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quarta-feira, 31 de agosto de 2022

 


Diante do mundo
 
Ante os pesares do mundo,
Observa, alma querida,
A dor que ilumina a vida,
Sob as provas, tais quais são...
A Terra é uma grande escola
De que temos o usufruto,
Lembrando enorme instituto
De trabalho e elevação.
 
Nascemos e renascemos,
Atendendo a leis concisas,
Conforme as lições precisas
Que temos nós para dar;
No serviço que nos cabe,
Naqueles com quem vivemos,
Jazem os pontos supremos
De nosso próprio lugar.
 
Nas tarefas em que estejas,
Cumpre o dever que te assiste,
Se a vida parece triste,
Não te queixes de ninguém...
Cada pessoa na Terra
Intimamente é chamada
A servir, de estrada a estrada,
Para a vitória do bem.
 
O homem robusto e moço
Que administra a riqueza,
Traz, por vezes, rude e acesa,
A fogueira da aflição;
A mulher que exibe ao colo
A cruz em joias e luzes,
Às vezes tem muitas cruzes
Por dentro do coração.
 
Nunca censures. Trabalha,
Crê, auxilia e não temas.
Cada qual guarda problemas,
Em forma de sombra e dor.
Quem mais serve e mais perdoa
É aquele que se renova,
Vencendo, de prova em prova,
Na grande escola do amor.
 
MARIA DOLORES (Espírito). Coração e Vida. Psicog. Chico Xavier. São Paulo, SP: IDEAL, 1978.


segunda-feira, 29 de agosto de 2022

 


DRAMA DE MULHER

 

O público, no júri, ouvia atento...
 
Um moço pobremente apresentado
Era o terrível réu em julgamento.
 
Prosseguia a falar o promotor:
— Senhores do conselho de sentença
A casa da justiça é uma casa que pensa.
Certo, já conheceis
O perigoso salteador
Que temos sob a vista,
É homicida e ladrão
Quer, por vezes, passar por jovem cientista,
Furtando assinaturas,
Falsificando documentação...
Não tem vinte e seis anos de contado
E não passa de reles celerado.
Se vos escravizais à compaixão cediça,
Que será da justiça?
Representais aqui toda a comunidade,
Examinai o delinquente,
Estudando à vontade
O processo que o mostra claramente.
E condenais sem medo,
Sem que o falso carinho vos degrade
O sentido de ordem, de defesa
Contra o império do mal
Que ameaça ferir a natureza,
De maneira fatal...
 
O silêncio pesou, na sala imensa,
Toda a assembleia escuta, extática e suspensa.
Por fim, o promotor, depois de grande pausa,
Anunciou em voz tonitruante:
— Aos senhores jurados neste instante,
Peço a condenação do réu em causa.
 
Antes, porém que o tribunal
Fosse parlamentar em confidência,
Uma senhora idosa da assistência
Extremamente pobre por sinal,
Ergue-se e diz:
 
Senhor Juiz, rogo o vosso perdão mas serei breve.
Sou eu a testemunha não ouvida,
Muito embora arrasada, ante os golpes da vida,
Eu sou a mãe do réu passível de sentença.
Há muito tempo, eu fui uma jovem simplória,
E o senhor promotor
Era um moço robusto, um jovem de talento.
Amamo-nos os dois, com redobrado ardor,
E tivemos um filho,
Fora do casamento:
— O réu que há nesta sala...
Mas, chegando a criança
Ele me abandonou, matando-me a esperança
De um lar que nunca tive e que sempre sonhei...
Entreguei-me ao serviço
E meu filho cresceu, sem saber disso.
Fiz-me, para criá-lo, humilde lavadeira,
Sofrendo privações a vida inteira...
Dei a meu filho a escola, o sustento, o agasalho,
Mas não pude guiá-lo às bênçãos do trabalho.
Faltou-lhe o pai à vida e para dar-lhe o pão,
Passei toda a existência em dura servidão...
Nunca vendi amor, nunca fui prostituta,
Vivi de sacrifício, entre a doença e a luta...
E aquela estranha voz
Que demonstrava em si padecimento atroz,
Prosseguiu: — Excelência,
Como julgar por nós as tramas da existência?
Meu filho, o triste réu, é um pobre vagabundo,
O promotor que acusa é o pai que o pôs no mundo...
 
E acrescentou, em pranto:
— Por que Deus fez as mães para sofrerem tanto?
Por que, senhor Juiz,
Tenho um filho que adoro
Para vê-lo tão triste e desprezado,
Tão sozinho e infeliz?
 
O Silêncio caiu na sala imensa,
No promotor, a face era agora de cera,
Ninguém se levantou, nem se moveu,
Toda a comunidade emudecera...
Mas o Juiz discreto usa o lenço em que estanca
O pranto que lhe encharca a longa barba branca...
E homem de consciência limpa e nobre coração
Muito embora chorasse,
Mostrando a imensa dor que lhe cobria a face,
Declarou desejar a revisão
Do processo, de todo, ainda não julgado,
Depois, ergueu-se trêmulo, cansado,
E adiou a sessão.
 
MARIA DOLORES (Espírito). Maria Dolores. Psicografado por Chico Xavier. São Paulo: IDEAL.
 

domingo, 28 de agosto de 2022

 



A candeia  sob o alqueire (conclusão)

 

Pergunta-se que proveito o povo poderia tirar dessa multidão de parábolas, cujo sentido estava oculto para ele. Deve notar-se que Jesus só se exprimiu em parábolas sobre as questões, de algum modo abstratas, da sua doutrina. Mas, havendo feito da caridade para com o próximo e da humildade a condição expressa da salvação, tudo o que disse a esse respeito é perfeitamente claro, explícito e sem nenhuma ambiguidade. Assim, devia ser, porque se tratava de regra de conduta, regra que todos deviam compreender, para poderem observar. Isso era o essencial para a multidão ignorante, à qual se limitava a dizer: “Eis o que é preciso fazer para se ganhar o reino dos céus”.

Sobre outras partes, só desenvolvia os seus pensamentos para os discípulos. Estando eles mais adiantados, moral e intelectualmente, Jesus podia iniciá-los nas verdades mais abstratas. Foi por isso que disse: Àqueles que já têm, ainda mais se dará (cap. 18, it. 15). Entretanto, mesmo com os apóstolos, tratou de modo vago sobre muitos pontos, cuja noção completa estava reservada aos tempos futuros. Foram esses os pontos que deram lugar a diversas interpretações, até que a Ciência, de um lado, e o Espiritismo, de outro, vieram revelar as novas leis da natureza, que tornaram compreensível o seu verdadeiro sentido.

O Espiritismo vem atualmente projetar luz sobre uma porção de pontos obscuros, mas não o faz inconsideradamente. Os espíritos procedem, nas suas instruções, com admirável prudência. É sucessiva e gradualmente que eles têm abordado as diversas partes conhecidas da Doutrina, e é assim que as demais partes serão reveladas no futuro, à medida que chegue o momento de fazê-las sair da obscuridade. Se a houvessem apresentado completa desde o início, ela não teria sido acessível senão a um pequeno número; e teria mesmo assustado aqueles que não se achavam preparados, o que seria prejudicial à sua propagação.

Se os espíritos, portanto, ainda não dizem tudo ostensivamente, não é porque a Doutrina possua mistérios reservados aos privilegiados, nem que eles ponham a candeia debaixo do alqueire, mas porque cada coisa deve vir no tempo oportuno. Eles deixam que cada ideia tenha o tempo e amadurecer e se propagar, antes de apresentarem outra, e aos acontecimentos, o tempo de lhes preparar a aceitação.

sábado, 27 de agosto de 2022

 

EM DIA COM O MACHADO 538:
           A SEMEADURA E A CEIFA (Jó)


 

Salve, amigos leitores!

Não é novidade, no movimento espírita, que as mensagens psicografadas por Chico Xavier com a assinatura Irmão X surgiram após uma disputa judicial iniciada pela viúva do grande escritor Humberto de Campos. Ela não se conformava em saber que o médium mineiro se dizia portador de belos textos, atribuídos ao seu falecido esposo, famoso em vida física pela produção literária de belas crônicas e membro da Academia Brasileira de Letras. Então, moveu processo com dois objetivos: primeiro, que a justiça brasileira confirmasse a autoria dos textos psicografados como sendo de Humberto; segundo que, se isso se confirmasse, a Federação Espírita Brasileira (FEB), detentora dos direitos de publicação e comercialização das obras psicografadas pelo Chico, pagasse a ela o valor correspondente ao que teria direito, haja vista ser herdeira do  renomado acadêmico.

O advogado Miguel Timponi representou a FEB em juízo e ficou demonstrado que espírito não somente deixa de ter direito autoral do que supostamente dita do além, haja vista que a personalidade jurídica cessa com o falecimento do “de cujus”; como também cessam os direitos dos herdeiros pelo mesmo motivo.

A partir do trânsito em julgado desse caso, publicado na obra A Psicografia Ante os Tribunais, pelo Dr. Timponi, Humberto passou a usar o pseudônimo de Irmão X em todas as obras de sua autoria espiritual, psicografadas pelo Chico, tais como: Cartas e Crônicas; Contos Desta e Doutra Vida; Contos e Apólogos; Estante da Vida; Histórias e Anotações; Lázaro Redivivo; Luz Acima; Pontos e Contos e Relatos da Vida. Para só me referir às obras que tenho.

Antes do processo movido por sua viúva, o espírito Humberto de Campos ditou ao Chico estas belas obras, também em minha estante: Boa Nova; Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho; Novas Mensagens; Crônicas de Além-Túmulo e Reportagens de Além-Túmulo. Além dessas obras, Humberto (Irmão X) transmitiu-nos belos textos em coletâneas psicografadas pelo médium mineiro, de diversos espíritos, com histórias curiosas e engraçadas. Uma delas é a que está no pequeno livro de mensagens, recentemente publicado pela editora FEB em convênio com o Centro Espírita União (CEU). O título da crônica é Anotação necessária.

Diz Irmão X que é comum tratarmos com deferência pessoas criminosas, mas no mundo espiritual, é a própria consciência que é o espelho da alma. Desse modo, podemos estar também no banco dos réus, quando nossos pensamentos, palavras e atos não são nobres. Os que consideramos “malfeitores confessos” nem sempre são o que demonstram. Costumam ser, isto sim, “doentes e obsidiados, requisitando larga dose de paciência e carinho”.

Após tecer outras importantes considerações sobre as mazelas que ainda trazemos conosco, mesmo os que nos valemos da capa falsa de religiosidade, o espírito que tantas belas obras escreveu em vida física e após o túmulo lembra as palavras de Jesus a Dimas, o chamado “bom ladrão”: — “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”.

Podemos imaginar, não sem razão, que ali começou a regeneração desse condenado. Entretanto, em nada desmerece Humberto de Campos a frase final de Irmão X: “Até hoje, ninguém sabe ao certo que foi fazer Dimas nas Alturas, mas há quem creia que apesar das palavras doces do Cristo, que lhe asseguravam preciosos recursos de emenda na reencarnação necessária, o antigo salteador terá subido, preliminarmente, ao Céu para receber uma surra”.

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

                                                 VIGILÂNCIA, COMPAIXÃO E PRECE (Jó)






        

Ainda escutareis os sons suaves

Das palavras do Mestre da bondade

Percorrendo os espaços tal qual aves

No coral pipilante  da cidade:

 

 — Libertai-vos de todos os entraves

Que vos  cegam na torpe e vã maldade.

Entrai ligeiro noutras lindas naves,

Vinde buscar as luzes da verdade!

 

Que a prece, a vigilância e a compaixão

Sejam, em vossas vidas, o fanal

A vos guiar no amor ao vosso irmão.

 

Percebereis o som da compaixão,

Em vigilância e prece contra o mal,

E vos libertareis da tentação.

 

Brasília, 25 de agosto de 2022.

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

 


DOM DE DEUS
 
Alguém, um dia,
Perguntou a Michelangelo
Enquanto ele esculpia:
 
— Senhor, por que razão
Martelar, martelar
Esta pedra indefesa?
Não seria mais justo
Deixá-la em paz
No coração da natureza?
 
O escultor, entretanto,
Respondeu simplesmente,
Sem alterar a voz:
— Um anjo mora preso
Neste bloco maciço,
E tenho o compromisso
De trazê-lo até nós.
 
E batendo e cortando,
Aresta sobre aresta,
Aparando e brunindo
O mármore que entesta,
Vê, afinal, o instante
Em que ele próprio exulta...
 
A obra-prima que jazia oculta
Aparece, soberana:
É um anjo que sorri quase que em filigrana,
Uma pedra, por fim que se transforma
Com prodígios de forma,
Em requintes de luz e de beleza humana...
 
Assim também, alma querida,
Quando a dor te ameace ou te amarfanhe a vida,
Não grites maldições,
Nem fabriques labéus...
A prova é a força que te aperfeiçoa,
A dor nasce de Deus por dom profundo
Que te arranca do mundo
Para brilhar nos Céus.
 
MARIA DOLORES (Espírito). Maria Dolores. Psicografado por Chico Xavier. São Paulo: IDEAL.

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

 

DE MÃOS UNIDAS
 
Não temas, alma querida!...
O vendaval que se escuta
É a Terra que vibra em luta
Nos dias de transição...
Prossegue, ao clarão da fé,
Varando os campos sombrios
E os tremendos desafios
Que agitam a multidão.
 
Aqui se fala de guerra,
Ali, é ódio avançando,
Além, as provas em bando
Arrancam duro clamor!...
Entretanto, continua
De ânimo firme e atento,
Plantando, em cada momento,
A paz que precede o amor.
 
Sê o ouvido em que se extingue
A gritaria do insulto,
A força do braço oculto
Que serve sem reclamar...
Sê a palavra calmante
Em que a discórdia termina,
A compreensão que ilumina
Em qualquer tempo e lugar.
 
Prossegue, trabalha, aprende,
Age e auxilia, alma boa,
Se alguém te fere, perdoa,
Ante as trevas faze luz!...
Não vais a sós... Muitos somos...
E na imensa caravana
De socorro à vida humana
O Guia Excelso é Jesus.
 
DOLORES, Maria (Espírito). Caminhos do amor. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. São Paulo: CEU, 1983.

domingo, 21 de agosto de 2022


 
Candeia debaixo do alqueire (continuação)

Dá-se com os homens em geral o que se dá com os indivíduos. As gerações têm sua infância, sua juventude e sua maturidade. Cada coisa deve vir a seu tempo, e a semente lançada fora de época não frutifica. Mas o que a prudência manda calar momentaneamente cedo ou tarde será descoberto, porque, alcançado um certo estágio de desenvolvimento, os homens procuram por si mesmos a luz intensa; a obscuridade lhes é pesada. Deus concedeu-lhes a inteligência para compreender e guiar-se nas coisas da Terra e do céu, a fim de que raciocinem sobre sua fé. Por isso é que a lâmpada não deve ser colocada debaixo do alqueire, pois sem a luz da razão, a fé enfraquece (cap. 19, it. 7).

Se, então, na sua prudente sabedoria, a Providência, não revela as verdades senão gradualmente, ela as revela sempre, à medida que a humanidade amadurece para recebê-la. Ela as mantém em reserva, e não  sob o alqueire.

Os homens, porém, que estão de posse de verdades, em geral, as ocultam do vulgo com a intenção de dominá-lo. São esses os que colocam verdadeiramente a luz debaixo do alqueire. É assim que todas as religiões sempre tiveram seus mistérios, cujo exame proibiram. Mas enquanto essas religiões ficaram para trás, a ciência e a inteligência avançaram e romperam o véu misterioso. O vulgo, ao se tornar adulto, pôde assim penetrar o fundo das coisas e eliminar de sua fé o que era contrário à observação.

Não pode haver mistérios absolutos, e Jesus está com a razão quando diz que não há nada secreto que não venha a ser conhecido. Tudo o que está oculto será descoberto um dia. O que o homem ainda não pode compreender na Terra lhe será sucessivamente revelado em mundos mais avançados, quando ele se houver purificado. Neste mundo, ele ainda está no nevoeiro.


sábado, 20 de agosto de 2022

 



EM DIA COM O MACHADO 537:
O ACOLHIMENTO E O NOVO MANDAMENTO DO CRISTO (Irmão Jó)

 

Quando fiz alguns cursos de pós-graduação na UnB, sempre trabalhei com pesquisas sobre Machado de Assis. Por isso, no início das criações de minhas crônicas, a ideia foi dar-lhe o título de “Em dia com o Machado”, imitando o título de nossa irmã espírita Marta Antunes, vice-presidente da FEB, que intitula seus artigos como “Em dia com o Espiritismo”.

            A ideia inicial, como a mantenho atualmente em algumas crônicas, era dialogar com o suposto espírito Machado de Assis, sempre lembrando que minhas crônicas têm por objetivo repassar conceitos elevados sob as verdades observadas na vida real, mas com base em elaborações fictícias e não em fenômenos mediúnicos dos quais não sou médium, embora creia plenamente na mediunidade.

            Por isso mesmo, sempre faço questão de citar a autoria de textos narrados, como este, sobre comédia machadiana, citada na obra História Concisa da Literatura Brasileira. Tópico Teatro, de autoria do grande pesquisador Alfredo Bosi, falecido há pouco tempo: 

Os bastidores da vida política são o objeto da comédia Quase Ministro, elenco divertido de tipos parasitários que se apressam a cumprimentar o futuro ministro propondo-lhe planos, inventos e poemas, e com a mesma presteza viram-lhe as costas ao sabê-lo fora do cargo (BOSI, op. cit., 1992, p. 272). 

Com o passar do tempo, passei a explorar predominantemente o lado espiritualista, em especial o espírita cristão, em meus devaneios literários. Como base de meus objetivos, compartilho os mesmos fundamentos contidos na carta de Paulo aos Filipenses, 4:8: “[...] tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama [...]”.

Faço essas considerações tendo em vista o que nos propõe padre Émerson, em seus vídeos diários intitulados Palavra do Dia, com considerações sobre o vocábulo “acolher”. Diz ele que sabemos bem o que não seja acolhida quando somos ignorados. Como lemos na mimese realista machadiana, citada por Bosi, muitas vezes, em nosso relacionamento social, quando a fama bate em nossa porta, todos nos bajulam; mas tão logo ela nos deixe, os falsos amigos nos abandonam.

Como a dor que sentimos, nesses momentos, é profunda, sugere-nos padre Émerson ser preciso trabalhar em nós o sentimento de acolhida ao nosso irmão, para que ele não sinta a dor que sentimos. Isso, além de solidariedade, é compaixão. Compadeçamo-nos, pois, do nosso próximo. Que não o acolhamos conforme nossos interesses, mas com o verdadeiro sentimento de amor, seja ele rico ou pobre, famoso ou não, belo ou feio, culto ou analfabeto, bondoso ou mesquinho, enfermo ou sadio. E ainda, quer compartilhe ou não de nossa crença, quer seja religioso ou ateu.

É nisso que estão resumidas as palavras de Jesus a todos nós: “Um novo mandamento vos dou: que vos ameis tanto quanto eu vos amo” (João, 13:34).           

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

 


DOR E PROGRESSO
 
Mágoas, tristezas, lutas, desenganos?!...
Debita as provações à lei da vida.
Embora o sentimento, em pranto e chaga,
Prossegue à frente, de cabeça erguida!...
 
Tudo o que te conforta na existência,
Seja amparo de longe ou de mais perto,
Exige claro exame, porque, em tudo,
A Natureza é sempre um livro aberto.
 
Para guardar-te a casa a pedra aceita
O pesado instrumento que a carcome,
O trigo foi chamado e atendeu prestamente
À honra de ser pão para extinguir-te a fome.
 
Madeira que te arma o leito, a mesa
Ou te cria a guitarra para festa,
Obrigou-se a largar o meio em que vivia
Em recanto esquecido da floresta.
 
A fonte jamais grita contra o lodo
Que lhe cabe vencer na direção do mar...
A argila obedeceu aos tormentos do fogo
Para tornar-se forma e cor nos enfeites do lar.
 
Pensa nisto, alma irmã... Nada reclames.
Dor é transformação que nos reforma o ser...
Em toda e qualquer vida, a fim de renovar-se,
Necessita servir, caminhar e sofrer.
 
 
DOLORES, Maria (Espírito). Caminhos do amor. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. São Paulo: CEU, 1983.


quarta-feira, 17 de agosto de 2022


 
DIARIAMENTE
 
Quando te ergues, de manhã,
Para o trabalho que te espera,
É qual se começasses novamente
A jornada no mundo para a frente...
 
Anota: cada dia é um trecho da viagem,
Reclamando bagagem
Que expresse provisão
De tudo o que precises
Para seguir no culto à própria obrigação.
 
Decerto, cogitaste do alimento
Que te garanta as energias,
Do calçado da fé que a firmeza te ateste,
Da roupa de esperança que te enfeita e te veste,
Da palavra que tens, por centro de atração,
Dessa ou daquela minudência
Que te mostrem o brilho da existência
Em nobre formação...
 
Sabes, porém, que essa romagem
Que todos nós chamados dia-a-dia,
Se nos oferta lances de alegria,
Muitas vezes se faz em pedras de tropeços,
Problemas, desencantos, recomeços,
Inquietação e prova
Por entre os quais a vida se renova...
 
Por isto, eis que te rogo:
Por mais que te prepares com razão,
Pede a Deus te conceda
No preciso momento de sair,
A coragem de amar e de servir,
De ser bênção de paz, seja onde for,
Recordando que Deus, a todo instante,
É sempre o Eterno Amor,
Que tudo nos concede ao coração,
A fim de que venhamos a vencer
As lutas do trabalho e as farpas do dever
Sem exigir qualquer compensação.
 
DOLORES, Maria (Espírito). Caminhos do amor. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. São Paulo: CEU, 1983.


segunda-feira, 15 de agosto de 2022

 


ESCUTA, ALMA QUERIDA
 
Escuta, alma querida!...
Se alguém te apedrejou o coração,
Não plantes ódio na alma contundida,
Nem pranteies em vão...
Sustenta, no caminho da esperança,
O perdão por dever,
Não te dês à vingança...
Esse alguém vai viver.
 
Dá sublimado amor que o mundo não descreve,
E, se alguém te despreza com mentiras,
Não repliques, de leve,
Nem lamentos profiras;
Segue à frente, na paz em que te escondas,
Abraçando a humildade por prazer.
Por maior seja o insulto, não respondas...
Esse alguém vai viver.
 
Seja onde for, se alguém te suplica,
Sob golpes brutais,
Não reclames, não percas a alegria,
Nem te azedes jamais!
Acende a fé no peito sofredor
E procura esquecer.
Infeliz de quem ri na capa de agressor!...
Esse alguém vai viver.
 
Escuta alma querida!...
Quem ofende ou se põe a revidar
Atira fogo e lama à própria vida,
Compra fel e pesar.
Cultiva a compaixão serena e boa,
Envolve todo o mal em bem-querer.
Ai daquele que fere ou que atraiçoa!...
Esse alguém vai viver.

DOLORES, Maria (Espírito). Antologia da espiritualidade. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 6. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014


domingo, 14 de agosto de 2022

 



24 NÃO PONHAM A CANDEIA SOB O ALQUEIRE 

A candeia sob o alqueire. Por que Jesus fala por parábolas. Não vão para os gentios. Os sãos não precisam de médico. A coragem da fé. Carregar sua cruz. Quem quiser salvar sua vida a perderá. 

24.1 A candeia  sob o alqueire. Porque Jesus fala por parábolas 

    Não se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire; mas põem-na sobre o candeeiro, a fim de que ela ilumine a todos os que estão na casa (Mateus, 5:15).

    Não há quem, após acender uma candeia, a cubra com um vaso, ou a ponha debaixo da cama; mas a põe sobre o candeeiro, a fim de que aqueles que entrem vejam a luz; pois nada há secreto que não venha a ser descoberto; nem nada oculto que não haja de ser conhecido e de aparecer publicamente (Lucas, 8:16-17).

 Seus discípulos, aproximando-se, lhe disseram: Por que razão você lhes fala por parábolas? E ele lhes respondeu: Porque a vocês é dado saber os mistérios do Reino dos Céus, mas a eles isso não foi dado saber. Porque ao que tem, se lhe dará, e terá em abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Falo a eles por parábolas, porque eles vendo, não veem, e ouvindo não escutam, nem entendem. Neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: “Vocês ouvirão com os ouvidos e não escutarão; olharão com seus olhos e não verão. Porque o coração deste povo se tornou pesado, e os seus ouvidos se fizeram surdos, e eles fecharam seus olhos, para que seus olhos não vejam e seus ouvidos não ouçam, para que seu coração não compreenda, e para que, tendo-se convertido eu não os cure. (Mateus, 13:10- 15). 

Estranhamos quando ouvimos Jesus dizer que não devemos colocar a luz sob um alqueire, enquanto ele mesmo esconde constantemente o significado de suas palavras sob o véu da alegoria que não pode ser entendido por todos. Ele explica-se dizendo aos seus apóstolos: “Falo-lhes por parábolas, porque não estão em condições de compreender certas coisas; eles veem, olham, ouvem e não entendem. Dizer-lhes tudo, portanto, seria inútil no momento; mas a vocês eu digo, porque lhes foi dado compreender estes mistérios”. Ele, portanto, agiu com o povo como se faz com crianças cujas ideias ainda não se desenvolveram. Com isso ele indica o verdadeiro significado da máxima: "Não se deve colocar o candeeiro debaixo do alqueire, mas sob o candeeiro, para que todos os que entrarem possam vê-lo". Isso não significa que se deva revelar todas as coisas sem reflexão. Todo ensinamento deve ser proporcional à inteligência daquele a quem é dirigido, pois há pessoas que uma luz muito brilhante ofusca sem iluminá-las.

sábado, 13 de agosto de 2022

 

EM DIA COM O MACHADO 536:
            AMAI-VOS E INSTRUÍ-VOS (Jó)

A Igreja da Penha, no Rio de Janeiro, Brasil, foi construída há quase quatro séculos, ou seja, em 1635, pelo capitão Baltazar de Abreu Cardoso, proprietário da quinta onde se situava o penhasco que a sustenta. Fica próxima à entrada que leva a Petrópolis. Havia ali algumas colinas, envolvidas por grande matagal e com uma gigantesca pedra, no cimo duma delas, onde viria a ser construído o templo católico. Na época, o bairro era muito pouco habitado, o capim e as árvores eram senhores daquele espaço. Havia nascentes, muitos animais selvagens, com predomínio para os passarinhos, lagartos e cobras. A natureza ali era exuberante.
         Diz a lenda que, ameaçado por um gigantesco lagarto, Baltazar, desarmado, ajoelhou-se em frente ao penhasco e suplicou socorro a Nossa Senhora. O animal afastou-se sem o molestar e, algum tempo depois, foi erguida no alto uma capela, depois a atual Igreja da Penha. Para lá, anualmente, durante o mês de outubro, se desloca grande multidão de devotos católicos, na chamada Festa da Penha.

Foi nesse bairro que nasci e, salvo retorno de meus pais a Minas Gerais e passagem pelo Espírito Santo, onde nasceram outros dois de meus seis irmãos quando eu ainda era muito novo, convivi até os 22 anos de idade na querida Penha, citada em crônica machadiana.

Aprovado em concurso militar, fui transferido para Salvador, Bahia. Não cheguei a completar 2 anos na capital baiana e, novamente, fui transferido para Barreiras, cidade baiana que dista 620 km, aproximadamente, de Brasília. Finalmente, casado há dois anos, vim com esposa e primeira filha do casal para a Capital em 1980.

Já narrei aqui como foi que passei a frequentar uma mocidade espírita em Rocha Miranda, mas como recordar nunca é menos e sempre é mais, relembro agora como isso aconteceu.

Eu servia numa das duas companhias do quartel sede da 5.ª Brigada de Cavalaria Motorizada e ia de trem para o quartel. Certo dia, já sentado no vagão do trem elétrico, vi quando uma moça, perturbada, entrava e saía do vagão onde eu estava. Como o trem já havia dado partida, e a jovem tentava saltar do vagão em movimento, segurei-a e, sob seus protestos, outras pessoas também a contiveram e acalmaram.

Na estação seguinte, um senhor entrou no trem e, enquanto eu observava a moça agora calma, com seus novos socorristas, comecei um diálogo inesquecível com aquele senhor. Disse-me que frequentava a mocidade do centro espírita que eu, duas semanas depois, passei a frequentar, e ali permaneci até minha transferência para Salvador. Isso ocorreu em prazo próximo de dois anos, no final do qual fui nomeado presidente da Mocidade. Um ou dois meses após minha nomeação, passei o cargo para a vice-presidente e fui continuar meu aprendizado espírita na Juventude Espírita Nina Arueira (JENA), departamento do Centro Espírita Caminho da Redenção, fundado pelos tribunos espíritas Divaldo e Nilson Pereira, seu primo.

Na época, eu ainda não concluíra o atual ensino médio. O conhecimento espírita, entretanto, foi o grande impulsionador dos meus estudos, crescimento intelectual e moral, ao lado da esposa, Maria de Lourdes, que sempre esteve ao meu lado, em todos os esforços para nosso progresso material e, principalmente, espiritual.

A essa Doutrina maravilhosa, à luz do Cristianismo, devemos tudo o que somos. E o que, mercê da graça de Deus, possuímos, sem ambição pela riqueza, nos permitiu proporcionar aos agora três filhos casados uma boa educação e os melhores exemplos.

O interesse permanente para nos instruirmos, junto com o esforço do amor, que tantas bênçãos nos vêm concedendo, estão sintetizados nesta frase do Espírito de Verdade: “[...] amai-vos e instruí-vos”, que pode ser lida no capítulo 6.º d’O Evangelho Segundo o Espiritismo.

sexta-feira, 12 de agosto de 2022



ENCONTRO INESQUECÍVEL
 
A nossa reunião em preces começara.
Em derredor, a névoa densa...
 
Éramos oitos irmãos, ante a presença
Da inteligência rara
De antigo delinquente,
Que precisava rumo diferente.
 
Finda a nossa oração,
O instrutor exclamou, emocionado:
— Escuta, meu irmão,
Agora, és nosso convidado
Para a escola do amor.
Em nome de Jesus, cuja a paz nos alcança,
Rogamos-te esquecer os gestos de vingança
Que exerces sobre humilde lar terreno,
Hoje quase desfeito
Sem que a piedade te penetre o peito,
Semelhante a motor sustentado a veneno...
 
Um estranha e estridente gargalhada
Ecoou, sob a névoa desolada.
 
— Nunca! – disse o infeliz, mal disfarçando a ira –
Não me faleis de amor, essa eterna mentira,
Farei justiça pelas próprias mãos.
Estou cansado de preceitos vãos.
Ingênuos pregadores, que dizeis
De tudo o que sofri no relho da injustiça?
Das mistificações de vossas duras leis,
Ninguém me arrancará do ódio que me escolta,
Quero ser a vingança, o rebate, a revolta...
Pobre órfão de mãe, sem pai que me quisesse,
Para sobreviver doente, exausto e roto,
Fiz-me rato de esgoto,
Embora o homem, meu pai, amplamente soubesse
Que eu tinha sob os pés o abismo por destino...
Fui ladrão e assassino.
Temível salteador
Respondendo a sarcasmo o fel da minha dor!...
 
Ante a pausa pequena,
O instrutor indagou em voz serena:
— E Deus, irmão? Que fizeste de Deus?
 
— Eu preferi trilhar a estrada dos ateus –
replicou, apressado, o Espírito infeliz –
— Se há Deus também é um Pai que não me quis;
Sei que saí da morte e existo em outro plano,
Mas não quero ilusões do pensamento humano!...
 
— E o bem? Não queres crer na prática do bem? –
disse o orientador, paciente e amigo —
— Não desejamos obrigar-te,
Quanto possas, porém, modifica-te e vem
Ao caminho do amor que é sempre o nosso abrigo
A doar-nos socorro em qualquer parte.
 
— Tolice!... – proclamou a rebelde entidade –
O bem aduba o mal em toda a Humanidade,
A prática do bem sugere desacatos,
É a galinha a sofrer na desova de ingratos.
 
Notando-lhe a feição empedernida,
O nosso grupo em prece ao Criador da Vida
Pediu por ele apoio e proteção.
 
Assim que terminou a singela oração
Que o nosso Condutor em pranto formulara,
Veio do Azul Imenso uma luz rosicler
Que se fez, entre nós, simpática mulher...
Abraçou-nos sorrindo, em júbilo e tristeza,
Dirigindo-se após ao rude sofredor,
Falou-lhe em doce voz, repassada de amor:
— Filho, Deus te abençoe!... – E o pobre a ouvi-la,
Qual se atendesse, enfim, a invencível comando,
Cambaleou sem força e gritou, soluçando:
— Mãe, generosa mãe, rever-te me aniquila...
Não me retenhas, mãe! A treva me reclama,
Fita-me o peito em fel, a converter-se em lama...
Sou apenas um monstro, acusado e infeliz!...
 
Ela, porém, sentou-se, linda tal qual era,
Colocou-lhe a cabeça no regaço
E parecendo um anjo, acalmando uma fera, a lhe apontar a imensidão do Espaço:
— Filho, és meu ideal, o mais belo e o mais santo;
Não te sintas a sós, eu nunca te amei tanto
Quanto agora que estás desolado e sozinho
Não te creias no mal, és um filho dos Céus,
Deus não cria em ninguém o estigma dos réus.
A vida nos fará renovado caminho.
Erraste, filho meu, mas as faltas que tens
Resgataremos nós com nossos novos bens.
Retornarei à Terra e seguirás comigo,
Viveremos num lar singelo, claro e amigo;
Conforme a proteção de Afetos Imortais,
Terás comigo o amor de meus futuros pais...
No tempo que eu dormir e pequenina for
Serás junto ao meu berço,
Meu fiel companheiro e maior defensor...
E, em regressando a ser menina-criança,
Estarás junto a mim por meu sonho-esperança.
Nos bebês que eu tiver, em brinquedos do lar,
Sei que te embalarei com as canções de ninar;
E ao tornar-me mulher, sem qualquer empecilho,
Serás, então, de novo,
Ante a bênção de Deus, meu tesouro e meu filho...
Não chores mais. Agora, é o fim da longa espera,
Raiará para nós a nova primavera...
Não te importem a luta, o esforço, a prova e a dor!...
Todo lugar é Céu onde está nosso amor!...
 
Calou-se a mãe sublime. E entre nós, em seguida,
Ergueu-se a sustentá-lo com ternura,
Qual se o pobre fosse a própria vida.
Depois, a despedir-se, a nobre criatura,
Na carícia de luz, que das mães se descerra,
Partiu a carregá-lo, em direção da Terra.
 
Nosso mentor, em voz pausada e enternecida,
Agradeceu aos Céus a tarefa cumprida.
E, qual se me encontrasse, em reunião qualquer,
Exclamei, a chorar, em êxtase profundo:
— Sê louvado, meu Deus, porque deste à mulher
A chave para a vida e a redenção do mundo!...

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