10 AO VIAJANTE DA FÉ (mediunidade psicofônica)
(Espírito Cruz e Sousa/médium Chico Xavier)
Para finalizar esta coletânea de poemas de Cruz e Sousa através de médiuns diversos, contemplo a obra prima transmitida por esse Espírito ao médium Chico Xavier não mais pela psicografia, que é a escrita direta, mas pela psicofonia.
Antes, porém, gostaria de esclarecer aos
leitores deste trabalho que descobri outro médium psicógrafo da poesia do Cisne
Negro desencarnado. Pessoa de grande cultura, com título de doutorado,
professor universitário aposentado e alto cargo público, a quem manifestamos o
mais profundo respeito, mas data vênia, não identificamos o autor
espiritual nos dois sonetos que ele diz ter recebido pela mediunidade psicográfica
intuitiva e inspirada.
Ambos
os sonetos: o primeiro com versos alexandrinos; o segundo em decassílabos, não
primam pelo estilo de Cruz e Sousa. Os dois poemas têm o cunho narrativo, o que
não é muito próprio do poeta em vida física. Também, com todo o respeito aos
equívocos de ritmo e metrificação do médium, contrastante com o perfeito
domínio do poeta, em vida física, não nos é admissível aceitar sem
ressalvas a autoria post-mortem deste último.
A métrica de Cruz e Sousa,
mesmo a dos poemas psicografados já citados, é perfeita e predominantemente
decassílaba. O ritmo é impecável, como veremos, futuramente, quando estudarmos
seu estilo e figuras de linguagem. A dos poemas supostamente ditados por seu
Espírito ao médium Jorge de Souza, a quem me refiro, não passa pelo crivo de um
mediano conhecedor de estrutura poética.
Dou o direito ao
leitor, entretanto, de ratificar ou retificar minhas palavras na leitura da
obra do prof. dr. Jorge de Souza, abaixo referenciada. Esta obra, entretanto,
por justiça ao autor, aborda a poesia, segundo este, intuitiva e por inspiração
de diversos outros poetas "mortos": Antero de Quental, Hélder Câmara,
Augusto dos Anjos, Olavo Bilac, Carlos Pena Filho, Emílio de Menezes, Vinícius
de Moraes, Auta de Souza, Huberto Rohden, Machado de Assis (um soneto
semelhante ao escrito em vida intitulado À Carolina, também com
erros rítmicos de versos, que não cabem citar aqui) etc.
No total, podemos ler na
obra poemas, supostamente, de 18 poetas desencarnados, incluindo-se aí o
chamado Poeta dos Escravos, Castro Alves. Vale, portanto, a pena,
conferir a obra, principalmente pelos estudantes e professores de literatura.
Só não vale usá-la como pretexto para criticar o Espiritismo, cuja produção
mediúnica de alta qualidade extrapola em muito uma ou outra obra equivocada.
Como também não podemos criticar a ciência por haver em seu seio médicos
equivocados e charlatães, o que não é o caso do professor Souza.
Chico Xavier, somente
considerando-se os poemas editados na obra Parnaso de além-túmulo,
psicografou 30 sonetos do Espírito Cruz e Sousa. A nosso ver, irrepreensíveis,
como os recebidos pelos médiuns citados anteriormente. No caso do Chico, um dos
sonetos, ao menos, foi recebido pela mediunidade psicofônica do médium mineiro.
É este:
Vara o trilho espinhoso, estreito e duro,
E embora te magoe o peito aflito,
Torturado na sede do Infinito,
Guarda contigo o amor sublime e puro.
Martirizado, exânime e inseguro,
Ninguém perceba a angústia de teu grito.
Sangrem-te os pés nos serros de granito,
Segue, antevendo a glória do futuro.
Lembra o Cristo da Luz, grande e sozinho,
E entre as sarças e as pedras do caminho,
Sobe, olvidando o báratro medonho...
Somente sobe ao Céu Ilimitado
Quem traz consigo, exangue e torturado,
O próprio coração na cruz do sonho.
(SOUSA, 1974, p. 210- 211)
É Cruz e Sousa puro. Impressionantemente vivo! Com todo o respeito aos outros médiuns e poemas, aqui o poeta só faltou se materializar. Com este soneto, faço mais uma pausa para depois proceder a um estudo das figuras de linguagem presentes no corpus em estudo.
Observação: Embora, por tradição, a Federação Espírita Brasileira (FEB) mantenha a grafia do sobrenome como Souza, atualizamos seu sobrenome para Sousa de acordo com o contido no Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entre os países lusófonos; entretanto, respeitamos a grafia daqueles que seguem a tradição e não a norma atual.
Referências
1 SOUZA, Jorge de. Quem é o autor? um ensaio sobre as mediunidades intuitivas e de inspiração. Bragança Paulista, SP: Lachêtre, 2004.
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