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sábado, 10 de setembro de 2022

 

24.3 Não são os sadios que precisam de médico

 

Estando Jesus assentado à mesa em casa de Mateus (Levi), eis que vieram ter aí muitos publicanos e gente de má vida que se puseram à mesa com Jesus e seus discípulos. Vendo isto, os fariseus disseram aos discípulos de Jesus: Por que seu mestre come com os publicanos e gente de má vida? Mas Jesus, ouvindo-os, disse: Não são os sadios que precisam de médico, mas sim os  doentes (Mateus, 9:10-12).  

Jesus dirigia-se sobretudo aos pobres e aos deserdados, porque são eles os que mais necessitam de consolações; e aos cegos humildes e de boa-fé, porque eles pedem para ver, e não aos orgulhosos que creem possuir toda a luz e não precisar de nada (Ver Introdução: Publicanos, Portageiros).

Essas palavras, como tantas outras, aplicam-se ao Espiritismo. Às vezes nos surpreendemos que a mediunidade seja concedida a pessoas indignas e capazes de fazer mau uso dela; parece, diz-se, que uma faculdade tão preciosa deveria ser o atributo exclusivo dos mais merecedores.

Digamos, primeiramente, que a mediunidade é inerente a uma condição orgânica, de que todos podem ser dotados, como a de ver, de ouvir, de falar. Não há nada de que o homem, em consequência do seu livre-arbítrio, não possa abusar. E se Deus não tivesse concedido a palavra, por exemplo, senão aos que são incapazes de dizer coisas más, haveria mais mudos do que falantes. Deus concedeu ao homem as faculdades, e dá-lhe a liberdade de usá-las, mas sempre pune aquele que delas abusa.

Se o poder de comunicar-se com os espíritos só fosse dado aos mais dignos, quem ousaria pretendê-lo? Onde estaria, além disso, o limite da dignidade e da indignidade? A mediunidade é dada sem distinção, a fim de que os espíritos possam trazer a luz a todas as camadas, a todas as classes da sociedade, ao pobre como ao rico; aos sábios, para os fortalecer no bem; aos viciosos, para os corrigir. Estes últimos não são os doentes que precisam de médicos?

Por que Deus, que não quer a morte do pecador, o privaria da ajuda que pode tirá-lo do atoleiro? Os bons espíritos lhe vêm assim em auxílio, e os conselhos, que ele recebe diretamente, são de natureza a impressioná-lo mais vivamente, do que se os recebesse de maneira indireta. Deus, na sua bondade, para lhe poupar o trabalho de ir procurá-la ao longe, coloca a luz ao seu alcance. Ele não será bem mais culpado, se não olhar para ela? Poderia desculpar-se com sua ignorância, quando ele mesmo escreveu, viu, ouviu e pronunciou sua própria condenação? Se ele não aproveitar, então será punido com a perda ou com a perversão da sua faculdade, de que os maus espíritos se apoderarão, para o obsidiarem e enganarem, sem prejuízo das aflições reais com que Deus castiga os servos indignos e os corações endurecidos pelo orgulho e pelo egoísmo.

A mediunidade não implica necessariamente as relações habituais com os espíritos superiores. É simplesmente uma aptidão, para servir de instrumento mais ou menos flexível aos espíritos em geral. O bom médium não é, portanto, aquele que se comunica facilmente, mas o que é simpático aos bons espíritos e só por eles é assistido. É neste sentido, unicamente, que a excelência das qualidades morais é todo-poderosa para a mediunidade.

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