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quinta-feira, 5 de março de 2020



O Poder de Deus em Nós
Jorge Leite de Oliveira

Em diversos versículos bíblicos, temos a afirmação de que Deus está com o Cristo e com todos nós, pois Deus é nosso Pai, e Jesus é nosso irmão, como Ele confirmou, quando, após sua ressurreição, apareceu a Maria Madalena e lhe disse: “Não me toques [...]. Vai, porém, a meus irmãos e dize-lhes: Subo a meu Pai e vosso Pai; a meu Deus e vosso Deus” (João, 20:17). Essa verdade é ratificada por Paulo: “Não sabeis que sois templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. Pois o templo de Deus é santo e esse templo sois vós” (I Coríntios, 3:16-17).
            Diz Camille Flamarion (1979, p. 383) que “A ignorância havia humanizado Deus, e a Ciência diviniza-o”. Não somente a Ciência dos homens sábios, como também a Ciência do Infinito, expressa nas vozes dos Espíritos que, sob a coordenação do Cristo, legaram à Humanidade a Doutrina Espírita após o advento da Boa Nova.
A primeira questão d’O livro dos espíritos, formulada por Allan Kardec com grande sabedoria é: “Que é Deus?” Ele não pergunta, como sempre foi comum ser indagado pelos religiosos, “quem”, e sim, “que” é essa Consciência Divina que tudo pode, tudo sabe, tudo dirige no Universo, com extrema sabedoria e bondade. E a resposta foi objetiva e igualmente sábia: “Deus é a Inteligência Suprema, causa primeira de todas as coisas” (KARDEC, 2018, q. 1).
            Os Espíritos ainda nos informam que a Lei de Deus está escrita em nossa consciência (KARDEC, 2017, q. 621). Pouco adiante, confirmam que nosso guia e modelo é Jesus (id. q. 625). Em seguida à resposta obtida, Kardec esclarece-nos que Jesus é “o mais perfeito modelo” que Deus nos concedeu; é a “expressão mais pura de Sua Lei” e “o mais puro ser já surgido na Terra”. Pois “o Espírito Divino o animava” (destaquei).
            Este comentário de Kardec respalda o anúncio de João:

No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. No princípio, Ele estava com Deus. Tudo foi feito por meio dele e sem Ele nada foi feito. O que foi feito nele era a vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz brilha nas trevas, mas as trevas não a apreenderam (João, 1:1-5).

            O Verbo Divino estava com Cristo, por ser Ele Espírito puro. E Deus encarregou-o de trazer-nos o Evangelho Divino, após Jesus presidir, com seus Exércitos angelicais, a criação mineral, vegetal e animal da Terra, segundo Emmanuel (XAVIER, 2008, cap. I).
Naturalmente, não é nosso propósito aqui abonar a tese da Igreja sobre a trindade universal de Deus em Pai, Filho e Espírito Santo. Deus é único, e Jesus Cristo é seu Filho unigênito, ou seja, perfeito em relação a nós, que também somos deuses, conforme o Cristo afirmou e está em João, 10:30-36, confirmando as palavras do profeta Asaf, no Salmo 82. Eis o que diz o salmista:

Deus preside, na assembleia divina, em meio aos deuses Ele julga: “Até quando julgareis falsamente, sustentando a causa dos ímpios? Protegei o fraco e o órfão, fazei justiça ao pobre e ao necessitado, libertai o fraco e o indigente, livrai-os da mão dos ímpios! Eles não sabem, não entendem, vagueiam em trevas: todos os fundamentos da Terra se abalam. Eu declarei: vós sois deuses, todos vós sois filhos do Altíssimo [...] (Salmo, 82:1-6).
           
            O Espírito Emmanuel fala-nos da grandeza do Espírito Divino e da condição de Jesus como Seu representante maior na Terra. O Cristo é um desses deuses da assembleia divina citada por Asaf. Mas quem julga “falsamente” são os seres humanos, limitados em sua justiça.
A Justiça Suprema — diz Emmanuel — governa sobre todo o Universo. E Sua Lei Maior sempre foi e será a do Amor. Cristo, como um dos “seus filhos mais eminentes, no plano dos valores espirituais” é essa “fonte de extraordinária luz” em cujo “coração augusto e misericordioso está o Verbo do princípio” (XAVIER, 2008, p. 15- 16).
            Jesus — confirma Emmanuel —

é a Luz do princípio e nas suas mãos misericordiosas repousam os destinos do mundo. Seu coração magnânimo é a fonte da vida para toda a Humanidade terrestre. [...] Toda as coisas humanas passaram, todas as coisas humanas se modificarão. Ele, porém, é a Luz de todas as vidas terrestres, inacessível ao tempo e à destruição (id., p.16- 17).

            Ele é um dos Espíritos puros encarregados pelo Senhor Supremo do Universo, não somente para nos trazer “a lição imortal do seu Evangelho de amor e redenção” (op. cit., p. 19-20), como também de direção espiritual na formação da Terra e seu satélite, após o deslocamento “do bloco de matéria informe, que a sabedoria do Pai deslocara do Sol para suas mãos augustas e compassivas”. Auxiliando o Cristo, estavam “suas legiões de trabalhadores divinos” (op. cit., p. 24).
            Jesus é, pois, o encarregado por Deus para o surgimento da vida em nosso planeta, após a solidificação da crosta terrestre e das águas marítimas, com base na manipulação do “elemento viscoso que cobria toda a Terra”. Eis como Emmanuel conclui o primeiro capítulo de A caminho da Luz: “Estavam dados os primeiros passos no caminho da vida organizada. Com essa massa gelatinosa, nascia no orbe o protoplasma e, com ele, lançara Jesus à superfície do mundo o germe sagrado dos primeiros homens” (op. cit., p. 26).
            Essas observações e estudos de Emmanuel, feitos no Plano Espiritual superior, confirmam a revelação do apóstolo e evangelista João: “Tudo foi feito por meio d’Ele; e sem Ele nada foi feito” (João, 1:3). Eis o que diz Emmanuel:

Os primeiros habitantes da Terra, no plano material, são as células albuminoides, as amebas e todas as organizações unicelulares, isoladas e livres, que se multiplicam prodigiosamente na temperatura tépida dos oceanos. [...] Os reinos vegetal e animal parecem confundidos nas profundezas oceânicas. Não existem formas definidas nem expressão individual nessas sociedades de infusórios; mas desses conjuntos singulares formam-se ensaios de vida que já apresentam caracteres e rudimentos dos organismos superiores. (op. cit., p. 28).

           
São os seres autótrofos e os seres heterótrofos. Os autótrofos são vegetais capazes de sintetizar o próprio alimento. Os primeiros autótrofos foram as algas unicelulares antecessoras dos vegetais. Os heterótrofos deram origem aos fungos, à maioria das bactérias e aos animais, inclusive, os seres humanos. Pode-se também encontrar organismos com características vegetais e animais, diz Emmanuel, desde o surgimento da vida na Terra.
            Existem diversas hipóteses científicas sobre a origem da vida terrena, até mesmo a extraterrestre, ou seja, provinda de outro mundo que, por possuir os mesmos elementos orgânicos que os nossos atuais, não invalidam seu aparecimento aqui mesmo e até confirmam a informação dos Espíritos a Kardec sobre a habitabilidade de outros mundos (KARDEC, 2018, q. 55 e 172) .
Dentre as diversas hipóteses de surgimento da vida terrena, a que mais se aproxima das afirmações de Emmanuel e, anteriormente, dos Espíritos a KARDEC (2018, q. 43-45), é a hipótese do bioquímico russo Aleksandr Ivanovitch Oparin (1894-1980), entre outros, que é aceita atualmente no meio científico:

Os primeiros seres vivos da Terra eram unicelulares, heterotróficos e alimentavam-se de substâncias existentes nos oceanos. [...] Surgiram, então os primeiros seres autotróficos, que produziam o alimento necessário para manter a vida na Terra. Foi a partir desses dois tipos de seres que se desenvolveu a vida na Terra (PORTAL, 2019).

            Ligados aos corpos orgânicos estão “[...] os seres inteligentes da Criação” (KARDEC, 2018, q. 76). Mas, qual ocorre com Jesus, somos filhos de Deus, como é explicado a Kardec na questão seguinte. Como individualização do princípio inteligente, os Espíritos estão sempre sendo criados por Deus (KARDEC, 2018, q. 79 e 80).
            Temos, assim, Deus; a matéria “[...] laço que prende o espírito[1][...], instrumento de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação”;  e o espírito “[...] princípio inteligente do Universo” (KARDEC, 2018, q. 22a e 23).
            Isso significa que, pelo aspecto material e moral, Jesus recebeu de Deus a delegação de presidir a formação dos seres e reinar sobre a Terra. E, no tocante ao Espírito[2], originário da inteligência universal, que povoa o “Universo fora do mundo material”, o trabalho é Divino. É o que consta na questão 76 e seguintes de O livro dos espíritos (KARDEC, 2018). Isso lembra-nos as palavras de Jesus: “— Meu Pai trabalha até agora; e Eu também trabalho” (João, 5:17).
            A Lei de Deus manifesta-se em nossa consciência, como dissemos acima. O seu Amor concede-nos o livre-arbítrio, a fim de que, no exercício da vontade e da liberdade de escolha entre o bem e o mal, sempre aprendamos com as consequências de nossos atos.
            Explica-nos o Espírito André Luiz que

[...] a matéria mental é o instrumento sutil da vontade, atuando nas formações da matéria física, gerando as motivações de prazer ou desgosto, alegria ou dor, otimismo ou desespero, que não se reduzem efetivamente a abstrações, por representarem turbilhões de força em que a alma cria os seus próprios estados de mentalização indutiva, atraindo para si mesma os agentes (por enquanto imponderáveis na Terra), de luz ou sombra, vitória ou derrota infortúnio ou felicidade (XAVIER, 1981, p. 47).

            E, logo adiante, complementa:

Emitindo uma ideia, passamos a refletir as que se lhe assemelham, ideia essa que para logo se corporifica, com intensidade correspondente à nossa insistência em sustentá-la, mantendo-nos, assim, espontaneamente em comunicação com todos os que nos esposem o modo de sentir (id., p. 48).

Informa-nos, ainda, o Espírito André Luiz que “Desde a chegada do Excelso Benfeitor ao planeta, observa-se-lhe o pensamento sublime penetrando o pensamento da humanidade” (XAVIER, 1981, p. 182). Assim, o Poder de Deus em nós manifesta-se pela observação da moral pregada por Jesus, por seus profetas, e reforçada pelos seus enviados do Mundo Espiritual, desde o século XIX, quando Kardec codificou a Doutrina Espírita, em cumprimento da promessa do Cristo de enviar-nos o Consolador para ficar conosco eternamente.  
Estar com Deus, conclui André Luiz, é identificar-nos com o Evangelho de Jesus, como

[...] o Código de Princípios Morais do Universo, adaptável a todas as pátrias, a todas as comunidades, a todas as raças e a todas as criaturas, porque representa, acima de tudo, a carta de conduta para a ascensão da consciência à imortalidade, na revelação da qual Nosso Senhor Jesus Cristo empregou a mediunidade sublime como agente de luz eterna, exaltando a vida e aniquilando a morte, abolindo o mal e glorificando o bem, a fim de que as leis humanas se purifiquem e se engrandeçam, se santifiquem e se elevem para a integração com as Leis de Deus (XAVIER, 1981, p. 188).
      
            Em João, 14:12-13, lemos esta promessa de Jesus: “Em verdade, em verdade, vos digo: quem crê em mim fará as obras que faço e fará até maiores do que elas, porque vou para o Pai. E o que pedires em meu nome eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho”. Em seguida, promete-nos a vinda do Consolador para ficar eternamente conosco. “Nesse dia, compreendereis que estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós”. Este Consolador, como lemos nas obras codificadas pelo sábio professor lionês, Allan Kardec, é o Espiritismo cristão (João, 14:15-20).
            Ficará eternamente conosco, pois não é obra dos homens e, sim, do Espírito de Verdade e demais Espíritos de Luz. E o pedido a que se refere Jesus está condicionado à nossa vontade de ser mansos e humildes de coração. De amar o nosso próximo no limite de nossas forças e possibilidades.
            Por isso, Lísias disse a André Luiz, quando este manifestou-lhe saudades de sua mãezinha, no Plano Espiritual:

Quando alguém deseja algo ardentemente, já se encontra a caminho da realização. Tem você, nesse particular, a lição do próprio caso. Anos a fio rolou, como pluma, albergando o medo, as tristezas e desilusões, mas, quando mentalizou firmemente a necessidade de receber o auxílio divino, dilatou o padrão vibratório da mente e alcançou visão e socorro (XAVIER, 2016, p. 50).
           
            Com grande entusiasmo pelo esclarecimento recebido, André disse o seguinte: “— Desejarei, então, com todas as minhas forças... ela virá... ela virá...” (id., ibid.).
            O enfermeiro espiritual sorriu inteligentemente e, antes de se despedir, completou:
“— Convém não esquecer, contudo, que a realização nobre exige três requisitos fundamentais a saber: primeiro, desejar; segundo, saber desejar; e, terceiro, merecer, ou, por outros termos, vontade ativa, trabalho persistente e merecimento justo” (id. ibid.).
            Concluamos estas singelos recortes sobre a grandeza de Deus, que nos enviou o Cristo para nos guiar e conduzir a Ele com estas palavras do Espírito Joanna de Ângelis, sob o título Sempre com Deus:

Na treva exterior e íntima, Deus é claridade. Na guerra incessante e impiedosa, Deus é paz. Na soledade e no abandono, Deus é companhia. No sofrimento, no problema e na amargura, Deus é solução. No trabalho e na dificuldade, Deus é apoio. Na emergência e no desespero, Deus é auxílio. No fracasso e na queda, Deus é misericórdia.
Em qualquer circunstância, na dor ou na felicidade, no abandono ou no amor, na glória ou no insucesso Deus é o Pai amoroso de todos os instantes, velando e zelando, paciente e incansável, desde antes dos tempos e dos espaços, em favor de todos nós (FRANCO, 1978, cap. I, it. 9).
           
REFERÊNCIAS

BÍBLIA de Jerusalém. Trad. Euclides Martins Balancin et. al. 3. imp.  rev. e amp. São Paulo: Paulus, 2004.
FLAMMARION, Camille. Deus na natureza. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979.
FRANCO, Divaldo Pereira. Rumos libertadores. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador (BA): LEAL, 1978.
KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2018.
PORTAL Brasil. Os seres vivos, origem. Disponível em: www.portalbrasil.net/educacao. Acesso em 9 jul. 2019.
XAVIER, Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 37. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2008.
______. Nosso lar. Pelo Espírito André Luiz. 64. ed. 6. imp. Brasília: FEB, 2016.
______. VIEIRA, Waldo. Mecanismos da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 6. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1981.

Publicado em Reformador/FEB de out. 2019.  
Republicado neste blog com inserção de imagem em 5 de março de 2020.





[1] Espírito aqui e abaixo ainda não se trata da individualidade, como está em O livro dos espíritos, por isso esse vocábulo é escrito com inicial minúscula nesse caso.
[2] Espírito como ser inteligente, individualização do princípio inteligente universal.

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