14.2 Quem é minha mãe e
quem são meus irmãos?
Indo para casa, reuniu-se
em torno dele tanta gente, que eles nem mesmo podiam fazer sua refeição. E, quando
ouviram isso, seus parentes saíram para o levarem consigo; pois diziam que ele
perdera o juízo.
Entretanto, chegaram sua mãe
e seus irmãos, e ficando do lado de fora, mandaram chamá-lo. As pessoas
sentaram-se em torno dele e lhe disseram: Sua mãe e seus irmãos estão chamando-o
lá fora. Ele lhes perguntou: Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos? E,
olhando para os que estavam sentados à sua volta, disse: Eis aqui minha mãe e
meus irmãos; pois quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e
minha mãe (Marcos; 3:20-21; 31-35 e Mateus, 12:46-50).
Certas palavras parecem estranhas na boca de Jesus, e
contrastam com sua bondade e sua inalterável benevolência para com todos. Os
incrédulos não deixaram de usar isso como arma, para dizer que ele se
contradizia. Um fato irrecusável, porém, é que sua doutrina tem por base
essencial, por pedra angular, a lei do amor e da caridade. Ele não podia, pois,
destruir de um lado o que estabelecia do outro, donde é imperioso tirar esta consequência
rigorosa de que, se certas máximas estão em contradição com aquele princípio, é
que as palavras que se lhe atribuem foram mal reproduzidas, mal compreendidas,
ou não lhe pertencem.
Surpreendemo-nos com razão de ver, nessa circunstância,
tanta indiferença de Jesus para com os seus parentes, e, de certo modo, renegar
a mãe.
Quanto a seus "irmãos", sabe-se que nunca tiveram
simpatia por ele. Espíritos pouco adiantados, não lhe compreendiam a missão. Sua
conduta, aos seus olhos, era bizarra, e seus ensinamentos não os haviam tocado,
pois nenhum deles se fez seu discípulo. Parece mesmo que eles participavam, até
certo ponto, das prevenções de seus inimigos. É certo, então, que o recebiam
mais como um estranho do que como um "irmão", quando se apresentava
em família. João (7:5)
diz, positivamente, que não acreditavam nele.
(Aspei, pois é sabido que Jesus não teve irmãos, mas os primos eram tidos como irmãos na época.)
Quanto a sua mãe, ninguém contestaria sua ternura para
com o filho. Mas é necessário convir, também, que ela não parece ter feito uma ideia
justa de sua missão, pois jamais se soube que ela lhe seguisse os ensinos, nem
que desse testemunho dele, como o fez João Batista. A solicitude maternal era o
seu sentimento dominante.
Quanto a Jesus, supor que houvesse renegado sua mãe,
seria desconhecer-lhe o caráter. Tal pensamento não poderia animar aquele que
disse: "Honre seu pai e sua mãe". É, pois, necessário procurar outro sentido
para suas palavras, quase sempre veladas pela forma alegórica.
Jesus não desprezava nenhuma ocasião de ensinar. Aproveitou,
portanto, a que lhe oferecia a chegada de sua família, para estabelecer a
diferença existente entre a parentela corporal e a parentela espiritual.
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