A candeia sob o alqueire (conclusão)
Pergunta-se que proveito
o povo poderia tirar dessa multidão de parábolas, cujo sentido estava oculto
para ele. Deve notar-se que Jesus só se exprimiu em parábolas sobre as questões,
de algum modo abstratas, da sua doutrina. Mas, havendo feito da caridade para
com o próximo e da humildade a condição expressa da salvação, tudo o que disse
a esse respeito é perfeitamente claro, explícito e sem nenhuma ambiguidade.
Assim, devia ser, porque se tratava de regra de conduta, regra que todos deviam
compreender, para poderem observar. Isso era o essencial para a multidão
ignorante, à qual se limitava a dizer: “Eis o que é preciso fazer para se
ganhar o reino dos céus”.
Sobre outras partes, só
desenvolvia os seus pensamentos para os discípulos. Estando eles mais
adiantados, moral e intelectualmente, Jesus podia iniciá-los nas verdades mais
abstratas. Foi por isso que disse: Àqueles que já têm, ainda mais se dará (cap.
18, it. 15). Entretanto, mesmo com os apóstolos, tratou de modo vago sobre
muitos pontos, cuja noção completa estava reservada aos tempos futuros. Foram
esses os pontos que deram lugar a diversas interpretações, até que a Ciência,
de um lado, e o Espiritismo, de outro, vieram revelar as novas leis da
natureza, que tornaram compreensível o seu verdadeiro sentido.
O Espiritismo vem
atualmente projetar luz sobre uma porção de pontos obscuros, mas não o faz
inconsideradamente. Os espíritos procedem, nas suas instruções, com admirável prudência.
É sucessiva e gradualmente que eles têm abordado as
diversas partes conhecidas da Doutrina, e é
assim que as demais partes serão reveladas no futuro, à medida que chegue o momento
de fazê-las sair da obscuridade. Se a houvessem apresentado completa desde o início,
ela não teria sido acessível senão a um pequeno número; e teria mesmo assustado
aqueles que não se achavam preparados, o que seria prejudicial à sua
propagação.
Se os espíritos,
portanto, ainda não dizem tudo ostensivamente, não é porque a Doutrina possua mistérios
reservados aos privilegiados, nem que eles ponham a candeia debaixo do alqueire,
mas porque cada coisa deve vir no tempo oportuno. Eles deixam que cada ideia tenha
o tempo e amadurecer e se propagar, antes de apresentarem outra, e aos
acontecimentos, o tempo de lhes preparar a aceitação.
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