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segunda-feira, 13 de agosto de 2012


Em dia com o Machado 11 (jlo)


Outro dia, amiga leitora, falei-lhe do cemitério e do bom costume carioca de visitar os defuntos. Hoje, para deixa-la ainda mais espantada, falar-lhe-ei duma casa mal assombrada e da evocação dos Espíritos por meio dos copos ali realizada.
            Não foi esse o tema do “Fantástico” da última noite? Ora se foi... No programa, qualquer espírita de meia tigela, que não é o seu caso, nem o do prezado leitor, logicamente, dirá:
— Meu caro Tadeu Schmidt, você parece que nunca leu uma obra espírita e ademais desconhece esta famosa frase de Chico Xavier: “— O telefone toca de lá para cá”. Ou seja, são os Espíritos que determinam quando, onde e como se manifestarão.
E não adianta tentar suborná-los, por que o vil metal, para eles, nada significa.
Vamos analisar, em profundidade, prezada leitora, erros crassos dos procedimentos propostos pelo nosso prezado Tadeu. Em primeiro lugar, reuniu seis ou oito pessoas em torno de uma mesa, para o “fenômeno dos copos”, sem que qualquer delas se dissesse médium. Ora, para que haja um fenômeno espírita autêntico, é necessário que haja um médium presente, no caso, médium de efeitos físicos.
— Não diz a Doutrina Espírita que todos somos médiuns? Dirá o amigo leitor.
E eu lhe respondo que sim, mas nem todos são médiuns produtivos, ou seja, nem todos produzem efeitos patentes com sua mediunidade, que pode variar muito, de uma pessoa a outra. E isso eu aprendi quando lhes disse naquela crônica que iria estudar a nova Doutrina. Lembra-se?
Sem entrar no mérito da resposta dada na indicação pelo copo do nome de alguém, que não foi conferido pela equipe de reportagem, relato novo procedimento proposto: o sorteio de duas pessoas daquele grupo para, sob alto grau de sugestão, passarem a noite na casa supostamente mal assombrada. Foram sorteados um homem e uma mulher. Ambos conheciam os fatos ditos fantasmagóricos ocorridos ali.
            Durante os momentos noturnos que lá estiveram, ficaram afastados entre si e foram orientados, a viva voz, para repetirem o comportamento de antiga moradora e ex-empregados da casa, que relataram ter visto vultos no local. Mas os indicados não eram, necessariamente, médiuns de efeitos físicos e, pois, nada mais natural do que seu relato de impressões causadas pelo medo.
Aqui entra a explicação do Tadeu:
No fenômeno do copo, inconscientemente, as pessoas empurram-no com o dedo para a indicação da resposta “sim”, quando foi feita a pergunta sobre a existência de Espíritos no local. No caso da visão das pessoas da casa, foi mostrada uma sombra imóvel sobre um banco, produzida por uma planta, como explicação para a imagem do vulto humano. O tapa recebido pelo rapaz que dormia no quarto da falecida esposa do Gilberto Freire foi atribuído à alucinação daquele...
Só não foi explicada uma coisa: as pessoas relataram as presenças de um menino e um velho, que trabalharam e faleceram no local. Tais entidades manifestavam-se e se deslocavam, de um local para outro. Apareceram até mesmo para quem nunca houvera escutado qualquer coisa sobre os fenômenos. Subiam escadas e desapareciam repentinamente...
Ainda mais, enquanto não foi feita uma missa pela alma do garoto, ele sempre era visto, mesmo por pessoas que desconheciam os fenômenos. Após as preces para ela, a “alma penada” nunca mais apareceu no local.
Revertere ad locum tuum, dizia eu, em minha passada crônica (1º nov. 1877). E, para os que insistem em dizer que eu me tornara cético, deixei claro ali os destinos de todos nós após “abotoar o paletó”: enquanto o corpo desce ao túmulo, a alma vai a outras paisagens.
Allan Kardec também, em sua juventude, ria dos fenômenos espíritas, que classificava como “fogos fátuos” utilizados para impressionar as mentes ingênuas. Até se debruçar sobre os fatos reais, perceber que todos eles fazem parte de leis naturais ainda desconhecidas pela grande maioria da humanidade e, após anos de estudo, pesquisa e reflexão, confirmar a realidade das manifestações espíritas e atestá-las como resultado de uma Ciência baseada na observação e na experimentação, ou seja, com leis próprias.
Sem um estudo sério, encontraremos mil explicações para o desconhecido. Por isso, a sempre atualidade da frase da personagem shakespeariana Hamlet: “Há muito mais coisas entre o céu e a terra do que possa imaginar nossa vã filosofia”.
Também, eu, na juventude, escrevi muitas tolices contra o Espiritismo e suas manifestações. As mais das vezes com o intuito de divertir a leitora e o leitor que me liam. Hoje, percebo a leviandade de se tentar explicar o que se desconhece ou conhece mal.
Pois saibam, meus caros amigos, quando o orgulho é maior do que o bom senso, encontramos explicação para tudo e nada fica sem explicar. Apenas lembro que tudo pode ser explicado racionalmente, mas a realidade pode ser outra, muito além dos nossos arrazoados. Muito Além...
Retorna, pois,também, a teu lugar, ó Tadeu! E não tentes explicar o que desconheces.

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