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sexta-feira, 17 de maio de 2019

O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO (continuação do capítulo 3)



3.3 Destinação da Terra. Causas das misérias humanas

Admira-se de haver sobre a Terra tantas maldades e tantas paixões inferiores, tantas misérias e enfermidades de toda natureza, concluindo-se que triste coisa é a espécie humana. Esse julgamento provém do ponto de vista estreito em que se colocam os que o emitem e que lhes dá uma falsa ideia do conjunto. É necessário considerar que nem toda a humanidade se encontra na Terra, mas apenas uma pequena fração dela. De fato, a espécie humana compreende todos os seres dotados de razão, que povoam os inumeráveis mundos do universo. Ora, que é a população da Terra, diante da população total desses mundos? Bem menos que a de um lugarejo em relação à de um grande império. A situação material e moral da humanidade terrena nada tem que espante, se levarmos em conta o destino da Terra e a natureza daqueles que a habitam.
Faria dos habitantes de uma grande cidade ideia muito falsa quem os julgasse pela população dos seus bairros minúsculos e miseráveis. Num hospital, só se veem doentes e estropiados; numa prisão, vê-se todas as torpezas, todos os vícios reunidos; nas regiões insalubres, a maior parte dos habitantes são pálidos, fracos e doentios. Pois bem: consideremos a Terra como um subúrbio, um hospital, uma penitenciária, um país insalubre, porque ela é tudo isso a um só tempo, e compreenderemos porque as suas aflições sobrepujam os prazeres, porque não se enviam aos hospitais as pessoas sadias, nem às casas de correção os que não praticaram mal, pois nem os hospitais, nem as casas de correção, são lugares de delícias.
Ora, do mesmo modo que, numa cidade, toda a população não se encontra nos hospitais ou nas prisões, também a humanidade inteira não se encontra na Terra. E assim como saímos do hospital quando estamos curados, e da prisão quando cumprimos a pena, o homem sai da Terra para mundos mais felizes, quando se acha curado de suas enfermidades morais.

3.4 Instruções dos Espíritos

Mundos inferiores e mundos superiores; mundos de expiações e de provas; mundos regeneradores; progressão dos mundos.

3.4.1 Mundos inferiores e mundos superiores

A classificação de mundos inferiores e mundos superiores é mais relativa do que absoluta. Tal mundo é inferior ou superior em relação aos que lhe estão acima ou abaixo, na escala progressiva.
A Terra sendo tomada como ponto de comparação, pode-se fazer ideia do estado de um mundo inferior, supondo seus habitantes no grau evolutivo dos povos selvagens e das nações bárbaras que ainda se encontram na sua superfície, e que são os restos do seu estado primitivo. Nos mundos mais atrasados, os seres que os habitam são de certo modo rudimentares. Têm a forma humana, mas sem nenhuma beleza. Seus instintos não são abrandados por nenhum sentimento de delicadeza ou benevolência, nem pelas noções do justo e do injusto. A força bruta é sua única lei. Sem indústrias, sem invenções, os habitantes dedicam sua vida à conquista de alimentos. Contudo, Deus não abandona nenhuma de suas criaturas. No fundo das trevas da inteligências há, latente, mais ou menos desenvolvida, a vaga intuição de um Ser supremo. Esse instinto é suficiente para   torná-los superiores uns aos outros e para lhes preparar a ascensão a uma vida mais completa, visto que não são seres degradados, mas crianças que crescem.
Entre esses graus inferiores e os mais elevados, há inumeráveis graus, e entre os Espíritos puros, desmaterializados e resplandecentes de glória, é difícil reconhecer os que animaram os seres primitivos, da mesma maneira que, no homem adulto, é difícil reconhecer o antigo embrião.
Nos mundos que chegaram a um grau superior, as condições da vida moral e material são muito diferentes das que encontramos na Terra. A forma dos corpos é sempre, como por toda parte, a humana, mas embelezada, aperfeiçoada e sobretudo purificada. O corpo nada tem da materialidade terrestre, e não está, por isso mesmo, sujeito às necessidades, às doenças e às deteriorações decorrentes do predomínio da matéria. Os sentidos, mais apurados, têm percepções que a grosseria dos nossos órgãos sufoca. A leveza específica dos corpos torna a locomoção rápida e fácil. Em vez de se arrastarem penosamente sobre o solo, eles deslizam, por assim dizer, pela superfície ou pelo ar, sem outro esforço que o da vontade, à maneira das representações de anjos ou dos manes dos antigos nos Campos Elíseos. Os homens conservam à vontade os traços de suas existências passadas, e aparecem aos amigos em suas formas conhecidas, mas iluminadas por uma luz divina, transfiguradas pelas impressões interiores, que são sempre elevadas. Em vez de rostos pálidos, abatidos pelos sofrimentos e paixões, a inteligência e a vida irradiam esse brilho que os pintores traduziram pelo nimbo ou auréola dos santos.
A pouca resistência que a matéria oferece aos Espíritos já bastante adiantados, acelera o desenvolvimento dos corpos, e abrevia ou quase anula o período de infância. A vida, isenta de cuidados e angústias, é proporcionalmente muito mais longa que a da Terra. Em princípio, a longevidade é proporcional ao grau de adiantamento dos mundos. A morte nada tem dos horrores da decomposição, e longe de ser motivo de pavor, é considerada como uma transformação feliz, porque ali não existem dúvidas quanto ao futuro. Durante a vida, a alma não estando encerrada numa matéria compacta, irradia e goza de uma lucidez que a deixa num estado quase permanente de emancipação, permitindo a livre transmissão do pensamento.
Nesses mundos felizes, as relações entre os povos, sempre amigáveis, jamais são
perturbadas pelas ambições de subjugar seu vizinho, nem pelas guerras que lhes são consequentes. Não há senhores nem escravos, nem privilegiados de nascimento. Só a superioridade moral e intelectual estabelece diferença entre as condições e dá a supremacia. A autoridade é sempre respeitada, porque decorre unicamente do mérito e se exerce sempre com justiça. O homem não procura elevar-se acima do homem, mas sobre si mesmo, aperfeiçoando-se. Seu objetivo é alcançar a classe dos Espíritos puros, e esse desejo incessante não constitui um tormento, mas uma nobre ambição, que o faz estudar com ardor para os igualar. Todos os sentimentos ternos e elevados da natureza humana apresentam-se engrandecidos e purificados. Os ódios, os ciúmes mesquinhos, as baixas cobiças da inveja ali são ali desconhecidos. Um laço de amor e fraternidade une todos os homens. Os mais fortes ajudam os mais fracos. Possuem bens, em maior ou menor quantidade, mas ninguém sofre pela falta do necessário, porque ninguém ali se encontra em expiação. Numa palavra, o mal não existe nesses mundos.
No seu mundo, vocês necessitam do mal para sentir o bem, da noite para admirar a luz, da doença para apreciar a saúde. Lá, esses contrastes não são necessários. A eterna luz, a eterna beleza, a paz eterna da alma proporcionam alegria eterna, que nem as angústias da vida material, nem os contatos dos maus, que ali não têm acesso, poderiam perturbar. Isso é o que o espírito humano tem maior dificuldade em compreender. Ele foi engenhoso para pintar os tormentos do inferno, mas jamais pode representar as alegrias do céu. E isso por quê? Porque, sendo inferior, só tem experimentado penas e misérias, e não pode entrever as claridades celestes. Ele não pode falar daquilo que não conhece. Mas, à medida que se eleva e se depura, o seu horizonte se dilata e ele compreende o bem que está à sua frente, como compreendeu o mal que deixou para trás.
Entretanto, esses mundos afortunados não são mundos privilegiados, porque Deus não é parcial com nenhum de seus filhos. A todos dá os mesmos direitos e as mesmas facilidades para chegarem a esses mundos. Faz que todos partam do mesmo ponto, e a nenhum dota mais do que aos outros. Os primeiros postos são acessíveis a todos. Cabe-lhes conquistá-los pelo trabalho, alcançá-los o mais cedo possível, ou permanecer inativos durante séculos e séculos no lodaçal da humanidade (síntese do ensino de todos os espíritos superiores).





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