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sexta-feira, 16 de abril de 2021

 


10 AO VIAJANTE DA FÉ (mediunidade psicofônica)

(Espírito Cruz e Sousa/médium Chico Xavier)     

           

       Para finalizar esta coletânea de poemas de Cruz e Sousa através de médiuns diversos, contemplo a obra prima transmitida por esse Espírito ao médium Chico Xavier não mais pela psicografia, que é a escrita direta, mas pela psicofonia.

         Antes, porém, gostaria de esclarecer aos leitores deste trabalho que descobri outro médium psicógrafo da poesia do Cisne Negro desencarnado. Pessoa de grande cultura, com título de doutorado, professor universitário aposentado e alto cargo público, a quem manifestamos o mais profundo respeito, mas data vênia, não identificamos o autor espiritual nos dois sonetos que ele diz ter recebido pela mediunidade psicográfica intuitiva e inspirada.

        Ambos os sonetos: o primeiro com versos alexandrinos; o segundo em decassílabos, não primam pelo estilo de Cruz e Sousa. Os dois poemas têm o cunho narrativo, o que não é muito próprio do poeta em vida física. Também, com todo o respeito aos equívocos de ritmo e metrificação do médium, contrastante com o perfeito domínio do poeta, em vida física,  não nos é admissível aceitar sem ressalvas a autoria post-mortem deste último. 

       A métrica de Cruz e Sousa, mesmo a dos poemas psicografados já citados, é perfeita e predominantemente decassílaba. O ritmo é impecável, como veremos, futuramente, quando estudarmos seu estilo e figuras de linguagem. A dos poemas supostamente ditados por seu Espírito ao médium Jorge de Souza, a quem me refiro, não passa pelo crivo de um mediano conhecedor de estrutura poética.

      Dou o direito ao leitor, entretanto, de ratificar ou retificar minhas palavras na leitura da obra do prof. dr. Jorge de Souza, abaixo referenciada. Esta obra, entretanto, por justiça ao autor, aborda a poesia, segundo este, intuitiva e por inspiração de diversos outros poetas "mortos": Antero de Quental, Hélder Câmara, Augusto dos Anjos, Olavo Bilac, Carlos Pena Filho, Emílio de Menezes, Vinícius de Moraes, Auta de Souza, Huberto Rohden, Machado de Assis (um soneto semelhante ao escrito em vida intitulado À Carolina, também com erros rítmicos de versos, que não cabem citar aqui) etc. 

         No total, podemos ler na obra poemas, supostamente, de 18 poetas desencarnados, incluindo-se aí o chamado Poeta dos Escravos, Castro Alves. Vale, portanto, a pena, conferir a obra, principalmente pelos estudantes e professores de literatura. Só não vale usá-la como pretexto para criticar o Espiritismo, cuja produção mediúnica de alta qualidade extrapola em muito uma ou outra obra equivocada. Como também não podemos criticar a ciência por haver em seu seio médicos equivocados e charlatães, o que não é o caso do professor Souza.

        Chico Xavier, somente considerando-se os poemas editados na obra Parnaso de além-túmulo, psicografou 30 sonetos do Espírito Cruz e Sousa. A nosso ver, irrepreensíveis, como os recebidos pelos médiuns citados anteriormente. No caso do Chico, um dos sonetos, ao menos, foi recebido pela mediunidade psicofônica do médium mineiro. É este:

 

AO VIAJANTE DA FÉ
 
Vara o trilho espinhoso, estreito e duro,
E embora te magoe o peito aflito,
Torturado na sede do Infinito,
Guarda contigo o amor sublime e puro.
 
Martirizado, exânime e inseguro,
Ninguém perceba a angústia de teu grito.
Sangrem-te os pés nos serros de granito,
Segue, antevendo a glória do futuro.
 
Lembra o Cristo da Luz, grande e sozinho,
E entre as sarças e as pedras do caminho,
Sobe, olvidando o báratro medonho...
 
Somente sobe ao Céu Ilimitado
Quem traz consigo, exangue e torturado,
O próprio coração na cruz do sonho.
 
(SOUSA, 1974, p. 210- 211)

          É Cruz e Sousa puro. Impressionantemente vivo! Com todo o respeito aos outros médiuns e poemas, aqui o poeta só faltou se materializar. Com este soneto, faço mais uma pausa para depois proceder a um estudo das figuras de linguagem presentes no corpus em estudo.

       Observação: Embora, por tradição, a Federação Espírita Brasileira (FEB) mantenha a grafia do sobrenome como Souza, atualizamos seu sobrenome para Sousa de acordo com o contido no Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entre os países lusófonos; entretanto, respeitamos a grafia daqueles que seguem a tradição e não a norma atual.

Referências

1 SOUZA, Jorge de. Quem é o autor? um ensaio sobre as mediunidades intuitivas e de inspiração. Bragança Paulista, SP: Lachêtre, 2004.

2 SOUSA, Cruz e (Espírito). In: XAVIER, Francisco Cândido. Instruções psicofônicas. Recebidas de vários Espíritos no Grupo Meimei e organizadas por Arnaldo Rocha. 3. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1974.      


   

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