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sexta-feira, 30 de setembro de 2022

 


HISTÓRIA DE UM CORAÇÃO MATERNAL
 
(Lembrança para a querida irmã Yolanda Cezar)
Grupo Espírita da Prece, Uberaba, MG, 25 fev. 1989.
 
Eras ainda cândida menina
E trazias, no entanto, a chama peregrina
Da fé na paz de Deus que te abençoa;
E da fé escutaste a bela trilogia
Que te deixou cantando de alegria:
Ama, serve e perdoa.
 
Cresces em dias claros e risonhos;
Rogas ao Céu, na aurora de teus sonhos,
Um lar feliz como a Terra apregoa...
Sobe a tua oração e eis que o tempo se apresta;
Ganhas o lar e o lar te disse em festa:
Ama, serve e perdoa.
 
O companheiro deu-te quatro filhos,
Três estrelas, mostrando doces brilhos.
E um Sol de pleno amor que te atordoa...
Três filhas amorosas e um menino,
A dizer-te no olhar embora pequenino:
Ama, serve e perdoa.
 
Mas a Terra ainda é um mundo em que a dor mora!
E na casa tranquila que te enflora,
Cai a chuva de fel que aperfeiçoa...
Morre o filho, já moço, de improviso,
Choras!... E ele te fala num sorriso:
Ama, serve e perdoa.
 
Enxugadas as lágrimas da prova,
Partes com ele para a vida nova,
Onde a necessidade se amontoa...
Vestindo os nus e amparando os caídos,
Eis que teu filho te segue e fala-te aos ouvidos:
Ama, serve e perdoa.
 
Agora, o companheiro, em difícil mudança,
Necessita de paz e de esperança!...
Perturbação do mundo não te doa...
Nada lhe exijas!... Segue, alma querida,
Que ele próprio descubra a luz da vida,
Ama, serve e perdoa.

 DOLORES, Maria (Espírito). In: ESPÍRITOS DIVERSOS. Fé e vida. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1. ed. 1. imp. Brasília: FEB; São Paulo: CEU, 2014. História de um coração maternal.


quarta-feira, 28 de setembro de 2022

 



História de um cão
 
Falávamos de amor, de heroísmo e ternura,
Nos caminhos da Terra, em lutas naturais,
Quando um amigo lembrou: “não se deve esquecer
O amor dos animais”.
 
E contou comovido:
— Quando na Terra, um pobre cão rafeiro
Que eu nunca soube de onde vinha,
Fez-se meu companheiro
Na tapera isolada que eu mantinha.
Era um cão vagabundo, um desses cães,
Cujo medo de banho desconsola,
Vendo-lhe a boca enorme e as bochechas caídas,
As crianças chamavam-no Beiçola.
Bernento e preguiçoso, muitas vezes,
Procurei desterrá-lo,
Mas Beiçola voltava e me seguia
Estivesse eu a pé ou trotando a cavalo.
Já não sabia o que fazer do cão,
Que já me habituara a suportar
Num misto de amizade e de aversão.
Certa manhã de Sábado, eu devia,
Ir do campo à cidade,
A fim de resgatar antiga conta
Cujo prazo vencia.
Montei no meu pequira muito cedo
De merenda robusta na sacola,
E pus-me alegremente no caminho
Acompanhado por Beiçola.
Desmontei-me às dez horas para o almoço,
Transportando a merenda para baixo,
Ao pé de velha ponte que cobria
Um pequeno riacho...
Alimentei-me à farta e dei ao cão
Tudo que me sobrou da refeição...
Tomei de novo a montaria
Açoitei o animal para seguir depressa,
O débito a pagar daquele dia,
Mas uma cena estranha então começa.
Beiçola, de ordinário, pachorrento,
Intentava correr, de lado a lado,
Em uivos e latidos...
Depois correu à frente,
Como a querer parar o pequira assustado.
O cão dependurava-se nos freios,
Enquanto eu lhe gritava nomes feios;
Espanquei-o a chicote, mas em vão...
E cansado de vê-lo a pular, doidamente,
Conclui, de repente,
Que a doença da raiva atacara meu cão...
Agi sem medo, rápido e seguro,
Dei-lhe um tiro com o fim de eliminá-lo,
De modo a defender-me e a livrar meu cavalo.
Beiçola então soltou doloroso gemido,
Caminhou para trás, claramente ferido,
Enquanto fui em frente...
Mas atingindo o banco e buscando o gerente,
A fim de resgatar a minha conta inteira,
Debalde procurei minha carteira...
No assombro que me toma,
Notei que me faltava grande soma...
Decerto que perdera o dinheiro em caminho
Pois saíra com ele da fazenda...
Deliberei voltar ao local da merenda,
Pedi ao chefe amigo aguardar mais um pouco
E aflito, semilouco,
Remontei o cavalo e voltei de corrida...
Regressando ao lugar em que estivera...
 
E o amigo rematou, emocionado:
— Só então compreendi quão ingrato que eu era...
Sabem o que encontrei?
Após seguir pequeno espaço
Todo ele marcado em sangue, traço a traço,
Achei Beiçola já sem vida...
E ao arrastá-lo para um canto,
Vi, sob o corpo dele, a estremecer de espanto,
A carteira perdida...
Ah! Como me doeu o coração
De susto e de emoção!...
Não sei dizer tudo o que sinto,
Por muito que lhes conte,
Meu pobre cão rafeiro,
Cuja lembrança está sempre comigo,
Arrastou-se ferido e, após ganhar a ponte,
Morreu fiel e amigo,
Guardando o meu dinheiro.
 
MARIA DOLORES (Espírito). Coração e Vida. Psicog. Chico Xavier. São Paulo, SP: IDEAL, 1978.


segunda-feira, 26 de setembro de 2022

 


ESPERANÇA DOS CÉUS
 
 Há choro dentro da noite...
 É o doloroso gemido
 De pobre recém-nascido
 Que não encontra lugar...
 
 Mãos insensíveis sufocam
 Pequenina flor humana...
 É o aborto, em lide insana,
 Ferindo a Lei sem pensar.
 
 Ah! Quantas almas formosas,
 Nos planos em que me movo,
 Sonhando nascer de novo,
 No entanto, rogam em vão...
 
 Agasalham-se no amor,
 Mas, em lágrimas convulsas,
 Ei-las batidas e expulsas
 A golpes de ingratidão.
 
 Irmãos da Terra, escutai!...
 Detende a marcha do aborto,
 Estendei vosso conforto
 Aos companheiros do Além!...
 
 Cada criança que surge,
 Mesmo entre rudes labéus,
 É uma esperança dos Céus
 Para a vitória do Bem.
 
DOLORES, Maria (Espírito). In: ESPÍRITOS DIVERSOS. Caridade. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. Cap. 13, p. 20.


domingo, 25 de setembro de 2022

 


24.5 Carregar sua cruz. Quem quiser salvar a vida a perderá

 

Vocês serão bem-aventurados quando os homens os aborrecerem, quando os separarem, os injuriarem  e rejeitarem seu nome como mau, por causa do Filho do Homem. Alegrem-se nesse dia e exultem-se; porque grande recompensa lhes está reservada no céu; pois era assim que seus pais tratavam os profetas. (Lucas, 6:22-23).

E chamando a si o povo, com seus discípulos, disse-lhes: Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Porque o que quiser salvar sua vida, a perderá, mas o que perder sua vida por amor de mim e do Evangelho, se salvará. Com efeito, de que aproveitará ao homem, se ganhar o mundo inteiro e perder sua alma? (Marcos, 8:34-36, Lucas, 9:23- 25 Mateus, 10:38, 39 e João, 12:24-25).

Alegrem-se, disse Jesus, quando os homens os aborrecerem e os perseguirem por causa de mim, porque sereis recompensados no Céu. Essas palavras podem ser interpretadas assim: Vocês serão felizes quando os homens, tratando-os com má vontade, lhes derem ocasião de provar a sinceridade de sua fé, porque o mal que eles lhes fizerem resultará em seu proveito. Lamentem-lhes a cegueira, e não os amaldiçoem.

Em seguida, acrescenta: "Aquele que me quiser seguir carregue sua cruz", isto é, que suporte corajosamente as tribulações que sua fé provocar, pois quem quiser salvar sua vida e seus bens, renunciando a mim, perderá as vantagens do Reino dos Céus, enquanto os que tudo perderem neste mundo, até mesmo a vida, para que triunfe a verdade, receberão, na vida futura, o prêmio de sua coragem, de sua perseverança e de sua abnegação. Mas aos que sacrificam os bens celestes aos gozos terrestres, Deus dirá: Já receberam sua recompensa.


sábado, 24 de setembro de 2022


EM DIA COM O MACHADO 542:
A VIDA É CURTA... PARA QUEM AMA (Jó)

 


Salve, alma irmã!

Vez ou outra, lembra-nos este ditado popular: “A vida só é dura para quem é mole”. Também por vezes me lembro duma mensagem de amigo correspondente espírita, nos anos oitenta, por cartas e cartões postais, o qual, após eu lhe haver enviado carta com lamentações sobre meus problemas de saúde, respondeu-me solidário, mas anexou à sua correspondência mensagem psicografada, cuja frase inicial dizia o seguinte: “Problemas, quem não os tem?”

Nunca mais me queixei da vida pessoal com ninguém.

Como eu disse na última crônica, este mês é dedicado à prevenção e posvenção ao suicídio, assunto com o qual sempre me preocupei, devido às nossas provas e expiações que, por vezes, nos trazem muita dor. Mas quando pensamos acabar com a vida física, imaginando acabar também com a dor do corpo ou da alma, incorremos em terrível engano.

Como auxiliar essas pessoas, assim como seus familiares, amigos e colegas? Começando pela conversa. Levando-lhes as informações espíritas que não encontrarão nos tratados de psicologia e de psiquiatria, mas também proporcionando-lhes tratamento para seu sofrimento, que as levou à depressão. Dizendo-lhes que sofrer é comum a todos nós, mas o que fazemos com esse sofrimento é o que nos levará a suportá-lo e, para tanto, o convívio com a oração, o conhecimento da revelação espírita e a prática da caridade são muito importantes.

Importa-nos conhecer a estrutura do espírito, na vida física e na  espiritual, para sabermos que a extinção do corpo material recrudesce o sofrimento da alma. O Espiritismo veio trazer-nos essa certeza, que Allan Kardec registrou n’O Livro dos Espíritos, questão 135-a; também n’O Evangelho Segundo o Espiritismo; n’O Céu e o Inferno, n’O Livro dos Médiuns e na Revista Espírita dos anos 1858 a 1868.

É muito importante, também, conhecer os corpos do espírito, na matéria e fora dela: na matéria, somos alma, perispírito e corpo orgânico. Fora da matéria, a alma passa a identificar o próprio espírito, que se manifesta pelo perispírito, seu corpo “semimaterial”, fluídico ou etéreo. Esse corpo espiritual, que Kardec chama perispírito, normalmente invisível para nós, é que dá forma ao corpo físico. Não temos, portanto, apenas o corpo físico, pois também temos o corpo espiritual. Paulo já o sabia, ao afirmar: “Semeia-se corpo animal, ressuscitará corpo espiritual. Se há corpo animal, há também corpo espiritual” (1 Coríntios, 15:44).

E quem sente a dor, o corpo ou a alma?

Enquanto no corpo, temos os nervos e o cérebro, que registram a dor física. E a dor moral? Não seria uma sensação apenas da alma? E será matando o corpo que acabaremos com a dor moral? Os espíritos demonstram-nos que não. Pelo contrário, a agravamos, embora cada caso seja submetido à misericórdia divina e tratado de acordo com todas as causas e circunstâncias que levaram ao ato de tirar a própria existência física, pois a vida não cessa jamais.

Na Revista Espírita de março de 1866, temos um estudo de Kardec, intitulado Introdução ao estudo dos fluidos espirituais, que nos fornece uma visão ampla das propriedades do perispírito e sua função. Kardec comenta ali que, enquanto “[...] as observações da ciência não vão além da matéria tangível”, os espíritos demonstram-nos que “[...] a alma é revestida de um envoltório ou corpo fluídico, que dela faz, depois da morte do corpo material, como antes, um ser distinto, circunscrito e individual”. Logo adiante, o Codificador do Espiritismo diz que: “[...] Durante a vida, o fluido perispiritual identifica-se com o corpo, penetrando todas as suas partes; com a morte, dele se desprende; privado da vida, o corpo se dissolve, mas o perispírito, sempre unido à alma, isto é, ao princípio vivificante, não perece; apenas a alma, em vez de dois envoltórios, conserva somente um: o mais leve, o que está mais em harmonia com o seu estado espiritual”.

Decorre do exposto, e baseados na grande quantidade de obras mediúnicas sobre o assunto, que é fundamental conhecer essa verdade comprovada pelo Espiritismo para que orientemos toda pessoa que tenha tendência ao suicídio, a fim de que ela saiba que matar o corpo não matará a dor, seja ela física ou moral, mas a agravará. Haja vista que é no perispírito que são registrados todos os fenômenos captados pelos nervos e transmitidos ao cérebro. Isso porque o perispírito é o corpo indestrutível do espírito, esteja ele encarnado ou não.

A afirmativa de que “o suicida quer se livrar da dor e não da vida”, que os louváveis esforços da psiquiatria, da psicologia e da medicina moderna nos trazem à reflexão, não é falsa, entretanto é importante saber que o extermínio do corpo mais grosseiro apenas trará mais sofrimento ao espírito liberto da matéria, mas indelevelmente ligado ao corpo fluídico, cujas sensações são imensamente mais intensas que no corpo orgânico.

Assisti a duas palestras interessantes sobre o suicídio: a primeira foi com o Dr. Humberto Correa, da Universidade Federal de Minas Gerais; a segunda foi pelo Youtube, com a Dr.ª Karina Okajima Fukumitsu. O Dr. Humberto também falou sobre a posvenção, quando afirmou que “a ajuda começa pela conversa” e acrescentou que jamais devemos culpar a pessoa com tendência suicida, mas acolhê-la, ouvi-la, ajudá-la, sugerir-lhe o apoio da religião. A Dr.ª Karina, entre outras reflexões, igualmente, lembrou-nos sobre a importância da posvenção. Falou-nos sobre “a coragem de ser imperfeitos”, que devemos ter, além de reforçar algo que consta em sua obra: “Você não é qualquer um, você é transcendência”. Citou ainda algumas frases de autoajuda, como: “dignidade de viver: a delícia de ser quem é”; sofrer é “condição existencial”; “sofrimento que não é acolhido cria perturbações maiores” e ainda, algo muito importante lido nas doutrinas dos grandes sábios e de Jesus: “o ter se torna a falência do ser”.

Nessa última frase, além dos bens materiais, enxerguei as paixões humanas pelo poder, pela posse doutrem e mesmo pelo próprio reconhecimento alheio ao que fazemos, o que nos lembra a frase de Jesus Cristo: “Não saiba a vossa mão esquerda o que fizer a vossa mão direita” (Mateus, 6:1- 4). Outra, importantíssima é: “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação” (Mateus, 26:41). Ocupemos nossa mente no trabalho elevado e já estaremos orando.

Pelos conhecimentos espirituais que mencionamos acima, sobre o perispírito, o Espiritismo exerce profunda compreensão sobre nossa natureza espiritual, que complementa o que as religiões cristãs, principalmente, conhecem sobre o assunto. Nesse sentido, muitas pessoas poderão livrar-se dessa tendência, pois agora saberão que matar o corpo não é livrar-se da dor, mas agravá-la e perturbar-se por tempo indeterminado no plano espiritual. Ainda não conhecemos, aliada a essa revelação, outra força mais poderosa que a do amor. Não esse amor que exige ser amado, mas o amor renúncia, o amor devotamento, o amor perdão. Aquele que tudo faz para que o próximo seja feliz, sinônimo de caridade.

Àqueles que ficaram órfãos do suicida, ou seja, pais, irmãos, filhos, amigos etc., chamados por Karina de “sobreviventes”, ainda que nada mais possam fazer para trazer novamente à vida o ser querido que partiu, esses mesmos conhecimentos sobre a composição do ser humano em alma, perispírito e corpo físico muito ajudarão a encontrar, na vida física, o sentido existencial. Voltaremos a encontrá-los... Saber disso é fundamental para nosso melhor entendimento do que cita Paulo em 1 Coríntios, 13:1- 13 sobre a fé, a esperança e o amor.  

Pela prática do amor a Deus e ao próximo, a mais elevada virtude, chegaremos, brevemente, ao dia determinado pelo Alto para o regresso à vida espiritual, preexistente e subsistente a esta,  com a alegria de viver. Pois a vida é curta... para quem ama. 

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

 


GRATIDÃO PELOS AMIGOS
 
Agradeço, meu Deus,
Em minha prece enternecida,
As almas boas que me deste à vida,
No campo da afeição!...
 
Agradeço os amigos que me emprestas,
Que me toleram falhas e defeitos,
E equilibram-me os passos imperfeitos,
Dando-me paz e luz ao coração.
 
Agradeço-te, oh! Pai,
A sensação confortadora e amena
Com que a palavra deles me asserena,
Em meus dias de dor...
 
E o silêncio que fazem para as lutas
De que preciso para burilar-me,
Enxugando-me o pranto sem alarme
Pela bênção do amor.
 
Agradeço o socorro que me trazem,
Mostrando desapego nobre e raro,
Para que eu seja apoio ao desamparo,
Esperança de alguém!...
 
E a caridade com que me estimulam
A ser trabalho, bênção, alegria,
Aprendendo a viver, dia por dia,
Nos domínios do bem.
 
Por toda a santa generosidade
Da estima doce e pura
De quantos me recebem sem censura,
Ternos amigos meus!...
Eis-me ao sol da oração,
Para dizer-te, oh! Pai do Infinito Universo,
Na singela pobreza do meu verso,
Obrigado, meu Deus !...
 
DOLORES, Maria (Espírito). Antologia da espiritualidade. Psicografado por: Francisco Cândido Xavier. 6. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014.


quarta-feira, 21 de setembro de 2022


 
GRATIDÃO E ALEGRIA
 
Almas de bênção, arte, melodia,
Que do Gênio formais a exaltação da luz,
Partilhamos convosco a paz que se irradia
Do vosso festival que recorda Jesus.
 
Há quem diga que a fé, por si, guarda e revela
Ansiedade e tristeza no semblante,
Expectação de angústia ou sentinela,
Mas toda ideia em Cristo é júbilo constante.
 
Ei-lo que nasce numa noite em festa
Mesclada de clarões renovadores,
Uma estrela lhe guarda a pousada modesta
Enlaçam-se as canções dos anjos e pastores.
 
Inicia o divino apostolado
No brilho de simbólico momento;
Recordamos Caná, no lar maravilhado
Numa consagração de casamento.
 
E lançando o Evangelho, em notas de alegria,
Ante o povo a escutá-lo de surpresa,
É sempre mais amor, a cada novo dia,
Em molduras de Céu e Natureza.
 
Transmitindo a esperança, em sentido profundo,
Perante a multidão que ele mesmo arrebanha,
Modifica, na base, os destinos do mundo,
Nas lições imortais do Sermão da Montanha.
 
E além da própria hora derradeira,
Qual se a Terra lhe visse o estranho fim,
Traz a renovação da Terra inteira,
Pela ressurreição ao sol de formoso jardim.
 
Guarde-nos Deus por nobres diretrizes
A caridade e a paz, como as sabeis compor;
Bendita a festa em que mostrais felizes
A alegria de Cristo e a presença do amor.
 
 
DOLORES, Maria (Espírito). Caminhos do amor. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. São Paulo: CEU, 1983, p. 19.


segunda-feira, 19 de setembro de 2022

 


GRATIDÃO

 
Agradeço, alma irmã, por tudo o que me deste,
O auxílio fraternal, generoso e sem preço,
O teto, o lume, o prato, o reconforto, a veste,
Tudo isso agradeço...
 
Sobretudo, alma boa,
Deus te compense o coração amigo,
Por teu olhar de paz que me alenta e abençoa
Na estrada em que prossigo.
 
Viste-me em solidão,
Esperança caída sem ninguém...
Deste-me apoio com teu braço irmão
E ergui-me de alma nova para o bem!...
 
Não há palavra com que te defina
O reconhecimento que me invade,
Ao sentir-te no amparo a presença divina
Da Celeste Bondade.
 
Deus te guarde no excelso resplendor
Da luz com que me aqueces todo o ser,
Porque me refizeste a certeza do amor,
A bênção de servir e a força de viver.
 
DOLORES, Maria (Espírito). In: Poetas redivivos. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 1. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1969, cap. 83. (Também em: Antologia da espiritualidade. Psicografado por: Francisco Cândido Xavier. 6. ed. 2. imp. Brasília: FEB, 2014.)


domingo, 18 de setembro de 2022

 


CORAGEM DA FÉ

 

Quem me confessar e me reconhecer diante dos homens, eu também o reconhecerei e confessarei diante de meu Pai, que está nos céus; e quem me negar diante dos homens, eu também o negarei diante de meu Pai, que está nos céus (Mateus, 10:32-33).

Se alguém se envergonhar de mim, e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará dele, quando vier na sua glória, na de seu Pai e dos santos anjos (Lucas, 9: 26).

 

A coragem de opinião sempre mereceu a estima entre os homens, porque há mérito em enfrentar os perigos, as perseguições, as discussões, e até os simples sarcasmos, aos quais sempre se expõe aquele que não teme confessar abertamente as ideias que não são admitidas por todos. Nisto, como em tudo, o mérito é proporcional às circunstâncias, e à importância do resultado. Há sempre fraqueza em recuar diante das consequências da sustentação das opiniões, mas há casos em que isto equivale a uma covardia tão grande como a de fugir no momento do combate.

Jesus hostilizou essa covardia, do ponto de vista especial da sua doutrina, quando disse que, se alguém se envergonhar das suas palavras, ele também desse se envergonhará; que renegará o que o houver renegado; que reconhecerá, perante o Pai que está nos céus, o que o confessar diante dos homens. Em outros termos: Aqueles que temerem confessar-se discípulos da verdade, não são dignos de ser admitidos no Reino da Verdade. Eles perderão os benefícios de sua fé, porque a sua é uma fé egoísta, que eles guardam para si mesmos, ocultando-a, temerosos dos prejuízos que lhes possa acarretar neste mundo. Enquanto os que colocam a verdade acima dos seus interesses materiais, proclamando-a abertamente, trabalham ao mesmo tempo pelo seu futuro e o dos outros.

Assim ocorrerá com os adeptos do Espiritismo, pois sua doutrina não é outra senão a do desenvolvimento e da aplicação da doutrina do Evangelho; é a eles também que se dirigem essas palavras do Cristo. Eles semeiam na Terra o que colherão na vida espiritual. Nela recolherão os frutos da sua coragem ou da sua fraqueza.


sábado, 17 de setembro de 2022

 



EM DIA COM O MACHADO 541:

VIDA, FONTE DE FELICIDADE ETERNA QUANDO SE AMA (Irmão Jó)

 

Bom dia, alma amiga! Que a paz do Cristo nos envolva.

Passávamos de carro pela avenida L2 Norte, aqui em Brasília, quando, ao pararmos no semáforo, vimos uma senhora magrinha auxiliar outra, bem maior e portando bengala e óculos escuros, a atravessar a primeira de duas ruas locais. Então afastou-se aquela e esta continuou a travessia. Pernas tomadas por varizes, gorda e com grande dificuldade para andar, mesmo de bengala, esta senhora levara tanto tempo para atravessar a primeira rua que os motoristas, parados na rua seguinte, ainda a esperaram um pouco, ainda que o sinal tenha fechado para ela. Nenhuma buzina de impaciência... A senhora, entretanto, preferiu esperar e, por não ser totalmente cega, tateou até encontrar o botão no poste, que apertou para nova parada do trânsito. 

Como ela, vemos pessoas fisicamente muito debilitadas, seja pela idade ou por deficiência física. Muitas delas, acampam em barracas minúsculas, e desde cedo esperam o semáforo fechar para esmolar, por vezes com criança no colo, ou para vender doces.

Como estamos no chamado setembro amarelo, dedicado, mundialmente, à prevenção do suicídio, trazemos esses exemplos como reflexão sobre a resiliência dessas pessoas que, mesmo atrofiadas, demonstram amor à vida e, por que não dizer, medo da morte. Entretanto, quantas pessoas no mundo, por vezes saudáveis, jovens, belas e, sem que nada lhes falte materialmente, suicidam-se por variados motivos, ainda que respeitáveis, mas nenhum que não possa ser minimizado pelo tempo e pela fé.

A bibliografia espírita está repleta de esclarecimentos sobre as consequências terríveis do suicídio. É importante que aproveitemos toda a ocasião surgida para a orientação às pessoas que alimentam o desejo de matar-se e mostrar-lhes que, comparada com as que citamos acima, sua vida é maravilhosa. Também nunca é demais alertá-las de que se hoje não valorizamos nossos corpos perfeitos, futuramente retornaremos à vida, que não cessa jamais, em corpos defeituosos. Vejamos o que diz Carlos Abranches sobre a questão do sofrimento, que varia em cada um de nós em virtude do bom ou mau uso do nosso livre-arbítrio: 

Os sofrimentos, portanto, por causas anteriores, conforme explica Kardec, são, frequentemente, como os das faltas atuais, a consequência natural da falta cometida. Por uma justiça rigorosa, o homem suporta, na realidade de seu presente, o que fez os outros suportarem; se foi duro e desumano, ele poderá ser, a seu turno, tratado duramente e com desumanidade; se foi orgulhoso, poderá nascer em condição humilhante; se foi avarento e egoísta, poderá ser privado do necessário; se foi mau filho, poderá sofrer com os próprios filhos.

O médium Chico Xavier respondeu, certa vez, em um programa de televisão, sobre a condição dos chamados excepcionais. Para ele, a criança excepcional sempre o impressionou, pelo sofrimento de que é portadora, não somente em se tratando dela mesma, mas também dos pais.

Na visão de Emmanuel, segundo a mesma entrevista, a criança excepcional é o suicida reencarnado. Os remanescentes do ato praticado acompanham a criatura que cometeu a autodestruição, e ela acaba voltando à Terra com as características que levou daqui mesmo.

Conforme o texto, Chico afirma que se uma pessoa espatifou o crânio e o projétil atingiu o centro da fala, ela volta com a mudez. Se atingiu apenas o centro da visão, volta cega, mas se feriu regiões mais complexas do cérebro, vem em plena idiotia, e aí os centros fisiológicos não funcionam.

Se ela suicidou-se, mergulhando em águas profundas, vem com a disposição para o enfisema pulmonar. Se ela se enforcou, vem com a paraplegia, que pode ocorrer, por exemplo, depois de uma queda simples, pelo fato da vértebra deslocada no ato do suicídio voltar mais fraca no novo corpo.

A esquizofrenia, de acordo com a resposta de Chico, é o resultado da condição mental do ser que se suicidou após haver cometido homicídio. O complexo de culpa adquire dimensões tamanhas que o quimismo do cérebro se modifica e vem a esquizofrenia como uma doença verificável, através dos líquidos expelidos pelo corpo.

(Apud ABRANCHES, Carlos Augusto. Vozes do Espírito. Brasília: FEB, 2022, cap. 23. O presente é minha realidade.) 

Como, então, nos libertarmos dessas expiações? Pela prática do amor. Primeiramente a Deus, que está dentro de nós, como nos afirmou Jesus Cristo; em seguida, amor a nós mesmos e ao próximo. “Mas sobretudo, [tendo] ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobre a multidão dos pecados” (1 Pedro, 4:8).

Quando aprendermos com o Cristo a renunciar aos próprios caprichos e devotarmos nossa vida em benefício do próximo, perceberemos que todos os nossos aborrecimentos derivam do amor-próprio ferido e do egoísmo, que nos faz sentir como o centro das próprias atenções. Daí, um sentimento não correspondido, uma traição de quem amamos, um desejo não satisfeito, um relacionamento desfeito ou em constante desarmonia, tudo isso resulta de nossa falta de resiliência e fé.

Aprendamos a amar, incondicionalmente, o próximo, a fazer-lhe todo o bem que pudermos, a humilhar-nos, antes que humilhar alguém, a nos devotarmos, hora a hora, dia a dia ao bem e, quando aprouver a Deus nos chamar para o retorno ao mundo espiritual, onde colheremos os frutos do amor que semeamos, poderemos dizer: “Louvado sejas, Deus. Obrigado, Senhor, pela vida que nos concedeste para o exercício do amor, fonte de felicidade eterna quando se ama sem exigir ser amado”.

Paz e luz!


  Propriedade Intelectual (Irmão Jó) Houve época em que produzir Obra de arte legal Era incerto garantir Direito intelectual.   Mas com tant...