O Poder de Deus em Nós
Jorge Leite de Oliveira
Em diversos versículos
bíblicos, temos a afirmação de que Deus está com o Cristo e com todos nós, pois
Deus é nosso Pai, e Jesus é nosso irmão, como Ele confirmou, quando, após sua ressurreição,
apareceu a Maria Madalena e lhe disse: “Não me toques [...]. Vai, porém, a meus
irmãos e dize-lhes: Subo a meu Pai e vosso Pai; a meu Deus e vosso Deus” (João,
20:17). Essa verdade é ratificada por Paulo: “Não sabeis que sois templo de
Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de
Deus, Deus o destruirá. Pois o templo de Deus é santo e esse templo sois vós” (I
Coríntios, 3:16-17).
Diz Camille
Flamarion (1979, p. 383) que “A ignorância havia humanizado Deus, e a Ciência
diviniza-o”. Não somente a Ciência dos homens sábios, como também a Ciência do
Infinito, expressa nas vozes dos Espíritos que, sob a coordenação do Cristo,
legaram à Humanidade a Doutrina Espírita após o advento da Boa Nova.
A primeira questão d’O livro dos
espíritos, formulada por Allan Kardec com grande sabedoria é: “Que é Deus?”
Ele não pergunta, como sempre foi comum ser indagado pelos religiosos, “quem”,
e sim, “que” é essa Consciência Divina que tudo pode, tudo sabe, tudo dirige no
Universo, com extrema sabedoria e bondade. E a resposta foi objetiva e
igualmente sábia: “Deus é a Inteligência Suprema, causa primeira de todas as
coisas” (KARDEC, 2018, q. 1).
Os Espíritos ainda
nos informam que a Lei de Deus está escrita em nossa consciência (KARDEC, 2017,
q. 621). Pouco adiante, confirmam que nosso guia e modelo é Jesus (id.
q. 625). Em seguida à resposta obtida, Kardec esclarece-nos que Jesus é “o mais
perfeito modelo” que Deus nos concedeu; é a “expressão mais pura de Sua Lei” e “o
mais puro ser já surgido na Terra”. Pois “o Espírito Divino o animava”
(destaquei).
Este
comentário de Kardec respalda o anúncio de João:
No princípio era o Verbo, e o Verbo
estava com Deus, e o Verbo era Deus. No princípio, Ele estava com Deus. Tudo
foi feito por meio dele e sem Ele nada foi feito. O que foi feito nele era a
vida, e a vida era a luz dos homens; e a luz brilha nas trevas, mas as trevas
não a apreenderam (João, 1:1-5).
O Verbo Divino
estava com Cristo, por ser Ele Espírito puro. E Deus encarregou-o de trazer-nos
o Evangelho Divino, após Jesus presidir, com seus Exércitos angelicais, a
criação mineral, vegetal e animal da Terra, segundo Emmanuel (XAVIER, 2008,
cap. I).
Naturalmente, não é nosso
propósito aqui abonar a tese da Igreja sobre a trindade universal de Deus em
Pai, Filho e Espírito Santo. Deus é único, e Jesus Cristo é seu Filho
unigênito, ou seja, perfeito em relação a nós, que também somos deuses,
conforme o Cristo afirmou e está em João, 10:30-36, confirmando as
palavras do profeta Asaf, no Salmo 82. Eis o que diz o salmista:
Deus preside, na assembleia divina,
em meio aos deuses Ele julga: “Até quando julgareis falsamente, sustentando a
causa dos ímpios? Protegei o fraco e o órfão, fazei justiça ao pobre e ao
necessitado, libertai o fraco e o indigente, livrai-os da mão dos ímpios! Eles
não sabem, não entendem, vagueiam em trevas: todos os fundamentos da Terra se
abalam. Eu declarei: vós sois deuses, todos vós sois filhos do Altíssimo [...]
(Salmo, 82:1-6).
O
Espírito Emmanuel fala-nos da grandeza do Espírito Divino e da condição de
Jesus como Seu representante maior na Terra. O Cristo é um desses deuses da
assembleia divina citada por Asaf. Mas quem julga “falsamente” são os seres
humanos, limitados em sua justiça.
A Justiça Suprema — diz
Emmanuel — governa sobre todo o Universo. E Sua Lei Maior sempre foi e será a
do Amor. Cristo, como um dos “seus filhos mais eminentes, no plano dos valores
espirituais” é essa “fonte de extraordinária luz” em cujo “coração augusto e
misericordioso está o Verbo do princípio” (XAVIER, 2008, p. 15- 16).
Jesus — confirma Emmanuel —
é a Luz do princípio e nas suas
mãos misericordiosas repousam os destinos do mundo. Seu coração magnânimo é a
fonte da vida para toda a Humanidade terrestre. [...] Toda as coisas humanas
passaram, todas as coisas humanas se modificarão. Ele, porém, é a Luz de todas
as vidas terrestres, inacessível ao tempo e à destruição (id., p.16- 17).
Ele é um dos Espíritos puros encarregados
pelo Senhor Supremo do Universo, não somente para nos trazer “a lição imortal
do seu Evangelho de amor e redenção” (op. cit., p. 19-20), como também
de direção espiritual na formação da Terra e seu satélite, após o deslocamento
“do bloco de matéria informe, que a sabedoria do Pai deslocara do Sol para suas
mãos augustas e compassivas”. Auxiliando o Cristo, estavam “suas legiões de
trabalhadores divinos” (op. cit., p. 24).
Jesus é, pois, o encarregado por
Deus para o surgimento da vida em nosso planeta, após a solidificação da crosta
terrestre e das águas marítimas, com base na manipulação do “elemento viscoso
que cobria toda a Terra”. Eis como Emmanuel conclui o primeiro capítulo de A
caminho da Luz: “Estavam dados os primeiros passos no caminho da vida
organizada. Com essa massa gelatinosa, nascia no orbe o protoplasma e, com ele,
lançara Jesus à superfície do mundo o germe sagrado dos primeiros homens” (op.
cit., p. 26).
Essas observações e estudos de Emmanuel,
feitos no Plano Espiritual superior, confirmam a revelação do apóstolo e
evangelista João: “Tudo foi feito por meio d’Ele; e sem Ele nada foi feito” (João,
1:3). Eis o que diz Emmanuel:
Os primeiros habitantes da Terra,
no plano material, são as células albuminoides, as amebas e todas as
organizações unicelulares, isoladas e livres, que se multiplicam
prodigiosamente na temperatura tépida dos oceanos. [...] Os reinos vegetal e
animal parecem confundidos nas profundezas oceânicas. Não existem formas
definidas nem expressão individual nessas sociedades de infusórios; mas desses
conjuntos singulares formam-se ensaios de vida que já apresentam caracteres e
rudimentos dos organismos superiores. (op. cit., p. 28).
São
os seres autótrofos e os seres heterótrofos. Os autótrofos são vegetais capazes
de sintetizar o próprio alimento. Os primeiros autótrofos foram as algas
unicelulares antecessoras dos vegetais. Os heterótrofos deram origem aos fungos,
à maioria das bactérias e aos animais, inclusive, os seres humanos. Pode-se
também encontrar organismos com características vegetais e animais, diz
Emmanuel, desde o surgimento da vida na Terra.
Existem diversas hipóteses
científicas sobre a origem da vida terrena, até mesmo a extraterrestre, ou
seja, provinda de outro mundo que, por possuir os mesmos elementos orgânicos
que os nossos atuais, não invalidam seu aparecimento aqui mesmo e até confirmam
a informação dos Espíritos a Kardec sobre a habitabilidade de outros mundos
(KARDEC, 2018, q. 55 e 172) .
Dentre as diversas hipóteses de surgimento
da vida terrena, a que mais se aproxima das afirmações de Emmanuel e,
anteriormente, dos Espíritos a KARDEC (2018, q. 43-45), é a hipótese do
bioquímico russo Aleksandr
Ivanovitch Oparin (1894-1980), entre outros, que é aceita atualmente no
meio científico:
Os primeiros seres vivos da
Terra eram unicelulares, heterotróficos e alimentavam-se de substâncias
existentes nos oceanos. [...] Surgiram, então os primeiros
seres autotróficos, que produziam o alimento necessário para manter a vida
na Terra. Foi a partir desses dois tipos de seres que se
desenvolveu a vida na Terra (PORTAL, 2019).
Ligados
aos corpos orgânicos estão “[...] os seres inteligentes da Criação” (KARDEC,
2018, q. 76). Mas, qual ocorre com Jesus, somos filhos de Deus, como é
explicado a Kardec na questão seguinte. Como individualização do princípio
inteligente, os Espíritos estão sempre sendo criados por Deus (KARDEC, 2018, q.
79 e 80).
Temos, assim, Deus; a matéria “[...] laço que prende o espírito[1][...], instrumento
de que este se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação”; e o espírito “[...] princípio inteligente do
Universo” (KARDEC, 2018, q. 22a e 23).
Isso significa que, pelo aspecto
material e moral, Jesus recebeu de Deus a delegação de presidir a formação dos
seres e reinar sobre a Terra. E, no tocante ao Espírito[2],
originário da inteligência universal, que povoa o “Universo fora do
mundo material”, o trabalho é Divino. É o que consta na questão 76 e seguintes
de O livro dos espíritos (KARDEC, 2018). Isso lembra-nos as palavras de
Jesus: “— Meu Pai trabalha até agora; e Eu também trabalho” (João,
5:17).
A Lei de Deus manifesta-se em nossa
consciência, como dissemos acima. O seu Amor concede-nos o livre-arbítrio, a
fim de que, no exercício da vontade e da liberdade de escolha entre o bem e o
mal, sempre aprendamos com as consequências de nossos atos.
Explica-nos o Espírito André Luiz
que
[...] a matéria mental é o instrumento sutil da
vontade, atuando nas formações da matéria física, gerando as motivações de
prazer ou desgosto, alegria ou dor, otimismo ou desespero, que não se reduzem
efetivamente a abstrações, por representarem turbilhões de força em que a alma
cria os seus próprios estados de mentalização indutiva, atraindo para si mesma
os agentes (por enquanto imponderáveis na Terra), de luz ou sombra, vitória ou
derrota infortúnio ou felicidade (XAVIER, 1981, p. 47).
E, logo adiante, complementa:
Emitindo uma ideia, passamos a refletir as que se lhe
assemelham, ideia essa que para logo se corporifica, com intensidade
correspondente à nossa insistência em sustentá-la, mantendo-nos, assim,
espontaneamente em comunicação com todos os que nos esposem o modo de sentir (id.,
p. 48).
Informa-nos, ainda, o Espírito André Luiz
que “Desde a chegada do Excelso Benfeitor ao planeta, observa-se-lhe o
pensamento sublime penetrando o pensamento da humanidade” (XAVIER, 1981, p.
182). Assim, o Poder de Deus em nós manifesta-se pela observação da moral
pregada por Jesus, por seus profetas, e reforçada pelos seus enviados do Mundo
Espiritual, desde o século XIX, quando Kardec codificou a Doutrina Espírita, em
cumprimento da promessa do Cristo de enviar-nos o Consolador para ficar conosco
eternamente.
Estar com Deus, conclui André Luiz, é
identificar-nos com o Evangelho de Jesus, como
[...] o Código de Princípios Morais do Universo,
adaptável a todas as pátrias, a todas as comunidades, a todas as raças e a
todas as criaturas, porque representa, acima de tudo, a carta de conduta para a
ascensão da consciência à imortalidade, na revelação da qual Nosso Senhor Jesus
Cristo empregou a mediunidade sublime como agente de luz eterna, exaltando a
vida e aniquilando a morte, abolindo o mal e glorificando o bem, a fim de que
as leis humanas se purifiquem e se engrandeçam, se santifiquem e se elevem para
a integração com as Leis de Deus (XAVIER, 1981, p. 188).
Em João, 14:12-13, lemos esta
promessa de Jesus: “Em verdade, em verdade, vos digo: quem crê em mim fará as
obras que faço e fará até maiores do que elas, porque vou para o Pai. E o que
pedires em meu nome eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho”.
Em seguida, promete-nos a vinda do Consolador para ficar eternamente conosco.
“Nesse dia, compreendereis que estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós”. Este
Consolador, como lemos nas obras codificadas pelo sábio professor lionês, Allan
Kardec, é o Espiritismo cristão (João, 14:15-20).
Ficará eternamente conosco, pois não
é obra dos homens e, sim, do Espírito de Verdade e demais Espíritos de Luz. E o
pedido a que se refere Jesus está condicionado à nossa vontade de ser mansos e
humildes de coração. De amar o nosso próximo no limite de nossas forças e
possibilidades.
Por isso, Lísias disse a André Luiz,
quando este manifestou-lhe saudades de sua mãezinha, no Plano Espiritual:
Quando alguém deseja algo ardentemente, já se
encontra a caminho da realização. Tem você, nesse particular, a lição do
próprio caso. Anos a fio rolou, como pluma, albergando o medo, as tristezas e
desilusões, mas, quando mentalizou firmemente a necessidade de receber o
auxílio divino, dilatou o padrão vibratório da mente e alcançou visão e socorro
(XAVIER, 2016, p. 50).
Com grande entusiasmo pelo esclarecimento
recebido, André disse o seguinte: “— Desejarei, então, com todas as minhas
forças... ela virá... ela virá...” (id., ibid.).
O enfermeiro espiritual sorriu
inteligentemente e, antes de se despedir, completou:
“—
Convém não esquecer, contudo, que a realização nobre exige três requisitos
fundamentais a saber: primeiro, desejar; segundo, saber desejar; e, terceiro,
merecer, ou, por outros termos, vontade ativa, trabalho persistente e
merecimento justo” (id. ibid.).
Concluamos estas singelos recortes
sobre a grandeza de Deus, que nos enviou o Cristo para nos guiar e conduzir a
Ele com estas palavras do Espírito Joanna de Ângelis, sob o título Sempre
com Deus:
Na
treva exterior e íntima, Deus é claridade. Na guerra incessante e impiedosa,
Deus é paz. Na soledade e no abandono, Deus é companhia. No sofrimento, no
problema e na amargura, Deus é solução. No trabalho e na dificuldade, Deus é
apoio. Na emergência e no desespero, Deus é auxílio. No fracasso e na queda,
Deus é misericórdia.
Em qualquer
circunstância, na dor ou na felicidade, no abandono ou no amor, na glória ou no
insucesso Deus é o Pai amoroso de todos os instantes, velando e zelando,
paciente e incansável, desde antes dos tempos e dos espaços, em favor de todos
nós (FRANCO, 1978, cap. I, it. 9).
REFERÊNCIAS
BÍBLIA
de Jerusalém. Trad. Euclides Martins Balancin et.
al. 3. imp. rev. e amp. São
Paulo: Paulus, 2004.
FLAMMARION,
Camille. Deus na natureza. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1979.
FRANCO, Divaldo Pereira. Rumos libertadores.
Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador (BA): LEAL, 1978.
KARDEC,
Allan. O livro dos espíritos. Trad. Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 4. imp.
Brasília: FEB, 2018.
PORTAL
Brasil. Os seres vivos, origem. Disponível em: www.portalbrasil.net/educacao.
Acesso em 9 jul. 2019.
XAVIER,
Francisco Cândido. A caminho da luz. Pelo Espírito Emmanuel. 37. ed. Rio
de Janeiro: FEB, 2008.
______.
Nosso lar. Pelo Espírito André Luiz. 64. ed. 6. imp. Brasília: FEB,
2016.
______.
VIEIRA, Waldo. Mecanismos da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 6.
ed. Rio de Janeiro: FEB, 1981.
Publicado em Reformador/FEB de out. 2019.
Republicado neste blog com inserção de imagem em 5 de março de 2020.
[1] Espírito aqui e
abaixo ainda não se trata da individualidade, como está em O livro dos
espíritos, por isso esse vocábulo é escrito com inicial minúscula nesse
caso.
[2] Espírito como ser
inteligente, individualização do princípio inteligente universal.
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