Em dia com o Machado 11 (jlo)
Outro dia, amiga leitora,
falei-lhe do cemitério e do bom costume carioca de visitar os defuntos. Hoje,
para deixa-la ainda mais espantada, falar-lhe-ei duma casa mal assombrada e da
evocação dos Espíritos por meio dos copos ali realizada.
Não foi esse o tema do
“Fantástico” da última noite? Ora se foi... No programa, qualquer espírita de
meia tigela, que não é o seu caso, nem o do prezado leitor, logicamente, dirá:
— Meu caro Tadeu Schmidt, você
parece que nunca leu uma obra espírita e ademais desconhece esta famosa frase de Chico
Xavier: “— O telefone toca de lá para cá”. Ou seja, são os Espíritos que
determinam quando, onde e como se manifestarão.
E não adianta tentar
suborná-los, por que o vil metal, para eles, nada significa.
Vamos analisar, em profundidade,
prezada leitora, erros crassos dos procedimentos propostos pelo nosso prezado
Tadeu. Em primeiro lugar, reuniu seis ou oito pessoas em torno de uma mesa,
para o “fenômeno dos copos”, sem que qualquer delas se dissesse médium. Ora,
para que haja um fenômeno espírita autêntico, é necessário que haja um médium
presente, no caso, médium de efeitos físicos.
— Não diz a Doutrina Espírita
que todos somos médiuns? Dirá o amigo leitor.
E eu lhe respondo que sim, mas
nem todos são médiuns produtivos, ou seja, nem todos produzem efeitos patentes
com sua mediunidade, que pode variar muito, de uma pessoa a outra. E isso eu
aprendi quando lhes disse naquela crônica que iria estudar a nova Doutrina.
Lembra-se?
Sem entrar no mérito da resposta
dada na indicação pelo copo do nome de alguém, que não foi conferido pela
equipe de reportagem, relato novo procedimento proposto: o sorteio de duas
pessoas daquele grupo para, sob alto grau de sugestão, passarem a noite na casa
supostamente mal assombrada. Foram sorteados um homem e uma mulher. Ambos
conheciam os fatos ditos fantasmagóricos ocorridos ali.
Durante os momentos noturnos que lá estiveram, ficaram afastados entre si e foram orientados, a viva voz, para repetirem o comportamento de antiga moradora e ex-empregados da casa, que relataram ter visto vultos no local. Mas os indicados não eram, necessariamente, médiuns de efeitos físicos e, pois, nada mais natural do que seu relato de impressões causadas pelo medo.
Durante os momentos noturnos que lá estiveram, ficaram afastados entre si e foram orientados, a viva voz, para repetirem o comportamento de antiga moradora e ex-empregados da casa, que relataram ter visto vultos no local. Mas os indicados não eram, necessariamente, médiuns de efeitos físicos e, pois, nada mais natural do que seu relato de impressões causadas pelo medo.
Aqui entra a explicação do
Tadeu:
No fenômeno do copo,
inconscientemente, as pessoas empurram-no com o dedo para a indicação da
resposta “sim”, quando foi feita a pergunta sobre a existência de Espíritos no
local. No caso da visão das pessoas da casa, foi mostrada uma sombra imóvel
sobre um banco, produzida por uma planta, como explicação para a imagem do vulto
humano. O tapa recebido pelo rapaz que dormia no quarto da falecida esposa do
Gilberto Freire foi atribuído à alucinação daquele...
Só não foi explicada uma coisa:
as pessoas relataram as presenças de um menino e um velho,
que trabalharam e faleceram no local. Tais entidades manifestavam-se e se deslocavam,
de um local para outro. Apareceram até mesmo para quem nunca houvera escutado
qualquer coisa sobre os fenômenos. Subiam escadas e desapareciam
repentinamente...
Ainda mais, enquanto não foi
feita uma missa pela alma do garoto, ele sempre era visto, mesmo por pessoas
que desconheciam os fenômenos. Após as preces para ela, a “alma penada” nunca
mais apareceu no local.
Revertere ad locum tuum, dizia eu, em minha passada crônica (1º
nov. 1877). E, para os que insistem em dizer que eu me tornara cético, deixei
claro ali os destinos de todos nós após “abotoar o paletó”: enquanto o corpo
desce ao túmulo, a alma vai a outras paisagens.
Allan Kardec também, em sua juventude,
ria dos fenômenos espíritas, que classificava como “fogos fátuos” utilizados
para impressionar as mentes ingênuas. Até se debruçar sobre os fatos reais,
perceber que todos eles fazem parte de leis naturais ainda desconhecidas pela grande
maioria da humanidade e, após anos de estudo, pesquisa e reflexão, confirmar a
realidade das manifestações espíritas e atestá-las como resultado de uma
Ciência baseada na observação e na experimentação, ou seja, com leis próprias.
Sem um estudo sério,
encontraremos mil explicações para o desconhecido. Por isso, a sempre
atualidade da frase da personagem shakespeariana Hamlet: “Há muito mais coisas
entre o céu e a terra do que possa imaginar nossa vã filosofia”.
Também, eu, na juventude, escrevi
muitas tolices contra o Espiritismo e suas manifestações. As mais das vezes com
o intuito de divertir a leitora e o leitor que me liam. Hoje, percebo a
leviandade de se tentar explicar o que se desconhece ou conhece mal.
Pois saibam, meus caros amigos,
quando o orgulho é maior do que o bom senso, encontramos explicação para tudo e
nada fica sem explicar. Apenas lembro que tudo pode ser explicado
racionalmente, mas a realidade pode ser outra, muito além dos nossos
arrazoados. Muito Além...
Retorna, pois,também, a teu lugar, ó
Tadeu! E não tentes explicar o que desconheces.
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