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segunda-feira, 30 de março de 2020


EM DIA COM O MACHADO 412:
a Covid e a Lei de Deus (Jó)
Bom dia!
Nestes dias de Covid-19, precisamos redobrar nossa atenção com os idosos. Então, foi com muita alegria que recebi a notícia do meu amigo Astolfo sobre a redescoberta de artigo que lhe enviei há três anos e ainda não foi publicado. Trata-se de singela homenagem, que brevemente virá à luz, a um dos cinco filhos espíritas de tia Auta: Jair Oliveira, 90 anos de idade.
Queremos vê-lo de volta à tribuna espírita, após 30 de outubro, quando fará 91 anos. E nisso ele ainda não leva vantagem sobre dois outros amigos nossos: Neusa e Di.
Dona Neusa caminha para 93 anos de idade (20 dez. 20). Até antes da quarentena, reunia-se, em Curitiba, com outras idosas espíritas, para confeccionar enxovais gratuitos para bebê etc. Ela é avó do meu genro Rafael e esposa de seu Jorge, que desencarnou há alguns anos. O casal teve a honra de recepcionar, há muitos anos, em sua residência, nosso querido Divaldo Franco, com cujas obras sociais contribuíram.
E por falar em Divaldo, no próximo dia 5 de maio ele fará 93 anos. Não mais podendo comparecer ao vivo aos eventos espíritas, aos quais levava sua oratória ímpar e memória privilegiada, agora grava e divulga, pelo YouTube, suas palestras com encorajamento a todos para aguentarem firmes essa onda, que, como tudo neste mundo, exceto o Amor, vai passar.
Na obra Sexo e Obsessão, psicografada por Divaldo, lemos algumas advertências preciosas, para nossa reflexão e reafirmação de propósito em mudarmos nossos conceitos de vida. Diz o Espírito Manoel Philomeno de Miranda que a Doutrina Espírita, "Sol da Nova Era", requer de nós que, "tomando da charrua", não olhemos para trás, de acordo com o ensinamento de Jesus (cap. 24, p. 319, Ed. LEAL, 2002).
Adiante, Miranda prossegue em seus esclarecimentos dizendo que já houve tempo em que os adeptos do Espiritismo foram muito incompreendidos e perseguidos. O que não é novidade, pois o próprio Cristo foi, até mesmo, abandonado pela maioria dos seus apóstolos, quando, inocente, foi pregado numa cruz junto de dois criminosos, embora seja a representação máxima do Amor divino na Terra.  Acrescenta Miranda:

Ainda durante muito tempo, serão necessários os exemplos de coragem e de abnegação em todos os segmentos sociais e áreas do pensamento, por parte dos heróis e dos idealistas, para que as mensagens nobres se implantem nos corações humanos e transformem a sociedade, que necessita de diretriz e de segurança para alcançar o objetivo da harmonia e do equilíbrio, da justiça e da paz (op. cit., p. 320).

Mesmo entre nós, os espíritas e espiritualistas em geral, vive-se intensamente o culto ao corpo e a idolatria ao sexo, o que demonstra estarem tais pessoas mais apegadas à sua natureza animal do que à espiritual, que são as duas naturezas que integram o ser humano, na definição dos Espíritos que responderam às 1.019 questões d'O Livro dos Espíritos, primeira obra editada por Allan Kardec.
A alma não tem a idade calculada por apenas uma existência física. De modo que tanto uma criança de poucos meses como um idoso de noventa anos ou mais, como ocorre com os três citados, possuem o mesmo instinto de sobrevivência que outras pessoas em plena juventude. A diferença é que estas estão mais suscetíveis às paixões físicas do que, em geral, aquelas. Isso ocorre em virtude de tanto a criança, quanto o idoso, viverem mais a vida espiritual do que a material. Sábio é o jovem que aprende com eles e os trata com o maior respeito e cuidados.
Então, não arrisquemos a vida desses seres a quem tanto devemos amor e gratidão. Atendamos aos apelos da Organização Mundial de Saúde e das autoridades sanitárias. Não os exponhamos à contaminação da Covid-19. Os cuidados, além da quarentena, vêm sendo divulgados cotidianamente. Basta segui-los.
Hoje, quase não existe quem desconheça essas recomendações, ratificando-se, assim, a norma legal de que ninguém pode alegar desconhecimento da lei, ao descumpri-la. Se isso ocorre com a lei humana, o que não se dirá da Lei de Deus, que está impressa em nossas consciências?






sábado, 28 de março de 2020



Continuação da tradução livre, em terceira pessoa, d'O Evangelho Segundo o Espiritismo.

9 BEM-AVENTURADOS OS QUE SÃO MANSOS E PACÍFICOS

Injúrias e violências. Instruções dos Espíritos: A afabilidade e a doçura - A paciência. Obediência e resignação - A cólera

9.1 Injúrias e violências

1. Bem-aventurados os que são mansos, porque eles possuirão a Terra (Mateus, 5:4).
2. Bem-aventurados os pacíficos, porque eles serão chamados filhos de Deus (Mateus, 5:9).
3. Vocês ouviram o que foi dito aos antigos: Não matem, e quem matar merecerá ser condenado pelo juízo. Mas eu lhes digo que aquele que se encolerizar contra seu irmão merecerá ser condenado pelo juízo; que aquele que disser a seu irmão: raca, merecerá ser condenado pelo conselho; e aquele que disser: você é louco, merecerá ser condenado ao fogo do inferno (Mateus, 5:21,22).
Por essas máximas, Jesus faz da mansidão, da moderação, da mansuetude, da afabilidade e da paciência uma lei. Condena, por consequência,  a violência, a cólera, e até mesmo toda expressão descortês para com os semelhantes. Raca era, entre os hebreus, um termo de desprezo, que significava homem sem valor, e se pronunciava cuspindo e virando a cabeça para o lado. Ele vai mesmo mais longe, pois ameaça com o fogo do inferno aquele que disser a seu irmão: És louco.
É evidente que aqui, como em qualquer circunstância, a intenção agrava ou atenua a falta; mas em que uma simples palavra pode ter tamanha gravidade, para merecer reprovação tão severa? É que toda palavra ofensiva expressa um sentimento contrário à lei de amor e de caridade, que deve reger as relações entre os homens e manter entre eles a concórdia e a união; é que é um atentado à benevolência recíproca e à fraternidade; é que entretém o ódio e a animosidade. Enfim, que, depois da humildade para com Deus, a caridade para com o próximo é a primeira lei de todo cristão.
Mas que entendia Jesus por estas palavras: "Bem-aventurados os que são mansos, porque eles possuirão a Terra?" Não ensinou Ele a renunciar aos bens deste mundo, prometendo os do Céu?
Enquanto espera os bens do Céu, o homem necessita dos bens da Terra para viver. Ele apenas lhe recomenda, portanto, que não dê a estes últimos mais importância do que aos primeiros.
Por essas palavras, Ele quer dizer que, até agora, os bens da Terra  são tomados à força pelos violentos, em prejuízo dos que são mansos e pacíficos; que a estes falta frequentemente o necessário, enquanto os outros têm o supérfluo. Ele promete que justiça lhes será feita assim na Terra como no Céu, porque eles serão chamados filhos de Deus. Quando a lei de amor e caridade for a lei da Humanidade, não haverá mais egoísmo; o fraco e o pacífico não serão mais explorados nem esmagados pelo forte e o violento. Tal será o estado da Terra, quando, segundo a lei do progresso e a promessa de Jesus, ela estiver transformada num mundo feliz, pela expulsão dos maus.

Tradutor: Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira.

quinta-feira, 26 de março de 2020


EVOLUÇÃO INDIVIDUAL E COLETIVA
Jorge Leite de Oliveira

Na questão 27 d’O livro dos espíritos,[1] somos informados da existência de três elementos gerais no Universo: Deus, espírito e matéria. A palavra espírito aqui, com inicial minúscula, não se refere à individualidade, mas sim ao elemento inteligente do Universo que formará as individualidades chamadas Espíritos. A ligação do espírito à matéria dá-se pelo princípio vital, originado do fluido universal, como lemos na questão 65 do livro citado (grifei).
Também o instinto se origina da inteligência universal, de acordo com o contido na questão 73 e 75 da obra citada. Ele pode guiar-nos para o bem até mesmo com mais segurança do que a razão. Em comentário final à alínea a) da questão 75, Allan Kardec esclarece-nos que “O instinto varia em suas manifestações, conforme as espécies e as suas necessidades. Nos seres que têm a consciência e a percepção das coisas exteriores, ele se alia à inteligência, isto é, à vontade e à liberdade”.
É na questão 76, ao se referir aos “seres inteligentes da Criação”, utiliza-se a palavra Espíritos “para designar as individualidades dos seres extracorpóreos e não mais o elemento inteligente universal”. Entretanto, como lemos na questão 79, o Espírito é a “individualização do princípio inteligente”, como o corpo é “a individualização do princípio material”. Só não nos é dado conhecer a “época e o modo dessa formação”.
A evolução do Espírito dá-se, “não pela fieira do mal, mas pela da ignorância”. Têm, entretanto, o livre-arbítrio. Aquele que optar sempre pelo bem, na escolha entre este o mal, livra-se da influência dos Espíritos imperfeitos (q. 120 a 124).
Como o mundo espiritual é “o principal na ordem das coisas” e “preexiste e sobrevive a tudo” (q. 85), na análise da evolução do ser e da influência dos Espíritos em nossas existências físicas, é importante citarmos a classificação dos Espíritos em seu “grau de adiantamento”, como foi proposto a Allan Kardec e ele anotou nos itens 100 a 113 d’O livro dos espíritos:
A terceira ordem é a dos Espíritos imperfeitos, que abrange cinco classes da décima à sexta classe, nesta sequência descendente de Espíritos: impuros; levianos; pseudossábios; neutros; e batedores e perturbadores. Embora as diferentes denominações deem-nos a impressão de certa gradação espiritual, todos eles foram enquadrados na categoria geral de Espíritos imperfeitos.
As características gerais desses Espíritos são o predomínio da matéria sobre o espírito, a propensão ao mal, a ignorância, o orgulho, o egoísmo e todas as más paixões consequentes ao egoísmo. A malícia, a leviandade, a irresponsabilidade de seus atos, mais do que a pura maldade são características de alguns. Outros “não fazem o bem nem o mal”. Os piores comprazem-se em fazer o mal. A inteligência se alia à maldade em outros, mas seus conhecimentos são limitados e, por vezes, contraditórios, carregados de preconceitos. Esclarece-nos Kardec, na questão 101, que “Todo Espírito que, em suas comunicações, trai um mau pensamento, pode ser classificado na terceira ordem”.
A segunda ordem é a dos Espíritos bons. Essa ordem possui quatro classes de Espíritos: benévolos; de ciência; de sabedoria; e superiores.
São características desses Espíritos, o predomínio do Espírito sobre a matéria e “o desejo do bem”. Diferenciam-se por possuírem, uns mais do que outros, ou a ciência; ou a sabedoria; ou a bondade. Ainda não alcançaram a perfeição e, portanto, “não estão ainda completamente desmaterializados”. Desfrutam a ventura dos bons, que “compreendem Deus e o Infinito”. Estão livres dos sentimentos inferiores, como o ciúme, a inveja, o remorso e qualquer paixão negativa. Amam-se profundamente e sentem-se felizes pelo bem que fazem e pelo mal que evitam. Até atingirem a perfeição completa, todos esses Espíritos ainda terão que passar por provas.
A primeira ordem possui classe única dos Espíritos que não mais sofrem influência alguma da matéria. Alcançaram toda a “perfeição de que é suscetível a criatura” e “estão livres das provas e expiações. Não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, realizam a vida eterna no seio de Deus” [...] (q. 113). São os Espíritos puros.
Feitas essas considerações preliminares, que nos mostram a importância da vontade na escolha entre o bem e o mal, com base no livre-arbítrio individual, que ocorre paulatinamente, “[...] à medida que o Espírito desenvolve a consciência de si mesmo” (q. 122), passemos à análise do que informa o Espírito Pascal na Revista Espírita de maio de 1865: “A Humanidade é um ser coletivo que deve marchar, se não em seu conjunto, ao menos por grupos, para o progresso do futuro [...]”.[2]
Segundo Pascal, há duas expressões da verdade: a relativa, humana; e a absoluta, Divina. Com base na verdade relativa, pois muitas coisas que desconhecemos estão nos mistérios de Deus, ainda vedados ao nosso conhecimento, propomos, a seguir uma classificação binária nos níveis desse ser coletivo citado por Pascal: o ser coletivo comum e o ser coletivo superior.
Características do ser coletivo comum: a) instinto pouco diferenciado da razão; b) identidade de pensamentos, atos e falas em níveis inferiores; c) pouca propensão para mudanças no estilo de vida; d) conhecimentos limitados; e) predomínio das paixões inferiores e do interesse pessoal; f) egoísmo e orgulho como fontes de todos os sentimentos negativos, como a inveja, o ciúme, o ódio, a ambição pelas coisas materiais, a malquerença etc.
Características do ser coletivo superior: a) instinto a serviço da razão e do bem; b) harmonia de pensamentos, palavras e ações nobres; c) inquietação permanente em auxiliar o próximo e aumentar seus conhecimentos morais e intelectuais; d) conhecimentos superiores; e) predomínio das paixões superiores e da abnegação; f) humildade e altruísmo como bases de sentimentos positivos, tendo como meta a caridade no seu sentido mais amplo: “benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros [e] perdão das ofensas”.[3]
O Espírito Pascal ainda nos esclarece, na Revista Espírita, que nos movemos e agitamos “sob a influência de três causas, que são: a reflexão, a inspiração e a revelação”. Em seguida, desenvolve seu raciocínio sobre cada uma dessas causas:

A reflexão é a riqueza de vossas lembranças, que agitais voluntariamente [...]. A inspiração é a influência dos Espíritos extraterrestres, que se misturam mais ou menos às vossas próprias reflexões para vos compelir ao progresso [...], a prova irrecusável de uma causa oculta que vos impulsiona para frente, e sem a qual permaneceríeis estacionários [...]. A revelação é a mais elevada das forças que agitam o Espírito do homem, porque vem de Deus e só se manifesta por sua Vontade expressa [...].[4]

Deduz-se, das palavras de Pascal, que os Espíritos enquadrados nas características de ser coletivo comum têm a reflexão como móvel de suas ações. Sua característica principal, a nosso ver, é a do predomínio das paixões inferiores, é o egoísmo, caracterizado como interesse pessoal, mas comum a esse grupo. O egoísmo é o pai de todas as imperfeições morais.
Após pergunta do Codificador do Espiritismo sobre qual o “sinal mais característico da imperfeição, ele obtém como resposta que é o “interesse pessoal”. E prossegue o Espírito esclarecendo:

Muitas vezes as qualidades morais se assemelham, como num objeto de cobre, à douração que não resiste à pedra de toque. Um homem pode possuir qualidades reais que levem o mundo a considerá-lo homem de bem, mas essas qualidades, embora assinalem um progresso, nem sempre suportam certas provas, bastando algumas vezes que se fira a corda do interesse pessoal para que o fundo fique a descoberto. O verdadeiro desinteresse é coisa tão rara na Terra que é admirado como fenômeno quando se manifesta.
O apego às coisas materiais constitui sinal notório de inferioridade, porque, quanto mais o homem se aferra aos bens deste mundo, tanto menos compreende o seu destino. Pelo desinteresse, ao contrário, ele prova que vê o futuro de um ponto de vista mais elevado.[5]

            Por outro lado, a inspiração que nos leva ao progresso, ao se misturar com nossas reflexões, segundo Pascal, aplica-se à participação dos bons Espíritos, que influem de tal modo, em nossos pensamentos e atos que, frequentemente, eles nos dirigem.[6] Todavia, se somos influenciados pelos bons, também o somos pelos maus Espíritos. Daí a necessidade de vigiar e orar, recomendada por Jesus e citada por Mateus, 26:4: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação [...]”.
            No que se refere à individualidade integrada no ser coletivo superior, prevalece o “desinteresse pessoal pelo bem do próximo, sem segundas intenções”. Ou seja, a sublimidade das virtudes está “na mais desinteressada caridade”.[7]
            Analisando-se as características das individualidades do ser coletivo comum ou do ser coletivo superior, e feito um honesto autoexame de consciência, podemos observar em nós o enquadramento total ou parcial na primeira ou na segunda categoria. Entretanto, para que possamos nos enquadrar na categoria dos seres plenamente integrados ao ser coletivo superior, antes de qualquer outra coisa, precisamos despertar, como recomenda Paulo aos Efésios, lembrando o apelo a Isaías, 51:17 ao despertamento de Jerusalém: “Desperta, ó tu que dormes, e levanta-te dentre os mortos, e Cristo te esclarecerá” (Efésios, 5:14).
            Comentando esse versículo paulino, exorta-nos o Espírito Emmanuel:

Grande número de adventícios ou não aos círculos do Cristianismo acusa fortes dificuldades na compreensão e aplicação dos ensinamentos de Jesus. Alguns encontram obscuridades nos textos, outros perseveram nas questiúnculas literárias. Inquietam-se, protestam e rejeitam o pão divino pelo envoltório humano de que necessitou para preservar-se na Terra.
Esses amigos, entretanto, não percebem que isto ocorre porque permanecem dormindo, vítimas de paralisia das faculdades superiores.
Na maioria das ocasiões, os convites divinos passam por eles, sugestivos e santificantes; todavia, os companheiros distraídos interpretam-nos por cenas sagradas, dignas de louvor, mas depressa relegadas ao esquecimento. O coração não adere, dormindo amortecido, incapaz de analisar e compreender.
A criatura necessita indagar de si mesma o que faz, o que deseja, a que propósitos atende e a que finalidades se destina.
Faz-se indispensável examinar-se, emergir da animalidade e erguer-se para senhorear o próprio caminho.
Grandes massas, supostamente religiosas, vão sendo conduzidas, através das circunstâncias de cada dia, quais fileiras de sonâmbulos inconscientes. Fala-se em Deus, em fé e em espiritualidade qual se respirassem na estranha atmosfera de escuro pesadelo. Sacudidas pela corrente incessante do rio da vida, rolam no turbilhão dos acontecimentos, enceguecidas, dormentes e semimortas até que despertem e se levantem, pelo esforço pessoal, a fim de que o Cristo as esclareça.[8] (grifos meus).

Os seres humanos que ainda se situam, predominantemente, na categoria do ser coletivo comum dirão que o conteúdo dessa mensagem é excelente para fulana ou sicrano, mas não para si. E, julgando-se mentes privilegiadas na interpretação da verdade, sentem-se na obrigação de impor seus conhecimentos ao próximo, de quem não aceitam controvérsias. Tais pessoas, dificilmente admitem que podem estar equivocadas. Algumas, por orgulho, mesmo que percebam ter transitado por avenida contrária à do “caminho, verdade e vida”, que é o Cristo, continuam combatendo seus irmãos que se mantêm fieis ao roteiro traçado pelo Senhor.
As individualidades humanas situadas na categoria do ser coletivo superior, prevalentemente, lerão o texto manuelino como um alerta pessoal, a fim de corrigirem em si os defeitos que observam no próximo. Desse modo, buscarão a inspiração do Plano Superior e a sintonia com Deus, a quem Jesus reitera nossa necessidade de amar sobre todas as coisas, com o objetivo de trabalhar em nós a humildade e o amor ao bem desinteressado.
Isso implica em estudar sempre, aprender com os próprios erros, que reconheçam sem vaidade ferida, e fazer de suas vidas um permanente exercício da caridade, qual foi ensinada a todos nós e transmitida a Allan Kardec pelo Espírito de Verdade. Só estará em condições de captar plenamente a influência da revelação, como Verdade Divina, a coletividade dos Espíritos superiores plenamente identificada com o Cristo. Participam dela os seres que, conforme afirma Emmanuel, despertam e se levantam, “pelo esforço pessoal”, por seu incessante serviço no bem.  Até que, pela aquisição de conhecimentos morais e intelectuais, se tornem Espíritos puros e, como tais, passem a fazer parte da comunidade dos Espíritos Crísticos, Ungidos ou Messias Divinos, quando já não sofrerão nenhuma influência da matéria, mas, pelo contrário, terão total domínio sobre esta.
           



[1] KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2017.
[2] ______, Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos.ano 8, n. 5, maio 1865. Dissertações espíritas, it. III A Verdade. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2015.
[3] ______. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 4. impr. Brasília: FEB, 2017, q. 886.
[4] ______. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos.ano 8, n. 5, maio 1865. Dissertações espíritas, it. III A Verdade. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 1. imp. Brasília: FEB, 2015.
[5] ______. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed., 4. impr. Brasília: FEB, 2017, q. 895.
[6] ______. ______. q. 459.
[7] ______. ______. q. 893.
[8] XAVIER, Francisco Cândido. Pão nosso. Pelo Espírito Emmanuel. 1. ed. 10. imp. Brasília: FEB, 2016, cap. 68 Necessário acordar.


Publicado em Reformador de junho de 2018. Brasília: FEB.


segunda-feira, 23 de março de 2020


EM DIA COM O MACHADO 411:
O GOVERNADOR DA ILHA DE APARECIDA (Jó)

Existe uma rica ilha famosa num país conhecido mundialmente por seu combate ao Comunismo e suas correntes ideológicas nefastas. Ali, terroristas tentaram implantar, na marra, o pseudogoverno do proletariado (na verdade, massa de manobra de seus líderes, que jamais quiseram residir nos países aos quais essa nefasta ideologia levou a miséria, a ditadura e o terrorismo).
Não conseguiram. Militares que tinham a missão de proteger a ilha, com o apoio maciço da população local, reprimiram energicamente a ação terrorista. Houve baixas fatais de ambos os lados; mas as Forças Armadas, reforçadas pela polícia local e pela aprovação popular, conseguiram prender alguns terroristas e banir outros.
Depois dessa vitória heroica da lei contra o crime, a ilha foi governada, durante alguns anos, com "mão de ferro", por militares. Todos eles eram religiosos, honestos, disciplinados e patriotas. O país, entretanto, enfrentou uma crise econômica, e a ilha não ficou de fora dessa crise. Como o povo julgou que a culpa de suas dificuldades materiais era do governo militar, resolveu pressioná-lo para permitir que, em eleições diretas, candidatos civis pudessem ser eleitos e os substituíssem, resolvendo, desse modo, os problemas socioeconômicos da ilha.
Novos governadores, todos civis, passaram a gerir a economia da ilha. Infelizmente, porém, em vez de apenas resolverem os problemas econômicos do povo, passaram também a usar os recursos do erário em proveito próprio, de parentes e de amigos. Alguns desses governadores eram anistiados políticos dos militares, que passaram a considerar ditadores, desde quando estes não mais governaram a ilha.
Um desses civis, após implantar a ideologia comunista, retocada com a aparência de governo democrático, chegou mesmo a afirmar, após indicar para substituí-lo ex-militante da era terrorista, que a "apropriação" de dinheiro público em proveito próprio não era roubo, se o "apropriador" houvesse sido eleito "democraticamente". Outro, em defesa de seus colegas, disse que o bom administrador "rouba, mas faz". E a corrupção chegou ao extremo...
Por fim, com a ajuda de grande emissora de TV, que subsidiavam, criaram lei proibindo toda a população civil da ilha de possuir arma de fogo em casa, ainda que fosse para defesa própria e de sua família, mesmo nos locais mais perigosos, como o dos sítios isolados da ilha. A ideia era desarmar a população. Com qual finalidade? Os comunistas sabem a resposta...
Concomitantemente a isso, criaram leis subvertendo tudo o que a moral considerava correto. Criminoso comprovado passou a ser chamado, indiscriminadamente, de "suspeito", "réu" tornou-se "paciente", bandido virou "vítima", policial tornou-se "criminoso". O suspeito preso em flagrante vai para a delegacia, mas compra um "habeas corpus" e volta às ruas, livremente, para cometer novos crimes.
As religiões passaram a ser ridicularizadas, assim como Deus e Jesus Cristo. Imagens são quebradas nas igrejas, que também são invadidas por "vândalos", que se despem e mantêm relações sexuais em suas salas de orações. As cruzes são arrancadas dos altares e transformadas em objetos sexuais...
Em consequência disso, o povo da ilha reviu seus conceitos, rejeitou essas ideologias nefastas e elegeu novo governador militar, que quase foi assassinado com um tiro à queima-roupa antes de ser eleito e empossado. Deus, assim, em sua onisciência e poder, além de preservar a vida do atual governador, inspira-lhe a indicação de homens de bem para auxiliá-lo, nos trabalhos de restauração da dignidade, da moral e do progresso de todos.
Insatisfeitos, os comunistas, guerrilheiros e simpatizantes passaram a criticar todos os apoiadores do militar eleito. Em especial, com o apoio do canal de TV e seus associados, que até hoje buscam hostilizá-lo e desestabilizá-lo, para isso contando com o despreparo de seus familiares, que se imiscuem indevidamente nos assuntos governamentais, alimentando, assim, a oposição.
Há três diferenças básicas, no caráter do novo governante, chamado Joel Isaías, em relação aos seus antecessores: 1ª) amor a Deus e respeito às religiões; 2ª) honestidade acima de qualquer suspeita; e 3ª) amor à sua ilha e aos cidadãos de bem ali residentes, tudo fazendo para o crescimento socioeconômico do local. Portanto, escolheu pessoas da mais alta competência e honestidade para auxiliá-lo na gestão das diversas regiões administrativas da ilha, seja na economia, na justiça, na saúde, na educação...
Após pouco mais de um ano do novo governo, o povo da ilha percebeu que grandes avanços socioeconômicos surgiram no território: pavimentação de inúmeras ruas antes intransitáveis; recolhimento de cartilhas meramente ideológicas nas escolas; conclusão de obras públicas abandonadas há anos; nomeação de concursados para cargos públicos, em substituição dos militantes partidários, nomeados antes sem prestarem concurso etc.
Tudo isso vinha sendo conseguido graças à escolha criteriosa por Joel Isaías dos seus representantes administrativos. "De repente, não mais que de repente", como diria o poetinha Vinícius de Moraes, veio da China um vírus mutante terrível, que começou a dizimar os idosos da ilha e jogou no abismo a economia local.
Nem tudo é elogio a Joel. Muito preocupado em aparecer na mídia como o "salvador da ilha", em vez de atuar na resolução das grandes questões do local, preocupa-se em responder às "pegadinhas" que lhe são armadas pela oposição. Parece esquecer que a maioria dos eleitores que o elegeram optaram, não por sua pessoa simpática, mas pela expectativa de mudança de rumos socioeconômicos e morais necessários à vitória do bem contra o mal na ilha de seu governo. Deveria lembrar-se, portanto, de que foi eleito em virtude de suas boas intenções em restaurar a "ordem e o progresso" da ilha...
Joel, entretanto, após sobreviver à tentativa de homicídio que seus adversários tramaram contra ele, alega eterna gratidão a seus eleitores e expõe algumas centenas de bajuladores ao perigo de contágio de sua saúde, ainda que seja imune, mas porte o vírus da doença infectocontagiosa. Sai, então, ao encontro desses desocupados e oferece prato cheio aos comunistas e simpatizantes para tentar defenestrá-lo do poder, ou, ao menos, voltar a este.
Por falar sem refletir, a imprensa tendenciosa pinça apenas a parte negativa de suas respostas, ainda que figuradas, e passa dias martelando o povo da ilha com isso.
Seria interessante que o bem-intencionado governador da Ilha de Aparecida desse uma lida nos poemas do Boca do Inferno, apelido do poeta Gregório de Matos Guerra em relação  à ordem na própria casa, para que não venham depois dizer, como Torquemada, o bispo da Inquisição que mandava torrar nas fogueiras seus inimigos, sob a infame denominação de hereges: "De boas intenções, o inferno está cheio".
Conselho de desinteressado amigo e ex-colega menor de farda: confie mais em seus auxiliares, fale menos e trabalhe mais... Nesta época virótica, seria melhor atuar em casa. Para isso, a tecnologia é forte. E o povo aplaude.


domingo, 22 de março de 2020



Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira
Continuação da tradução livre d'Evangelho Segundo o Espiritismo.

8.5.3 Bem-aventurados os que têm os olhos fechados

Vianney, cura d'Ars, Paris, 1863 (5)

Meus bons amigos, para que me chamaram? É para que eu imponha as mãos sobre a pobre sofredora que está aqui, e a cure? Ah, que sofrimento, bom Deus! Ela perdeu a vista, e as trevas se fizeram para ela. Pobre criança! Que ela ore e espere. Eu não sei fazer milagres sem a vontade do bom Deus. Todas as curas que obtive, e que lhes foram indicadas, não as atribuam senão Àquele que é o Pai de todos nós. Nas suas aflições voltem sempre seus olhos para o céu, e digam, do fundo do seu coração: "Meu Pai, cure-me, mas faça que  minha alma doente seja curada antes das enfermidades do meu corpo; que minha carne seja castigada, se necessário, para que a minha alma se eleve até você com a brancura que possuía quando a criou". Após essa prece, meus bons amigos, que o bom Deus sempre ouvirá, a força e a coragem lhes serão dadas, e talvez também a cura que receosamente pediram, como recompensa da sua abnegação.
Mas já que me encontro aqui, numa assembleia em que se trata sobretudo de estudos, eu lhes direi que os que estão privados da vista deviam considerar-se como os bem-aventurados da expiação. Lembrem-se de que o Cristo disse que era necessário arrancar seu olho, se ele fosse mau, e que mais valeria atirá-lo ao fogo que ser a causa de sua condenação. Ah, quantos há sobre a Terra que maldirão um dia, nas trevas, por terem visto a luz! Oh, sim, como são felizes os que na expiação, foram punidos na vista! Seus olhos não serão causa de escândalo e de queda, e eles podem viver totalmente a vida das almas, podem ver mais do que vocês que veem claramente... Quando Deus me permite abrir a pálpebras a algum desses pobres sofredores e lhes restituir a luz, digo a mim mesmo: Querida alma, por que não conhece todas as delícias do Espírito, que vive de contemplação e de amor? Você não pediria, então, para ver as imagens menos puras e menos suaves do que aquelas que pode entrever na sua cegueira.
Oh, sim, bem-aventurado o cego que quer viver com Deus! Mais feliz do que vocês que estão aqui, ele sente a felicidade,  toca-a, vê as almas e pode alçar-se com elas nas esferas espirituais, que nem mesmo os predestinados da Terra conseguem ver. O olho aberto está sempre pronto a fazer falir a alma; o olho fechado, pelo contrário está sempre pronto a fazê-la subir até Deus. Creiam-me, meus bons e caros amigos, a cegueira dos olhos é frequentemente a verdadeira luz do coração, enquanto a vista é, com frequência, o anjo tenebroso que conduz à morte.
E agora algumas palavras para você, minha pobre sofredora: espere e tenha coragem! Se eu lhe dissesse: Minha filha, seus olhos vão abrir-se, como ficaria alegre! E quem sabe se essa alegria não a perderia? Tenha confiança no bom Deus, que fez a felicidade e permite a tristeza! Farei tudo o que me for permitido por você; mas, por sua vez, ora, e sobretudo, pense em tudo o que lhe venho de dizer.
Antes de me afastar, a todos que estão aqui, recebam  minha bênção.

NOTA - Quando uma aflição não é a consequência dos atos da vida presente, é preciso procurar sua causa numa vida anterior. Isso que chamamos caprichos da sorte nada mais é do que o efeito da Justiça de Deus. Deus não inflige punições arbitrárias, pois deseja que entre a falta e a pena haja sempre correlação. Se, em Sua Bondade, lançou um véu sobre nossos atos passados, por outro lado, aponta-nos o caminho, dizendo: "Quem matou pela espada, pela espada morrerá", palavras que podemos traduzir assim: "Sempre se é punido  por aquilo em que se pecou". Se, pois, alguém é afligido pela perda da visão, é que a vista foi para ele uma causa de queda. Pode ser também que tenha sido causa da perda da vista para outro; pode alguém ter ficado cego pelo excesso de trabalho que aquele lhe impôs, ou ainda em consequência de maus tratos, de falta de cuidados etc., e então ele sofre a pena de talião. Ele mesmo, no seu arrependimento, pode ter escolhido essa expiação, aplicando a si estas palavras de Jesus: "Se seu olho for motivo de escândalo, arranque-o"
Esta comunicação foi dada a respeito de uma pessoa cega, para a qual havia sido evocado o Espírito de J.-B.Vianney, cura d'Ars.

sexta-feira, 20 de março de 2020


ALEGRIA DE VIVER
Jorge Leite de Oliveira

            O professor genovês de Filosofia da Ciência, na Universidade de Turim, Itália, Ernesto Bozzano, que foi materialista convicto, após entrar em contato com as obras de Allan Kardec e de pesquisadores como Gabriel Delanne, Robert Dale Owen e William Crookes, dentre outros cientistas dos séculos XIX e XX, estudou profundamente os fenômenos psíquicos e mediúnicos. Converteu-se ao Espiritismo e tornou-se um dos mais destacados pesquisadores da alma humana desde então.
            Como resultado de suas pesquisas, publicou dezenas de obras. Dentre as quais sobressaem-se, pelo rigor da análise das teorias materialistas e espíritas, com supremacia para estas, obras como A crise da morte, Animismo e espiritismo, Pensamento e vontade, Metapsíquica humana e Xenoglossia, publicadas pela Federação Espírita Brasileira. Neste estudo, de início, referir-nos-emos a algumas conclusões decorrentes das análises feitas por Bozzano nas obras Pensamento e vontade e A crise da morte. O primeiro é um livro que demonstra a presença de Deus no Universo, como Espírito Criador de tudo que nele existe. Ele gerou-nos, conforme a afirmação de Jesus, para a perfeição e a felicidade decorrente dela. Somos, portanto, filhos de Deus e Espíritos imortais.
            Nas conclusões de Pensamento e vontade, Bozzano esclarece-nos que, ao contrário do que afirma o materialismo científico, o pensamento não é excreção cerebral, pois “o exame aprofundado dos fenômenos metapsíquicos” revela-nos ser “o pensamento que condiciona o cérebro”. A hipótese espírita, baseada em “provas complementares”, possui “uma solidez científica inabalável” (BOZZANO, 1970, p. 137).
            Já na obra intitulada A crise da morte, Bozzano sintetiza, em doze itens o que ocorre com o Espírito após sua morte física, com base num consenso universal, como dizia Kardec ser necessário para se admitir a comunicação espiritual. O sexto item dessas conclusões é um alerta para o modo de desencarnação que cada pessoa tem. O autor esclarece-nos que “os mortos moralmente normais” vão para um “meio espiritual radioso e maravilhoso”, mas os que ele chama de “mortos moralmente depravados” são atraídos para um meio tenebroso e opressivo” (BOZZANO, 2015, p. 144).
Na questão 132 d’O livro dos espíritos, somos informados de que a encarnação tem por fim nos fazer alcançar a perfeição. Entretanto, se para uns ela é missão, para outros é expiação. Além disso, para chegarmos a ser perfeitos, “precisamos sofrer todas as vicissitudes da existência corporal [...]” sem revoltas e sem atentarmos contra as Leis divinas. Na questão 196 dessa obra, confirmam os Espíritos que “a vida material é uma espécie de crisol ou de depurador” que nos permitirá melhorar, “evitando o mal e praticando o bem; porém, somente ao cabo de mais ou menos longo tempo, conforme os esforços que empreguem; somente após muitas encarnações ou depurações sucessivas, atingem a finalidade para que tendem”. Na alínea a) dessa questão, somos, finalmente, informados de que nosso “Espírito é tudo” e o “corpo é simples veste que apodrece [...]”.
            O desgosto da vida, “sem motivos plausíveis”, que certas pessoas têm, surge da falta de fé, da ociosidade e da saciedade, explicam os Espíritos a Allan Kardec na questão 943 da obra citada acima. O remédio é o trabalho conforme nossas “aptidões naturais”, ou vocação, o que nos proporcionará felicidade e as forças para “suportar as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação”. Somente a Deus cabe dispor de nossas vidas, explicam-nos os Espíritos na questão 944.
            Quando as religiões incorporarem em suas doutrinas as verdades que Jesus lhes enviou, pelos Espíritos superiores, para o combate ao materialismo, que tantos prejuízos vem causando à esperança de grande parte da Humanidade, certamente, viveremos com otimismo e alegria. Pois estejamos certos de que, por mais difíceis que sejam as nossas provas, com a força do amor e o trabalho incansável em prol de uma sociedade melhor, um dia colheremos os bons frutos de nossa fé e confiança em Deus. Eis o que nos informa Kardec sobre a importância da revelação espírita para os tempos difíceis que vivemos:

Algumas pessoas, dentre as mais céticas, se fazem apóstolos da fraternidade e do progresso, mas a fraternidade pressupõe desinteresse, abnegação da personalidade. Onde há verdadeira fraternidade, o orgulho é uma anomalia. Com que direito impondes um sacrifício àquele a quem dizeis que, com a morte, tudo se lhe acabará; que amanhã, talvez, ele não será mais do que uma velha máquina desmantelada e atirada ao monturo? Que razões terá ele para impor a si mesmo uma privação qualquer? Não será mais natural que trate de viver o melhor possível, durante os breves instantes que lhe concedeis? Daí o desejo de possuir muito para melhor gozar. Do desejo nasce a inveja dos que possuem mais e, dessa inveja à vontade de apoderar-se do que a estes pertence, o passo é curto. Que é que o detém? A lei? A lei, porém, não abrange todos os casos. Direis que a consciência, o sentimento do dever, mas em que baseais o sentimento do dever? Terá razão de ser esse sentimento, de par com a crença de que tudo se acaba com a vida? Onde essa crença exista, uma só máxima é racional: cada um por si, não passando de vãs palavras as ideias de fraternidade, de consciência, de dever, de humanidade, mesmo de progresso.
Oh! Vós que proclamais semelhantes doutrinas, não sabeis quão grande é o mal que fazeis à sociedade, nem de quantos crimes assumis a responsabilidade! [...]” (KARDEC, 2016. Conclusão, it. III).

Um desses crimes é o suicídio, pela falta de fé em Deus, ante as provas da vida, decorrente das ideias materialistas. Por fim, complementando esses apontamentos, lemos no último parágrafo da questão 957 desse mesmo livro que

A religião, a moral, todas as filosofias condenam o suicídio como contrário às Leis da Natureza. Todas nos dizem, em princípio, que ninguém tem o direito de abreviar voluntariamente a vida. Entretanto, por que não se tem esse direito? Por que não é livre o homem de pôr termo aos seus sofrimentos? Ao Espiritismo estava reservado demonstrar, pelo exemplo dos que sucumbiram, que o suicídio não é uma falta, somente por constituir infração de uma lei moral, consideração de pouco peso para certos indivíduos, mas também um ato estúpido, pois que nada ganha quem o pratica, o contrário é que se dá, como no-lo ensinam não a teoria, porém os fatos que ele nos põe sob as vistas (KARDEC, op. cit.).

            Na Revista Espírita de maio de 1862, Allan Kardec publica belo artigo intitulado Exéquias do Sr. Sansão, no qual este nos informa que a morte é apenas mais um período de nossas vidas imortais, mas somente é libertação e felicidade se houvermos vivido com sabedoria, se superarmos com dignidade e conformação nossas provas. Então, faz-nos o seguinte apelo: “[...] Coragem e boa vontade! Não ligueis aos bens da Terra senão medíocre valor e sereis recompensados; não se pode gozar muito sem atentar contra o bem-estar alheio, e sem causar a si próprio um imenso mal” (KARDEC, 2009, p. 182).
            Almerindo Martins de Castro (1978, p. 17) esclarece-nos que “O verdadeiro sofrimento começa no momento do suicídio. Todas as narrativas das vítimas de tal desvario são unânimes na descrição das dores ligadas ao gênero de morte escolhido”. Em seguida, relata-nos alguns dos terríveis sofrimentos informados pelos próprios Espíritos suicidas, seja em poesia ou em prosa:       

Se um veneno corrosivo, o ardor insuportável da queimadura, destruindo todo o esôfago, o estômago, os intestinos, na sensação máxima de intensidade; se um projétil de arma de fogo, a dor do ferimento, permanente, tirânica, impedindo todo o raciocínio – que não gire em torno desse sofrimento; se a asfixia, por mergulho ou enforcamento, a absoluta falta de ar, a ânsia desesperada de respirar, nas contorções desordenadas de quem luta com as derradeiras forças para não morrer; se por incêndio das vestes, a inenarrável angústia da destruição das próprias carnes, tortura que palavras não descrevem e arrancam da vítima verdadeiros urros de dor, cruciantes e comovedores ao máximo da sensibilidade.
E assim veem as almas suicidas escoar-se o tempo, sem mais noção dele, até completar-se o que lhes estava marcado no relógio da vida terrena, quando reencarnaram.
E o suplício toma vulto maior no pensamento e no sentir, porque o Espírito, no seu insulamento de dor, perde a noção do tempo e tem a impressão de que vai sofrer eternamente.
Metido num círculo de treva, formado pela própria vítima – que se isola de tudo para só pensar na sua agrura – o Espírito cria a sensação de estar num deserto escuro, onde os seus gritos e gemidos têm ressonâncias tétricas, e a sua voz jamais é escutada por alguém.
Se percorre sítios ligados à causa do suicídio, o Espírito sofre em todos, sentindo-se arrastado num torvelinho, que não lhe permite raciocinar com acerto sobre nenhum dos problemas do próprio "eu", pois tudo gira em torno da ideia central que o levou ao crime de auto-homicídio.
Entrecortadamente, chora, blasfema, suplica, num meio-delírio comovedor, mas irremediável.
A carne, rasgada pelo gume de um punhal, necessita de imperioso período para cicatrização; a alma, atingida pelo golpe esfacelador do suicídio, precisa de irrecorrível lapso de sofrimento para balsamizar a lesão moral. São inúmeros e uniformes os testemunhos.
Qualquer que seja a condição social ou a crença religiosa, o réu desse crime contra a lei maior da vida sofre, quase sempre revoltado, a pressão da incoercível força que o prende num novo sofrimento, quando o motivo do suicídio foi precisamente o desejo de fugir à dor, a amarguras intoleráveis de suportar. E, às vezes, a crença se torna um aumentativo das aflições, porque o indivíduo a despreza e rejeita – verificando-a impotente para atenuar o abatimento moral do que se acha no patamar do despenhadeiro, por onde se resvala para mergulhar na morte. Mas, consumado o ato criminoso, a realidade mostra afinal que o erro está em que as criaturas não se amoldam aos imperativos do destino, e sim pretendem que a vida se plasme aos seus gozos e interesses de toda ordem (CASTRO, 1978, p. 17 a 19).

Mesmo aquelas pessoas que se suicidam imaginando ir para um lugar celestial, após a morte do corpo físico, sofrem uma decepção e uma tortura moral imensas, quando percebem o mal que causaram, não somente a si, como aos seus familiares e amigos. Diz Castro (op. cit.): “ Não importa que pensamentos enganadores mascarem esse atentado com as formas de um pretenso altruísmo ou com as factícias aparências de um amor – que é apenas egoísmo disfarçado”.
Uma jovem suicida, tida por seus irmãos de crença como alma boníssima, que iria diretamente para o Céu quando morresse, era responsável pelo sustento da mãe idosa e possuía emprego bem remunerado. Mas de tanto ouvir de todos os membros de sua igreja a ideia de ir para o paraíso, quando morresse, acabou sendo vítima de obsessão, uma das causas do suicídio, e matou-se, iludida com essas previsões. Seu Espírito manifestou-se numa reunião mediúnica e relatou, amargurado:

Minha desventura, agora, não é feita de dores (que o meu corpo não teve), nem de remorsos, porque jamais pratiquei mal contra o próximo; mas da contemplação dos sofrimentos de minha infeliz mãe.
Fugindo da vida, eu lhe causei a maior dor de toda a sua existência, e por mim ela chorou todas as lágrimas dos seus olhos. Cada soluço, cada lamento dos seus lábios feriam-me a alma, qual se fossem punhais de fogo. Depois, quando pude ver, aos meus olhares surgiram os quadros da miséria, da fome e do frio que minha pobre mãezinha tem curtido – depois que lhe faltou o sustento que eu lhe proporcionava com o fruto do meu trabalho.
Rolando, em casa de estranhos, por esmola, comendo do que sobra, mesmo contra o seu paladar; vestindo restos de roupas, às vezes insuficientes para atenuar o frio; olhada com indiferença por todos, ninguém lhe faz um carinho, nem lhe diz palavras de consolo; ninguém lhe zela pela saúde, e muitas vezes ela se tem sentido morrer, sem o socorro de qualquer medicação.
Tal é a minha tortura de todos os instantes: o quadro dos sofrimentos de minha mãe não se afasta de diante de mim. Dir-se-ia que em todo horizonte da minha visão não existe outra perspectiva. O meu suplício espiritual lembra o da gota de água, caindo sobre a cabeça do condenado – até perfurá-la – à força de bater ininterruptamente.
Coisa terrível o suicídio! Horrível mentira, a promessa do Céu aos pobres pecadores, indignos até do olhar de Jesus! (CASTRO, 1978, p. 20 e 21).

Os Espíritos amigos indicam-nos as seguintes virtudes, decorrentes do amor, para que sejamos felizes, independentemente das provações por que passarmos: abnegação e devotamento, com total desinteresse, em prol da felicidade alheia. Viver com alegria sempre, por maiores que sejam as nossas provações, é atitude inteligente, pois somos imortais. E, como disse Jesus, simbolicamente, somos como árvores. Se elas forem boas, seus frutos serão saborosos, caso contrário, não darão bons frutos. Concluamos, pois, com a frase de otimismo do Espírito Joanna de Ângelis: “Faze, pois, da tua atual existência um hino de louvor à Vida” (FRANCO, 2013, p. 169).

Referências

BOZZANO, Ernesto. Pensamento e vontade. Tradução de Manuel Quintão. 4. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1970.
______. A crise da morte. Tradução de Guillon Ribeiro. 11. ed. 2. imp. Brasília: Federação Espírita Brasileira, 2015.
CASTRO, Almerindo Martins. O martírio dos suicidas. 6. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1978, p. 17 a 21.
FRANCO, Divaldo Pereira. Rejubila-te em Deus. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL, 2013. Amanhecer da imortalidade.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 93. ed. 2. imp. (ed. histórica). Brasília: FEB, 2016.
______. Revista Espírita: jornal de estudos psicológicos, ano 4, n. 5, maio 1862. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 3. ed. 2. reimp. Brasília: FEB, 2009.
(Pub. em Reformador/FEB, ago. 2017.)

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