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domingo, 14 de junho de 2020




Paulo    
Apóstolo, Lyon, 1861

Perdoar aos inimigos é pedir perdão para si mesmo; perdoar aos amigos é dar-lhes uma  prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar-se melhor que antes. Perdoem, pois, meus amigos, para que Deus os perdoe, porque, se forem duros, exigentes, inflexíveis, se forem rigorosos até mesmo por uma leve ofensa, como desejarão que Deus esqueça que cada dia vocês têm maior necessidade de indulgência?
Oh, infeliz daquele que diz: "Eu jamais perdoarei", pois pronuncia sua própria condenação! Quem sabe, aliás, se,  mergulhando no fundo de si mesmo, não descobrirá que foi o agressor? Quem sabe se, nessa luta que começa por um simples aborrecimento e acaba pela desavença, não foi ele que deu o primeiro golpe? Se não lhe escapou uma palavra dolorosa? Se usou de  toda a moderação necessária? Sem dúvida seu adversário está errado ao se mostrar tão suscetível, mas isso é mais uma razão para ser indulgente, e para não merecer  a mesma censura que fez a ele.
Admitamos que, em certa circunstância, você fosse realmente o ofendido. Quem diz que você não envenenou a coisa com represálias, fazendo degenerar numa disputa grave aquilo que facilmente poderia cair no esquecimento? Se dependia de você impedir as consequências, e nada fez, a culpa é realmente sua. Admitamos, por fim, que você nada tem a reprovar na sua conduta e, nesse caso, maior será seu mérito, caso se mostre clemente.
Mas há duas maneiras bem diferentes de perdoar: o perdão dos lábios e o perdão do coração. Muitos dizem do seu adversário: "Eu o perdoo", enquanto, interiormente, experimentam um secreto prazer pelo mal que lhe acontece, dizendo a si mesmos que ele tem aquilo que merece. Quantos dizem: "Perdoo", e acrescentam: "mas nunca me reconciliarei; não quero vê-lo pelo resto da vida!" É esse o perdão segundo o Evangelho? Não. O verdadeiro perdão, o perdão cristão, é aquele que lança um véu sobre o passado. É este o único que lhes será levado em conta, pois Deus não se contenta com as aparências: sonda o fundo dos corações e os mais secretos pensamentos. Ninguém se impõe a Ele por meio de palavras e de vãos simulacros.
O esquecimento absoluto das ofensas é próprio das grandes almas. O rancor é sempre sinal de baixeza e de inferioridade. Não se esqueçam de que o verdadeiro perdão se reconhece muito mais pelos atos do que pelas palavras.

Tradução livre, em terceira pessoa, pelo Prof. Dr. Jorge Leite de Oliveira.

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