24.3 Não são os sadios que
precisam de médico
Estando Jesus assentado à
mesa em casa de Mateus (Levi), eis que vieram ter aí
muitos publicanos e gente de má vida que se puseram
à mesa com Jesus e seus discípulos. Vendo isto, os fariseus disseram aos discípulos
de Jesus: Por que seu mestre come com os publicanos e gente de má vida? Mas Jesus,
ouvindo-os, disse: Não são os sadios que precisam de médico, mas sim os doentes (Mateus,
9:10-12).
Jesus dirigia-se
sobretudo aos pobres e aos deserdados, porque são eles os que mais necessitam
de consolações; e aos cegos humildes e de boa-fé, porque eles pedem para ver, e
não aos orgulhosos que creem possuir toda a luz e não precisar de nada (Ver Introdução:
Publicanos, Portageiros).
Essas palavras, como
tantas outras, aplicam-se ao Espiritismo. Às vezes nos surpreendemos que a
mediunidade seja concedida a pessoas indignas e capazes de fazer mau uso dela;
parece, diz-se, que uma faculdade tão preciosa deveria ser o atributo exclusivo
dos mais merecedores.
Digamos, primeiramente,
que a mediunidade é inerente a uma condição orgânica, de que todos podem ser
dotados, como a de ver, de ouvir, de falar. Não há nada de que o homem, em consequência
do seu livre-arbítrio, não possa abusar. E se Deus não tivesse concedido a palavra,
por exemplo, senão aos que são incapazes de dizer coisas más, haveria mais mudos
do que falantes. Deus concedeu
ao homem as faculdades, e dá-lhe a liberdade de usá-las, mas sempre pune aquele
que delas abusa.
Se o poder de
comunicar-se com os espíritos só fosse dado aos mais dignos, quem ousaria
pretendê-lo? Onde estaria, além disso, o limite da dignidade e da indignidade?
A mediunidade é dada sem distinção, a fim de que os
espíritos possam trazer a luz a todas as camadas, a todas as classes da
sociedade, ao pobre como ao rico; aos sábios,
para os fortalecer no bem; aos viciosos, para os corrigir. Estes últimos não
são os doentes que precisam de médicos?
Por que Deus, que não
quer a morte do pecador, o privaria da ajuda que pode tirá-lo do atoleiro?
Os bons espíritos lhe vêm assim em auxílio, e os
conselhos, que ele recebe diretamente, são de natureza a impressioná-lo mais
vivamente, do que se os recebesse de maneira indireta. Deus, na sua bondade, para
lhe poupar o trabalho de ir procurá-la ao longe, coloca a luz ao seu alcance. Ele
não será bem mais culpado, se não olhar para ela? Poderia desculpar-se com sua
ignorância, quando ele mesmo escreveu, viu, ouviu e pronunciou sua própria
condenação? Se ele não aproveitar, então será punido com a perda ou com a
perversão da sua faculdade, de que os maus espíritos se apoderarão, para o obsidiarem
e enganarem, sem prejuízo das aflições reais com que Deus castiga os servos
indignos e os corações endurecidos pelo orgulho e pelo egoísmo.
A mediunidade não implica
necessariamente as relações habituais com os espíritos superiores. É
simplesmente uma aptidão, para servir de instrumento mais ou menos flexível aos
espíritos em geral. O bom médium não é, portanto, aquele que se comunica
facilmente, mas o que é simpático aos bons espíritos e só por eles é assistido.
É neste sentido, unicamente, que a excelência das qualidades morais é todo-poderosa
para a mediunidade.
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