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domingo, 22 de março de 2020



Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira
Continuação da tradução livre d'Evangelho Segundo o Espiritismo.

8.5.3 Bem-aventurados os que têm os olhos fechados

Vianney, cura d'Ars, Paris, 1863 (5)

Meus bons amigos, para que me chamaram? É para que eu imponha as mãos sobre a pobre sofredora que está aqui, e a cure? Ah, que sofrimento, bom Deus! Ela perdeu a vista, e as trevas se fizeram para ela. Pobre criança! Que ela ore e espere. Eu não sei fazer milagres sem a vontade do bom Deus. Todas as curas que obtive, e que lhes foram indicadas, não as atribuam senão Àquele que é o Pai de todos nós. Nas suas aflições voltem sempre seus olhos para o céu, e digam, do fundo do seu coração: "Meu Pai, cure-me, mas faça que  minha alma doente seja curada antes das enfermidades do meu corpo; que minha carne seja castigada, se necessário, para que a minha alma se eleve até você com a brancura que possuía quando a criou". Após essa prece, meus bons amigos, que o bom Deus sempre ouvirá, a força e a coragem lhes serão dadas, e talvez também a cura que receosamente pediram, como recompensa da sua abnegação.
Mas já que me encontro aqui, numa assembleia em que se trata sobretudo de estudos, eu lhes direi que os que estão privados da vista deviam considerar-se como os bem-aventurados da expiação. Lembrem-se de que o Cristo disse que era necessário arrancar seu olho, se ele fosse mau, e que mais valeria atirá-lo ao fogo que ser a causa de sua condenação. Ah, quantos há sobre a Terra que maldirão um dia, nas trevas, por terem visto a luz! Oh, sim, como são felizes os que na expiação, foram punidos na vista! Seus olhos não serão causa de escândalo e de queda, e eles podem viver totalmente a vida das almas, podem ver mais do que vocês que veem claramente... Quando Deus me permite abrir a pálpebras a algum desses pobres sofredores e lhes restituir a luz, digo a mim mesmo: Querida alma, por que não conhece todas as delícias do Espírito, que vive de contemplação e de amor? Você não pediria, então, para ver as imagens menos puras e menos suaves do que aquelas que pode entrever na sua cegueira.
Oh, sim, bem-aventurado o cego que quer viver com Deus! Mais feliz do que vocês que estão aqui, ele sente a felicidade,  toca-a, vê as almas e pode alçar-se com elas nas esferas espirituais, que nem mesmo os predestinados da Terra conseguem ver. O olho aberto está sempre pronto a fazer falir a alma; o olho fechado, pelo contrário está sempre pronto a fazê-la subir até Deus. Creiam-me, meus bons e caros amigos, a cegueira dos olhos é frequentemente a verdadeira luz do coração, enquanto a vista é, com frequência, o anjo tenebroso que conduz à morte.
E agora algumas palavras para você, minha pobre sofredora: espere e tenha coragem! Se eu lhe dissesse: Minha filha, seus olhos vão abrir-se, como ficaria alegre! E quem sabe se essa alegria não a perderia? Tenha confiança no bom Deus, que fez a felicidade e permite a tristeza! Farei tudo o que me for permitido por você; mas, por sua vez, ora, e sobretudo, pense em tudo o que lhe venho de dizer.
Antes de me afastar, a todos que estão aqui, recebam  minha bênção.

NOTA - Quando uma aflição não é a consequência dos atos da vida presente, é preciso procurar sua causa numa vida anterior. Isso que chamamos caprichos da sorte nada mais é do que o efeito da Justiça de Deus. Deus não inflige punições arbitrárias, pois deseja que entre a falta e a pena haja sempre correlação. Se, em Sua Bondade, lançou um véu sobre nossos atos passados, por outro lado, aponta-nos o caminho, dizendo: "Quem matou pela espada, pela espada morrerá", palavras que podemos traduzir assim: "Sempre se é punido  por aquilo em que se pecou". Se, pois, alguém é afligido pela perda da visão, é que a vista foi para ele uma causa de queda. Pode ser também que tenha sido causa da perda da vista para outro; pode alguém ter ficado cego pelo excesso de trabalho que aquele lhe impôs, ou ainda em consequência de maus tratos, de falta de cuidados etc., e então ele sofre a pena de talião. Ele mesmo, no seu arrependimento, pode ter escolhido essa expiação, aplicando a si estas palavras de Jesus: "Se seu olho for motivo de escândalo, arranque-o"
Esta comunicação foi dada a respeito de uma pessoa cega, para a qual havia sido evocado o Espírito de J.-B.Vianney, cura d'Ars.

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