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segunda-feira, 27 de agosto de 2012


Em dia com o Machado 13 (jlo)


              Há certos acontecimentos em nossa vida, amiga, que servem para testar nosso grau de ceticismo ou de credulidade. Eu, particularmente, sou um pouco de cada coisa. Entanto, ajo como Tomé em muuuitos casos ditos sobrenaturais pelo populacho, embora, como ainda lhe direi em futura crônica, tenha resolvido aderir à nova igreja do Espiritismo, nem que seja para satirizá-lo (O que lhes afianço, não é o caso desse Zé Mané que lhes escreve em meu nome).
Quanta ignorância minha. Ainda não aprendi a diferenciar centro espírita de igreja. Porém, a reflexão sobre isso fica para uma futura crônica... Ou não...
Ontem, por exemplo, em pleno sábado, após um excelente evento sobre um chamamento cristão ao qual compareci, fiquei matutando com meu botão:
— Conto ou não a saga do botão?
— Conte, disse-me ele.
 Aí vai ela, amigo leitor (Já reparou que costumo começar com a amiga? É que as mulheres devem sempre ser as primeiras em nossas vidas, o que não implica em desrespeito para com a nossa macheza, meu amigo... Muito menos a minha!).
Mas, voltando ao caso botão. Antes de ir para o evento (Não escrevi reunião para não rimar com botão.), vesti uma calça cinza e reparei que lhe faltava o botão do bolso traseiro direito; mais ainda, notei que o do bolso esquerdo estava com a linha um pouco frouxa.
Foi quando ele tornou a me dizer:
— Cuida de pregar-me direito, se não eu faço como meu amigo, caio fora.
Disse então ao botão, após dar-lhe um, digamos assim, solavanco:
— Meu caro, pelo que constatei, tu ainda estás bastante firme para abotoar meu bolso por hoje. Fique calmo que, após o evento, dou-lhe uma pregada.
— Ai, medo - respondeu-me ele -, ao que não dei importância.
O conclave estava maravilhoso. Sentei-me ao lado de uma boa amiga e fiquei à vontade até o fim do evento.
Ao terminar o encontro, encontramos (Encontro, encontramos, legal, né?) outra amiga e conversamos um pouco, os três,  antes de sairmos pela porta de entrada, que também, logicamente, no templo, é a porta de saída para seu pátio.
Eis que, de repente, não mais que de repente (Não vai pensar que eu vou declamar agora o soneto do Vinícius de Moraes, pois ele não é do meu tempo. Ou você esqueceu que nasci no século XIX e o “poetinha” no XX?), a segunda amiga se abaixa para pegar algo.
Naquele instante, imaginei que fosse uma moeda e pensei: Vou brincar com ela e dizer-lhe:
— É minha. 
Ao levantar-se, porém, e abrir sua mão direita para nos mostrar seu achado exclamei:
— É meu!
O(a) leitor(a) já deve imaginar o que a amiga achou, não é mesmo? Mas eu ainda não lhe vou desvendar o “mistério”. Ao menos por enquanto.
Ela, de pronto, respondeu-me:
— Então toma, faça bom proveito dele.
Ele não gostou muito disso e me disse baixinho, de modo que somente eu pudesse lhe escutar:
— Canalha, você me paga.
Esquecia-me dizer-lhes que, ainda no salão, dei pela falta do segundo botão e, para comprovar que a calça ficara sem os dois, apalpei ambos os bolsos. Confirmada a deserção dos apêndices, refletira:
 — Agora preciso de dois botões...
Peguei o botão e agradeci à amiga, de origem francesa, dizendo-lhe que aquela era uma dívida de alto custo, mas que ainda lhe iria pagar o favor.
Ela concordou plenamente comigo:
Sa dette est impayable.
Despedimo-nos com um beijo fraterno no rosto e fomos para casa. As amigas, para as delas; eu, para a minha, logicamente.
Ao chegar a casa, abri a gaveta que fica à minha direita, na mesa em que é digitada (palavra do futuro) esta crônica, e coloquei-o ali; não sem antes recomendar ao botão:
— Fica quietinho aí. Já... já eu lhe prego...
Ele não disse nada. Nem ao menos me corrigiu o erro de regência... Que estúpido!
Saí, dei uma volta na cozinha e voltei ao “escritório”... Se é que isto que nós temos possa se chamar assim, pois é tão grande que, quando uma pessoa (encarnada, fique claro) está aqui dentro, tem que sair para outra, de fora, entrar.
Voltando, todavia, a este, ummm, local de inspiração, abri a gaveta onde, de ordinário (Marche! Ui tempos de milico que não saem da cabeça desse cara que escreve minha história.) guardo lápis, clips, borrachas, canetas, etc. etc. etc., exceção acima à regra, menos botão,  e...
Oh! coisa espantosa! Isso não é algo que se faça! Encontrei não um, mas dois botões iguaizinhos...
Sem querer fazer propaganda da Lacoste, que ainda nem foi criada (Até quando terei de lembrar-lhe? Ó raça incrédula, até quando vos sofrerei? Estamos no século XIX e não no seu, XXI.), afianço-lhe, que o botão viajou no tempo, gravou em si tal marca, arranjou um(a) namorado(a), gravou também o nome Lacoste nele(a) e os dois olharam para mim.
Assim ficamos: eu olhava para os botões, os botões olhavam para mim...
Algum tempo depois, um deles, meu velho conhecido, voltou a falar-me, embora ambos então fossem gêmeos, a ponto de eu não mais saber quem era ele, quem era ela, essa criatura de Deus:
— Eu não disse para você me pregar antes de sair? Agora terá de pregar-nos os dois.
— É... amigo, você me pregou uma peça. Só podem ser almas gêmeas – respondi-lhe. Contudo, não se preocupem, um será pregado no bolso esquerdo e o outro no direito.  Adeus!
— Adeus, respondeu uma só voz, aparentemente saída dos dois botões.
E eu fiquei o dia todo matutando com meus botões:
— Existe materialização de Espíritos... mas de botão... E, depois, quem era quem?
Como o enigma Capitu, o(a) leitor(a) decida.
Até a próxima!

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