EM
DIA COM O MACHADO 479:
entrevista
com D. José Amigó y Pellícer, mártir do Espiritismo (Jó)[1]
Hoje
resolvi entrevistar o elevado Espírito D. José Amigó y Pellícer, autor da obra Roma
e o Evangelho, a ser reeditada breve pela Federação Espírita Brasileira.
Jó: — Quando e onde o Sr. e sua equipe, composta de clérigos,
filósofos, cientistas, resolveram investigar os fenômenos espíritas, e qual era
a intenção do grupo?
Pellícer: — Foi em Lérida, na Catalunha, que começamos nosso
trabalho, assim que as informações sobre as manifestações mediúnicas provindas
de Paris chegaram à Espanha. A intenção inicial era a de desmascarar o
movimento espírita iniciado, oficialmente, em Paris com a publicação d'O Livro dos Espíritos, por Allan
Kardec. Imaginava-se, mesmo, ridicularizar as teorias e fenômenos espíritas.
Jó: — Que resultou dessas pesquisas?
Pellícer: — Ao contrário de teorias ilógicas, superstições e
falsa moral, deparamo-nos com uma filosofia racional e lógica, que viria
ratificar, com base nos fatos, os elevados ensinamentos de Jesus. Então,
fundamos o Círculo Cristiano-Espiritista,
decididos a divulgar publicamente o resultado de nossas pesquisas e continuar
esses estudos e práticas sob o pálio da ciência experimental.
Jó: — O Sr. não pensou nas consequências dessa corajosa
iniciativa, num tempo em que a Igreja imperava sobre o Estado e impunha ao
mundo sua doutrina?
Pellícer: — Sabia que viriam represálias, que do exercício de
nossa convicção conscienciosa e do dever da publicação dos resultados de nossos
trabalhos resultariam
represálias, mas não nos podíamos calar. Sacrificamos tudo às verdades que nos
eram reveladas. "Como os primeiros cristãos, tivemos a fé precisa
para desenrolar o divino estandarte dos ensinos de Jesus, ainda que houvéssemos
de sucumbir à sua gloriosa sombra".
Jó: — E quais foram as já esperadas consequências da
publicação do livro Roma e o Evangelho, além de outros trabalhos no
gênero?
Pellícer: — Alguns meses após publicada essa obra, o Ministro
da Instrução Pública na Espanha, marquês de Orovio, suspendeu D. Domingo de
Miguel do cargo de Diretor da Escola Normal de Lérida e a mim, segundo
professor dessa escola, em virtude de nossas opiniões filosófico-religiosas
divulgadas no Círculo Cristiano-Espiritista.
Jó: — Essa represália o fez desistir de lutar pela divulgação
da nova revelação do Cristo?
Pellícer: — Pelo contrário, deu-me mais coragem para
continuar os trabalhos já iniciados com a fundação do Círculo
Cristiano-Espírita, que se expandiu de modo considerável, graças à adesão de
grande número de espanhóis e o apoio de estudiosos de mente aberta à nova
revelação cristã.
Jó: — Quais são suas palavras finais ao nosso leitor?
Pellícer: — Repito o que disse em "Quatro palavras ao
leitor":
Quando
censuramos, referindo-nos ao clero ou às autoridades da Igreja, deve isso ser
entendido como dirigido aos erros e abusos, nunca porém aos indivíduos ou classes; pois que, se nos julgamos
autorizados a censurar mistificações, direitos, não presumimos ter de condenar
os que porventura veem o bom uso no abuso — e a verdade no erro.
E
como poderíamos condenar, se o princípio capital da nossa Doutrina é a caridade
e o perdão?
Tudo
tem sua razão de ser — e tudo contribui e coopera para o cumprimento da Lei que
preside à Criação.
Moisés
não podia deixar de preceder a Jesus, porque o povo hebreu, então grosseiro,
material e prevaricador, não estava em condições de receber o Evangelho.
Tampouco
Jesus não ensinou tudo o que sabia, porque a geração do seu tempo não
suportaria o peso de todas as verdades (João, 16:12).
Por
isto, Ele serviu-se de alegorias e de parábolas que, se no momento se prestavam
a errôneas interpretações, mais tarde deveriam ser entendidas em seu verdadeiro
sentido.
Quem,
entretanto, poderá com razão acusar Moisés, pela dureza das suas leis, e Jesus,
por haver falado ou dito em linguagem obscura o que não convinha revelar?
A
inspiração e a palavra de Deus são sucessivas, e a humanidade vai recolhendo-as
à medida das suas necessidades.
Por
conseguinte, não podemos culpar a Igreja
Romana por erros que não são seus, mas, sim, da miséria dos tempos e da
ignorância das gerações que se têm sucedido após a morte de Jesus.
Julgamos
ter manifestado com bastante clareza os nossos pensamentos: tudo pela ideia —
nada contra as pessoas (PELLÍCER, J. A. y. In: Roma e o Evangelho. 8.
ed. FEB, 1995).
Jó: — É verdade, Amigó, as
palavras que Jesus disse que ainda tinha de nos revelar, em sua época, não podiam
ser ditas. Por isso, ele retornou, e, através do Espírito de Verdade, que
preside, em seu nome, o Espiritismo, volta ao mundo atual, para, acima de todo
preconceito, má vontade e perseguição humana, permanecer conosco para sempre.
Siga em paz e continue, onde estiver, sua bela obra em nome do Cristo.
Pellícer: — ¡Adiós, amigo, salud y paz!
[1] Crônica
fictícia, mas baseada em fatos reais contidos na obra Roma e o evangelho,
de José Amigó y Pellícer, publicada pela Federação Espírita Brasileira.
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