Páginas

domingo, 7 de agosto de 2022

 


Não vim trazer a paz... (continuação)

Jesus, na sua profunda sabedoria, previu o que devia acontecer; mas essas coisas eram inevitáveis, porque decorriam da própria inferioridade da natureza humana, que não podia ser transformada repentinamente. Era necessário que o Cristianismo passasse por essa prova demorada e cruel, de dezoito séculos, para demonstrar todo o seu poder; porque, apesar de todo o mal cometido em seu nome, ele saiu dela puro. Jamais esteve em causa. A censura sempre caiu sobre os que dele abusaram. A cada ato de intolerância sempre se disse: Se o Cristianismo fosse melhor compreendido e melhor praticado, isso não teria acontecido.

Quando Jesus disse: “Não pensem que eu tenha vindo trazer a paz, mas a divisão” — seu pensamento era este: "Não pensem que minha Doutrina se estabeleça pacificamente. Ela trará lutas sangrentas, tendo meu nome como pretexto. Porque os homens não me haverão compreendido, ou não terão querido compreender-me. Os irmãos, separados pelas suas crenças, lançarão a espada um contra o outro, e a divisão se fará entre os membros de uma mesma família, que não terão a mesma fé. Vim lançar o fogo sobre a Terra, para consumir os erros e os preconceitos, como se põe fogo num campo para destruir as más ervas, e tenho pressa de que o fogo se acenda, para que a depuração se faça mais rapidamente, pois dela sairá triunfante a verdade. À guerra sucederá a paz; ao ódio dos partidos, a fraternidade universal; às trevas do fanatismo, a luz da fé esclarecida.

Então, quando o campo estiver preparado, eu lhes enviarei o Consolador, o Espírito da Verdade, que virá restabelecer todas as coisas, ou seja, que dando a conhecer o verdadeiro sentido de minhas palavras, que os homens mais esclarecidos poderão enfim compreender, porão fim à luta fratricida que divide os filhos do mesmo Deus. Cansados, por fim, dum combate sem solução, que só acarreta desolação e leva o distúrbio até mesmo ao seio das famílias, os homens reconhecerão onde se encontram os seus verdadeiros interesses, no tocante a este e ao outro mundo, e verão de que lado se acham os amigos e os inimigos da sua tranquilidade. Todos, então, se abrigarão sob a mesma bandeira: a da caridade, e as coisas serão restabelecidas na Terra, segundo a verdade e os princípios que lhes tenho ensinado".

O Espiritismo vem realizar, no tempo previsto, as promessas do Cristo. Entretanto, não o pode fazer sem destruir os abusos. Como Jesus, ele se defronta com o orgulho, o egoísmo, a ambição, a cupidez, o fanatismo cego, que, cercados em seus últimos redutos, tentam ainda barrar-lhe o caminho, e levantam contra ele entraves e perseguições. É por isso que ele também deve combater; mas a época das lutas e perseguições sangrentas já passou. As que ele tem de suportar são todas de ordem moral, e o fim de todas elas se aproxima. As primeiras duraram séculos; as de agora durarão apenas alguns anos, porque a luz não parte de um só foco, mas nasce em todos os pontos do globo, e mais depressa abrirá os olhos aos cegos.

Essas palavras de Jesus devem, portanto, ser entendidas, como referentes à cólera que, segundo previa, a sua Doutrina suscitaria; aos conflitos momentâneos, que surgiriam como consequência; às lutas que teria de sustentar, antes de se firmar, como aconteceu com os hebreus antes de sua entrada na Terra Prometida; e não como um desígnio premeditado, de sua parte, de semear a desordem e a confusão. O mal viria dos homens, e não dele. Ele era como o médico que veio curar, mas cujos remédios provocam uma crise salutar, ao remover os males do doente.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Viva a Cruz Vermelha! (Irmão Jó)   A Terra é um cipoal De ervas daninhas do mal.   A dor internacional Faz do mundo um hospital....