade, todas as vezes em que não encontrar a oposição sistemática e interessada.

            Tradução livre: Jorge L. de Oliveira
            http://lattes.cnpq.br/0494890808150275.

 

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